Fig. 1 - Camada passiva formada principalmente por óxido de cromo

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Transcrição:

Apresentação e Discussão de Alguns Aspectos Importantes na Seleção dos Principais Tipos de Aços Inoxidáveis Utilizados em Design de Produtos Industriais Presentation and Discussion of Some Important Aspects in the Selection Materials Criteria of the Most Used Stainless Steel Types in Industrial Products Design Wilson Kindlein Junior Prof. Dr. Eng. UFRGS-PPGEMM Coordenador do NdSM-UFRGS Leandro Ruchiga Bonilha Designer - bolsista DTI-CNPq/NdSM/CIENTEC Wilbur Trajano G. Coelho Físico Mestrando PPGEMM-UFRGS Palavras-chave:Aço, inoxidável,seleção. Este artigo será um suporte de informação em uma linguagem amigável, para a orientação do designer na escolha do aço inox dentre outros materiais e também quanto as suas classificações versus exigências de projetos. O conhecimento das características do aço inox, é imprescindível para que o designer possa inovar e explorar outras áreas de aplicações, oportunizando ótimos resultados para seus projetos. Key-words: Steel, stainless, selection. This article will be a support of information in a friendly language, for the prompt of designer in the choice of the steel inox amongst other materials and also how much its sorting versus requirements of designs. The knowledge of the features of the steel inox, is essential so that designer it can innovate and explore other areas of resulted excellent applications and convenient for its designs. Introdução Este trabalho diz respeito a alguns aspectos importantes na seleção dos aços inoxidáveis utilizados em produtos de design industrial. Tem por objetivo subsidiar informações aos projetistas com o intuito de aumentar o índice de sucesso na escolha e aplicação destes materiais. Estes aços constituem um grupo de materiais muito importante do ponto de vista tecnológico, tendo aplicações em diversos campos do design industrial, principalmente na indústria química (containeres, dutos, tanques de líquidos corrosivos), na industria de alimentos (embalagens, balcões, autoclaves), hospitalar (bisturis, porta-soro, macas), em situações que envolvem elevada temperatura (válvulas, trocadores de calor, estufas), indústria automobilística (tubos de radiadores, exaustores, abraçadeiras), cutelaria (facas, baixelas, cubas), etc... Os aços inoxidáveis são caracterizados por possuírem em sua constituição teores de cromo superiores a 12%, sendo basicamente, ligas de ferro-cromo. Outros elementos de liga tais como níquel, nióbio, titânio e molibdênio, podem ser incorporados ao aço inoxidável, com o objetivo de melhorar ainda mais sua resistência à corrosão, suas propriedades mecânicas em temperaturas elevadas e outras características. É interessante observar que adições de cromo acima de 12 % tendem a diminuir a taxa de corrosão em temperatura ambiente. O cromo presente nestes teores (acima de 12%), combinado com o oxigênio do ar ou presente em soluções utilizadas nos processos industriais, é responsável pela formação de um filme passivo, chamado de Camada Passiva (figura 1), sobre a superfície do aço inoxidável; esta camada confere ao material uma excepcional resistência à corrosão. O processo industrial de passivação consiste na submersão da Fig. 1 - Camada passiva formada principalmente por óxido de cromo

peça ou equipamento de aço inoxidável em uma solução ligeiramente aquecida de ácido nítrico. A importância do aço inoxidável para o designer O aço inoxidável se difere do aço comum pelo fato de ser um material mais resistente às corrosões geradas pela agressividade do meio, tais como: a corrosão por produtos químicos, a corrosão atmosférica e até mesmo devido ao suor humano. Outro aspecto importante deste material é o de facilitar a higienização (asséptico), dificultando a fixação de bactérias e fungos, sendo uma característica imprescindível para aplicações nas indústrias alimentícias e hospitalares. O aço inoxidável, quando bem selecionado, é um material de fácil conservação e manutenção, sendo que através de uma limpeza adequada, é possível manter suas características ao longo do tempo, conferindo-lhe a fama de ser um material de excelente durabilidade. Suas aplicações em algumas áreas são ainda pouco exploradas, seja devido ao custo ou devido a falta de conhecimento das