UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL EM SISTEMA DE GESTÃO SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL EM SISTEMA DE GESTÃO SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUA NO CENTRO DE TREINAMENTO DE COMBATE A INCÊNDIO: ESTUDO DE CASO SAMPLING PLANEJAMENTO Niterói 2009

SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUA NO CENTRO DE TREINAMENTO DE COMBATE A INCÊNDIO: ESTUDO DE CASO SAMPLING PLANEJAMENTO Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre. Área de concentração: Meio Ambiente. Orientador: Prof.Fernando Benedicto Mainier, D.Sc Niterói 2009

SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUA NO CENTRO DE TREINAMENTO DE COMBATE A INCÊNDIO: ESTUDO DE CASO SAMPLING PLANEJAMENTO Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre. Área de concentração: Meio Ambiente. Aprovado em : / / BANCA EXAMINADORA: Prof. Fernando Benedicto Mainier, D.Sc ( Orientador) Universidade Federal Fluminense Prof. Pedro Ivo Canesso Guimarães, D.Sc. Universidade Estadual do Rio de Janeiro Prof ª. Luciane Pimentel Costa Monteiro, D.Sc. Universidade Federal Fluminense

DEDICATÓRIA A Deus, pela vida e por propiciar tantas oportunidades de estudos e por colocar em meu caminho pessoas amigas, generosas e verdadeiras. A meus pais Josias Tavares e Maria José por ter me ensinado valores como honestidade, sinceridade, ética, legado indispensável na formação de um homem.

AGRADECIMENTOS A Deus, pela infinita misericórdia nos momentos de dúvidas e incertezas, foi e sempre será meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Aos meus pais Josias Tavares e Maria José que embora distante torcem por mim através de seu amor incondicional, não poderia deixar de citar meus irmãos Josineide, Josivan, Tavares, Nildo, Janete, Zilda, Lia, Josias, Josinete e Josina (Nô). A minha família em especial minha esposa Angela Silva e meus filhos Winter Darwin e Winnie Kise que nas horas mais críticas entenderam a importância desta dissertação. As minhas primas Lucia, Dina, Jô e Jorgina, que nas horas de maior turbulência sempre me apoiaram. Ao professor Fernando Benedicto Mainier, mostrou-se compreensivo nos momentos de desalento e principalmente, em indicar o caminho do início ao fim, não me deixando desistir, um exemplo de educador simplesmente inesquecível! As amigas inseparáveis Ana Felet, Renata Gouveia, Rosi Cafieiro, Eliane Marugeiro, Renata Barboza, Cristina Menezes, Wilma Terezinha, Shirlei Gonçalves, Danusa Zimermann, Isabella Caruso, Hulda Gouveia e Sonia Amaral. Aos professores do Latec UFF, em especial aos professores Gilson Brito e Cid Alled pela sabedoria e construção do conhecimento. Ao Ministério do pastor Gilson, obrigado pelas orações. Aos parceiros Philipe Araujo, Arthur Rosmaninho, Bruno Cavalcanti e Gabriel Costa pelo apoio técnico, na solicitude das informações da pesquisa. Aos Educadores Marques, Flávio, Luiz Costa, Jader, Balthazar, Gilberto Abreu, Urakitan, Alexandre Bueno, Almeida, José Carlos, Fábio, Paulo Albuquerque, Josmande, Barroco, Antonio Francisco e a Pedagoga Sheila de um grito de socorro atendido. A Sampling Planejamento na visão filosófica depositado no homem e sua ascenção profissional na valorização da vida como marco desta organização e a oportunidade de concluir o trabalho. Aos amigos, pela torcida e companheirismo. E a todos aqueles que de uma maneira ou de outra contribuíram para que eu pudesse concluir este objetivo. O meu muitíssimo obrigado!!!

Muito estudo; Muita dedicação; Muito trabalho; Muita perseverança; E uma forte dose de audácia; É isso que os outros chamam de sorte... (autor desconhecido)

A água é submissa, mas tudo conquista. A água extingue o fogo ou, diante de uma provável derrota, escapa como vapor e se refaz. A água carrega a terra macia, ou quando se defronta com rochedos, procura um caminho ao redor. A água corrói o ferro até que ele se desintegra em poeira; satura tanto a atmosfera que leva a morte ao vento. A água dá lugar aos obstáculos com aparente humildade, pois nenhuma força pode impedí-la de seguir seu traçado para o mar. A água conquista pela submissão; jamais ataca, mas sempre ganha a última batalha.

RESUMO O consumo de água doce no mundo tem crescido, vertiginosamente, em função do aumento da população nas áreas urbanas, da irrigação no agronegócio e do uso de água nos processamentos industriais, gerando, consequentemente efluentes sanitários e industriais. Isto remete à necessidade precípua de poupar, reduzir, reciclar e desenvolver processos de reúso que não venham na contramão da sociedade, ou seja, estejam baseadas nos princípios da precaução, considerando a possibilidade de ocorrências de contaminações de ordem química e microbiológica presentes nos efluentes. O presente trabalho avaliou numa visão crítica os processos de reúso de uma maneira geral e mais precisamente em Centros de Treinamento de Combate a Incêndio onde o treinamento consome considerado volume de água como agente extintor. As tecnologias simples e criativas desenvolvidas comprovam o sucesso do reúso da água no combate ao desperdício. Palavras chaves: reúso, contaminações, princípio da precaução, treinamento, incêndio.

