O Livro de João. No vocabulário e no estilo, o Livro. Cristo, o Filho de Deus. David Roper

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Transcrição:

O Livro de João David Roper Cristo, o Filho de Deus No vocabulário e no estilo, o Livro de João é o mais simples dos relatos do evangelho. Ele é tão simples que é usado para treinar alunos iniciantes do Novo Testamento grego. Por outro lado, em muitos aspectos, João é o mais complexo dos quatro relatos, especialmente no que se refere aos tópicos que ele expõe. O relato de João ocupa uma posição única: ele repete um pouco dos outros três relatos; traz um prólogo singular (1:1 18) e um trecho singular sobre o seu propósito (20:30, 31). Para entender por que o Livro de João é diferente dos três relatos anteriores, precisamos entender as circunstâncias em que ele foi escrito. INTRODUÇÃO AO LIVRO DE JOÃO O Autor do Livro O livro identifica o discípulo a quem Jesus amava como aquele que escreveu as coisas narradas no livro (João 21:20, 24) 1. Os cristãos da era primitiva estavam convencidos de que esse discípulo era o apóstolo João 2. Irineu referiu-se aos três primeiros relatos do evangelho e depois disse: Depois disso, João, o discípulo do Senhor que se reclinou no seu colo, também publicou um evangelho enquanto re- 1 Os versículos 20 a 23 indicam que o discípulo a quem Jesus amava teria vivido uma vida longa. Isto é uma prova indireta de que o apóstolo João escreveu o livro, pois, segundo a tradição não inspirada, o único apóstolo que morreu de morte natural foi João. 2 Alguns usaram uma referência obscura a um escrito de Papias na tentativa de provar que o apóstolo João não teria escrito o relato geralmente a ele atribuído. Não existem provam convincentes, porém, de que Papias referiu-se a dois Joões diferentes ou, se o fez, de que ele acreditava que o apóstolo João não era o autor do quarto relato do Evangelho. sidia em Éfeso, na Ásia 3. Entre os que atribuíram o livro ao apóstolo João estão Teófilo de Antioquia, do segundo século; Clemente de Alexandria; Tertuliano (ca. 155 225 d.c.); Orígenes e Hipólito (ca. 170 235 d.c.). As evidências internas do livro concordam com esta conclusão 4 : o escritor era um judeu com conhecimento das festas e costumes judaicos e da relação dos judeus com os samaritanos. Além disso, ele era um judeu da Palestina com um amplo conhecimento da Palestina em geral e de Jerusalém em particular. Ele foi uma testemunha ocular de muitos acontecimentos sobre os quais escreveu (veja 1:14; 21:24). Esses fatos encaixam-se no apóstolo João 5. Um breve resumo da vida de João faz-se necessário: seu nome é uma abreviação de uma palavra hebraica que significa o Senhor tem sido gracioso. Os pais de João eram Zebedeu e Salomé (Marcos 1:19, 20; 16:1 [compare Marcos 16:1 com Mateus 27:56]) 6. Ele e seu irmão, Tiago, eram pescadores (Marcos 1:19, 20) sócios de Pedro (Lucas 5:10). A família de João parecia ser próspera. Eles possuíam 3 Irineu, Contra Heresias 3.1.1. 4 Uma exposição detalhada disto (com passagens comprobatórias) aparece na obra de Don Shackelford, John, New Testament Survey ( Panorama do Novo Testamento ), ed. Don Shackelford. Searcy, Ark.: Harding University, 1987, pp. 151 53. 5 Merrill Tenney também observou que esses e outros detalhes relativos ao escritor não se encaixam em outros possíveis escritores (Merrill C. Tenney, O Novo Testamento, Sua Origem e Análise. São Paulo: Edições Vida Nova, 1972, p. 195). 6 Alguns pensam que Salomé e a mãe de Jesus eram parentes (compare Marcos 15:40 com João 19:25); nesse caso, Jesus e João seriam primos. Isto ajudaria a explicar por que Jesus deixou Sua mãe aos cuidados de João. 1

