PRODUÇÃO DE MUDAS DE NIM SOB IRRIGAÇÃO SUPLEMENTAR COM ÁGUAS SALINAS, BIOFERTILIZANTE E DRENAGEM F. de O. Mesquita 1 ; L. F. Cavalcante 2 ; B. L. M. T. Diniz 3 ; A. G. de L. Souto 4 ; A. J. Lima Neto ; R. F. Medeiros RESUMO: Um experimento foi executado no período de janeiro a junho de 10, em ambiente telado do Departamento de Solos e Engenharia Rural, CCA/UFPB, Areia, PB, Brasil, para avaliar o desempenho de mudas de nim submetidas à salinidade da água de irrigação no solo com biofertilizante bovino e drenagem do solo. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, esquema fatorial x 2 x 2, com quatro repetições, referente a cinco níveis de salinidade da água de irrigação: 0,; 1,; 3,0; 4, e 6,0 ds m -1, no solo sem e com biofertilizante bovino, na presença e ausência de drenagem do solo. As variáveis analisadas foram: índice de velocidade de emergência, condutividade elétrica do solo e crescimento em altura. O biofertilizante foi diluído em água não salina (0,49 ds m -1 ) e não clorada na razão de 1:1, depois foi aplicado uma única vez, dois dias antes da semeadura, ao nível de 10% do volume do substrato. As irrigações foram feitos com cada tipo de água fornecendo um volume diário suficiente para elevar a umidade do solo para o nível mais próximo da capacidade de campo. O biofertilizante mitiga, mas não elimina a ação da salinidade da água e do solo às plantas de nim. PALAVRAS-CHAVE: Azadirachta indica A. Juss. Insumo Orgânico. Salinidade da Água. PRODUCTION OF NEEM SEEDLINGS UNDER SUPPLEMENTARY IRRIGATION WITH SALINE WATER, BIOFERTILIZER AND DRAINAGE ABSTRACT: An experiment was carried during the period of January to June/10, in conditions of greenhouse, from Department of Soils and Agricultural Engineering, Center for Agricultural Sciences, Federal University of Paraiba, Areia, PB, Brazil, to evaluate the behavior for neem seedlings submitted to salinity of irrigation water in soil with bovine biofertilizer and drainage. The experimental design was in randomized blocks with factorial scheme x 2 x 2, with four repetitions, referring at the five salinity levels of irrigation water: 0., 1., 3.0, 4. and 6.0 ds m -1, in soil without and with bovine biofertilizer, without and with soil drainage. The variables analyzed were: emergency velocity index, 1 Mestrado em Manejo de Solo e Água. CCA/UFPB, Areia PB, e-mail: mesquitaagro@yahoo.com.br 2 Prof. Doutor, Depto de Solos e Engenharia Rural, CEP: 8397-000, CCA/UFPB, Areia PB, Fone (83) 3362-2300 3 Profa. Doutora, Depto de Agropecuária do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias da UFPB, Bananeiras, 4 Estudante de graduação, CCA/UFPB, Areia PB, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Depto de Solos e Adubos, FCAV/UNESP, Jaboticabal SP.
electric conductivity of soil and growth in height. The bovine biofertilizer after diluted in noon-saline water (0,49 ds m -1 ) e not chlorinated in reason to 1:1, was applied an once two days before sowing at level to 10% of substrate volume. The plants were irrigated daily with each type of water in volume sufficient to mount the soil with water content at level of field capacity. The biofertilizer mitigates, but does not eliminate the action of water salinity and soil to plants neem. KEY WORDS: Azadirachta indica, organic input, water salinity. INTRODUÇÃO O nim (Azadirachta indica A. Juss) é uma árvore exótica, frondosa, resistente e de rápido crescimento pertencente à família Meliaceae, originária da Ásia (AZEVEDO et al., 10), sendo amplamente estudada devido às substâncias bioinseticidas, produção de madeira e na recuperação de áreas degradadas (NEVES & CARPANEZZI, 09). Devido ao seu uso múltiplo, das características de rusticidade e pela ação potencial da azadiractina como composto mais eficiente no controle de diversas pragas agrícolas constituem segundo Neves (04) critérios para o uso em programas de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas fisicamente nas regiões costeira e semiárida do Nordeste, inclusive no estado da Paraíba. Entretanto, no que se refere ao crescimento inicial e ao seu estabelecimento em ambientes afetados pela salinidade as informações são ainda recentes na literatura. Nesse sentido, Freire et al. (10), constataram que o nim durante a formação de mudas e até o