ABSTRACT The consumption of freshwater in the world has grown dramatically, due to the increase of population in urban areas, irrigation of agri-business and the use of water in industrial processes, leading consequently municipal sewage and industrial. This evokes the need for major duty of saving, reduce, recycle and reuse to develop processes that do not come in the opposite direction of society, or are based on the precautionary principle, considering the possibility of contamination of a chemical and microbiological present the effluents. This study evaluated a critical processes for reuse in general and more specifically in Training Centers Fire Fighting training which consumes considered volume of water as the extinguishing agent. The technologies developed simple and creative prove the success of water reuse in the fight against waste. Key words: reuse, contamination, the precautionary principle, training of fire.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Componentes do ciclo hidrológico... 17 Figura 2 - O uso diversificado dos recursos hídricos desenvolvidos pelo homem... 21 Quadro1 - Exemplos de reúso de água... 29 Figura 3 - Falta de água no Iraque... 30 Figura 4 - Vista geral de um açude... 31 Figura 5 - Atividades de banho e de lavar roupa no próprio açude na Região Nordeste... 31 Figura 6 - Aspecto da seca ocorrida no açude... 32 Figura 7 - Transporte de água por crianças na Região Nordeste... 32 Figura 8 - Transporte de água em galões... 33 Figura 9 - Esquemas de possíveis utilizações de água de reúso... 36 Figura 10 -Modelo proposto para representar o reúso e o ciclo hidrológico da água... 37 Figura 11 -Tipos de reúso de água a partir de esgotos domésticos e industriais... 38 Figura 12 -Reúso indireto não planejado da água... 40 Figura 13 -Reúso direto planejado da água... 40 Figura 14 -Placa fixada avisando da qualidade da água usada na irrigação de jardim... 43 Figura 15 -Placa fixada avisando da qualidade da água de reúso usada na irrigação do gramado... 44 Figura 16 -Placa indicando a proibição de beber e de nadar em lago com recarga de água de reúso... 44 Quadro 2 -Principais parâmetros de qualidade da água... 61 Quadro 3 -Classificação das águas doces, salobras e salinas do país... 64 Figura 17 -Fluxograma do estudo visando a dissertação... 76 Figura 18 -Vista da área de instalação do CTCI de Cabiúnas... 78 Figura 19 -Fluxograma das instalações operadas pela Sampling Planejamento... 79 Figura 20 - Lagoa de Jurubatiba (Cabiúnas)... 79 Figura 21 - Vista da Lagoa de Jurubatiba(Cabiúnas)... 80 Figura 22 - Vista do areal da Lagoa de Jurubatiba (Cabiúnas)... 80 Figura 23 - Ponto de captação da Lagoa de Jutubatiba(Cabiúnas)... 81 Figura 24 -Reservação de água bruta proveniente da Lagoa de Jurubatiba (Cabiúnas) 81 Figura 25 - Aspecto de combate ao fogo no obstáculo Maracanã... 82 Figura 26 - Aspecto da operação na casa de máquinas... 82

Figura 27 - Aspecto do treinamento na casa de máquinas... 83 Figura 28 - Visão do combate ao fogo na árvore de natal... 83 Figura 29 - Visão do combate ao fogo no flange... 84 Figura 30 -Fluxograma da instalação de combate a incêndio de Rio das Ostras... 90 Figura 31 -Visão do centro de treinamento com destaque o castelo d água e as canaletas para recolhimento de água... 91 Figura 32 - Aspecto do campo de treinamento de combate a incêndio... 91 Figura 33 -Aspecto do inicio do treinamento de combate ao fogo no obstáculo Maracanã... 92 Figura 34 -Treinamento de combate ao fogo no obstáculo Maracanã... 92 Figura 35 - Visão do obstáculo na casa de máquinas... 93 Figura 36 - Fogo na casa de máquinas... 93 Figura 37 - Aspecto da operação na casa de máquinas... 94 Figura 38 - Aspecto da operação no sistema de processo e flange... 94 Figura 39 - Visão do combate ao fogo no flange... 95 Figura 40 - Visão do combate ao fogo no vaso... 95 Figura 41 - Visão do obstáculo helicóptero... 96 Figura 42 - Visão do combate ao fogo no helicóptero... 96 Figura 43 - Canaletas por onde vazam a água de combate ao incêndio... 98 Figura 44 - Esquema do SAO... 98 Figura 45 - Esquema de torre de refrigeração com água de reúso... 107

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Projeções dos principais reservatórios de água da Terra... 19 Tabela 2 - Classes de água de reúso pela NBR 13.969... 71 Tabela 3 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2000... 84 Tabela 4 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2001... 85 Tabela 5 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2002... 85 Tabela 6 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2003... 86 Tabela 7 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2004... 87 Tabela 8 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2005... 87 Tabela 9 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2006... 88 Tabela 10 - Análise do castelo d água... 99 Tabela 11 - Análise do ponto de captação do poço artesiano... 100 Tabela 12 - Análise da água de reúso... 100 Tabela 13 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2006... 101 Tabela 14 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2007... 102 Tabela 15 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2008... 102 Tabela 16 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de 2009... 103

LISTA DE SIGLAS ANA Agencia Nacional das Águas ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária AWWA American Water Works Association BC Bacia de Campos BCI Brigade Fire Fighting BSI Básico de Segurança Industrial BST Basic Safety Training CACI Course Advanced Fire Fighting CACIS Centro de Adestramento de Combate a Incêndio e Salvatagem CBSP Curso Básico de Segurança em Plataforma CBSN Basic Course Ship Security CBINC Basic Course of fire Fighting CEE European Economic Community CIA Advanced Fire Fighting CI Fire Fighting CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CIRRA Centro Internacional de Referência em Reúso de Água CTCI Centro de treinamento de Combate a Incêndio CSDLAC County Sanitation Districts of Los Angeles DPC Diretoria de Portos e Costa DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca EMCIA - Equipe de Manobra de Combate a Incêndio em Aeronaves EPI Equipamento de Proteção Individual EPR - Equipamento de Proteção Respiratória EUA United States of America ETE Estação de Tratamento de Esgoto EPA Environmental Protection Agency FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente GLP - Gás Liquefeito de Petróleo

IHP International Hydrological Programme IMO International Maritime Organization INEA Instituto Estadual do Ambiente MENA Mdle East and North Africa MMA Ministério do Meio Ambiente MM Ministério da Marinha MS Ministério da Saúde NBR Norma Brasileira NCSWS National Center for Sustainable Water Supply NORMAM Norma da Autoridade Marítima NRCWSTB National Research Council s Water Science and Technology Board NUPEM Núcleo Pesquisa Ecológica Macaé OMS Organização Mundial de Saúde OG Óleos e Graxas OGM Orgão Geneticamente Modificado ONU Organização das Nações Unidas ph Potencial Hidrogeniônico PNRH Programa Nacional de Recursos Hídricos PSV - Pressure Safety Valve PVC - Poli (cloreto de vinila) REDUC Refinaria Duque de Caxias UE União Européia UNBC Unidade de Negócio Bacia de Campos UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura. UNDP - United Nations Development Programme UN Unidade de Negócios UKWIR - United Kingdom Water Industry Research Limited SAO Separador de Água e Óleo SP Sampling Planejamento SMS Segurança Meio Ambiente e Saúde ZEN Zona Especial de Negócios WHO World Health Organization

