QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO: ASPETOS RADIOLÓGICOS

Documentos relacionados
Programa de Monitorização da Radioatividade em Águas, nos termos do DL 138/2005

Sessão de Debate sobre o Decreto-Lei n.º 23/2016 Coimbra, 13 de outubro

Controlo de Parâmetros Radiológicos no Sistema de Abastecimento da EPAL. Maria João Benoliel e João Paiva

Relatório LPSR-D, Nº 01/2017

NOTA TÉCNICA. Departamento de Saúde Pública

Proposta de DIRETIVA DO CONSELHO

Relatório LPSR-A, Nº 46/2018

DIRETIVA 2013/51/EURATOM DO CONSELHO

Substâncias radioativas presentes na água destinada ao consumo humano ***I

44a f0194cea36e561cd364

Relatório LPSR-C, Nº 13/2017

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Diário da República, 1.ª série N.º de junho de 2016

CENTRO DE METROLOGIA DAS RADIAÇÕES CMR

CICLO URBANO DA ÁGUA E RESÍDUOS

Radioatividade Ambiental. Paulo Sergio Cardoso da Silva. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN

Determinação de Atividades Alfa e Beta Total em Água para Consumo Humano por LSC

LIMITES DE LIBERAÇÃO PARA REJEITOS RADIOATIVOS SÓLIDOS

Danilo Chagas Vasconcelos Bolsista de Pós-doutorado

CONFINAMENTO DE RESÍDUOS URANÍFEROS (O CASO PARTICULAR

Atividade Regulatória do Radônio em Minas Subterrâneas. Vandir Gouvea, Zildete Rocha, Talita Santos e Ana Maria Xavier

Lista 1 - Radioatividade

Emergências Radiológicas

O Decaimento Radioativo (6 aula)

TÉCNICO LISBOA CAMPUS TECNOLÓGICO E NUCLEAR, PÓLO DE LOURES. CTN Teresa Pires,

Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2012)

L 252/10 Jornal Oficial da União Europeia

Colégio FAAT Ensino Fundamental e Médio

Radioatividade Natural nas Atividades de E&P de Petróleo. José Marcus Godoy Departamento de Química/PUC-Rio

Relatório LPSR. Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2016)

Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2015)

POLO DE LOURES LABORATÓRIO DE PROTEÇÃO E SEGURANÇA RADIOLÓGICA

Relatório LPSR. Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2014)

Vigilância Radiológica a Nível Nacional (Ano 2005)

QUÍMICA. Transformações Químicas e Energia. Radioatividade: Reações de Fissão e Fusão Nuclear, Desintegração Radioativa e Radioisótopos - Parte 4

Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2013)

Vigilância Radiológica a Nível Nacional (Ano 2006)

Vigilância Radiológica a Nível Nacional (Ano 2004)

VALIDAÇÃO DO ENSAIO DE MEDIDAS POR ESPECTROMETRIA GAMA DE RADIONUCLÍDEOS EM MATRIZES DE ALIMENTOS

Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2011)

A RADIOACTIVID AMBIENTE

Vigilância Radiológica a Nível Nacional (Ano 2002)

QUÍMICA. Transformações Químicas e Energia. Radioatividade: Reações de Fissão e Fusão Nuclear, Desintegração Radioativa e Radioisótopos - Parte 6

Leonnardo Cruvinel Furquim PROCESSOS NUCLEARES

Radioatividade. Prof. Fred

Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2010)

Determinação de isótopos de Urânio em Urina

Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (Ano 2007)

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE MONITORAÇÃO RADIOLÓGICA AMBIENTAL DO IPEN NO ANO DE 2003

Procedimento para Licenciamento de Fontes Radioactivas Seladas

Estrutura do Jornal Oficial Adaptação na sequência da entrada em vigor do Tratado de Lisboa

Química A Extensivo V. 8

Vigilância Radiológica a Nível Nacional (Ano 2003)

RECEBIDA NO LABORATÓRIO: 30/11/2018. Cliente LOCAL DE COLHEITA: Ponta Ruiva - Casa particular Rafael Sousa

I QUALIDADE RADIOLÓGICA DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Desenvolvimento de técnicas in vitro para monitoração individual de 32 P. Development of in vitro techniques for individual monitoring of 32 P

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE MONITORAÇÃO RADIOLÓGICA AMBIENTAL DO IPEN NO ANO DE 2004

(a) Quando um átomo emite uma partícula α, seu Z aumenta 2 unidades e seu A aumenta 4 unidades.