primeiro ano comporta-se como moderadamente tolerante e moderadamente sensível à salinidade. Nesse sentido, uma das formas de minimizar os efeitos deletérios da salinidade é a utilização de drenagens ou lavagens dos sais solúveis presente na superfície do solo para além da zona radicular. Haja vista, a qualidade da água, demanda evaporativa alta e poucos índices pluviométricos causam grande preocupação aos sistemas agrícolas bem como a degradação de solos pelo excesso de sais presentes na água de irrigação. Por isso, como método alternativo, têm sido empregados na agricultura alguns insumos, em maior proporção os orgânicos, dentre eles, o biofertilizante bovino, fornecido ao solo na forma líquida (CAVALCANTE et al., 10). Diante do exposto, o trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho inicial de nim em solo não salino irrigado com águas salinas, com biofertilizante bovino e drenagem do solo. MATERIAL E MÉTODOS Um experimento foi conduzido em ambiente protegido no período de janeiro a junho de 10, Departamento de Solos e Engenharia Rural, CCA/UFPB, localizado no município de Areia, PB, Brasil e clima da região segundo a classificação de Köppen é do tipo As (quente e úmido), com precipitação média anual de 10 mm e a estação chuvosa caracterizada no período de março a julho ou até agosto. A temperatura média da região de 24, o C, umidade relativa média de 71,%, com valor máximo em maio de 83% e mínimo de 60% no mês de janeiro. Os tratamentos foram distribuídos em blocos casualizados, com quatro repetições, em arranjo fatorial x 2 x 2, referente aos níveis crescentes de salinidade da água de irrigação: 0,;
1,; 3,0; 4, e 6,0 ds m -1, em solo sem e com biofertilizante, presença e ausência de drenagem. Os níveis salinos das águas de irrigação foram preparados a partir da diluição de uma água de barragem fortemente salina (CEa = 12,4 ds m -1 ) com água não salina de 0, ds m -1 conforme (MESQUITA et al., 10). Como substrato foi utilizado um LATOSSOLO VERMELHO Amarelo distrófico de textura arenosa (SANTOS et al., 06) coletado na camada de 0-0,10 m. Amostras de solo foram passadas em peneira com malha de 2 mm e analisadas quanto aos atributos químicos e físicos (EMBRAPA, 1997) e de salinidade (RICHARDS, 194) como indicados na (Tabela 1). As unidades experimentais foram compostas por baldes plásticos com diâmetro de 26,11 cm de base e 37 cm de altura, com capacidade máxima para dm -3. O biofertilizante comum (água + esterco fresco de bovino) foi obtido sob fermentação anaeróbica. Para se produzir 0 L de biofertilizante comum ou puro, foram adicionados 100 L de esterco bovino fresco mais 100 L de água em um recipiente com capacidade máxima para 240 L, mantendo-o hermeticamente fechado durante período de trinta dias (SANTOS, 1992). O biofertilizante na proporção de 1:1, foi analisado como se fosse água para irrigação e apresentou os seguintes valores: Ca 2+ = 1,17, Mg 2+ = 0,6, Na + = 2,43, K + = 0,18, Cl - = 3,43; HCO 3 = 0,29 mmol c L -1 e condutividade elétrica a 2 ºC = 3,39 ds m -1 e ph= 6,74 (RICHARDS, 194). As irrigações foram feitos com cada tipo de água fornecendo um volume diário suficiente para elevar a umidade do solo para o nível mais próximo da capacidade de campo. A avaliação da cultura foi feita aos 83 dias após a semeadura, onde se obteve os valores da condutividade elétrica do solo determinados pelo extrator de Richards e os dados de crescimento em altura mensurados quinzenalmente com régua graduada. Os resultados foram submetidos à análise de variância, sendo o nível de significância determinado pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Tukey a % de probabilidade. As variáveis quantitativas foram submetidas à análise de regressão polinomial (BANZATTO & KRONKA, 08). Para o processamento dos dados foi utilizado um software demonstrativo do programa SAS. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao comparar os valores da condutividade elétrica do solo antes de iniciar o experimento na ordem de 0,79 ds m -1 (Tabela 1) com os obtidos aos 180 dias após a semeadura, constata-se que o solo teve sua condutividade elétrica aumentada de 0,79 para até 17,61 ds m -1 nos tratamentos sem drenagem do solo e com biofertilizante (Figura 1D1). Os substratos avaliados pela drenagem do solo e com o incremento da salinidade da água de irrigação, os valores variaram de 11,41 a 13,0 ds m -1 no solo sem e com biofertilizante bovino, respectivamente (Figura 1D2). A superioridade dos níveis salinos no solo tratado com biofertilizante em relação no solo sem o respectivo insumo é devido à elevada condutividade elétrica que apresentava, no momento de sua aplicação, valor de 3,39 ds m -1. Esse valor corresponde a uma água de restrição severa quanto à salinização dos solos (AYERS & WESTCOT, 1999). Além disso, a temperatura média no local de execução do experimento até 44,9 ºC no interior da casa de vegetação também pode ter contribuído para o significativo aumento da salinidade com reflexos negativos no comportamento vegetativo das plantas (CAVALCANTE & CAVALCANTE, 06). No solo sem a drenagem agrícola, os valores referentes ao crescimento em altura variaram de 13,98 até 49,4 cm, isto é, no solo sem e com biofertilizante bovino, respectivamente (Figura
2D1). Apesar da elevada dispersão dos dados (Figura 2D2), as mudas de nim tiveram altura aumentada de 16,61 para até 38,28 cm, ambas as situações, foram no solo sem e com insumo orgânico, correspondendo a maior salinidade usada na água de irrigação (6 ds m -1 ). Essa resposta pode ser provavelmente pela componente osmótica resultante de elevadas concentrações de sais dissolvidos na solução do solo, os quais reduzem o potencial osmótico da solução diminuindo, consequentemente, a disponibilidade de água para as plantas (GARCÍA et al., 11). CONCLUSÃO O aumento da salinidade das águas elevou o caráter salino do solo e inibiu o crescimento das plantas, mas com menor comprometimento nos tratamentos com biofertilizante bovino e com drenagem do solo. O biofertilizante mitiga, mas não elimina a ação da salinidade da água e do solo às plantas de nim. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYERS, R. S.; WESTCOT, D. W. A qualidade da água na agricultura. Trad. H. R. Gheyi et al., Campina grande: UFPB, 1999. 13p. (Estudos FAO: Irrigação e Drenagem, 29). AZEVEDO, A. I. B. de; LIRA, A. da S.; CUNHA, L. C. da.; ALMEIDA, F. de A.; ALMEIDA, R. P. de. Bioatividade do óleo de nim sobre Alphitobius diaperinus em sementes de amendoim. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, vol.14, n.3, p. 309-313, 10. BANZATTO, D A; KRONKA, SN. Experimentação agrícola. 4. ed. Jaboticabal: UNESP, 08. 247pp. CAVALCANTE, L. F.; CAVALCANTE, I. H. L. Uso de água salina na agricultura. In: CAVALCANTE, L. F.; LIMA, E. M (eds). Algumas Frutíferas Tropicais e a Salinidade. Jaboticabal: FUNEP, Cap.1, p. 1-17, 06. CAVALCANTE, L. F.; VIEIRA, M. S.; SANTOS, A. F.; OLIVEIRA, V. M.; NASCIMENTO, J. A. M. Água salina e esterco bovino líquido na formação de mudas de goiabeira cultivar Paluma. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 32, p. 21-261, 10. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de métodos de análise do solo. 2ed. Rio de Janeiro (Embrapa CNPS. Documentos, 1). (1997). 212p. GARCÍA, B. L.; ALCÁNTARA, L. P.; FERNÁNDEZ, J. L. M. Soil tillage effects on monovalent cations (Na+ and K+) in vertisols soil solution. Catena, Espanha, v. 84, p. 61 69, 11. FREIRE, J. L. O.; CAVALCANTE, L. F.; REBEQUI, A. M.; DIAS, T. J.; NUNES, J. C.; CAVALCANTE, I. H. L. Atributos qualitativos do maracujá amarelo produzido com água salina, biofertilizante e cobertura morta no solo. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, Recife, v., n.1, p.102-110, 10. MESQUITA, F. O.; CAVALCANTE, L.F.; REBEQUI, A. M.; LIMA NETO, A. J. DE.; NUNES, J. C.; NASCIMENTO, J. A. M. dos. Produção de mudas de maracujazeiro amarelo em substrato com biofertilizante bovino irrigado com águas salinas. Agropecuária Técnica. Areia, PB, v. 31, n. 2, p.1-9, 10. NEVES, E. J. M. & CARPANEZZI, A. A. Prospecção do Cultivo do nim (Azadirachta indica) no Brasil. Documentos, n. 18, Embrapa Florestas, Colombo, PR, 09. 34p. NEVES, E. J. M. Importância dos Fatores Edafolimáticos para o uso do nim (Azadirachta indica A. Juss) em Programas Florestais e Agroflorestais nas diferentes Regiões do Brasil. Bol. Pesq. Fl., Colombo, n. 49, p. 99-107, 04. RICHARDS, L. A. Diagnostico y rehabilitación de suelos salinos y sódicos. México: Departamento de Agricultura de los Estados Unidos de América, (Manual de Agricultura, 60). 194. 174p.