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 17 1.1 PANORAMA GLOBAL 17 1.2 OBJETIVOS 23 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 24 1.4 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO 24 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 25 2. REVISÃO DA LITERATURA 26 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS 26 2.2 DEFINIÇÕES, CLASSIFICAÇÕES E FORMAS DE REÚSO DE ÁGUA 34 2.3 AVALIAÇÃO CRÍTICA DE ALGUMAS PRÁTICAS DE REÚSO DE ÁGUA 42 2.3.1 Irrigação de gramados, jardins e suplementação de água em lagos ornamentais 42 2.3.2 Recarga de aquíferos 45 2.3.3 Lavagem de veículos e ruas 48 2.3.4 Descarga de vasos sanitários 48 2.3.5 Represamento de água para fins de reserva de incêndio 48 2.3.6 Utilização industrial 49 2.4 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO APLICADA AO REÚSO DA ÁGUA 51 3. LEGISLAÇÃO 61 3.1 LEGISLAÇÃO APLICADA À RECURSOS HÍDRICOS 61 3.1.1 Levantamento das legislações aplicadas ao reúso 66 3.1.2 Legislação de reúso de água no mundo 66 3.1.3 Legislação de reúso de água no Brasil 68 4. METODOLOGIA 74 4.1 AVALIAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 74 4.2 ESTUDOS DE CASO 75 4.3 ETAPAS DA METODOLOGIA 76 5. ESTUDO DE CASO 77 5.1 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA 77 5.2 DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DE CABIÚNAS (MACAÉ) OPERADA PELA SAMPLING PLANEJAMENTO DO PERÍODO DE 2000 A 2006. 78

5.3 DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DA SAMPLING PLANEJAMENTO (ZEN ZONA ESPECIAL DE NEGÓCIOS), RIO DAS OSTRAS 89 5.3.1 Sistema de reúso de água no Centro de Treinamento de Rio das Ostras 97 5.3.2 Análise e monitoramento da água do Centro de Treinamento (CTCI-ZEN) 99 5.3.3 Quantidade de treinandos e consumo de água no CTCI-ZEN 101 6. CONSIDERAÇÕES GERAIS 104 7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS 110 7.1 CONCLUSÕES 110 7.2 SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS 110 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 112

17 1. INTRODUÇÃO 1.1 PANORAMA GLOBAL De acordo com a opinião de conceituados especialistas em questões ambientais, a água deverá tornar-se, ao longo do século XXI, um recurso natural tão importante e disputado do ponto de vista econômico, social, ambiental e político, quanto foi o carvão e o petróleo para economia mundial ao longo dos últimos 150 anos (MACHADO et al. 2004). O ciclo hidrológico apresentado na Figura 1 é dos modelos propostos para identificar o ciclo de água do planeta, nele é representado a interdependência e o movimento contínuo das águas nas fases sólida, líquida e gasosa. Evidentemente, a fase de maior interesse é a líquida, o que é fundamental para o uso e para satisfazer as necessidades do homem e de todos os outros organismos, sejam animais e vegetais. Figura 1 - Componentes do ciclo hidrológico. Fonte: Tundisi (2003)

Os componentes do ciclo hidrológico segundo Speidel et al. (1988), apud Tundisi, (2005, p.05) são: Precipitação: água adicionada à superfície da terra a partir da atmosfera. Pode ser líquida (chuva) ou sólida (neve ou gelo). Evaporação: processo de transformação da água líquida para fase gasosa (vapor d água). A maior parte da evaporação se dá a partir dos oceanos; nos lagos, rios e represas também ocorre à evaporação. Transpiração: processo de perda de vapor d água pelas plantas, o qual entra na atmosfera. Infiltração: processo pelo qual a água é absorvida pelo solo. Percolação: processo pelo qual a água entra no solo e nas formações rochosas até o lençol freático. Drenagem: movimento de deslocamento da água nas superfícies, durante a precipitação. 18 Até o final dos anos 80, acreditava-se que o ciclo hidrológico no planeta era fechado, ou seja, que a quantidade total de água permanecerá sempre a mesma desde o início da terra. Nenhuma água entraria no planeta Terra a partir do espaço exterior, e nenhuma água o deixaria. Descobertas recentes, entretanto, sugerem que bolas de neve de 20 a 40 toneladas, denominada pelos cientistas de pequenos cometas, provenientes de outras regiões do sistema solar podem atingir a atmosfera da terra. As chuvas de bolas de neve vaporizam-se quando se aproximam da atmosfera e podem ter acrescentado 3 trilhões de toneladas (volume= 3x106 km 3 ) de água em 10.000 anos (FRANK, 1990; PIELOU, 1998 apud TUNDISI, 2005, p.06). A velocidade do ciclo hidrológico varia de uma era geológica para outra, assim com a soma total de águas doces e marinhas. De acordo com Pielou (1998 apud TUNDISI, 2005, P.06) o ciclo hidrológico pode ser considerado o ciclo da vida e, consequentemente, a história natural da água no planeta está relacionada aos ciclos de vida e à história da vida. A Tabela 1 mostra a distribuição da água e dos principais reservatórios de água da Terra.

19 Tabela 1 Projeções dos principais reservatórios de água da Terra. Reservatório Volume de Área Volume Volume água doce (10³ km²) (10³ km³) total (%) (%) Oceanos 361.300 1.338.000 96,5 ------ Água subterrânea 134.800 23.400 1,7 ------ Água doce ---- 10.530 0,76 30,1 Umidade do solo ---- 16.5 0,001 0,05 Calotas polares 16.227 24.064 1,74 68,7 Antártica 13.980 21.600 1,56 61,7 Groelândia 1.802 2.340 0,17 6,68 Ártico 226 83,5 0,006 0,24 Geleiras 224 40,6 0,003 0,12 Solos gelados 21.000 300 0,022 0,86 Lagos 2.058,7 176,4 0,013 ---- Água doce 1.236,4 91 0,007 0,26 Água salgada 822,3 85,4 0,006 ----- Pântanos 2.682,6 11,47 0,0008 0,03 Fluxo dos rios 148.800 2,12 0,0002 0,006 Água na biomassa 510.000 1,12 0,0001 0,003 Água na atmosfera 510.000 12,9 0,001 0,04 Totais 510.000 1.385.984 100 ------ Total de reserva de água doce 148.800 35.029 2,53 100 Fonte: Shiklomanov in IHP/Unesco (1998) A oferta de água no mundo tem relação estreita com a segurança alimentar, o estilo de vida das pessoas, o crescimento industrial e agrícola e a sustentabilidade ambiental. Por outro lado, é um recurso que se encontra mal distribuído. Em termos de sua disponibilidade, poucos países, dentre eles o Brasil, Rússia, Estados Unidos, Canadá, China, Índia, Indonésia, Colômbia, Peru, Zaire e Papua Nova Guiné, estão agraciados, pelo menos por ora, da posse de uma substância verdadeiramente estratégica, fator de estabilidade social interna e da balança de poder na arena

