O Oriente Médio e a Crise Humanitária do Século

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Transcrição:

O Oriente Médio e a Crise Humanitária do Século

O fluxo de pessoas desesperadas que parte da Síria e do norte da África na tentativa de alcançar a Europa já é muito maior que o registrado no mesmo período do ano passado. Mais de 300 mil imigrantes já arriscaram suas vidas tentando atravessar o Mediterrâneo neste ano, segundo as Nações Unidas. Em todo o ano passado, foram 219 mil pessoas. Cerca de 200 mil pessoas desembarcaram na Grécia desde janeiro, enquanto outras 110 mil chegaram à Itália.

A maioria dos que chegam às terras gregas optam pela viagem relativamente curta entre a Turquia e as ilhas de Kos, Chios, Lesvos e Samos em frágeis botes de borracha ou em pequenos barcos de madeira. A viagem entre a Líbia e a Itália é mais longa e arriscada.

Algumas das piores tragédias já ocorridas neste ano: Chamadas de "rotas da morte", há três caminhos que passam pelo Mediterrâneo (a oriental, a central e a ocidental). Segundo a Organização Internacional de Migração (OIM), desde 1988, 20 mil pessoas morreram na travessia do mar entre a África e o sul da Europa, uma média de 800 mortes por ano.

Dois barcos com cerca de 500 imigrantes afundaram após deixar Zuwara, na Líbia, em 27 de agosto. Corpos de ao menos 71 pessoas, que podem ser imigrantes sírios, foram descobertos em um caminhão abandonado na Áustria, também em 27 de agosto. Naufrágio nos arredores da ilha de Lampedusa, na Itália, matou cerca de 800 pessoas em 19 de abril. Ao menos 300 imigrantes se afogaram ao tentar atravessar as águas agitadas do Mediterrâneo em fevereiro.

Imigrantes são resgatados por navio da Marinha belga durante uma missão de busca e salvamento no mar Mediterrâneo ao largo da costa da Líbia

Muitas vezes não chegam

Caminhão na Áustria tinha 71 corpos de imigrantes, quatro deles crianças

O mundo vive a maior crise de migatória de refugiados, por motivos de guerra ou perseguição política e étnica, desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo a ONU, em 2015, 59,5 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar seus países devido à violência.

Países com histórico recente de guerras lideram a lista dos que mais exportam refugiados. Em primeiro lugar vêm o Afeganistão, seguido pela Síria, Somália e Sudão, com o Iraque em sexto lugar. Os refugiados têm se deslocado para a Europa, continente que apoiou intervenções militares no Afeganistão, Iraque e Síria.

Por que muitos sírios estão deixando a Síria? A imensa maioria dos sírios que se dirige à Europa para escapar da guerra civil em seu país, iniciada em 2011, com a repressão imposta pelo ditador Bashar al-assad às manifestações da chamada Primavera Árabe.

Atualmente, diversas cidades sírias estão destruídas e o país se encontra dividido entre grupos pró-assad, rebeldes antigoverno, forças curdas, o Estado Islâmico e outras facções jihadistas, entre elas a Frente al-nusra, ligada à Al-Qaeda.

Refugiados em Idomeni: a situação é dramática, mas é melhor do que ficar no país de origem

Na minha cidade, primeiro chegaram as tropas de Bashar al-assad [presidente da Síria], depois vieram os rebeldes e agora o Daesh [acrônimo em árabe para o Estado Islâmico], conta Al- Nahar. Em todo lugar que se vê o Daesh, há morte. Al-Nahar; engenheiro químico de 29 anos fugiu de Raqqa, capital do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), para a Turquia há dois anos.

Segundo Al-Nahar, os jihadistas enxergam parte da população de Raqqa, área rica em petróleo, como muçulmanos não crentes, em especial os sunitas. Os jihadistas forçam os não crentes a se tornarem novos muçulmanos por meio de uma cerimônia com um imã do grupo. Apenas assim, essas pessoas são aceitas como muçulmanas, conta. Veja bem, somos muçulmanos há mil anos e eles agem dessa forma? Não temos como dialogar com o Daesh.

