Sobrevivência e desenvolvimento in vitro de Cattleya (Orchidaceae) submetida a tratamentos com colchicina

Documentos relacionados
CRESCIMENTO in vitro DE PLÂNTULAS DE ORQUÍDEAS SUBMETIDAS A DIFERENTES PROFUNDIDADES DE INOCULAÇÃO E CONSISTÊNCIA DO MEIO DE CULTURA

CULTIVO in vitro DE EMBRIÕES DE CAFEEIRO: concentrações de meio MS e polpa de banana RESUMO

CONCENTRAÇÕES DOS SAIS DO MEIO MS E EXTRATO DE CHIA NO CULTIVO DE EMBRIÕES DE CAFEEIRO in vitro RESUMO

Micropropagação de Aechmea tocantina Baker (Bromeliaceae) Fernanda de Paula Ribeiro Fernandes 1, Sérgio Tadeu Sibov 2

GERMINAÇÃO IN VITRO DE Coffea arabica e Coffea canephora

INFLUÊNCIA DO MEIO DE CULTURA E DE UM FERTILIZANTE SOLÚVEL NA MICROPROPAGAÇÃO DA MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz)

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO INICIAL IN VITRO DE Encyclia flava (LINDL.) PORTO & BRADE (ORCHIDACEAE)

Efeito de Diferentes Concentrações de BAP e Tipos de Explantes na Indução de Calo em Nim Indiano.

ESTABELECIMENTO IN VITRO

INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO DE ACESSOS E MEIOS DE CULTURA NA MICROPROPAGAÇÃO DA MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz)

Indução e crescimento de calos em explantes foliares de hortelã-docampo

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES EXPLANTES E COMBINAÇÕES DE REGULADORES VEGETAIS (BAP E ANA) NO CULTIVO IN VITRO DE Physalis pubences L.

EFEITO DA BENZILAMINOPURINA (BAP) NA MICROPROPAGAÇÃO DA VARIEDADE CURIMENZINHA (BGM 611) DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz)

GERMINAÇÃO in vitro DE Coffea canephora cv. Tropical EM DIFERENTES MEIOS DE CULTURA E AMBIENTES DE CULTIVO

Caue de Abreu Alvarez (PIBIC/CNPq), Sandremir de Carvalho (Orientador),

Micropropagação de framboeseira em diferentes concentrações de ferro - NOTA -

da Embrapa Agroindústria Tropical - Rua Dra. Sara Mesquita, Bairro Pici Fortaleza, CE -

AVALIAÇÃO DA GERMINAÇÃO DE Cattleya loddigesii Lindley SOB DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE ÁGUA SANITÁRIA COMERCIAL NA DESINFECÇÃO DE SEMENTES RESUMO

Estabelecimento in vitro da pitanga vermelha (Eugenia uniflora L.)

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 289

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Estiolamento e Regeneração in vitro de Abacaxizeiro Pérola

Produção de Mudas de Abacaxizeiro Pérola Utilizando a Técnica do Estiolamento In Vitro

PROTOCOLO DE PRODUÇÃO DE MUDAS IN VITRO DE Tabernaemontana catharinensis DC.

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE CULTURA NA TAXA DE MULTIPLICAÇÃO DE EXPLANTES DE Gypsophila cv. Golan

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Vegetative development of orchids submitted to different macronutrient formulations and fertilization frequencies during the acclimatization phase

Anais do Seminário de Bolsistas de Pós-Graduação da Embrapa Amazônia Ocidental

Indução e identificação de tetraplóides em Dendrobium nobile Lindl. (Orchidaceae) 1

REGENERAÇÃO DE GEMAS DE ALGODOEIRO (Gossypium hirsutum L.) cv. BRS 201

MÉTODOS DE ASSEPSIA E CONTROLE OXIDAÇÃO EM GEMAS APICAIS DE AZALEIA RESUMO

MICROPROPAGAÇÃO IN VITRO DA MAMONA UTILIZANDO A CITOCININA 6- BENCILAMINOPURINA*

Multiplicação in vitro de Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P.Queiroz sob Diferentes Concentrações de Isopenteniladenina