propriedades deste material, gerando o mito de que o aço inoxidável é difícil de ser trabalhado, isto é, ser usinado, soldado, conformado, etc... O domínio deste conhecimento permite ao projetista aumentar as possibilidades de aplicações em outras áreas, além das tradicionais e também buscar a inovação dos produtos atuais, podendo especificar o material sozinho ou em composição com outros, sendo que o aço inoxidável é um material inerte frente a grande maioria dos materiais não metálicos, tendo-se alguns cuidados com os metais para que não haja algum tipo de contaminação, ou contato, que pode formar uma pilha galvânica, ocasionando uma corrosão acelerada. Atualmente esse conhecimento encontra-se muito desenvolvido nos elos iniciais da cadeia produtiva, como produtores e distribuidores, e pouco difundido para os designers, arquitetos, e demais projetistas. Neste sentido é intenção deste artigo colaborar para a melhor compreensão das possibilidades de uso deste material. Existe a possibilidade da aquisição do aço inox em diversas formas (figura 2), em diversos tipos de acabamentos e também a possibilidade do fabricante fornecer os aços inoxidáveis com acabamentos especiais de acordo com a necessidade. Fig. 2 Formas dispoíveis no mercado Tipos Inicialmente é importante que o designer saiba que os aços inoxidáveis podem ser classificados em três principais grupos, de acordo com sua microestrutura e características metalúrgicas à temperatura ambiente: (1) Ferríticos, (2) Austeníticos e (3) Martensíticos, sendo estes tipos identificados, segundo norma AISI (American Iron and Steel Institute ) por uma série de três dígitos. Um meio de identificação rápida é relacionar o primeiro número da série com o tipo de aço inoxidável. A série AISI 2XX e 3XX indica que este

é um aço inoxidável austenítico, porém se for da série AISI 4XX ele pode ser ferrítico ou martensítico, e sendo da série AISI 6XX é um aço inoxidável de categoria especial. 1. Aço Inoxidável Ferrítico É assim chamado por apresentar uma matriz formada basicamente de ferro; caracteriza-se pela ausência de níquel, por apresentar baixos teores de carbono (< 0,2%) e teores de cromo podendo variar de 10,5 % (no aço AISI 409) a 27% (no aço AISI 446); o teor de cromo do inox ferrítico mais usado situa-se entre 16 % e 18 % (AISI 430). Características típicas * Não apresentam significativo endurecimento por tratamento térmico de têmpera. * São endurecidos por encruamento (deformação plástica). * Apresentam menor capacidade de endurecimento por deformação plástica que os austeníticos. * São magnéticos. Um meio para a diferenciação entres aços inoxidáveis consiste em aproximar um imã e verificar se há atração ou não entre ambos. Ocorrendo a atração o aço pode ser ferrítico ou martensítico e se não ocorrer esta atração ele será austenítico. * Apresentam fenômeno de transição dúctil-frágil, típico da estrutura ferrítica, e temperatura de transição elevada, não sendo indicados para casos onde a tenacidade (resistência a propagação de trincas) seja um requisito importante. * Em alta temperatura apresentam resistência mecânica inferior ao inoxidável austenítico. * Apresentam resistência à corrosão em geral inferior aos austeníticos. * No caso particular de corrosão sob tensão, apresentam maior resistência à corrosão que os austeníticos, sendo uma de suas vantagens importantes, além do menor custo. * Resistem à ação de gases sulfurosos secos e quentes. Aplicações As aplicações típicas envolvem resistência à corrosão em temperatura ambiente em peças e componentes que requerem deformação mecânica durante o processo de fabricação, tais como utensílios domésticos (máquina de lavar louça, pias, ralos), indústria de alimentos (partes dos equipamentos que sofram contato com alimentos, embalagens), indústria química (tanques e dutos para meios corrosivos) e indústria de transporte (containeres). Nos casos particulares de resistência à corrosão sob tensão, meios contendo cloretos e de radiação nuclear (tubulações de reatores nucleares) estes aços substituem os inoxidáveis austeníticos com vantagens técnicas. Em síntese, quando comparados aos austeníticos, os inoxidáveis ferríticos apresentam menor tenacidade, menor plasticidade, menor resistência à corrosão, menor soldabilidade, maior resistência à corrosão sob tensão, maior resistência à radiação por nêutrons e menor custo. É importante salientar que estes aços não devem ser aplicados em baixas temperaturas (aplicações criogênicas) devido à possibilidade de trincar (baixa tenacidade). 