servos (Marcos 1:20), e tinham ligações políticas. (João era conhecido do sumo sacerdote e conseguiu que Pedro tivesse permissão para entrar no pátio do sumo sacerdote [João 18:15, 16].) Talvez João fosse o discípulo anônimo de João 1:35 40; podendo ter sido seguidor de João Batista. De qualquer maneira, Jesus o chamou para ser um de Seus discípulos (Mateus 4:18 22). Mais tarde, ele foi escolhido para ser um dos doze apóstolos (Mateus 10:2). João geralmente é considerado o apóstolo mais jovem dos doze 7. João desfrutou de um relacionamento especial com o Senhor: ele era um dos três que formavam o círculo de amigos mais íntimos (Marcos 5:37 40; 9:2; 14:33) e recebeu um lugar de honra na última ceia (João 13:23). Ele se referiu a si mesmo como o discípulo a quem Jesus amava (13:23; 19:26; 20:2; 21:7, 20). Aparentemente, João era um homem irascível e tinha um temperamento colérico quando Jesus o chamou (Lucas 9:49 56; Marcos 3:17). Ele também era muito ambicioso (Marcos 10:35 37). Cristo conseguiu domar essa cólera e canalizá-la para usos melhores. Pouco antes de morrer, Jesus entregou Sua mãe aos cuidados de João (João 19:25 27). Por fim, João tornou-se conhecido como o apóstolo do amor. (A palavra amor encontra-se quase cinqüenta vezes na sua breve epístola, 1 João.) Após a igreja ser estabelecida, João continuou a ocupar uma posição proeminente entre os apóstolos (Atos 3:1; 4:19; 8:14; Gálatas 2:9, 10). Segundo a tradição não inspirada, seu último ministério foi em Éfeso. Sabemos por meio de Apocalipse que, iniciada a perseguição romana, João ficou exilado na ilha de Patmos, do outro lado do mar Egeu, em relação a Éfeso (veja Apocalipse 1:9; 2:1) 8. Segundo os primeiros escritores cristãos, na morte de Domiciano, João teve permissão para voltar a Éfeso, onde trabalhou até falecer 9. É provável que ele tenha escrito seu relato do Evangelho e suas três cartas (1, 2 e 3 João) enquanto viveu em Éfeso. 7 Uma razão para essa conclusão era que ele conseguia correr mais que Pedro (João 20:4). Outra é que, segundo as melhores provas disponíveis, ele viveu muitos anos mais do que os demais apóstolos. Alguns calculam que ele tinha cerca de vinte e cinco anos quando foi chamado para seguir Jesus. 8 Veja o mapa na página 7 na lição Sete Fatos que Você Deve Saber sobre Apocalipse da edição Apocalipse Parte 1, de A Verdade para Hoje. 9 Conforme certo escritor primitivo (não inspirado), João foi martirizado; mas a maioria dos escritores da era primitiva sugere que ele teria morrido de velhice em Éfeso. A Data do Livro Os primeiros escritores cristãos indicaram que o Livro de João foi escrito depois dos demais relatos do evangelho. Conforme já afirmamos, Irineu disse que João escreveu após Mateus, Marcos e Lucas, enquanto residia em Éfeso, na Ásia 10. Por que João produziu um relato do Evangelho posterior 11? Talvez ele quisesse complementar os outros três escritores. Talvez ele quisesse acrescentar informações adicionais confiáveis à base de informações já disponível nos Livros de Mateus, Marcos e Lucas. Evidentemente, ele também escreveu para combater idéias errôneas que haviam se desenvolvido após os primeiros relatos serem escritos. Uma comparação dos Livros de João e 1 João mostra isso 12. Falsos mestres haviam surgido, negando que Jesus era o Cristo (1 João 2:22). Eles ensinavam que o Cristo não veio em carne (2 João 7; veja também 1 João 4:2), que o Jesus que andou na terra não era o esperado Cristo 13. Sendo assim, João começou seu relato afirmando enfaticamente que o Verbo [Jesus 14 ] se fez carne e habitou entre nós (João 1:14a; grifo meu). Seu propósito declarado era convencer a todos que Jesus é o Cristo (20:31; grifo meu). Levando em consideração os fatos acima, parece óbvio que algum tempo havia se passado desde que os Livros de Mateus, Marcos e Lucas foram escritos provavelmente várias décadas. A maioria dos escritores conservadores data a composição do Livro de João na década de 90 d.c. 15 O Propósito do Livro Como já observamos, o Livro de João tem uma frase exclusiva sobre o seu propósito: 10 Irineu, Contra Heresias 3.1.1. 11 Deve-se entender que, em última análise, João produziu seu relato porque era essa a vontade de Deus e ele foi inspirado pelo Espírito Santo para fazer isso. 12 Existe uma forte ligação entre o Evangelho de João e 1 João. Por exemplo, compare suas palavras de abertura (João 1:1, 2, 14; 1 João 1:1 3). 13 Veja os comentários sobre gnosticismo na página 3 na lição A Igreja com Problema Cardíaco da edição Apocalipse Parte 2. Hoje, muitas seitas proclamam idéias falsas sobre o Cristo, de modo que esta ênfase de João ainda se faz necessária. 14 O contexto mostra que João estava falando de Jesus. 15 Alguns estudiosos liberais tentam atribuir o livro a um escritor desconhecido (talvez alguém chamado João), o qual teria escrito no segundo século. Todavia, o fragmento mais antigo do Novo Testamento é um pequeno recorte de papiro que contém o texto de João 18:31 33, 37, 38. Ele fazia parte de um manuscrito que circulou no Egito durante a primeira metade do segundo século e é datado de 125 d.c. Isto retrocederia a data da composição do original para o primeiro século. 2

Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome (João 20:30, 31). O propósito de João pode ser desdobrado em três partes intimamente coligadas: 1) João escreveu para confirmar a divindade de Jesus: que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Ele queria que todos soubessem que Jesus é o Filho unigênito de Deus (3:16). A divindade de Jesus é revelada em cada uma de suas páginas (veja 1:1; 8:58; 10:30; 14:9; 20:28) 16. Alguém disse: cada vez que João enterrava sua pena no tinteiro ele expirava esta oração: Senhor, leve homens a crerem em Jesus através do que eu escrevo 17. Uma prova fornecida por João foi os milagres de Jesus. A palavra de João para esses milagres é sinais (20:30; veja também 2:11; 4:54; 6:2) 18 : eram sinais da parte de Deus de que as alegações de Jesus eram verdadeiras (2:23; 3:2; 4:54; 6:14). Dentre todos os milagres realizados por Jesus, João escolheu sete (2:1 11; 4:46 54; 5:1 9; 6:14 [veja vv. 26 e 30], 16 21; 9:1 41; 11:1 45). Dois deles encontram-se nos sinóticos, e cinco são exclusivos ao relato de João. Em relação à coletânea de João, Merrill C. Tenney sugeriu: Estes sete milagres deram-se precisamente nas áreas em que o homem é incapaz de efetuar qualquer mudança de leis ou condições que afetam a sua vida. Nessas áreas se provou Jesus poderoso onde o homem é impotente. 19 2) João escreveu para gerar fé em Jesus: para que creiais. A palavra creiais, em suas várias formas, ocorre quase cem vezes no Livro de João. Jesus disse aos Seus ouvintes: se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados (João 8:24b). João, ao dizer crer, não se referia a consentimento mental. Em 1:12 ele usou os conceitos de crer e receber alternadamente: Mas, a todos quan- 16 Veja como essas e outras passagens de João se relacionam com a divindade de Jesus na próxima edição desta série. 