VERIFICAÇÃO DE PLOIDIA EM AUTOPOLIPLÓIDES ARTIFICIAIS DE BANANEIRA QUATRO ANOS APÓS A INDUÇÃO DE DUPLICAÇÃO CROMOSSÔMICA RESUMO

INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO DE CULTIVO DA MICROESTACA NA MICROPROPAGAÇÃO DA MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) Introdução

GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE ARAÇÁ (Psidium guineense Swart)

;Agutr) Energia e Sustentabilidade

Micropropagação de Bletia catenulata Ruiz & Pav. (Orchidaceae) Juliana Mary Kluthcouski 1, Sérgio Tadeu Sibov 2

Revista Ceres ISSN: X Universidade Federal de Viçosa Brasil

Seleção de genótipos de Dendrobium phalaenopsis (Orchidaceae) nas fases de propagação in vitro e aclimatização

GERMINAÇÃO ASSIMBIÓTICA DE Cyrtopodium saintlegerianum RCHB.F (ORCHIDACEAE: CYRTOPODIINAE)

Germinação in vitro de Sementes de Mandacaruzinho

Seleção de genótipos de Dendrobium (Orchidaceae) na fase de propagação in vitro

Controle da Contaminação in vitro de Explantes de Nim Indiano.

REGENERAÇÃO IN VITRO DE SEMENTES DO BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA DE MAMONA

Enraizamento in vitro de Aechmea setigera, bromélia endêmica da Amazônia, Acre, Brasil

EXTRATO PIROLENHOSO NO DESENVOLVIMENTO DE Catasetum osculatum Lacerda & P. Castro

MULTIPLICAÇÃO IN VITRO DE ARAÇÁ-VERMELHO (PSIDIUM CATTLEIANUM SABINE VAR. HUMILE) MYRTACEAE 1

OBTENÇÃO DE EMBRIÕES A PARTIR DE CALOS DE GENÓTIPOS DE Coffea 1

Analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, , Cruz das Almas, BA. 2

Efeito do BAP na Indução de Brotações Adventícias em Catingueira

INFLUÊNCIA DA DESINFESTAÇÃO E MEIO DE CULTURA NA GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE Prosopis affinis Sprenger 1

Concentrações de BAP sobre a proliferação in vitro de brotos de Lippia alba

GERMINAÇÃO DE GRÃO DE PÓLEN DE TRÊS VARIEDADES DE CITROS EM DIFERENTES PERÍODOS DE TEMPO E EMISSÃO DO TUBO POLÍNICO RESUMO

INDUÇÃO DE MÚLTIPLOS BROTOS DA CULTIVAR DE ALGODÃO BRS-VERDE. *

EFEITO DA POSIÇÃO DE COLETA DE EXPLANTES NO ESTABELECIMENTO IN VITRO DE Araucaria angustifolia (BERTOL.) KUNTZE

Influência de Concentrações de Meio MS, Ácido Ascórbico e BAP na Micropropagação de Alecrim-Pimenta (Lippia Sidoides Cham.).

ESTABELECIMENTO in vitro DE ROSEIRA: EFEITO DO REGULADOR DE CRESCIMENTO BAP

Micropropagação de Amoreira-preta 'Cherokee I 111.Efeito de Cinetina e Meios de Cultura

Multiplicação in vitro do hibrido de morangueiro CRxSC adaptado as condições do Norte de Minas

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

ENRAIZAMENTO IN VITRO E ACLIMATIZAÇAO EM VERMICULITA DE PIMENTA- DO-REINO (Piper nigrum L.)

MICROPROPAGAÇÃO E ACLIMATAÇÃO DE PLÂNTULAS DE MORANGUEIRO. Palavras chaves: Micropropagação. Isolamento de meristema. Explante. Mudas sadias.