internacional. A água tornou-se, inequivocamente, um recurso sobre o qual incidem com força cada vez maior as atenções do poder, e a disputa por ela, fonte de toda sorte de conflitos em curso ou potenciais (RAFFESTIN, 1993 apud WALDMAN, 2002). De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) um terço da população mundial enfrenta a escassez de água em razão de falhas de gerenciamento das fontes e o aumento no uso de água principalmente pela agricultura. A falta de água está aumentando mais rápido do que se esperava, com a agricultura sendo responsável por 80% do consumo mundial (ONU, 2006). O uso global de água cresceu seis vezes nos últimos cem anos e deve dobrar até 2050 em razão principalmente da cultura de irrigação. Das espécies existentes na Terra, o ser humano é quem mais utiliza água doce disponível, chegando aos dias atuais à cerca de 54% do total acessível e, seguindo a tendência atual nos próximos 25 anos a humanidade absorverá 90% da água doce disponível, restando somente 10% para os demais habitantes do nosso planeta. (PLANETA ORGÂNICO, 2006). Segundo Machado et al. (2004), a água tornar-se-á, com efeito, um recurso estratégico central para o desenvolvimento e a qualidade de vida de grande parte dos países, em especial para o Brasil. Na ótica de Braga et al. (2007), os recursos hídricos podem ser utilizados de várias maneiras, atendendo as diversas atividades industriais, sociais, agrícolas, etc. desenvolvidas pelo homem como mostra o esquema apresentado, a seguir, na Figura 2. O Brasil dispõe de grande quantidade de água, pois possui uma ampla diversificação climática, predominando os tipos equatorial úmido, tropical e subtropical úmidos, e semi-árido sobre menos de 10% do território. Em termos pluviométricos, mais de 90% do território brasileiro recebe abundantes chuvas entre 1000 e 3000 mm/ano (REBOUÇAS, 2006). 20

21 Figura 2 O uso diversificado dos recursos hídricos desenvolvido pelo homem. Fonte: Braga et al. (2007). Porém, um aspecto relevante é que a população brasileira vem cada vez mais se concentrando em áreas urbanas. O crescimento das cidades não se deu de forma planejada e os serviços de coleta e tratamento de esgoto são insuficientes, mesmo nas grandes capitais, atingindo apenas 15% de cobertura. O progressivo aumento da demanda de água doce é função do aumento da população, das áreas de agriculturas irrigadas e do uso da água nos diversos segmentos industriais. Por outro lado, também devem ser somados a este cenário, o mau uso, o desperdício e as contaminações de todos os tipos acabam gerando, consequentemente, a redução e a deterioração gradual da qualidade da água. Tais fatos ou fenômenos resultam em disputas acerca dos usos, conflitos, divergências de opiniões e de interesses, dissensões entre os mais diversos atores sociais, falta de acordo e vontade política, além de consideráveis polêmicas a respeito da definição mais adequada para o termo recursos hídricos.

Em relação ao Brasil, na ótica de Rebouças et al. (2006), o que falta não é propriamente a água, mas sim um padrão cultural que agregue ética e melhore a eficiência de desempenho político dos governos, da sociedade organizada lato sensu, das ações públicas e privadas, promotoras do desenvolvimento econômico, em geral da sua água doce, em particular. Para muitas pessoas, no Brasil, a escassez de água não é vista como uma ameaça, pelo fato do país dispor de uma das maiores bacias hidrográficas do Planeta. Porém, deve-se considerar que as principais reservas de água doce estão nos rios da Bacia Amazônica, muito longe dos grandes centros urbanos e a qualidade de água que efetivamente abastece as maiores cidades do país estão se degradando com muita rapidez. Segundo Mainier (1999) é comum ver algumas cidades onde a qualidade da água é questionável, pois não existem tratamentos de água potável e nem de esgotos, não há distribuição de água encanada e, consequentemente, as valas negras afloram e proliferam por toda parte. A população local fica a deriva, obrigando-a a procura de água em poços rasos, riachos e açudes que de certa forma, acabam recebendo cargas poluidoras. E ainda, completa, que a água não tratada tem sido apontada como responsável, direta e indiretamente, pelas altas taxas de ocupação dos leitos dos hospitais públicos, embora a ignorância, a pobreza, a desnutrição e a falta de saneamento básico estejam associadas a este cenário. Nas regiões áridas onde a água é um fator limitante para o desenvolvimento da agricultura por irrigação, para os segmentos industriais e as atividades urbanosociais, o reúso da água torna-se uma perspectiva atraente do ponto de vista técnico, econômico e de uma política pública de sustentabilidade. O reúso de água já vem sendo amplamente empregado na indústria, principalmente em torres de resfriamento, caldeiras, construção civil, irrigação de áreas verdes e em alguns processos industriais onde a utilização de água com menor padrão de qualidade não ocasione maiores problemas. Desta forma, o reúso de água para fins não potáveis deve ser considerado como a primeira opção para o reúso (MIERZWA; HESPANHOL, 2002). 22