17 Autor desconhecido. Citado em Eric W. Hayden, Preaching Through the Bible ( Pregação pela Bíblia ). Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing House, 1964, p. 193. 18 Na Bíblia, os milagres são também chamados de sinais e prodígios (Mateus 11:20; Marcos 16:20; João 4:48). A palavra milagre expressa o aspecto sobrenatural do que aconteceu; a palavra prodígio enfatiza o efeito sobre os que viram os milagres, enquanto a palavra sinal significa o propósito dos milagres. Observe-se que os judeus queriam um sinal (veja Mateus 12:38; 16:1; veja também 1 Coríntios 1:22). 19 Tenney, p. 190. tos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome (grifo meu). Crer em Jesus é aceitá-lo sem questionamento. Em 3:36, João usou os conceitos de crer e obedecer alternadamente: Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra [ desobedece ] o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus. Em 2:24 a palavra grega para crer é traduzida por uma variação da palavra confiar 20. Para uma pessoa ser salva, ela precisa aprender a confiar em Jesus e no Seu sacrifício, e não em si mesma. 3) João escreveu para que as pessoas tivessem vida: para que, crendo, tenhais vida em seu nome (20:31). João não se referia a vida no sentido de respiração e outros processos físicos vitais, mas ele se referia a soma total de tudo o que é concedido ao crente na salvação 21. Na oração de Jesus em João 17, Ele disse: E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (v. 3). O relato de João tem sido chamado de Evangelho universal. O fato dele explicar distintamente os costumes judaicos (por exemplo, veja 2:13; 4:9; 19:31) indica que seu público-alvo ia além de sua própria raça. Devido ao seu apelo universal, o Livro de João é freqüentemente impresso como um livreto separado. Nesse formato, ele tem sido distribuído por todo o mundo e se tornou a porção literária mais amplamente distribuída. As Características do Livro Várias características exclusivas ao Evangelho de João já foram apresentadas. A maioria das demais características está relacionada ao propósito do livro. Além dos sete sinais em João, há também sete eu sou proferidos por Jesus: sete alegações de Sua divindade (6:35; 8:12, 58; 10:11; 11:25; 14:6; 15:1) 22. Em vez de enfatizar as mensagens práticas de Jesus, como fizeram os sinóticos, João expôs discursos mais profundos sobre Sua natureza e missão. A ênfase em João não é as proclamações públicas de Jesus, mas Suas conversas pessoais, particulares com indivíduos como Nicodemos (capítulo 3) e a samaritana (capítulo 4). Vinte e sete entrevistas são registradas, algumas extensas e outras, breves. 20 A ERA e a NVI dizem Jesus não se confiava a eles e a ERC diz: não confiava neles. 21 Tenney, pp. 190 91. 22 A importância de cada uma dessas afirmações eu sou será discutida mais tarde nesta série. 3