Avaliação e Seleção de Híbridos e Variedades de Girassol

Influência da caseína hidrolisada no cultivo in vitro de Oncidium baueri (Orchidaceae)

MICROPROPAGAÇÃO DE Eugenia dysenterica DC (MYRTACEAE) Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas - PGMP

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

TÉCNICAS DE CULTURA DE TECIDOS DE PLANTAS

FISIOLOGIA DO ALGODOEIRO HERBÁCEO SUBMETIDO À ADUBAÇÃO SILICATADA

EFEITO DE CONCENTRAÇÕES DE UM FERTILIZANTE SOLÚVEL NO CULTIVO IN VITRO DA VARIEDADE DE MANDIOCA (MANIHOT ESCULENTA CRANTZ) BATATA (BGM 1660)

INFORMAÇÕES GERAIS DO TRABALHO

PROPAGAÇÃO IN VITRO DE DENTE DE LEÃO E DETERMINAÇÃO DE PROTOCOLO DE ASSEPSIA PARA SEMENTES

Estabelecimento de Protocolos para cultura in vitro de Novas Cultivares de Coqueiro

Cultivo in vitro de segmentos nodais de variedades silvestres de abacaxi.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DIFERENTES REPOSTAS NA PROLIFERAÇÃO DE CALOS DE PIMENTA- DO-REINO

Propagação in vitro de helicônia (Heliconia spp.) a partir de embriões zigóticos e embriogênese somática

ESTABELECIMENTO IN VITRO DE AROEIRA-VERMELHA EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE BENZILAMINOPURINA E ACIDO NAFTALENO ACÉTICO 1

Perfil de ácidos graxos de híbridos de girassol cultivados em Londrina

Eficiência comparativa na multiplicação in vitro da batata em sistema estacionário e sob agitação do meio líquido.

Causas de GL IVE TMG PGER IVE TMG PGER

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE AGRONOMIA

Efeito do ph do meio de cultura na formação de calos de Dendróbio borboleta (semeio in vitro).

PROPAGAÇÃO IN VITRO DE SETE CAPOTES (Campomanesia guazumifolia)

Influência da fonte e concentração de carboidrato no crescimento vegetativo e enraizamento in vitro de Oncidium varicosum Lindl.

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS DE VARIEDADES E HÍBRIDOS DE SORGO FORRAGEIRO NO OESTE DA BAHIA

REGENERAÇÃO DE EMBRIÕES A PARTIR DE CALO EMBRIOGÊNICO FRIÁVEL DO TIPO HFSE DE DUAS ESPÉCIES DE CAFÉ (Coffea canephora, Coffea arabica)

Concentrações de citocinina e carvão ativado na micropropagação de pimenta-do-reino

COMPORTAMENTO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE TRIGO NO MUNICÍPIO DE MUZAMBINHO MG

Tamanho e época de colheita na qualidade de sementes de feijão.

Soluções de condicionamento na longevidade de inflorescências de copo-de-leite colhidas em diferentes fases de abertura da espata

MULTIPLICAÇÃO DE EXPLANTES NO CULTIVO IN VITRO DE

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO DESENVOLVIMENTO DE BUVA, CARURU E CAPIM-AMARGOSO

¹Universidade Federal do Ceará - Depto. de Fitotecnia - C.P. 6012, CEP , Fortaleza-CE.

TOLERÂNCIA DE CULTIVARES DE MAMONEIRA À TOXICIDADE DE ALUMÍNIO EM SOLUÇÃO NUTRITIVA.