Uma das alternativas para integrar as atividades de reúso que pode ser considerada é a utilização da água de rejeito de um processo produtivo, que necessita de uma água com maior qualidade, em outro processo que possa utilizar uma água com menor qualidade. Esta alternativa se mostra ambientalmente correta, entretanto, continua incorporando impurezas aos corpos receptores de água. A alternativa mais interessante é o reúso da água em um ciclo fechado; isto é, após o uso da água em uma atividade qualquer, que resulta na incorporação de impurezas, tornar a obter uma água com qualidade inicial, utilizando um processo de tratamento adequado. (FRANCO, 2007) Do ponto de vista ambiental a água de reúso é uma opção correta, já que contribui para diminuição da captação e consequente redução nas vazões de lançamento de efluentes. Entretanto, para que possa ser utilizada deve-se levar em conta a questão da saúde pública. Existem padrões para reúso em alguns países do mundo que fazem do reúso de água para fins não potáveis, uma prática habitual. Entretanto, no Brasil, estas práticas são ainda incipientes. O Brasil tem a sua disposição um grande trunfo, porém, medidas concretas e coerentes precisam ser adotadas, evidenciando não só a soberania sobre os recursos hídricos nacionais como igualmente o estabelecimento de políticas públicas e privadas que beneficiem o conjunto da população brasileira. 1.2 OBJETIVOS O presente trabalho tem por objetivo pesquisar, avaliar e tecer considerações críticas sobre o tema reúso de água, destacando-o como uma importante alternativa de gestão integrada dos recursos hídricos, sob o ponto de vista da utilização racional de mananciais. Como exemplo prático para o tema, é apresentada e analisada, uma proposta de reúso de água para fins não potáveis em um centro de treinamento de combate a incêndio visando instalações onshore e offshore. Neste sentido, como objetivos complementares destacam-se: 23 A revisão das principais utilizações de reúso de água não potável. Chamar atenção de profissionais, consultores de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde), gestores públicos e privados (tomadores de decisão e formadores de opinião), para a necessidade de integrar o reúso da água à prática nacional.

Estudar o processo de tratamento simplificado de água de reúso para centros de treinamento de combate a incêndio que não implique em manutenção sofisticada e onerosa. Demonstrar a viabilidade da aplicação da prática de reúso em centros de treinamento de combate a incêndio e da necessidade do reúso dos recursos hídricos como fator de sustentabilidade. 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O estudo está baseado no levantamento das principais tecnologias de reúso de água e sua utilização na questão dos recursos hídricos de um centro de treinamento de combate a incêndio. O estudo não visa enumerar e analisar, criticamente, todos os possíveis arranjos que possibilitem a reutilização de água, e nem descrever tecnicamente os modelos já existentes, mas ilustrar através de exemplos, com dados reais, a necessidade de análise mais ampla das questões técnicas, econômicas, políticas, legais e socioambientais para tomada de decisão em uma proposta dessa natureza. A pesquisa proposta buscou atender às expectativas de profissionais atuantes na área de engenharia, bem como profissionais da área de saúde, meio ambiente e segurança, por ser um trabalho acadêmico, que relacione as variáveis relevantes envolvidas no processo. 1.4 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO Este trabalho ganha um cunho de real importância em nível científico nacional uma vez que a oferta de água de qualidade vem se tornando cada vez mais diminuta, à medida que a população, a indústria e a agricultura se expandem. Nos centros de treinamentos de combate a incêndio, objeto central deste trabalho, as possibilidades e formas potenciais de reúso dependem das características, condições e fatores locais, tais como, decisão e vontade política e disponibilidade de recursos financeiros. 24

No estudo de caso, em particular, os Centros de Treinamento de Combate a Incêndio (CTCI), a estratégia de gestão de recursos hídricos equacionará a sua melhor utilização, com uma política criteriosa de reúso, transformando a situação problema, desperdício de recursos naturais, em um recurso econômico e ambientalmente sustentável com a proposta de reúso de água não potável. 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO O trabalho desenvolve-se em sete capítulos, onde neste primeiro capítulo são apresentados os aspectos introdutórios sobre o assunto abordado, delineandose os objetivos da pesquisa, suas delimitações e importância estabelecida pela associação do fundamento teórico com a aplicação prática. Este capítulo cita, ainda, como foi desenvolvido o trabalho que será detalhado nos capítulos subsequentes. No segundo capítulo buscou-se apresentar, uma fundamentação teórica sobre os conceitos e as diversas aplicações práticas sobre o reúso de água não potável para diversos segmentos, bem como, as preocupações a respeito do reúso de água. No terceiro capítulo são apresentadas as legislações pertinentes ao objeto do estudo. O quarto capítulo apresenta a metodologia da pesquisa, as principais etapas e a coleta de dados que ajudaram na estruturação da sequência lógica da pesquisa. No quinto capítulo, a pesquisa procura consolidar uma sistemática da proposta de reúso de água não potável a partir de um estudo de caso utilizando uma instalação de treinamento de combate a incêndio em instalações onshore e offshore. No sexto capítulo são apresentadas as considerações gerais de toda pesquisa e o no sétimo capítulo engloba as conclusões e as propostas de trabalhos futuros. E após o término dos capítulos são apresentadas as referências bibliográficas. 25

26 2. REVISÃO DA LITERATURA O crescente consumo de água doce decorre, direta e indiretamente, do aumento da população nas cidades, do aumento das áreas de agricultura irrigadas e do uso de água nos processamentos industriais. Por outro lado, considerando o ciclo da água, verifica-se que a oferta não é constante, ou seja, a capacidade de produção de água limpa é cada vez mais reduzida, em função das atividades humanas, seja ela, urbana, industrial ou rural. Isto remete à necessidade precípua de poupar, reduzir, reciclar e desenvolver processos de reúso que não venham na contramão da sociedade. Visando aclarar os conceitos, gerais e específicos, do termo reúso de águas para diversos fins é apresentado, a seguir, um levantamento na literatura especializada, procurando identificar os aspectos históricos, os processos, as vantagens, as desvantagens e os riscos inerentes envolvidos. 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS Segundo Rocha et al. (2009), a irrigação e a drenagem dos canais das regiões pantanosas da Mesopotâmia (rios Tigre e Eufrates) e do Egito (delta do Nilo) datam de aproximadamente cerca de 5.000 anos a.c. Com base nos trabalhos arqueológicos, pode-se afirmar que o reúso de água já era praticado há cerca de 3.000 a.c., como mostram as evidências da utilização de esgotos na agricultura praticadas pela civilização de Minoam, na Grécia Antiga (CHARTZOULAKIS et al. 2001; ANGELAKIS; KOUTSOYIANNIS, 2003; 2005). Outra evidência de preocupação com a qualidade da água para usos mais nobres remonta da Roma Antiga (97 d.c.), onde os operadores dos aquedutos romanos classificavam as águas transpostas em função de sua qualidade e abundância, atribuindo usos diferenciados para cada uma delas (SILVA et al. 2003). Segundo Rocha et al. (2007), os aquedutos foram construídos pelos romanos para transportar por gravidade a água das fontes das montanhas para as vilas e cidades. A utilização de água para beber e cozinhar limitava-se às pessoas que podiam transportá-la de um poço ou de um riacho até seus domicílios, usando jarras, ânforas ou outros utensílios.