O Livro de João contém uma variedade de estudos de personagens muitos deles sendo indivíduos obscuros como Nicodemos (3:1 15; 7:50 52; 19:39), Filipe (1:43 46; 6:5 7; 14:8 11), Tomé (11:16; 14:5, 6; 20:24 29), e Maria e Marta (11:1 40; 12:2 8). Na maioria dos casos, as referências a essas pessoas mostram o desenvolvimento da fé. Todos os relatos do evangelho colocam grande ênfase na morte, sepultamento e ressurreição de Cristo; mas João faz isso ainda mais do que os outros. Metade do seu texto narra acontecimentos relacionados à crucificação. Tudo no livro caminha em direção a um momento decisivo chamado a hora (2:4; 4:21, 23; 5:25, 28; 7:30; 8:20; 12:23, 27; 13:1). Outros aspectos exclusivos ao Livro de João poderiam ser mencionados: ele é o único relato do Evangelho que se refere à conversão como o novo nascimento (3:3, 5), um tema ao qual João deu continuidade em sua primeira carta (1 João 2:29; 3:9; 4:7; 5:1, 4, 18). Ele destacou a vinda do Espírito Santo para guiar os apóstolos (14:16, 17, 26; 15:26; 16:13, 14). João Escrito depois de Mateus, Marcos e Lucas Contém o estilo mais simples, porém os tópicos mais complexos Enfatiza a divindade de Jesus a fé em Jesus os sinais de Jesus encontros pessoais de Jesus as declarações eu sou de Jesus a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Escrito para todas as pessoas Escrito para termos vida por meio de Jesus As Divisões do Livro Outro aspecto exclusivo a João é a ênfase no começo do ministério de Jesus. Os relatos sinóticos se movem rapidamente para o que se tem denominado o Grande Ministério na Galiléia, mas João fala do ministério anterior de Jesus em Jerusalém e na Judéia. João também registra viagens de Jesus a Jerusalém durante Seu ministério na Galiléia. Por conta dessas ênfases, João menciona três (talvez quatro) festas da Páscoa (2:13; 6:4; 11:55 57; 5:1?) 23. 23 As suposições dos estudiosos sobre a duração do ministério de Jesus baseiam-se nessas quatro referências. Veja Qualquer esboço do Livro de João deve refletir sua preocupação com a obra de Jesus em Jerusalém. Por causa do extenso bloco de ensino dirigido aos apóstolos de Jesus nos capítulos 13 a 17, muitos esboços dividem o relato de João em três partes: 1) Ministério Público de Jesus (1:19 12:50); 2) Ministério Privado de Jesus (13:1 17:26); 3) Ministério Universal de Jesus (Sua morte, sepultamento e ressurreição) (18:1 21:25). Tenney dividiu o ministério público de Jesus, usando três Cs para seus pontos principais 24. Shackelford adaptou as palavras chaves de Tenney para produzirem este esboço: Prólogo (1:1 18); Consideração das Alegações de Jesus (1:19 4:54); Controvérsia com os Judeus (5:1 6:71); Conflito com os Judeus (7:1 11:53); Crise decorrente das Reivindicações de Jesus (11:54 12:36); Conferência com os Discípulos (12:37 17:26); Consumação da Obra de Jesus (18:1 20:31); Epílogo (21:1 25) 25. Para enfatizar que a metade do Livro de João se concentra na morte de Jesus, apresentamos duas divisões principais em nosso esboço: 1) o ministério geral de Jesus e 2) a última semana de Seu ministério, que girou em torno de Sua morte. A primeira divisão principal descreve Suas viagens a Jerusalém e Judéia. A segunda divisão principal contém duas partes: 1) as palavras finais de Jesus aos Seus discípulos nos capítulos 13 a 17 e 2) os outros acontecimentos que culminaram na cruz. ESBOÇO DO LIVRO DE JOÃO INTRODUÇÃO (prólogo) (1:1 18). A. A unicidade de Jesus (veja vv. 1 5, 14, 16 18). B. O testemunho de João Batista (veja vv. 6 8, 15). I. O MINISTÉRIO DO FILHO DE DEUS: TRÊS ANOS DE PREPARAÇÃO (1:19 11:57). A. O começo do Seu ministério (1:19 2:12). 1. Seus primeiros discípulos (1:19 51). a. Testemunho: Eis o Cordeiro de Deus! e uma referência ao batismo de Jesus. b. Discípulos: André, Pedro, Filipe, Natanael (e João?). o artigo suplementar Quanto Tempo Durou o Ministério Pessoal de Cristo?, na lição Quando Cristo Nasceu? desta edição. Devido à importância dessas referências, as alusões a elas estão grifadas no esboço que vem a seguir. 24 Tenney, p. 192. 25 Shackelford, pp. 153 55. 4