Transcrição:

Sobrevivência e desenvolvimento in vitro de Cattleya (Orchidaceae) submetida a tratamentos com colchicina Survival and development in vitro of Cattleya (Orchidaceae) submitted to treatments with different treatments of colchicines Alessandro Borini Lone 1* ; Lílian Keiko Unemoto 2 ; Lúcia Sadayo Assari Takahashi 3 ; Ricardo Tadeu de Faria 4 Resumo Nas orquidáceas, a poliploidia produz características desejáveis, que se traduzem em aumento das peças florais, grau de suculência, intensificação do colorido, durabilidade e maior resistência das flores. A colchicina como agente indutor de poliploidia em cultura de plantas in vitro tem suas limitações, pois em elevadas concentrações ou tratamentos muito prolongados, torna-se tóxica. O objetivo do trabalho foi avaliar a influência da concentração e do tempo de exposição à colchicina, na sobrevivência e no desenvolvimento in vitro de Cattleya tigrina. Protocormos foram tratados com colchicina em concentrações de 0,5 e 1g.L -1 durante 24, 48 e 72 horas. Foram avaliados taxa de sobrevivência dos protocormos (%), porcentagem de plântulas com múltiplas brotações e altura após três e sete meses. Com o aumento da concentração e do tempo de exposição à colchicina houve maior mortalidade e aumento do número de plântulas com múltiplas brotações e altura reduzida. Palavras-chave: Cattleya tigrina, poliploidia, protocormos Abstract Polyploidy produces desirable characteristicsin orchids that are represented by increase of the floral pieces, succulency degree, intensification of color, durability and larger resistance of flowers. The colchicine as polyploidy inductor agent in in vitro culture of plants has limitations, because when in high concentrations or very long treatments, it becomes poisonous for the vegetal tissues. The objective of this research work was to evaluate the influence of concentrations and times of exposition to the colchicine, on the survival and on the in vitro development of Cattleya tigrina. Protocorms were treated with colchicine in the concentrations of 0.5 and 1g.L -1 during 24, 48 and 72 hours. There were evaluated the tax of survival of the protocorms (%), percentage of plantlings with multiple buds and plant height after three and seven months. The increase of the concentration and of the time of exposition to colchicine caused a larger plant mortality and an increase of plantlings with reduced height. Key words: Cattleya tigrina, polyploidy, protocorms 1 Biólogo, Aluno do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina/UEL, Londrina, PR.. Bolsista CNPq. E-mail: alone_bio@yahoo.com.br 2 Bióloga, Doutora em Fitotecnia pela Universidade Estadual de Londrina/UEL, Londrina, PR. E-mail: lilianunemoto@yahoo. com.br 3 Engenheira Agrônoma, Professora, Dra. do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina,/UEL, Londrina, PR. E-mail: sadayo@uel.br 4 Engenheiro Agrônomo, Professor, Dr. do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina/UEL, Londrina, PR. E-mail: faria@uel.br * Autor para correspondência Recebido para publicação 04/06/09 Aprovado em 18/05/10 1337