Considerando que, em tempos remotos, o conhecimento humano sobre a origem das doenças era muito limitado, concluiu-se que os rudimentares tratamentos de água que antigas civilizações empregavam tinham como objetivo a melhora de seu aspecto visual e sabor. Com a assimilação dos conhecimentos acerca da origem das doenças e das formas de evitá-las, o grande marco a respeito das doenças de veiculação hídrica foram os trabalhos ligados à epidemiologia de cólera que assolou Londres em 1854, no distrito de Broad Street. Esses trabalhos foram desenvolvidos pelo médico sanitarista inglês John Snow, que contribuiu de forma significativa para o conhecimento do modo de transmissão da doença. Mais do que relacionar a transmissão dessa peste pela água, Snow relacionou-a com sua qualidade, mudando de forma radical o conhecimento da época sobre a necessidade de sua preservação. De certa forma, as contaminações por efluentes domésticos e o crescimento populacional contribuíram para o caos (BRANCO, 1978). Em meados do século XIX, com a evolução dos grandes conglomerados urbanos e de sistemas de esgotamento sanitário que conduziam os esgotos para disposição em corpos de água (rios, lagos e mar), é que foram constatadas as primeiras evidências do reúso de água para fins potáveis (no caso não planejado), ou seja, as comunidades que se instalavam a jusante destes centros urbanos consumiam águas que já teriam sido utilizadas. Este fato, associado à escassez de tecnologias para o tratamento de água e esgotos resultou nas catastróficas epidemias dos anos 1840 e 1850 como a febre asiática e febre tifóide (ASANO; LEVINE, 1996). Rocha et al. (2009), relatam que o higienista Max Von Pettenkofer, em 1884, já alertava para os perigos da contaminação das fontes de água pela infiltração das fossas construídas juntas aos poços de coleta d água. Tal fato foi alarmante, pois, na época já existiam, em Munique (Alemanha), mais de 6.000 fossas para detritos humanos. Na ótica de Asano et al. (2007), a eliminação das águas sanitárias foram, primeiramente, dispersas, em áreas não habitadas e nos rios. Entretanto, a partir do advento dos esgotos no século XIX e as consequentes explorações dos serviços de água e esgotos, tanto na Europa e quanto nos Estados Unidos, a partir de 1900, levaram as Empresas de Serviços à busca de águas confiáveis e o descarte das águas sanitárias. 27

Provavelmente, a utilização de águas sanitárias na agricultura tenha ocorrido acidentalmente, embora, no passado remoto as águas residuárias foram usadas na agricultura. Ainda, com base em Asano et al. (2007), a crescente necessidade de água confiável resultou no desenvolvimento de uma série de projetos de valorização e reutilização de água. No Quadro 1, a seguir, são apresentados exemplos selecionados que retratam a evolução histórica da reutilização de água em diferentes partes do mundo. Diante da escassez de fontes de água doce e da demanda crescente é fundamental que as fontes alternativas venham tomar lugar no cenário da sociedade, de tal forma, que as fontes de melhor qualidade sejam liberadas para uso mais nobres, como por exemplo, para água potável. Os projetos e os tratamentos devem visar às fontes de qualidade questionável, como as águas provenientes dos esgotos domésticos, as águas salobras, as águas industriais, desde que tenham um monitoramento contínuo e não venham causar, direto ou indiretamente, danos à saúde da população. 28

29 Ano Localização Exemplo de reúso de água. 1912 a 1985 1926 Parque Golden Gate, São Francisco, Califórnia, USA Parque nacional do Grand Canyon, Arizona, USA Irrigação de gramados e suplementação de água em lagos ornamentais. Água de banheiros, irrigação de gramados e água de alimentação de caldeiras e sistemas de refrigeração. 1929 Pomoma, Califórnia, USA Irrigação de gramados e jardins. 1942 Baltimore, Maryland, USA 1960 Colorado Springs, Colorado, USA 1962 La Soukra, Tunísia Água para resfriamento e processamento em siderúrgica Bethlehem Steel Company. Irrigação em gramados, campos de golfe, cemitérios, acostamentos de estradas. Irrigação de frutas cítricas e injeção no lençol freático para reduzir a salinidade da água. 1969 Wagga Wagga, Austrália Irrigação de gramados e cemitérios. 1970 1977 Enstra, África do Sul St. Petersburg, Flórida,USA Uso de água tratada de esgoto municipal em indústria de celulose e papel. Irrigação em gramados de escolas, residências, campos de golfe e reposição de água para sistema de refrigeração. 1984 Tóquio Projetos de reúso de água. 1985 El Paso, Texas, USA Recarga do lençol freático da região e água de alimentação de sistema de resfriamento de usina termoelétrica. 1987 Monterey, Califórnia, USA Irrigação na agricultura. 1989 Shoalhaven Heads, Austrália 1989 Costa Brava,Girona, Espanha 1993 Denver, Colorado Irrigação de gramados e água para banheiros. Irrigação em gramados de campos de golfe. Unidade de demonstração de reúso de água potável. 1999 Adelaide, Austrália Irrigação na agricultura. 2002 Cingapura Suprimento do sistema de água. 2003 Sacramento, Califórnia Água de circulação. Quadro 1 Exemplos de reúso de água. Fonte: Asano et al. (2007)

Verifica-se, com o decorrer do tempo, que a desigual distribuição da precipitação, o mau uso que se vem fazendo da água captada e o crescimento populacional tem ocasionado problemas de abastecimento. Hoje, na categoria de áreas com escassez de água, existem 26 países que abrigam 262 milhões de pessoas. Agravante é o fato de que a população está crescendo mais rapidamente onde é mais aguda a falta de água. No Oriente Médio, 9 entre 14 países vivem em condições de escassez, seis dos quais devem duplicar sua população dentro de 25 anos. No Oriente Médio, a retirada excessiva de água dos aquíferos subterrâneos provoca a intrusão da salinidade do oceano, que contamina a água do subsolo. A Figura 3 é o retrato da falta de água nessas regiões. 30 Figura 3 Falta de água no Iraque Fonte: Jornal O Globo (2005) Em algumas regiões brasileiras, a escassez de água, principalmente, em certas regiões do ano, é sempre recorrente. Geralmente, ocorre devido às condições climáticas associadas à falta de planejamento público. Ora os açudes estão cheios de água (Figura 4) que servem à população local tanto para usar como água potável ou para outras atividades como a de lavar roupa (Figura 5).