Quem se recusar a passar pelo ritual é punido, em geral, com a morte, conta o engenheiro. O EI também pune aqueles que não usam trajes religiosos adequados ou que não mantêm a barba da forma correta. Se você não segue as normas deles, é um muçulmano infiel,

O grupo também controla o envolvimento da população com a política e suas atividades nas redes sociais, de acordo com Al-Nahar. Todos querem um país com Constituição e democracia, mas se alguém defende isso, é visto pelo Daesh como um muçulmano não crente, diz.

Eles checam as suas redes sociais, se você fala sobre a situação do país é considerado um espião. O Daesh pergunta tudo sobre a sua vida quando invade casas

EI infiltra espiões na comunidade para saber o que as pessoas falam e identificar aqueles que cometem ofensas contra o grupo. Eles vão te punir, por exemplo, porque viram uma foto sua de anos atrás bebendo. Não se pode ter uma vida normal, com liberdade porque o medo de ser punido é real, desabafa. Eles possuem uma mente criminosa.

A origem do problema: a raiz do ódio A maioria das guerras tinham em sua raiz as disputas com o Estado de Israel que expandia suas fronteiras às custas de territórios de países árabes, em 1948 49 travou-se um conflito no qual os judeus anexaram vastos territórios.

Depois em 1967 (A Guerra dos Seis Dias) no qual conseguiu anexar a Península do Sinai e as Colinas de Golã. Outras guerras sacudiram a região, seguindo a proporção de ao menos uma por década, em 1973 ocorreu a do Yom Kippur e na década de 1980 a Intifada Palestina.

Além disso não faltaram também conflitos entre os próprios povos árabes, como a Guerra Irã Iraque (1980 e 1988), seguindo-se a invasão do Kuwait pelo mesmo Iraque em 1990 que acabou com a intervenção norte americana dando origem à primeira Guerra do Golfo (1991).

Mas todos os caminhos sempre levam para a mesma conclusão: o petróleo A mistura de dominação direta, ou submissão disfarçada aos interesses das potências estrangeiras, a construção de fronteiras que não respeitaram a tradição dos povos que habitavam a região há séculos e o estabelecimento de governos autoritários, em sua maioria com forte componente religioso muito importante, para garantir uma estabilidade política que não colocasse em risco o fluxo de petróleo para as economias centrais está na raiz das explosões que está se ampliando a cada dia.

Guerreiro Anti-Soviético coloca o seu exército no caminho da paz Jornal inglês The Independent ; 1993

O presidente americano Ronald Reagan rotulou os mujahedins comandados por Bin Laden de Guerreiros da Paz.

Essas "combatentes da liberdade" são os antepassados da ISIS e da Al Qaeda..

"Na história islâmica, a jihad como um fenômeno violento internacional tinha desaparecido nos últimos 400 anos, para todos os efeitos práticos. Ela Foi revitalizada de repente com a ajuda americana na década de 1980. Quando a União Soviética interveio no Afeganistão, Zia ul-haq, o [apoiado pelos EUA] ditador militar do Paquistão, pais que faz fronteira com o Afeganistão, viu uma oportunidade e lançou uma jihad contra o comunismo ateu lá. Os EUA viram uma oportunidade enviada por Deus de mobilizar um bilhão de muçulmanos contra o que Reagan chamou de " Império do mal".

Iraque: Dezembro de 1983. Donald Rumsfeld, enviado especial dos EUA, com Saddam Hussein. numa das várias viagens feitas a Bagdá durante essa época.

Quando a amizade acaba

A Primavera Árabe e a Libertação A Primavera Árabe, iniciada na Tunísia, é um movimento de populações oprimidas por governos que ao longo de décadas atenderam aos interesses imperialistas e mantiveram um silencio forçado a custa de muita opressão política e da formação de verdadeiros estados policialescos. Estados que nunca abriram espaço para manifestações de descontentamentos sociais e menos ainda canais reais de participação política para seus cidadãos.

Ao atear fogo ao próprio corpo, simbolicamente, o jovem tunisiano Mohamed Bouazizi não protestou apenas contra a apreensão de suas mercadorias ou da falta de perspectivas de vida, que atinge a maioria dos jovens do mundo árabe, mas demonstrou ao mundo que aquela medida extrema era um grito de desespero frente a uma realidade muito mais ampla, de um contexto em que a auto imolação foi a única forma de se fazer ouvir, mesmo que a custa da própria vida.