2. Aço Inoxidável Austenítico Diferencia-se pelos baixos teores de carbono (<0,08%), elevados teores de cromo (16% a 26%), apresentando exclusivamente a fase austenita que é formada devido aos teores elevados de níquel (6% a 22%). Estes aços não são magnéticos; apresentam resistência à corrosão melhorada (em relação aos ferríticos) pela adição de níquel e são facilmente conformados a frio. Os austeníticos se caracterizam por serem muito dúcteis (deformam facilmente), apresentarem excelente soldabilidade e não são endurecidos por tratamento térmico (não temperáveis); quando se necessita endurecê-los, utiliza-se de deformação plástica. Teores mais elevados de níquel tendem a tornar estes aços menos endurecíveis por conformação (l3% de níquel), e teores mais baixos tendem a torná-los mais endurecíveis (6% de níquel). Características típicas * No estado recozido, isto é, depois de aquecido entre 350 C e 430 C pelo tempo de 30 minutos a 2 horas (de acordo com as dimensões da peça) e resfriado ao ar, apresentam elevada ductilidade e baixa resistência mecânica.

* Não endurecíveis por tratamento térmico de têmpera. * Não magnéticos, porém alguns tipos de aços inoxidáveis austeníticos podem apresentar estrutura parcialmente ferrítica ou parcialmente martensítica, caso tenha havido deformação plástica severa. Nestes casos há presença de um fraco ferromagnetismo. * Apresentam elevada tenacidade (resistência à propagação de trincas) em temperaturas extremamente baixas (sub-zero), principalmente o tipo AISI 310. * Apresentam elevada resistência à corrosão em geral, exceto no caso de corrosão sob tensão e quando o meio corrosivo possui cloretos. * Em geral apresentam maior resistência mecânica que os ferríticos em temperaturas elevadas (acima de 500 C). * Devido à estrutura austenítica, apresentam coeficiente de dilatação térmica cerca de 50% superior aos aços para construção mecânica (aços ao carbono do tipo AISI 1020, AISI 1045). * Possuem menor resistência a danos por radiação que os ferríticos. Aplicações Os inoxidáveis austeníticos são aplicados em situações que exigem elevada resistência à corrosão, associada à facilidade de conformação e soldagem. Exemplos típicos são elementos arquitetônicos, utensílios domésticos, embalagens de alimentos e de produtos corrosivos. Também são utilizados em aplicações criogênicas (baixas temperaturas) tais como containeres e dutos para fluidos em baixa temperatura e peças sujeitas ao impacto. 3. Aço Inoxidável Martensítico Foi desenvolvido visando combinar a resistência à corrosão do aço inoxidável com a resistência mecânica proporcionada pela martensita, que é uma fase rica em carbono, frágil e dura. São aços com teores de cromo acima de 12%, ausência de níquel e teores variáveis de carbono (entre 0,15 a 1,2%), diferindo dos aços inoxidáveis ferríticos essencialmente devido a este alto teor de carbono. O aço inoxidável martensítico é um aço temperável, isto é, endurecível por tratamento térmico de têmpera. Geralmente este aço inoxidável é fornecido com baixa dureza e alta trabalhabilidade, possibilitando ao usuário endurece-lo por meio de têmpera (aquecimento e resfriamento brusco), após obter o produto na forma final. Devido a este aquecimento para temperá-lo utiliza-se um teor mais elevado de cromo para minimizar a tendência a sensitização. A sensitização ocorre quando o aço inoxidável é aquecido entre 400 C e 900 C, o que favorece a formação de carbonetos de cromo (Cr 23 C 6 ), que são precipitados ricos em cromo (figura 3). Ao formar estes carbonetos, há um empobrecimento de cromo na região de contorno de grão. Sendo o cromo o principal responsável pela característica de proteção do aço inoxidável, isto é, sua camada passiva, esta região pobre em cromo poderá ser corroída quando em serviço. É interessante salientar que o inoxidável martensítico, no estado recozido, como fornecido pela indústria siderúrgica, possui estrutura de ferrita e carbonetos, daí sua razoável ductilidade. Propriedades As características típicas dos aços inoxidáveis martensíticos são: * No estado recozido, apresentam estrutura ferrítica, possuindo elevada ductilidade.