Lone, A. B. et al. A poliploidia pode ser definida como um dos tipos de variações cromossômicas que afetam o conjunto dos cromossomos das células, aumentando o número de jogos cromossômicos presentes em cada uma delas (LACADENA, 1981). A poliploidia é muito comum entre as plantas e cerca de 30 a 35% das plantas com flores são poliplóides (STEBBINS, 1971). Trabalhos mais recentes estimam que essa porcentagem seja de 95% nas pteridófitas e até 80% nas angiospermas (LEITCH; BENNET, 1997). Desde a descoberta da ação poliploidizante da colchicina, que no início foi considerada um elixir do crescimento, os melhoristas tentam utilizar a indução de poliploidia no melhoramento para obter plantas maiores, melhores e mais produtivas (EVANS, 1981). A colchicina (C 22 H 25 O 6 N), é um alcalóide extraído de sementes e bulbos de uma liliaceae (Conchicum autumnale), com função específica de atuação no final da prófase mitótica, inibindo a formação do fuso mitótico ou formando um fuso abortivo devido à precipitação das proteínas (FARIA; DESTRO, 1999). Dentre as formas de aplicação existentes, a poliploidização tem sido obtida com maior eficiência in vitro com o uso de explantes como meristemas apicais e axilares, segmentos de hipocótilo, nós cotiledonares, cotilédones, calos, micrósporos e protocormos (GRIESBACH, 1981; HANSEN et al., 1998). A colchicina, como agente indutor de poliploidia em cultura de plantas in vitro, tem suas limitações, pois em elevadas concentrações ou tratamentos muito prolongados, torna-se tóxica para os tecidos vegetais (HAMIL; SMITH; DODD, 1992). Assim sendo, para cada espécie e tipo de material a ser tratado, a concentração do alcalóide deve ser determinada (VAKILI, 1969). Nas orquidáceas, a poliploidia produz características desejáveis, que se traduzem em aumento das peças florais, grau de suculência, intensificação do colorido, durabilidade e maior resistência das flores, atributos valorizados na comercialização (WATROUS; WIMBER, 1988). Segundo Rocha (2008), a Cattleya tigrina ou Cattleya leopoldii, é uma espécie brasileira que ocorre do litoral do Rio Grande do Sul até Pernambuco. A espécie chama atenção pela coloração e número de flores, sendo muito cultivada e comercializada pelos orquidófilos. O objetivo do trabalho foi avaliar a influência da concentração e do tempo de exposição à colchicina, na sobrevivência e no desenvolvimento in vitro de Cattleya tigrina. O experimento foi realizado no Laboratório de Fitotecnia da Universidade Estadual de Londrina. Foram utilizados protocormos de Cattleya tigrina A.Rich., obtidos através de semeadura in vitro em meio MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962), modificado com metade da concentração dos macronutrientes e acrescido de 1g.L -1 de carvão ativo, 30g.L -1 de sacarose e 7g.L -1 de ágar. Os demais componentes do meio não foram alterados e o ph foi ajustado para 5,5 antes da autoclavagem. Os protocormos, com 15 dias de pós germinação, foram retirados do meio MS modificado (de semeadura) e colocados em meio MS líquido não autoclavado, sem adição de carvão ativo e acrescidos de 7mL.L -1 de SaniAgri TM (principio ativo: ácido peracético) para evitar contaminação por fungos e bactérias. Ao meio MS líquido foi adicionada colchicina nas concentrações de 0,5 e 1g.L -1 e os tempos de exposição dos protocormos à colchicina foram de 24, 48 e 72 horas. Como controle utilizaram-se protocormos em meio MS líquido sem adição de colchicina por 72 horas. Após a exposição à colchicina, os protocormos foram lavados em água autoclavada e postos em meio MS modificado, semelhante ao da semeadura, na quantidade de cinco protocormos por frasco, em um total de 10 frascos de vidro por tratamento. Todo o procedimento foi realizado em câmara de fluxo 1338