2. Seu primeiro milagre (2:1 11). 3. Sua primeira visita a Cafarnaum (2:12). B. Seu ministério inicial na Judéia (2:13 3:36). 1. A Jerusalém: a Páscoa (a primeira Páscoa durante Seu ministério) (2:13). 2. Em Jerusalém (2:14 3:21): a. Expulsando os cambistas (2:14 17). b. Ensinando sobre a ressurreição (2:18 22). c. Realizando milagres (2:23 25). d. Ensinando Nicodemos (3:1 21) o desafio de nascer de novo. 3. Na Judéia (3:22 36): a. O sucesso de Jesus e Seus discípulos (3:22; veja também 4:1). b. O ciúme dos discípulos de João (3:23 36). C. Seu ministério na Galiléia, Judéia e outras regiões (4:1 11:54). 1. A caminho da Galiléia (4:1 45). a. A viagem iniciada (4:1 3). b. A viagem interrompida: a samaritana no poço (4:4 42). c. A viagem terminada (4:43 45). 2. Na Galiléia: curando o filho de um oficial (4:46 54). 3. De volta a Jerusalém para uma festa (a segunda Páscoa?) (5:1 47). a. Jesus cura um paralítico enfrenta animosidade (5:1 17). b. Jesus alega igualdade com Deus e testemunhos (5:18 47). 1) O testemunho de João. 2) O testemunho dos milagres de Jesus. 3) O testemunho de Deus. 4) O testemunho das Escrituras. 4. De volta à Galiléia (6:1 71): a. Alimentando cinco mil homens e o povo querendo fazer de Jesus rei (6:1 15). (Uma Páscoa mencionada em 6:4 a terceira?) b. Andando na água; pessoas admiradas (6:16 25). c. Ensinando sobre o pão da vida; pessoas abandonando Jesus (6:26 71). 1) Muitos vão embora (v. 66). 2) Poucos ficam (vv. 67, 68). 3) Um traidor (vv. 64, 70, 71). 5. Até Jerusalém para a Festa dos Tabernáculos (das Cabanas) (7:1 10:21). a. Indo para a festa; a incredulidade de Seus irmãos (7:1 13). b. Ensinando na festa, incluindo o ensino sobre água viva; a incerteza de Seus ouvintes (7:14 53). c. Desafiado na festa e a bondade do Seu coração, vista no tratamento com a mulher pega em adultério (8:1 11). d. Mais ensino na festa e a animosidade de Seus inimigos (8:12 59). e. Curando na festa incluindo a cura de um cego de nascença e a frustração de Seus inimigos (9:1 41). f. Ensinando sobre o bom pastor e a confusão de Seu público (10:1 21). 6. À Judéia para a Festa de Dedicação (10:22 42). a. Ensinando em Jerusalém e a incredulidade (10:22 39). b. Retirada para além do Jordão (à Peréia) e a credulidade (10:40 42). 7. A Betânia (perto de Jerusalém) para ajudar amigos íntimos (11:1 46): a. Um pedido urgente (11:1 17). b. Uma ressurreição persuasiva (11:18 45). c. Uma resposta previsível (11:46 53). 8. Retirada para a parte norte da Judéia (Efraim) (11:54). D. Aproximando-se do fim do Seu ministério: a última Páscoa (a quarta?) (11:55 57). II. A MISSÃO DO FILHO DE DEUS: UMA SEMA- NA DE PAIXÃO (12:1 20:29). A. Jesus indo para Jerusalém (12:1 50). 1. Unção em Betânia (12:1 11). 2. Entrada triunfal em Jerusalém (12:12 19). 3. Ensino em Jerusalém (12:20 50). B. Jesus com Seus discípulos (13:1 17:26). 1. A última ceia (13:1 38). a. Pés lavados. b. Traição predita. 2. O grande discurso de despedida (14:1 16:33): ensinos de Jesus sobre a. Sua morte. b. A videira e os ramos. c. A vinda do Espírito Santo. 3. Uma oração por unidade (17:1 26). C. Jesus na cruz (18:1 19:42). 1. Seus julgamentos (18:1 19:15). a. Traído por Judas (18:1 11). b. Testado por Anás e Caifás (18:12 24). c. Negado por Pedro (18:25 27). d. Testado por Pilatos (18:28 40). e. Açoitado por soldados (19:1 15). 5