* No estado temperado, apresentam estrutura predominantemente martensítica, resultando em elevada resistência mecânica. * Apresentam dureza elevada, para aços de elevado carbono. * São magnéticos. * Apresentam resistência à corrosão inferior aos austeníticos. * Não resistem ao amolecimento pelo calor em temperaturas acima de 500 C. Aplicações Geralmente são aplicados em situações que exigem resistência à corrosão associada a dureza e a resistência mecânica ou resistência ao desgaste, tais como parafusos, porcas, eixos de bombas para ambientes corrosivos, moldes para injeção de plástico, indústria do vidro, instrumentos cirúrgicos, artigos de cutelaria, válvulas e rolamentos especiais. A tabela I compila as características básicas e nomenclaturas dos principais tipos de aços inoxidáveis utilizados em produtos industriais. Têm-se também os aços inoxidáveis especiais com campos de aplicações específicos: endurecíveis por precipitação, nitrônicos, duplex e TRIP, entre outros. 4. Aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação PH (Precipitation Hardening) Estes aços são denominados de endurecíveis por precipitação, por apresentarem a formação de precipitados de carbonetos na sua microestrutura conforme a figura 4. Nestes casos, os aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação se caracterizam por possuírem, quando em serviço, uma estrutura martensítica de baixo carbono, endurecida pela presença de precipitados a base de cobre, níquel ou alumínio. Convém salientar que os aços inoxidáveis martensíticos têm como característica o alto teor de carbono que é o responsável pela alta temperabilidade. Tais aços foram desenvolvidos para a indústria aeronáutica, visando maior resistência mecânica, maior resistência ao amolecimento pelo calor e maior tenacidade do que os inoxidáveis martensíticos convencionais (onde o endurecimento se dá pelo carbono). Estes aços foram desenvolvidos com base na estratégia de se obter uma fase tenaz (grãos resistentes à propagação de trincas), daí o emprego de martensita de baixo carbono, endurecida pela presença de precipitados. Para uma melhor compreensão imaginamos uma chapa de aço inoxidável martensítico e outra de aço inoxidável PH martensítico e ambas com a mesma dureza. Ao aplicar-se um golpe brusco por meio de um esforço mecânico, a chapa de inoxidável martensítico quebra e a outra chapa, de inoxidável martensítico PH normalmente não. Isto é, tem maior tenacidade, necessitando de mais energia para romper o material. Aplicações O tipo 17-4 PH é aplicado em situações que requerem elevada resistência mecânica (similar aos inoxidáveis martensíticos) e elevada resistência à corrosão (comparável aos inoxidáveis austeníticos), tais como válvulas para água salgada, componentes de aeronaves (suporta a ação de temperaturas moderadamente elevadas, 480 C) e parafusos. Também é utilizado para temperaturas sub-zero. O tipo 17-7 PH apresenta resistência mecânica superior aos inoxidáveis martensíticos e aos 17-4 PH e resistência à corrosão superior aos inoxidáveis martensíticos e inferior aos inoxidáveis 17-4 PH, sendo aplicado em componentes tais como molas de lâminas e helicoidais, arruelas, abraçadeiras, antena de rádio, instrumentos cirúrgicos, lâminas de serra e rolamentos. Tem aplicação restrita às temperaturas inferiores a 300 C, podendo ser empregado em temperaturas sub-zero.