31 Figura 4 Vista geral do açude Fonte: Mainier (1994) Figura 5 Atividades de banho e de lavar roupa no próprio açude no nordeste Fonte: Mainier (1999) É bastante comum, com a falta de chuvas ou a seca que ocorre nos pequenos riachos circundantes, que esses açudes fiquem, praticamente, secos conforme mostra a Figura 6.

32 Figura 6 Aspecto da seca ocorrida no açude Fonte: Mainier (1999) Em alguns vilarejos, a falta de água constante já faz parte do cenário do cotidiano, conforme, mostram as Figuras 7 e 8. Figura 7 Transporte de água por crianças na região nordeste Fonte: Mainier (1999)

33 Figura 8 Transporte de água em galões Fonte: Mainier (1999) No livro Last Oasis, de Sandra Postel (apud SANTOS; MANCUSO, 2003, p.02 e 03), sabe-se que 40% da população mundial vive em bacias hidrográficas compartilhadas por dois ou mais países, frequentemente em litígio, como é o caso da Índia e Bangladesh, por causa do rio Ganges; no México e Estados Unidos, por causa do rio Colorado e da República Eslovaca e Hungria, por causa do rio Danúbio. Segundo, argumenta Sandra Postel (apud SANTOS; MANCUSO, 2003, p.02 e 03), como no caso do Parque Nacional de Everglades, na Flórida, que pode sofrer falência ecológica, dentro de aproximadamente vinte anos, em razão da poluição e das tomadas de água que têm sido feitas com fins agrícolas e urbanos. A solução do problema passa pelo aumento na eficiência da distribuição da água captada. Sessenta e cinco por cento de toda água captada são utilizadas na agricultura, 25% nas indústrias e os restantes 10% são encaminhados para diversos fins urbanos. Técnicas modernas de irrigação poderiam contar com mais suporte governamental, substituindo métodos com mais de cinco mil anos empregados em várias regiões do globo, o que reduziria o desperdício. (SANDRA POSTEL apud SANTOS; MANCUSO, 2003, p.02 e 03).

Outro aspecto a ser explorado diz respeito à água que depois de usada, é descartada. Sua adaptação para um novo uso, mediante tratamento adequado, pode constituir um manancial alternativo, particularmente para fins industriais, ampliando-se a economia advinda de reciclagens internas, já praticadas por muitas indústrias. No exterior, são frequentes os exemplos de lavanderias condominiais substituindo as máquinas de lavar roupa dos apartamentos. Uma alternativa de conservação de água bastante conhecida é a recirculação do esgoto secundário de pisos e pias para a descarga de vasos sanitários. No Brasil, um empreendimento de porte significativo que adotou a prática de reúso de água, localiza-se no aeroporto de Guarulhos-SP. Trata-se do projeto de reciclagem da água do seu terceiro terminal, para utilização em descargas sanitárias, lavagens de pistas, lavagem de aeronaves e sistemas de resfriamento (LEITE, 2003). O reúso era considerado uma opção exótica, mas tornou-se uma alternativa que não pode ser ignorada, notando-se distinção cada vez tênue entre técnicas de tratamento de água e de tratamento de esgotos. Em verdade, o tratamento de água deve ser visto como um meio de purificar a água de qualquer grau de impureza para um grau de pureza que seja adequado ao uso pretendido. 2.2 DEFINIÇÕES, CLASSIFICAÇÕES E FORMAS DE REÚSO DE ÁGUA A literatura consultada apresenta várias versões e terminologias referentes, direta e indiretamente, ao reúso de água. A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES, 1992) classificou o reúso de água em duas grandes categorias: potável e não potável. Reúso potável Reúso potável direto: o esgoto recuperado, por meio de tratamento avançado, é diretamente reutilizada no sistema água potável. Reúso potável indireto: caso em que o esgoto, após tratamento, é disposto na coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação natural e subsequente captação, tratamento e finalmente utilizado como água potável. Reúso não potável 34

Este tipo de reúso apresenta um potencial muito amplo e diversificado. Por não exigir níveis elevados de tratamento, vem se tornando um processo viável economicamente e, consequentemente, com rápido desenvolvimento. Em função da diversidade de uso, pode ser classificado em: Reúso não potável para fins agrícolas: embora quando se pratica essa modalidade de reúso via de regra haja, como subproduto, recarga de lençol subterrâneo, o objetivo principal dessa prática é a irrigação de plantas alimentícias, tais como árvores frutíferas, cereais, entre outras, plantas não alimentícias, pastagens, forrageiras, além de ser aplicável para dessedentação de animais. Reúso não potável para fins industriais: abrange os diversos usos industriais tais como: refrigeração, águas de processo, utilidades, etc.; Reúso não potável para fins recreacionais: reservada à irrigação de plantas ornamentais, campos de esportes, parques e também para enchimento de lagoas ornamentais recreacionais, etc. Reúso não potável para manutenção de vazões: a manutenção de vazões de cursos de água promove a utilização planejada de efluentes tratados, visando uma adequada diluição de eventuais cargas poluidoras a eles carreados, incluindo-se fontes difusas, além de propiciar uma vazão mínima na estiagem. Reúso não potável para fins domésticos: são considerada nestes casos de reúso de água para rega de jardim, descarga sanitária que é utilizado em grandes edifícios. Reúso não potável para aquicultura: consiste na produção de peixes e plantas aquáticas visando a obtenção de alimentos e/ou energia, utilizando-se nutrientes presentes nos efluentes tratados. Reúso não potável para recarga de aquífero subterrâneo: é a recarga dos aquíferos subterrâneos com efluentes tratados, podendo se dar de forma direta através de injeção sob pressão, ou de forma indireta utilizando-se águas superficiais que tenham recebido descargas a montante. 35