Assim, as rebeliões no mundo árabe receberam o nome de Primavera Árabe em função de seu efeito concatenado, ou simplesmente pelo efeito dominó, pois elas se espalharam como um rastro de pólvora e obviamente tomaram rumos próprios em cada um dos países atingidos. Mas um grito era (e ainda é) quase uníssono em todos esses movimentos: Liberdade, o que significa na prática o fim da opressão promovida por governos atrelados muito mais a interesses de pequenas elites a serviço do capital estrangeiro do que às necessidades e anseios de suas populações.

O Caso na Síria A culpa das potências ocidentais na Síria: Como o Ocidente poderia ter evitado milhares de mortes no país árabe

A Rússia propôs há mais de três anos a renúncia do presidente da Síria, Bashar al- Assad, como parte de um acordo de paz. As potências ocidentais deixaram de aproveitar a proposta. Desde aquele momento, em 2012, dezenas de milhares de civis foram mortos e milhões, desalojados, o que causou a mais grave crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.

A proposta da Rússia era simples: três coisas. Uma: não deveríamos dar armas à oposição. Duas: deveríamos conseguir um diálogo entre a oposição e Al-Assad imediatamente. Três: deveríamos encontrar uma maneira elegante de Assad deixar o governo.

Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França estariam, no entanto, tão convencidos de que o ditador sírio estava prestes a cair que ignoraram a proposta.

Oficialmente, a Rússia apoiou Al-Assad com firmeza durante os quatro anos e meio de guerra na Síria. O presidente sírio disse que a Rússia nunca o abandonará. Moscou começou recentemente a enviar tropas, tanques e aviões em um esforço para estabilizar o regime do aliado e a combater os extremistas do Estado Islâmico.

O Ocidente acreditava ser capaz de derrubar Assad sem Putin.

Em 2012, o Ocidente estava fixado na saída de Assad. Como se isso fosse o início e o fim da estratégia e então tudo o mais se encaixaria... A Rússia afirmou constantemente não se tratar de Assad, mas sinceramente eles queriam falar a respeito.

Ahtissari, Nobel da Paz.

Duvido muito que EUA, Reino Unido e França se recusaram ou rejeitaram qualquer oferta estratégica naépoca. As questões tinham mais a ver com sequenciamento, o início ou fim do processo, e com a capacidade da Rússia de entregar, fazer Al-Assad sedemitir.

Em 2012, o número de mortos no conflito sírio era estimado em cerca de 7,5 mil. A ONU acredita que esse número passou de 220 mil no início deste ano e continua a subir. O caos levou à ascensão do Estado Islâmico. Mais de 11 milhões de sírios foram obrigados a deixar suas casas.

Devíamos ter evitado, pois é um desastre causado por nós mesmos, esse fluxo de refugiados para nossos países na Europa, disse Ahtisaari. Não vejo outra opção além de cuidar bem dessas pobres pessoas... Pagamos a conta do que nós mesmos causamos.

A situação dos refugiados na Europa Crise humanitária: Direito, moralidade e solidariedade: A versão de que a Europa recebe a maior parte dos refugiados é simplesmente perversa

Há um grande equívoco no tratamento desse tema pela grande mídia, cujo foco tem sido mais os discursos convenientes e as posições resistentes de governos europeus, e menos a pressão sobre os países em desenvolvimento e a condição das vítimas dos conflitos armados e de violações massivas de direitos humanos.

A opinião pública é sistematicamente induzida a acreditar que os países europeus, e do Norte Global em geral, são os que recebem mais refugiados: essa é uma inversão perversa dos fatos. Os que mais recebem refugiados são os países em desenvolvimento, fronteiriços aos países em crise humanitária.

Todas as crises humanitárias se desenrolam nos países em desenvolvimento: na África, no Oriente Médio, na Ásia e na América Latina. Alguns exemplos impressionantes de recepção de refugiados são o Líbano e a Turquia em relação à crise na Síria; o Irã em relação às crises do Iraque e do Afeganistão; o Quênia, em relação à crise na Somália; o Equador e a Venezuela em relação à crise da Colômbia.

O Direito Internacional dos Refugiados determina que as fronteiras devem estar abertas para a passagem de refugiados que não podem ser devolvidos em nenhuma hipótese (princípio do non refoulement)

Esses países em desenvolvimento, que não contribuíram para as crises de seus vizinhos, são obrigados a receber grandes fluxos de refugiados e o fazem sem cerimônias, cumprindo com seus compromissos internacionais e indo além, exercitando a solidariedade. Esses países de primeiro acolhimento são, de longe, os maiores afetados pela chegada de milhares e milhões de refugiados.