Sobrevivência e desenvolvimento in vitro de Cattleya (Orchidaceae) submetida a tratamentos com colchicina laminar para evitar possíveis contaminações. As culturas foram transferidas para sala de crescimento com 2.000 lux de luminosidade, fornecida por lâmpadas fluorescentes de 40W, fotoperíodo de 16 horas-luz e temperatura de aproximadamente 25 +2 o C. Dois meses após o tratamento com colchicina foi avaliada a taxa de sobrevivência dos protocormos (%);, após três meses foram avaliados altura da parte aérea e porcentagem de plântulas com múltiplas brotações e após sete meses foi feita uma nova avaliação de altura da parte aérea das plântulas. Todo o procedimento de avaliação foi realizado em câmara de fluxo laminar para evitar contaminações. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com sete tratamentos, 10 repetições e cinco protocormos por parcela. As variáveis referentes à taxa de sobrevivência e plântulas com múltiplas brotações, em porcentagem, foram transformados em arco seno (x/100) 0,5. Foi realizada análise de variância, complementada por comparação das médias com o teste de Scott-Knott, com intervalo de confiança de 5%. A menor taxa de sobrevivência dos protocormos (32 %) foi verificada no tratamento com colchicina na concentração de 1g.L -1 no período de 72 horas de exposição, seguido pelo tratamento com concentração de 1g.L -1 por 48 horas (84 %) (Tabela 1). Não houve diferenças estatísticas para os demais tratamentos em relação ao controle, mostrando que as demais concentrações e tempos de exposição, de modo geral, não apresentaram toxicidade para os protocormos. Esse resultado está de acordo com Hamil, Smith e Dodd (1992), que afirmam que altas concentrações e tratamentos muito prolongados de colchicina podem ser tóxicos para os tecidos vegetais. No entanto Silva, Callegari-Jackes e Zanettini (2000), observaram diferentes respostas para a sobrevivência de variedades de Cattleya intermedia tratadas com diferentes concentrações de colchicina e tempos de exposição, indicando um possível efeito do genótipo na resistência à colchicina. Já Vichiato et al. (2007) obtiveram ausência de morte em plantas de Dendrobium nobile tratadas com colchicina, sugerindo que essa orquídea possui maior resistência aos efeitos nocivos do alcalóide. Tabela 1. Valores médios da taxa de sobrevivência, porcentagem de plântulas com múltiplas brotações, primeira medição de altura de parte aérea das plântulas (três meses após tratamento com colchicina) (cm) e segunda medição de altura de parte aérea das plântulas (sete meses após tratamento com colchicina) (cm) de Cattleya tigrina, tratadas com diferentes concentrações de colchicina (g.l -1 ) e diferentes intervalos de tempo (horas). Tratamentos Plântulas com Taxa de Sobrevivência 1 a Altura 2 a Altura Múltiplas Brotações (%) (cm) (cm) (%) Colchicina 0,5 24h 100 a 25,55 c 2,60 a 3,86 a Colchicina 0,5 48h 94 a 22,22 c 2,65 a 4,27 a Colchicina 0,5 72h 100 a 42,50 b 2,39 a 3,17 b Colchicina 1 24h 96 a 58,88 b 2,22 a 4,23 a Colchicina 1 48h 84 b 75,59 a 1,88 b 2,55 b Colchicina 1 72h 32 c 79,17 a 1,45 b 2,37 b Colchicina 0 100 a 11,11 c 2,35 a 3,66 a CV (%) 15,46 55,18 23,56 20,73 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade 1339