No. COMPOSIÇÃO APLICAÇÕES AISI 302 17-19 % Cr Molas, eixos, trenas, usinagens em geral. 8-10 % Ni 303 17-19 % Cr Peças torneadas para a indústria alimentícia e sujeitas a solicitações moderadas.. Painéis automotivos. 8-10 % Ni 304 18-20 % Cr 8-10 % Ni Aparelhos e recipientes para alimentos e indústria farmacêutica. Equipamentos hospitalares. Trocadores de calor, armações metálicas, tubulações. Em geral, para peças que devem resistir a um grande número de agentes corrosivos, como soluções alcalinas, ácido nítrico, soluções salinas, óleos minerais e usinagens em geral. 304L 18-20 % Cr Mesma aplicação do 304 para partes soldadas que não podem ser reaquecidas. Indústria elétrica e aeronáutica. Usinagens em geral. 8-12 % Ni 316 16-18 % Cr 10-14 % Ni 316L 16-18 % Cr 10-14 % Ni 310 24-26 % Cr 19-22 % Ni 410 11,5-13,5 % Cr 0-0,75 % Ni Mesma aplicação do 304 com resistência à corrosão e propriedades mecânicas superiores. Peças que exigem alta resistência à corrosão localizada originada por ácidos sulfuroso e sulfúrico e banhos clorados. Construção naval. Equipamentos criogênicos. Usinagens em geral. Mesma aplicação do 316 para partes soldadas. Boa soldabilidade para todos os processos, exceto soldagem a gás. Usinagens em geral. Peças que devem apresentar uma elevada resistência à oxidação a quente, como partes de fornos, componentes de queimadores, suportes para abóbadas de fornos de fundição, chaminés, estufas, rolos transportadores de fornos, caixas para cementação, nitretação e recozimento. Eletrodos de solda, trocadores de calor, componentes de turbinas, incineradores. Resistência à corrosão melhor que a do aço 304. Substitui o 316 quando se necessita de resistência ao calor. Usinagens em geral. Peças que devem apresentar boa resistência à corrosão atmosférica, água, vapor d água, agentes medianamente corrosivos da indústria alimentícia, ácido bórico, ácidos graxos, vinagre, óleos minerais. Válvulas, parafusos, fechaduras, tubos de aquecimento, cutelaria, eixos acionadores, maquinaria de mineração, peças de calibradores, fixadores, hastes de pistão, componentes construtivos de hidrelétricas, instalações de craqueamento, instrumentação cirúrgica. Palhetas de turbinas, eixos e rotores de bombas, indústria química e farmacêutica. 416 12-14 % Cr Peças de alta precisão, parafusos, porcas, pinos, hastes, instrumentos cirúrgicos. 420 12-14 % Cr Em geral, para peças que devem resistir à corrosão atmosférica, ácidos fracos e ácido nítrico de concentração inferior a 60%. Cutelaria, instrumentos cirúrgicos e dentários, réguas, medidores, engrenagens, eixos. Bolas de moinhos, turbinas a gás, válvulas para água e vapor. Palhetas de turbinas e válvulas cônicas. 420C 12-14 % Cr Para laminação de tubos, válvulas de sucção, instrumentos cirúrgicos e dentários, ferramentas de corte, bolas de moinho, objetos que exijam resistência ao desgaste e dureza; hastes de bombas, eixos conexões para vapor e água, hastes de válvulas e moldes plásticos, utensílios e ferramentas de corte que devam resistir ao ataque de agentes medianamente corrosivos, como: ácidos graxos, óleos minerais, vinagres, glicerinas, bebidas alcoólicas, soluções de amoníaco, águas ácidas e alcalinas. 430 16-18 % Cr 0-0,75 % Ni Tabela I Construção civil, chapas refletoras, peças de eletricidade resistentes à oxidação; componentes elétricos de aparelhos domésticos e para aquecimento; trocadores de calor; artigos de cozinha. Fins arquitetônicos e decorativos que necessitem de proteção à corrosão. Tanques para estocagem na indústria química e de alimentos.