Entretanto, a crise econômica faz com que milhares de refugiados se lancem à arriscada aventura de buscar, por conta própria, países de segundo acolhimento; a Europa tem sido seu objetivo.

Diante do grande fluxo de refugiados, por terra ou pela via marítima, a UE tem tido uma postura que beira à ilegalidade, com o fechamento de fronteiras, ações para coibir a chegada de refugiados na origem e o estabelecimento de cotas rígidas de entrada de refugiados.

Fronteiras fechadas: Fronteira da Hungria com a Sérvia, local onde uma cerca de aproximadamente 170 kilometros foi construida para barrar a entrada de refugiados ao país

Policiais fazem guarda em acampamento de registro em Roszke, Hungria

Refugiados Sírios aproveitam alguns minutos de WiFi e mandam notícias para parentes e amigos

Fila de refugiados para embarcar em ônibus com destino a acampamentos de registro

Parlamento dinamarquês aprova lei para confiscar bens dos refugiados: Migrantes podem conservar equivalente a 10 mil coroas (R$ 5.930).

Além das obrigações legais de receber refugiados e não devolvê-los, derivadas do Direito Internacional, já reconhecidas pela Corte Europeia de Direitos Humanos de Estrasburgo, no caso em que a Itália foi condenada (2012), a Europa tem a obrigação moral de acolher refugiados.

Esse imperativo moral advém da responsabilidade histórica pelo legado negativo do colonialismo e da responsabilidade pelas intervenções unilaterais no conflito da Síria, apoiando rebeldes e mercenários com armas e recursos de outra ordem. Não é possível eximir-se dessa responsabilidade moral no momento em que as vítimas de tais ações acorrem à suas fronteiras.

Mas como fica o futuro europeu?

Sociólogo português diz que Europa criará "Estado de Mal-Estar: Boaventura de Sousa Santos, diz que o continente está virando um miniatura do mundo, com países de primeiro, segundo e terceiro mundos

O que os políticos estão fazendo? Depois de muita discussão, em abril os líderes da União Europeia concordaram em triplicar o financiamento da operação Triton para cerca de 120 milhões de euros (cerca de R$ 480 mil) No entanto, a Frontex afirmou neste mês que não recebeu a ajuda prometida pelos paísesmembros da UE para socorrer a Grécia e a Hungria.

No ano passado, a Itália pôs fim à sua missão de procura e resgate, chamada Mare Nostrum (do latim Nosso Mar ) após alguns países do bloco incluindo o Reino Unido afirmarem não ter como mantê-la financeiramente. Essa decisão foi duramente criticada por grupos de direitos humanos.

Os países da UE estão fazendo uma divisão justa? Há anos a União Europeia tem tentado acordar uma política de asilo. Algo difícil quando se tem 28 Estados-membros, cada um com suas forças policiais e judiciárias. Defender os direitos dos imigrantes pobres está difícil em um ambiente econômico sombrio. Muitos europeus estão desempregados e temem a concorrência com os trabalhadores estrangeiros, e os países da União Europeia não se entendem sobre como dividir o problema dos refugiados.

As regras conjuntas mais detalhadas foram estabelecidas no Sistema Europeu Comum de Asilo (CEAS, na sigla em inglês) mas ter regras é uma coisa, colocá-las em prática em toda a União Europeia é um outro desafio. Há tensões dentro da União Europeia por causa da Convenção de Dublin a Grécia reclama ter sido inundada com pedidos de asilo, já que muitos imigrantes chegam primeiro lá.

A Alemanha anunciou a suspensão da regra e decidiu analisar a maioria dos pedidos de asilos de sírios, independentemente de como eles entraram na Europa. A Finlândia também está entre os países que pararam de enviar imigrantes de volta para a Grécia. O número de pedidos na União Europeia chegou a 626 mil em 2014, ante 435 mil em 2013, segundo a Comissão Europeia órgão responsável pelas execuções do Parlamento Europeu e do Conselho da UE. A Alemanha concedeu a maioria, seguida por Suécia e Itália.

http://g1.globo.com/fantastico/videos/t/edicoe s/v/fantastico-percorre-7-paises-e-mostra-odrama-de-refugiados-na-europa/4703416/