Ficha Técnica Campaniforme. Direcção Científica Michael Kunst

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Transcrição:

Ficha Técnica Campaniforme Direcção Científica Michael Kunst Produção Museu Municipal Leonel Trindade Câmara Municipal de Torres Vedras Francisca Ramos Design Gráfico Olga Moreira (projecto gráfico) Rita Couto Montagem F. Costa Oficina de Museus Museu Nacional de Arqueologia Impressão (exposição) Aresta Design e Serigrafia F. Costa Oficina de Museus Impressão (brochura) A3 Artes Gráficas Lda. Tradução de Textos International House Consenso Mútuo Florinda Costa

103,81 103,95 103,92 104,05 104,08 103,69 modelo de barco do período minóico antigo ou médio de Thomas Guttandin, baseado num selo. Existe um registo que indica que no reinado do faraó Sneferu (IV dinastia) foram importados troncos de cedro para o Egipto. 104,05 103,93 Outros elementos encontrados em sepulturas junto de vasos campaniformes: botão com perfuração em V, braçal de arqueiro, e objectos de prestígio em metal. Museu Conde de Castro Guimarães, Cascais. Foto: John Patterson

Os quarto e terceiro milénios a.c (na península ibérica: neolítico final e calcolítico) são épocas com numerosas inovações. O intercâmbio, especialmente a grandes distâncias, é acelerado pelas seguintes razões:» Utilização da força de animais, bois e cavalos» Invenção da roda» Aperfeiçoamento de embarcações» Início da utilização do cavalo como meio de transporte A grande difusão do vaso campaniforme é reflexo destes factos.

103,92 103,93 104,05 104,08 104,05 103,95 103,69 103,81 foto maior: Edward Sangmeister e Hermanfrid Schubart em baixo: Hermanfrid Schubart, Michael Kunst, e Leonel Trindade

Torres Vedras tem no seu Concelho um dos povoados fortificados do 3º milénio a.c, descoberto por Leonel Trindade, que iniciou as primeiras escavações em 1959. Como Director do Museu Municipal, convidou o Instituto Arqueológico Alemão a prosseguir com as investigações, iniciando assim seis campanhas de escavações entre 1964 e 1973, dirigidas por Hermanfrid Schubart e Edward Sangmeister, continuadas em 1994 por Michael Kunst, em colaboração parcial com Hans-Peter Uerpmann, Rui Parreira e Elena Morán. Nos últimos anos, especialmente pelas prospecções de Nina Lutz e Leonel J. Trindade, as investigações mostraram que o Castro do Zambujal ocupava uma área muito maior do que inicialmente se supunha. Por este motivo a Câmara Municipal adquiriu uma área de 49 hectares, à volta do povoado Calcolítico. Sendo o Castro do Zambujal um dos povoados fortificados melhor conservados dessa época na Península Ibérica, com um horizonte campaniforme, foi eleito pela BBC como um exemplo de povoado campaniforme, para um programa da televisão dirigido por Julian Richards, sobre Stonehenge. As investigações dos últimos 10 anos sobre Campaniforme, nomeadamente a tese de Laure Salanova, mostram que Portugal desempenhou um importante papel na origem do fenómeno campaniforme, definido por Christian Strahm.

O termo vaso campaniforme marítimo serve para designar recipientes que possuem perfil em S, uniformemente arqueado, cujo fundo é um prolongamento da parede e pode ser mais ou menos plano ou onfálico (concavidade na superfície externa). A altura é uma vez e meia ou duas vezes superior à sua largura. Encontram-se decorados com bandas horizontais, preenchidas com padrões constituídos por linhas oblíquas ponteadas, feitos com instrumentos denteados, que se alternam segundo duas direcções divergentes, enquadrados por pequenas e ténues linhas impressas. As bandas repetem-se ao longo de toda a superfície, encontrando-se impressas simetricamente, separadas por bandas lisas, polidas e sem qualquer decoração. Esta gramática decorativa nem sempre é inteiramente seguida, registando-se casos em que não existiam, por exemplo, linhas de separação, ou se encontrava uma linha no espaço livre, ou ainda, encontrarem-se as bandas estampadas em linha quebrada. As linhas de separação também podem ser concretizadas através de impressão, com recurso à aplicação de um cordão. Em oposição aos verdadeiros vasos campaniformes marítimos acima mencionados, chamamos variantes aos vasos que se distinguem ligeiramente destes. Todos estes factos constituem o objectivo desta Exposição, que abarca a distribuição do vaso Campaniforme, em toda a Europa e Marrocos. Deste modo a exposição divide-se em três partes»

Vaso campaniforme marítimo La Sima foto Alejandro Plaza

1ª parte Distribuição do vaso campaniforme em toda a Europa Na entrada do exposição mostra-se uma vitrina onde estão expostos materiais de marfim, da época, indicando o comércio de longa distância. Um painel e uma vitrina mostram estelas da Suiça e placas de xisto decoradas de Portugal, de uma época imediatamente anterior ao Campaniforme. Estas poderão transmitir-nos uma ideia sobre o traje das pessoas da época campaniforme, sendo o padrão decorativo, muito semelhante ao da cerâmica campaniforme.

2ª parte O Campaniforme em Portugal Minho Minho Mostram-se exemplos da evolução do Campaniforme em Portugal, por regiões, e também vestígios da metalurgia do cobre, que caracteriza o 3º milénio a.c. na Península Ibérica, por este motivo designada Idade do Cobre ou Calcolítico. Douro Douro Tr s-os-montes Beira Alta O campaniforme está frequentemente associado a vestígios metálicos, sendo a Ponta de Palmela, um dos seus exemplos mais significativos. Beira Litoral Beira Baixa O Cobre, o Ouro e o Marfim, em conjunto com sepulturas monumentais, são manifestações do aparecimento de elites, demonstrando a sua posição social e consequentemente a hierarquização da sociedade. Estremadura Tejo Ribatejo Alto Alentejo ponta de Palmela distribuição do campaniforme em Portugal 0 vasos 40 vasos 40 a 100 vasos 100 vasos limites do paìs limites da regi o rios Sado Baixo Alentejo Algarve Guadiana

3a parte O Castro do Zambujal Com o Castro do Zambujal, mostra-se o desenvolvimento do povoado fortificado desde o início do calcolítico, até ao aparecimento do campaniforme em Portugal. O ponto de partida para a reconstituição que se vê na maqueta, de Leonel J. Trindade, é a imagem da Torre B elaborada pelo arquitecto Félix Arnould e M. Kunst (Instituto Arqueológico Alemão), que também se vê representada numa tela, em tamanho quase real, que nos transmite ainda os restos dos muros conservados no local, mas já muito destruídos. Para além da evolução cronológica, entre aproximadamente 2900 e 1700 a.c, vemos que o sítio fortificado tinha uma dimensão muito grande, e que na fase final se resume a uma citadela, pequena, rodeada de fortes muros, representada numa maqueta.

15 Maio a 13 Setembro 2009 Museu Nacional de Arqueologia Torre Oca # Mosteiro dos Jerónimos # Lisboa { www.mnarqueologia-ipmuseus.pt }