EDITAL Nº 4/2016/SMAS

PROFESSOR: JURANDIR SOARES DISCIPLINA: QUÍMICA CONTEÚDO: RADIOTIVIDADE AULA: 01

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE MONITORAÇÃO RADIOLÓGICA AMBIENTAL DO IPEN NO ANO DE 2005

COMPARAÇÃO DE MODELOS DE AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA AMBIENTAL

RADIOMETRIA EM ÁREA URANO-FOSFÁTICA DA CIDADE DE IGARASSU-PERNAMBUCO

Decreto-Lei 306/2007 de 27 de Agosto

Química Fascículo 04 Elisabeth Pontes Araújo Elizabeth Loureiro Zink José Ricardo Lemes de Almeida

II CONFIME 2010 GESTÃO DE REJEITOS RADIOATIVOS

A água e os radionuclidos das famílias radioactivas naturais

23/10/2014. DIRETRIZES BÁSICAS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA - CNEN-NN-3.01 jan/05 COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR

RADIOATIVIDADE. É o fenômeno onde núcleos instáveis emitem partículas e radiação, transformando-se em outros átomos.

a) Escrever a equação nuclear balanceada que representa a reação que leva à emissão do positrão.

NORM: Guia Prático 5A-4. Mineração de Fosfato e Produção de Ácido Fosfórico. Barbara Paci Mazzili

NOÇÕES BÁSICAS DAS NORMAS E REGULAMENTOS

Lista de Exercícios 4 Bimestre

Química Nuclear e Radiofarmácia

Exma. Senhora Chefe do Gabinete de Sua Excelência a Presidente da Assembleia da República Dra. Noémia Pizarro RESPOSTA À PERGUNTA N.º 609/XII/2.

A NOVA LEGISLAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

ASPECTOS NORMATIVOS SOBRE OCORRÊNCIA NATURAL DE MATERIAL RADIOATIVO EM REJEITOS DE PETRÓLEO

Perguntas do Jogo sobre Radioatividade

ESTRUTURA DA MATÉRIA E O ÁTOMO

Regime legal do controlo da qualidade da água para consumo humano

Fatores de transferência solo-planta de radionuclídeos em manguezais do Estado de Pernambuco, Brasil

RELATÓRIO DA MONITORAÇÃO RADIOLÓGICA AMBIENTAL DO IPEN NO ANO DE 2007

Poços/Furos ou Água da rede pública

Agroleico Açores. Boletim Definitivo 07:50 DO RÓTULO: Parâmetro Método de Análise Limite Lei a)

Avaliação da proteção radiológica no uso de traçadores radioativos na indústria de petróleo

REGULAMENTO DE EXECUÇÃO (UE) /... DA COMISSÃO. de

Qualidade da água da rede de abastecimento

MATERIAIS GEOLÓGICOS E RADIAÇÃO GAMA EXTERNA / GEOLOGIC MATERIALS AND EXTERNAL GAMMA RADIATION

ESTA É UMA VERSÃO DO AUTOR E NÃO A VERSÃO FINAL PUBLICADA

Cláudia Marques Peixoto e Altair Drumond de Souza

Revisão de Conceitos e Fundamentos de Física das Radiações (B)

Recomendação ERSAR n.º 01/2016

Encontro Ascensores - Diretiva 2014/33/UE e novas Normas EN e EN A vigilância de mercado e as. obrigações do Estado Português

Detecção e Medida de Radiações Ionizantes

Implicações do enquadramento legal europeu para os produtos da construção O Regulamento Produtos da Construção

RADIOATIVIDADE NATURAL EM AMOSTRAS DE ÁGUA MINERAL ENGARRAFADA CONSUMIDAS EM SÃO PAULO E MINAS GERAIS

NACIONAL DO MEDICAMENTO E PRODUTOS DE SAÚDE I.P. MINISTÉRIO DA SAÚDE

Sociedade Portuguesa de Proteção Contra Radiações

Piracicaba 7 de Junho de Um projeto financiado pela União Europeia

Município de São Vicente Câmara Municipal

Transcrição:

QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO: ASPETOS RADIOLÓGICOS Maria José B. Madruga IST/ITN, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) E.N 10, 2685-953 Sacavém Riscos e Segurança Alimentar, Lisboa, 31 de Janeiro 2013 1

ÍNDICE Introdução Radionuclidos presentes na água para consumo humano Ciclo hidrológico dos radionuclidos naturais Ciclo hidrológico dos radionuclidos artificiais Fontes de exposição à radiação Coeficientes de dose por ingestão de radionuclidos Enquadramento Legal Prestação de serviços Obrigações legais Resultados Notas finais 2

INTRODUÇÃO Radionuclidos presentes na água para consumo humano: De origem natural ou antropogénica Série radioativa U-238 234 U, 226 Ra, 222 Rn, 210 Pb, 210 Po Nascentes de água natural Série radioativa Th-232 228 Ra K-40 Exploração de minas de urânio Produção de fertilizantes com fosfatos 3

INTRODUÇÃO Radionuclidos presentes na água para consumo humano: De origem artificial 131 I, 137 Cs, 134 Cs, 60 Co, 90 Sr, 3 H,...; Central nuclear Testes nucleares Acidente nuclear 4

INTRODUÇÃO Ciclo hidrológico dos radionuclidos naturais 238 U 234 U 226 Ra 222 Rn 238 U Pb, Po 210 Po 210 Pb 222 Rn U, Th, Ra, Rn 228 Ra 232 Th U, Th, Ra, Rn U, Th, Ra, Rn 5

INTRODUÇÃO Ciclo hidrológico dos radionuclidos artificiais 137 Cs 134 Cs 137,134 Cs, 131 I, 90 Sr, 60 Co, 131 I 90 Sr 60 Co 240,239 Pu 3 H 3 H 6

INTRODUÇÃO Fontes de Exposição à Radiação Água para consumo humano Exposição interna à radiação por ingestão 7

INTRODUÇÃO Coeficientes de dose por ingestão de radionuclidos T 1/2 = 1622 anos T 1/2 = 22,3 anos T 1/2 = 134 dias T 1/2 = 5,77 anos T 1/2 = 30,1 anos T 1/2 = 12,3 anos ICRP (1996). Age-dependent doses to members of the public from intake of radionuclides. Part 5- Compilation of ingestion and inhalation dose coefficients, Publication nº72, Vol. 26, nº1 8

ENQUADRAMENTO LEGAL Diretiva 96/29/Euratom, de 13 de Maio 1996 (BSS); Diretiva 98/83/EC do Conselho, de 3 de Novembro- Qualidade da Água para Consumo Humano; Recomendação 2001/928/Euratom, de 20 de Dezembro - Proteção da População Contra a Exposição ao Radão no Abastecimento de Água para Consumo Humano; Decreto-Lei nº306/2007 de 27 de Agosto procede à revisão do Decreto-Lei nº 243/2001 de 5 de Setembro- Qualidade da Água para Consumo Humano; Proposta de diretiva da CE (28/03/2012) -estabelece os requisitos para a proteção da saúde do público relativamente às substâncias radioativas em água para consumo humano; 9

ENQUADRAMENTO LEGAL Diretiva 98/83/EC do Conselho (Anexo I, Parte C) Notas 8 e 9: Com exceção do Trítio, K-40, radão e descendentes a frequência de controlo, métodos de controlo e localizações mais adequadas para pontos de controlo serão estabelecidos posteriormente no Anexo II; Nota 10: A Comissão assistida por um comité composto por representantes dos Estados Membros emitirá propostas com base na legislação em vigor ou em resultados de programas de controlo adequados (Artigo 12º); A Comissão apresentará estas propostas o mais tardar 18 meses após a entrada em vigor da Diretiva. 10

ENQUADRAMENTO LEGAL Decreto-Lei nº306/2007 (Anexo I, parte III) Parâmetro Valor paramétrico Unidade Observações Alfa total 0,5 Bq/L Notas 12 e 14 Beta total 1 Bq/L Notas 12 e 14 Trítio 100 Bq/L Notas 12 e 14 Dose Indicativa Total 0,10 msv/ano Notas 13, 14 e 15 Notas 12 a 14: transpostas da Directiva 98/83/EC (Notas 8 a 10, Anexo 1, Parte C) Nota 15: A dose indicativa total só é determinada quando ocorrem incumprimentos dos parâmetros alfa total e beta total. Nestes casos procede-se à determinação das concentrações dos radionuclidos específicos emissores alfa e/ou beta 11