2. Sua crucificação (19:16 30). 3. Seu sepultamento (19:31 42). D. Jesus ressurreto! (20:1 29). 1. Aparece ressurreto a Maria Madalena (20:1 18). 2. Aparece ressurreto aos discípulos (20:19 29). CONCLUSÃO (20:30 21:25). A. Uma declaração de propósito (20:30, 31). B. Uma lição especial para Pedro (Jesus aparece ressurreto no mar da Galiléia) (21:1 17). C. Uma declaração sobre o escritor (21:18 24). D. Uma última declaração sobre a vida de Cristo (21:25). Relações Especiais dos Escritores do Evangelho Embora não seja necessário nem possível se saber como o Espírito Santo forneceu todas as informações para os escritores dos Evangelhos, os eruditos e críticos ficam fascinados com as relações que podem ter existido entre os quatro escritores e suas relações com outras pessoas. Mateus teve uma relação direta com Cristo, por ser um apóstolo (Mateus 9:9; 10:3; Marcos 2:14). Ele foi uma testemunha ocular da maioria dos acontecimentos sobre os quais escreveu. Geralmente acredita-se que o relato de Marcos inclui, em sua maioria, informações de Pedro 1. Sabemos que Marcos e Pedro eram cooperadores (1 Pedro 5:13). Marcos também trabalhou com Paulo (Atos 13:5; Colossenses 4:10), e pode ter tido contato pessoal limitado com Jesus 2. Lucas informou que sua obra foi resultado de pesquisa (Lucas 1:1 4) 3, o que implica que ele não conheceu Jesus pessoalmente. Os eruditos pressupõem que ele teria consultado testemunhas oculares. Sendo companheiro e amigo íntimo de Paulo (Colossenses 4:14; 2 Timóteo 4:11 4 ), Lucas teve acesso à revelação pessoal do apóstolo sobre a vida de Cristo (1 Coríntios 11:23). Lucas também poderia ter usado outros relatos do evangelho orais inspirados 5. Homens inspirados estiveram pregando sobre Jesus pelo menos trinta anos antes de qualquer um dos Evangelhos ser escrito. A história básica da vida de Jesus era bem conhecida pela igreja. João e Mateus trabalharam juntos como apóstolos de Jesus (Mateus 10:2; veja também João 13:23; 19:26; 20:2; Lucas 5:1 11). Marcos e Lucas estiveram em Roma na mesma época (Colossenses 4:10, 14). Visto que a igreja reunia-se às vezes na casa de Marcos em Jerusalém (Atos 12:12), é provável que Marcos conhecesse todos os apóstolos incluindo Mateus e João. Tendo Lucas passado um tempo na região de Jerusalém (Atos 21:15; 27:1), ele pode ter conhecido alguns dos apóstolos que usaram Jerusalém como base de operações incluindo, talvez, Mateus e João. Se João escreveu seu relato várias décadas após Mateus, Marcos e Lucas, sem dúvida, ele estava ciente dos relatos deles. Ele parece ter escolhido deliberadamente um material que completasse o registro geral. Semelhanças na seleção de materiais, no estilo e no vocabulário não deveriam surpreender. Todos os escritores partilhavam de uma relação muito importante: todos eles foram inspirados pelo Espírito Santo para contar a história de Jesus. 1 Escritores (não inspirados) primitivos da igreja afirmaram que era esse o caso. Veja a lição O Livro de Marcos, nesta edição. 2 Muitos acreditam que o jovem mencionado em Marcos 14:51, 52 era o próprio Marcos. 3 O Espírito Santo certamente guiou a pesquisa de Lucas e o uso que Lucas fez do material obtido com a pesquisa. 4 As passagens narradas em primeira pessoa do plural ( nós ) (Atos 16:10, por exemplo) também indicam uma relação íntima de Lucas com Paulo. 5 Paulo e outros apóstolos impunham as mãos sobre pessoas, concedendo-lhes dons miraculosos (Atos 8:17). Um dos dons era o conhecimento sobrenatural (1 Coríntios 12:8) que deveria ser partilhado com os outros. Copyright 2007 by A Verdade para Hoje TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 6