Altura de plantas (cm) Altura de plantas (cm) Condutividade elétrica do solo (ds m Condutividade elétrica do solo (ds m -1 ) F. de O. Mesquita et al. SANTOS, A. C. V.; AKIBA, F. Biofertilizante líquido: uso correto na agricultura alternativa. Seropédica: UFRRJ, Impr. Univ., 3p. 1992. SANTOS, H. G.; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. C.; OLIVEIRA, V. A.; OLIVEIRA, J. B.; COELHO, M. R.; LUMBREBAS, J. F.; CUNHA, T. J. F. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 06. 306p. Tabela 1. Caracterização física e química quanto à fertilidade e salinidade do solo nos primeiros cm de profundidade. Atributos Físicos Valor Atributos da Fertilidade Valor Atributos da Salinidade Valor Ds (g cm -3 ) 1,24 ph em água (1: 2,),08 CEes ( ds m -1 ) 0,79 Dp (g cm -3 ) 2,78 MO (g Kg -1 ) 18,31 ph 6,71 Pt (m 3 m -3 ) 0,4 P (mg dm -3 ) 1,82 Ca 2+ (mmol c L -1 ) 1,72 Areia (g kg -1 ) 7 K + (mg dm -3 ) 4,01 Mg 2+ (mmol c L -1 ) 0,67 Silte (g kg -1 ) 63 Ca +2 (cmol c dm -3 ) 0,38 Na + (mmol c L -1 ) 0,2 Argila (g kg -1 ) 380 Mg +2 (cmol c dm -3 ) 0,27 K + (mmol c L -1 ) 110 Ada (g kg -1 ) 26 Na + ( cmol c dm -3 ) 0,11 Cl - (mmol c L -1 ) 4,17 GF (%) 93,26 H + + Al +3 (cmol c dm -3 ),64 2- CO 3 (mmol c L -1 ) - ID (%) 6,84 Al +3 (cmol c dm -3 ) 0,87 HCO - 3 (mmol c L -1 ) 1,1 U cc (g kg -1 ) 16,84 SB (cmol c dm -3 ) 0,88 SO 2-4 (mmol c L -1 ) 2,21 U pmp (g kg -1 ) 4,4 CTC (cmol c dm -3 ) 6,2 RAS (mmol L -1 ) 1/2 0,19 Ad (g kg -1 ) 4,4 V (%) 13,49 PST (%) 1,68 Ds = Densidade do solo; Dp = Densidade de partícula; Pt = Porosidade total; Ada = Argila dispersa em água; GF= Grau de floculação; ID= Índice de dispersão; U cc e U pmp = respectivamente umidade do solo às tensões de 0,01 e - 1, MPa; Ad = Águas disponível; MO = Matéria orgânica; SB = Soma de bases (Na + + K + + Ca 2+ + Mg 2+ ); CTC = Capacidade de troca catiônica = SB + (H + + Al 3+ ); V = Valor de saturação por bases (100 x SB/CTC); CEes = Condutividade elétrica do extrato de saturação; RAS = Relação de adsorção de sódio = Na + [(Ca 2+ + Mg 2+ )/2] 1/2 ; PST = Percentagem de sódio trocável (100 x Na + / CTC). D1 D2-1 ) 1 ( ) Ŷ CEes = 3,20 + 0,299x + 0,349**x 2 R 2 = 0,981 (---) Ŷ CEes = 1,699 + 0,91x + 0,269**x 2 R 2 = 0,992 1 (---) Ŷ CEes = 1,618 + 0,499x + 0,247**x 2 R 2 = 0,994 ( ) Ŷ CEes = 2,262 + 0,29x + 0,211**x 2 R 2 = 0,988 10 10 0 0 Figura 1. Condutividade elétrica do extrato de saturação do solo sem (---) e com ( ) biofertilizante bovino, sem (D1) e com (D2) drenagem do solo no período de 180 DAS. 6 0 D1 ( ) Ŷ AP = 3,8-8,43x + 0,833*x 2 R 2 = 0,98 6 0 D2 ( ) Ŷ AP = 61,021-3,633x - 0,026**x 2 R 2 = 0,71 (---) Ŷ AP = 43,619-12,187x + 1,281**x 2 R 2 = 0,924 3 3 (---) Ŷ Média = 13,982 Figura 2. Altura de plantas de nim no solo sem (---) e com ( ) biofertilizante bovino, sem (D1) e com (D2) drenagem em função da salinidade da água de irrigação no período de 180 DAS.