Lone, A. B. et al. Observou-se, também, que com o aumento da concentração e do tempo de exposição à colchicina, houve aumento na porcentagem de plântulas com múltiplas brotações (Tabela 1). Unemoto et al. (2009) também obtiveram aumento do número de brotações em Oncidium flexuosum com o aumento do tempo de exposição dos protocormos à colchicina. Silva, Callegari-Jackes e Zanettini (2000) relatam que a colchicina pode ter efeito similar aos efeitos da citocinina, podendo proporcionar proliferação intensa de brotos. Para altura da parte aérea das plântulas, referente à primeira medição (três meses após o tratamento com colchicina), observou-se tendência de redução com o aumento do tempo de exposição para a concentração de 1g.L -1, sem diferença entre os demais tratamentos. Já na segunda medição da altura de parte aérea das plântulas (sete meses após o tratamento com colchicina), tanto a concentração de 0,5 g.l -1 quanto a de 1g.L -1 apresentaram redução da altura com o aumento do tempo de exposição. Os tratamentos com colchicina a 0,5g.L -1 por períodos de 24 e 48 horas e o tratamento com colchicina a 1g.L - 1 por 24 horas foram os que mostraram as maiores médias de altura, não diferindo estatisticamente do tratamento controle (Tabela 1). Vichiato et al. (2007) observaram que as plantas poliplóides de Dendrobium nobile obtidas após tratamento com colchicina também expressaram desenvolvimento lento e pouco vigoroso quando comparadas às plantas diplóides. Segundo esses autores o aumento das estruturas vegetativas é encontrado comumente em órgãos de padrão de crescimento altamente determinado, como flores e sementes e, por isso, nem sempre é observado entre plantas com diferentes níveis de ploidia. No entanto, Farinaci (2001), que avaliaram indivíduos diplóides e tetraplóides naturais de Bulbophyllum ipanemense, não observaram modificação morfológica visualmente associada a poliploidia, nem mesmo o aumento no tamanho dos indivíduos. Os resultados mostraram que com o aumento da concentração, de 0,5 para 1g.L -1, e do tempo de exposição à colchicina, de 24 a 72 horas, ocasionou maior mortalidade e aumento do número de plântulas com múltiplas brotações e redução na altura das plântulas. Referências EVANS, G. M. Polyploidy and crop improvement. Journal of the Agricultural Society of Wales, Aberystwyth, v. 62, n. 1, p. 93-116, 1981. FARIA, R. T.; DESTRO, D. Poliploidia. In: DESTRO, D.; MONTALVÁN, R. (Org.). Melhoramento genético de plantas. Londrina: UEL, 1999. v. 1, p. 57-68. FARINACI, J. S. Variabilidade genética em algumas espécies de Bulbophyllum Thouars (Orchidaceae) de campos rupestres. 2001. Dissertação (Mestrado em Genética e Biologia Molecular) Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Biologia, Campinas. GRIESBACH, R. J. Colchicine induced polyploidy in Phalaenopsis orchids. Plant Cell Tissue and Organ Culture, Netherlands, v. 1, n. 1, p. 103-107, 1981. HAMIL, S. D.; SMITH, M. K.; DODD, W. A. In vitro induction banana altotetraploids by colchicine treatment of micropropagated diploids. Australian Journal of Botany, Melbourne, v. 40, n. 6, p. 887-896, 1992. HANSEN, A. L.; GERTZ, A.; JOERSBO, B.; ANDESRSEN, S. B. Antimicrotubule herbicide for in vitro chromosome doubling in Beta vulgaris L. ovule culture. Euphytica, Wageningen, v. 101, n. 1, p. 231-237, 1998. LACADENA, J. R. Genética. 3. ed. Madrid: Ed. AGESA, 1981. 1303 p. LEITCH, I. J.; BENNET, M. D. Polyploidy in angiosperms. Trends in Plant Science, Oxford, v. 2, n. 12, p. 470-476, 1997. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A Revised medium of rapid growth and bioassay with tobacco tissue cultures. Physiologia Plantarum, Sweden, v. 15, n. 3, p. 473-479, 1962. ROCHA, R. Abc do orquidófilo: de uma, várias ou muitas orquídeas. Viçosa, MG: Agronômica Ceres, 2008. 424 p. 1340

Sobrevivência e desenvolvimento in vitro de Cattleya (Orchidaceae) submetida a tratamentos com colchicina SILVA, P. A. K. X. M.; CALLEGARI-JACKES, S.; ZANETTINI, M. H. B. Induction and identification of polyploids in Cattleya intermedia Lind. (Orchidaceae) by in vitro techniques. Ciência Rural, Santa Maria, v. 30, n. 1, p. 105-111, 2000. STEBBINS, G. L. Chromosomal evolution in higher plants. Reading: Addison-Wesley, London, 1971. 216 p. UNEMOTO, L. K.; FARIA, R. T.; DESTRO, D.; BARBOSA, C. M.; LONE, A. B. Sobrevivência e diferenciação de protocormos de Oncidium flexuosum submetidos a tratamento com ácido peracético e colchicina. Acta Scientiarum Agronomy, Maringá, v. 31, n. 3, p. 503-508, 2009. VAKILI, N. G. The experimental formation of polyploidy and its effect in the genu Musa. American Journal of Botany, Ohio, v. 54, n. 1, p. 24-36, 1969. VICHIATO, M. R. M.; VICHIATO, M.; PASQUAL, M.; CASTRO, D. M.; DUTRA, L. F. Indução e identificação de tetraplóides em Dendrobium nobile Lindl. (Orchidaceae). Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 38, n. 4, p. 385-390, 2007. WATROUS, S. B.; WINBER, D. E. Artificial induction of polyploidy in Paphiopedilum. Lindleyana, New York, v. 3, n. 4, p. 177-183, 1988. 1341