Fitossociologia das espécies florestais de uso não madeireiro em área de manejo florestal, Moju-PA. Phytosociology of forest species of non-timber use in forest management area, Moju- PA. NEVES, Raphael Lobato Prado 1 ; MARTINS, Walmer Bruno Rocha 1 ; CORDEIRO, Iracema Maria Castro Coimbra 1 ; RANGEL-VASCONCELOS, Lívia Gabrig Turbay 1 OLIVEIRA, Francisco de Assis 1 ; ¹Universidade Federal Rural da Amazônia, raphael.lobato@outlook.com; walmerbruno@yahoo.com.br; iracema3c@gmail.com, liviaturbay@gmail.com, francisco.oliveira@ufra.edu.br Resumo: O estudo teve objetivo de avaliar características fitossociológicas das espécies florestais de uso não madeireiro ocorrentes em érea de manejo florestal no Município de Moju-Pa. O trabalho foi desenvolvido com a base de dados de inventario florestal préexploratório. A avaliação foi realizada através de Densidade Absoluta (DeA), Densidade Relativa (DeR), Dominância (DoA), Dominância Relativa (DoR), Frequência Absoluta (FrA) Frequência Relativa (FrR) e Índice de Valor de Importância (IVI). Os resultados mostraram que a maior DeA e DeR foi verificada na espécie Parahancornia amapa e a menor na Carapa guianensis. A Lecythis pisonis apresentou maior DoA, DoR, FrA, FrR e IVI, e a Carapa guianensis apresentou menor índice para os mesmos parâmetros. As espécies apresentam raridade em determinadas UT e abundância em outros, confirmando a necessidade de planejar, para o manejo florestal, números diferentes de indivíduos a serem preservados para uma mesma espécie, em diferentes locais. Palavras-chave: Amazônia; Biodiversidade; Sustentabilidade. Abstract: The study aim was to evaluate phytosociological characteristics of forest species of non-timber use occurring in forest management area in the Municipality of Moju-Pa. The study was conducted with the database of pre-exploratory forest inventory. The evaluation was performed by Absolute Density (DeA), Relative Density (DeR) Dominance (DoA), Relative Dominance (DoR), Absolute Frequency (FrA) Relative Frequency (FRR) and Importance Value Index (IVI). The results showed that most DeA and Der was observed in Parahancornia amapa species and lower Carapa guianensis. The Lecythis pisonis showed higher DoA, DoR, FrA, FRR and IVI, and Carapa guianensis showed a lower rate for the same parameters. The species have certain rarity in UT and abundance in others, confirming the need to plan for forest management, different numbers of individuals to be preserved for the same species in different locations. Keywords: Amazon; biodiversity; Sustainability. Introdução Os produtos florestais não madeireiros (PFNMs) são importantes elementos dos recursos florestais de todo o planeta (WICKENS, 1991). Esses produtos cumprem
um papel crucial na vida de populações tradicionais, como fonte de importantes insumos, tais como: alimentos, remédios, forragem, fertilizantes, energia, fibra, resina, goma, materiais de construção, entre outros (CASTELLANI, 2002; SANTOS et al., 2003). A valorização dos recursos florestais, restrita à produção madeireira, vem sendo modificada dentro de um contexto macroeconômico, tornando-se cada vez mais evidente a importância de outros produtos e benefícios (SANTOS et al., 2003). O manejo de produtos florestais não madeireiros no Brasil tem demostrado ampla importância social, econômica e ambiental, pois é realizado prioritariamente em pequenas propriedades rurais permitindo que se preserve parte importante da biodiversidade das florestas nativas (FIEDLER et al., 2008). As espécies florestais não-madeireiras estão sendo consideradas uma fonte alternativa de renda, sendo, portanto, necessário o conhecimento da distribuição dessas espécies para potencializar a utilização desses recursos. Nesse sentido o estudo teve objetivo de avaliar características fitossociológicos das espécies florestais de uso não madeireiro em área de manejo florestal, no município do Moju. Metodologia A área de manejo florestal está localizada no município de Moju no nordeste paraense, na fazenda Agroecológica São Roque (3 03'14,8" S e 48 59'36,14519" W) situada a margem direita da PA 150 no sentido Belém-Marabá. O clima da região é do tipo Ami, de acordo com a classificação de Köppen. As temperaturas médias mensais variam de 21 a 33 C, com média anual de aproximadamente 26 C (SILVA et al., 2001). A precipitação pluviométrica anual oscila de 2.000 a 3.000 mm, com distribuição irregular, sendo os meses de janeiro a junho os mais chuvosos (cerca de 80%) com umidade relativa do ar em torno de 85% (COSTA et al., 1998). O levantamento dos indivíduos classificados como passíveis de exploração de produtos florestais não madeireiros foi realizado com base nas informações contidas