ENQUADRAMENTO LEGAL 0,1 Bq/L Determinação das atividades total e total Screening total 0,5 Bq/L e total 1 Bq/L total > 0,5 Bq/L ou total > 1 Bq/L Determinar a concentração de cada radionuclido e compará-la com os valores de referência Dose Indicativa Total C i, concentração do radionuclido i (Bq L -1 ) na água; FD i, factor de dose (Sv Bq -1 ) para o radionuclido i; Q, taxa anual de consumo de água per capita (L ano -1 ); DIT 0,1 msv/ano A água é própria para consumo humano; não é necessário qualquer outra ação DIT > 0,1 msv/ano Considerar a hipótese de tomar medidas para reduzir a dose e, quando se justificar, acioná-las 12

ENQUADRAMENTO LEGAL Proposta de diretiva da CE (28/03/2012) C i (obs) concentração do radionuclido i (Bq L -1 ) na água; C i (ref), valor de referência do radionuclido i (Bq L -1 ); n, nº de radionuclidos A água é própria para consumo humano Proceder ao controlo do radionuclido durante um ano; 13

ENQUADRAMENTO LEGAL Controlo da concentração em radão Proposta de diretiva da CE (28/03/2012) integra a Recomendação 2001/928/Euratom, de 20 de Dezembro 14

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Entidades públicas e privadas responsáveis pelos sistemas de distribuição de água, laboratórios de análises, etc: Determinação da atividade Alfa/Beta Total por Cintilação Líquida; Determinação da concentração em Trítio por Cintilação Líquida; Determinação da atividade Alfa/Beta Total por Contador Proporcional; Determinação da concentração em Radão e 226 Ra por Cintilação Líquida; Determinação da concentração dos isótopos do urânio, tório, 226 Ra, 210 Po, 210 Pb por espectrometria alfa; Determinação da DIT Acreditadas pelo IPAC (L0620) em 2012 Acreditação 1ºsemestre 2013 A ERSAR só considera aptos os laboratórios acreditados (01/01/2011) 15

OBRIGAÇÕES LEGAIS Decreto Lei 138/05 de 17 de Agosto Atribui à IST/ITN (ex. Instituto Tecnológico e Nuclear) a execução do programa de vigilância radiológica ambiental a nível nacional http://www.itn.pt/docum/pt_bib_reltec.htm Artigo 35 TRATADO EURATOM Cada Estado Membro deve instituir os meios necessários para a realização da monitorização contínua dos níveis de radioatividade no ar, água e solo e assegurar concordância com os Basic Safety Standards ; Artigo 36 TRATADO EURATOM Os resultados são inseridos anualmente na base de dados europeia REM (Radioactivity Environmental Monitoring), Ispra, (Itália) 16

RESULTADOS Parâmetros Radiológicos Alfa total = 0,5 Bq/L Beta total = 1 Bq/L Trítio = 100 Bq/L Resultados de amostras de água para consumo humano analisadas no âmbito do programa anual de monitorização radiológica ambiental a nível nacional 17

NOTAS FINAIS Decreto-Lei nº306/2007 de 27 de Agosto Artigo 37º (regime transitório) : Os parâmetros radiológicos constantes da parte III do Anexo I não são de determinação obrigatório até á definição de diretrizes da Comissão (Artigo 12º da Diretiva 98/83/EC); Após a entrada em vigor do Decreto-Lei, a autoridade competente promove uma caracterização radiológica nacional das águas subterrâneas e superficiais tendentes à definição das áreas geográficas em relação às quais passe a ser obrigatória a determinação dos parâmetros radiológicos; 18

NOTAS FINAIS Proposta de diretiva da CE (28/03/2012) Cada EM deve efetuar a monitorização regular da água para consumo humano de modo a assegurar que as concentrações das substâncias radioativas não excedem os valores paramétricos; A diretiva deverá ser transposta para a legislação nacional 1 ano após a sua publicação no Jornal Oficial da União Europeia; 19

OBRIGADA PELA VOSSA ATENÇÃO!!! 20