36 Na ótica de Rocha et al. (2009), os tipos de reúso podem ser diretos ou indiretos, planejados ou não. No reúso direto planejado das águas, os efluentes são tratados e enviados diretamente dos pontos de descarga até o local do reúso. Os principais tipos de reúso são: agrícola, urbano, industrial e no próprio ambiente. Os autores apresentam na Figura 9 o esquema de possíveis utilidades para águas de efluentes domésticos e industriais após tratamentos nas Estações de Tratamentos de Efluentes (ETE). Figura 9 Esquema de possíveis utilizações de água de reúso Fonte: Rocha et al. 2009; adaptada de Branco (1999) Na visão de Asano et al. (2007), a água recuperada é definida como um efluente, convenientemente, tratado numa Estação de Tratamento para uma determinada reutilização da água pretendida. Além disso, a reutilização da água diretamente requer a existência de um sistema de bombeamento ou de outras facilidades de transporte para o fornecimento da água. A reutilização indireta é realizada através da descarga de um efluente para receber água para absorção ou diluição, esta água de reciclagem, normalmente, é utilizada para um uso específico e de certa forma para um usuário definido. Ou seja, o efluente é novamente capturado e ao ser redirecionado volta para esse regime de

utilização. Neste contexto, a reciclagem de água, predominantemente, é praticada na indústria. O modelo proposto por Asano; Levine (1996), Figura 10, apresenta o ciclo hidrológico da água adaptada à prática do reúso mostrando as diversas utilizações da reutilização da água tratada, como, por exemplo, água para uso municipal e uso industrial. Além disso, indica a possibilidade de re-injeção no lençol freático e recarregamento de água superficial (lagos e lagoas). 37 Figura 10 Modelo proposto para representar o reúso e o ciclo hidrológico da água modificado Fonte: Asano; Levine (1996) Na visão de Braga et al. (2007), a água reciclada ou percolada pelo ciclo hidrológico por meio de sistemas naturais é um recurso limpo e seguro, entretanto, uma vez contaminada pelas atividades atrópicas, pode ser recuperada por tratamentos específicos e reusada para diversos fins. As possibilidades de reúso da água dependem das características físicoquímica e biológicas da própria água, dos fatores econômicos, sociais, políticos e legislações específicas. Braga et al. (2007), propõem, na Figura 11, um modelo com os tipos de reúso a partir de esgotos domésticos e industriais.

38 Figura 11 Tipos de reúso de água a partir de esgotos domésticos e industriais Fonte: Braga et al. (2007) Na visão crítica de Hespanhol (1999) são destacadas três aplicações potenciais de reúso não potável da água: urbano, agrícola e industrial. Os usos urbanos não potáveis envolvem riscos menores e devem ser considerados como a primeira opção de reúso na área urbana. Entretanto, cuidados especiais devem ser tomados quando ocorre contato direto do público com água reutilizada. Os maiores potenciais desse processo são os que empregam esgotos tratados para: Irrigação de áreas ajardinadas ao redor de edifícios públicos, residenciais e industriais. Sistemas decorativos aquáticos tais como fontes e chafarizes, espelhos e quedas d água. Reserva de água de proteção de combate a incêndio. descarga sanitária em banheiros públicos e em edifícios comerciais e industriais. Lavagem de ruas, trens e ônibus públicos. Na visão metodológica de reúso, Lavrador Filho (1987) sugere uma terminologia com maior nível de detalhamento para uniformização do tema utilizando com as seguintes expressões:

Reúso de água: significa designar o aproveitamento de águas já utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma atividade humana, para o atendimento das necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Podendo ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou não planejadas. Reúso indireto não planejado de água: decorre da reutilização da água uma ou mais vezes em alguma atividade humana e a mesma é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada. Nesta situação, o reúso da água é um subproduto não intencional da descarga de montante. Após sua descarga no meio ambiente, o efluente será diluído e sujeito à processos como autodepuração, sedimentação, dentre outros, além de eventuais misturas com outros despejos advindos de diferentes atividades humanas conforme ilustra a Figura 12. 39 Figura 12 - Reúso indireto não planejado de água Fonte: Rodrigues (2005)

40 Reúso planejado de água: o reúso acontece como resultado de uma ação humana consciente, adiante do ponto de descarga do efluente a ser usado de forma direta ou indireta. Esta categoria pressupõe a existência de um sistema de tratamento de efluentes que atenda aos padrões de qualidade requeridos pelo novo uso que se deseja fazer da água. O reúso planejado também pode ser denominado Reúso Intencional da Água. Reúso indireto planejado de água: para este tipo, os efluentes, após receber o devido tratamento, são descarregados de forma planejada nos corpos de água superficiais ou subterrâneos, para serem a jusante em sua forma diluída e de maneira controlada, no intuito de algum uso benéfico. Reúso direto planejado de água: os efluentes, após os tratamentos necessários, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reúso, sendo submetidos aos tratamentos adicionais e armazenamentos necessários, mas não sendo, em nenhum momento, descarregado no meio ambiente, durante o seu transcurso conforme ilustra a Figura 13. Figura 13 - Reúso direto planejado de água Fonte: Rodrigues (2005)

Reciclagem de água: trata-se de reúso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, para servir como fonte suplementar de abastecimento do uso original. É um caso particular do reúso direto. 41 Para o reúso indireto planejado pressupõe-se que, além do controle realizado a montante, na descarga, e a jusante, na captação, existam ainda um controle das eventuais novas descargas de efluentes nesse percurso, para garantir que, além das ações naturais do ciclo hidrológico, o efluente tratado esteja sujeito apenas a eventuais misturas com outros efluentes lançados no corpo de água, os quais também atendam aos requisitos de qualidade do reúso objetivado. Nesse sentido, a descarga do efluente tratado, no meio ambiente, pode ocorrer para promover a melhoria de sua qualidade, para armazenamento, para uma modulação de vazões ou mesmo por motivos psicológicos do usuário localizado a jusante. Alguns usos citados requerem distribuição em caminhões, como por exemplo na lavagem de ruas, enquanto para outros são necessários sistema separados de distribuição, o que a literatura define como sistema duplo (sistema dual). Os problemas associados ao reúso urbano para fins não potáveis são, principalmente, custos elevados de sistemas duplos de distribuição, dificuldades operacionais e riscos potenciais de ocorrência de conexões cruzadas. Os custos, entretanto, devem ser considerados em relação aos benefícios de conservar água potável e de, eventualmente, adiar ou eliminar a necessidade de desenvolvimento de novos mananciais para abastecimento público. O reúso reduz a demanda sobre mananciais de água devido à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior (água bruta). Essa prática, atualmente muito debatida, no mundo acadêmico e tecnológico, posta em evidência e que já é utilizada em muitos países, é baseada no conceito de substituição de fontes. Tal substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso específico como é o caso de um sistema de treinamento em combate a incêndio, objeto do presente trabalho. Dessa forma, grandes volumes de água potável e água bruta podem ser poupados pelo reúso quando se utiliza água de qualidade inferior (geralmente efluentes tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir desse recurso dentro dos padrões de potabilidade.