no inventario florestal pré-exploratório realizado no ano de 2007 em uma área de manejo total de 1.433,32 ha, onde 1.025,68 ha é de efetivo manejo, a qual foi dividida em 22 unidades de trabalho (UT), com tamanhos variando de 10,57 a 78,35 ha. Nessas áreas todas as espécies com diâmetro a altura do peito (DAP) 35 cm foram mensuradas, com a utilização de mapas de uso do solo, microzoneamento e mapas de localização das árvores para facilitar a operação na floresta. As espécies foram avaliadas através dos parâmetros fitossociológicos absolutos e relativos de densidade, dominância, frequência e o índice de valor de importância (IVI) de acordo com a metodologia descrita por Lamprecht (1964); Finol (1971). Resultados e discussões Na área de Manejo Florestal Sustentável foram encontradas 49 espécies pertencentes a 19 famílias botânicas. Do total das espécies, oito são as potencias de exploração e comercialização (Tabela 01), não só pelo uso múltiplo, mas, sobretudo pela utilização no mercado local. TABELA 01. Lista dos principais produtos não madeireiros observados na área de manejo com potencial para futura exploração. Fazenda Agroecológica São Roque. Moju-PA, Brasil Nome Vulgar Nome científico Produtos/ Uso Andiroba Carapa guianensis Aubl. Medicinal Amapá Parahancornia amapa (Huber) Ducke Medicinal Bacuri Platonia insignis Mart. Frutífera Copaíba Copaifera reticulata Ducke Medicinal e Cosméticos Inga Inga sp. Frutífera Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pers. Frutífera e Medicinal Sapucaia Lecythis pisonis Cambess Frutífera e Artesanato Uxi Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. Frutífera As espécies, naturalmente comuns nas unidades de trabalho foram Carapa guianensis Aubl-Meliaceae, Copaifera reticulata-fabaceae, Endopleura uchi [Huber]
Cuatrec.-Humiriaceae. Esses resultados são similares aos verificados por Schwartzv, et al., (2008) em estudo realizado no sudeste do estado do Pará. A maior Densidade Absoluta (158%) e Relativa (29,59%) foi verificada no Amapá e a menor Densidade Absoluta (3%) e Relativa (0,57%) na Andirobeira. Quanto à Dominância Absoluta e Relativa, a espécie mais representativa foi a Sapucaia (82,97 e 31,27% respectivamente), já a de menor representatividade a Andirobeira (0,80 e 0,30% respectivamente). Na tabela 02 A Frequência Absoluta e Relativa da Sapucaia foi de 100% e 18,03% respectivamente, ou seja, registrou-se a ocorrência em todas as Unidades de Trabalho. A Andirobeira apresentou Frequência Absoluta de 13,64% e Frequência Relativa de 2,46%. O Índice de Valor de Importância (IVI) de cada espécie está listado na tabela a seguir, demonstrando o maior IVI para Sapucaia (72,71) e menor IVI para a Andirobeira (3,32). TABELA 02. Valores absolutos e relativos de Densidade (De), Dominância (Do), e Frequência (Fr); e Índice de Valor de Importância (IVI) das espécies florestais de uso madeireiro. Características Fitossociológicas Espécies DeA DeR DoA DoR FrA FrR IVI Amapá 158 29,59 61,24 23,08 95,45 17,21 69,88 Andiroba 3 0,56 0,80 0,30 13,64 2,46 3,32 Bacuri 21 3,93 18,16 6,84 40,91 7,38 18,15 Copaíba 46 8,61 16,17 6,10 77,27 13,93 28,64 Ingá 93 17,42 26,45 9,97 81,82 14,75 42,14 Piquiá 56 10,49 48,34 18,22 77,27 13,93 42,64 Sapucaia 125 23,41 82,97 31,27 100,00 18,03 72,71 Conclusão As espécies apresentam raridade em determinados locais e abundância em outros, confirmando a necessidade de planejar, para o manejo florestal, números diferentes de indivíduos a serem preservados para uma mesma espécie em diferentes locais das unidades de trabalho.
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