Possibilidades de acabamentos Algumas propriedades importantes desses materiais são diretamente influenciadas pelo acabamento, como por exemplo a facilidade de limpeza e a resistência a corrosão. Em certas aplicações, superfícies polidas transmitirão a idéia de que os aços inoxidáveis são materiais limpos e, mais ainda, que são de fácil limpeza. Acabamentos com baixa rugosidade ajudarão, de um modo geral, na resistência à corrosão, mas o jateamento da superfície poderá ser benéfico se houver preocupação com a corrosão sob tensão e em aplicações onde há requisitos de projeto com baixa refletividade.a escolha do acabamento adequado influencia também o comportamento do material em certas operações. É muito comum quando se aborda qualquer um dos processos de acabamento dos aços inox, citar sua facilidade em obter superfícies mais lisas ou mais ásperas, e até mesmo compará-los quanto às diferentes rugosidades de suas superfícies. A rugosidade da superfície é um conceito que está intimamente associado ao desempenho do material frente a um número muito grande de aplicações. Devido ao grande uso dos aços inox como matéria-prima nos mais variados setores da indústria, diversos tipos de acabamentos são plenamente utilizados com sucesso. Freqüentemente diferentes aplicações exigem características superficiais também diferentes para que a peça ou produto fabricado tenha o melhor desempenho em serviço. Por exemplo, se o material empregado nos leitos hospitalares tiver um acabamento rugoso, sua limpeza será mais difícil e conseqüentemente a remoção de bactérias não será tão eficiente, e, se um piso para estabelecimentos comerciais tiver um acabamento superficial bastante liso, com rugosidade bem baixa, será desastroso. (a) (b) Fig. 5 (a) Composição dos diversos tipos de acabamentos (espelhado, fosco, lixamento linear e circular; (b) Contraste entre o acabamento lixado circular (fosco) e espelhado). Os acabamentos de aços inox devem ser classificados não pelos tipos de produtos, mas sim pelas suas exigências, ou seja, quais os benefícios que se espera que sejam incorporados ao produto ou ao seu processo de fabricação, com a escolha do acabamento correto.os acabamentos conhecidos como sanitários são aplicados quando se deseja que a superfície do material não apresente poros, cavidades ou sulcos onde possam se alojar partículas ou bactérias. São os tratamentos superficiais de baixa rugosidade especificados pela indústria alimentícia, farmacêutica ou de química fina, e também implicitamente o que se deseja na área hospitalar para permitir uma limpeza correta dos utensílios, leitos, revestimentos. Os acabamentos decorativos formam um grupo bastante grande, uma vez que a beleza é um conceito abstrato e não pode ser medida como a rugosidade ou avaliada em termos remoção dos óxidos ou dos arranhões. O conceito estético varia de indivíduo para indivíduo moldando o produto, conforme a aplicação final e o público alvo. Além disso, seguindo as tendências estilísticas da época, temos que um dos grandes requisitos dos processos de acabamento para este grupo seja a versatilidade. Nenhuma das especificações existentes nas normas determinam valores para rugosidade da superfície ou para o índice de refletância (refletividade) ou para o brilho. Nos materiais lixados, por exemplo, mesmo utilizando lixas de mesma granulometria, as pressões aplicadas sobre a superfície da peça podem ser diferentes; enquanto uma empresa pode estar utilizando uma lixa novinha, outra utiliza uma lixa meia vida ou já próxima do fim. Os acabamentos padronizados são, portanto, uma referência, devendo estar acompanhados sempre de especificações complementares de acordo com o produto a ser fabricado. Todos os acabamentos dizem respeito ao inox como matéria-prima, seja em bobinas, tiras, chapas ou blanques.

A matéria-prima com acabamento já agregado, pode ser muito vantajosa, pois reduz o tempo de fabricação (cortando etapas de acabamento), confere uma superfície com aparência homogênea ao produto e, sobretudo, reduz custos com mão-de-obra e materiais. Comparação de custos No critério inicial de escolha referente ao custo do material normalmente utiliza-se matéria-prima de baixo custo, mas geralmente o mesmo não se encontra acabado, podendo passar por outros processos de transformação para melhorar suas características, adequando-o a determinada finalidade, sendo que ao longo desta busca há um tempo aplicado, custos agregados (mão-de-obra, processos, tratamentos) e tecnologias diferenciadas, correndo-se o risco de falhas em alguma etapa do processo, comprometendo o projeto ou diminuindo o tempo de vida útil do material, gerando um custo de manutenção e elevando ainda mais o custo. Para se ter uma idéia, pode-se começar comparando o custo de um mesmo tipo de aço inox com diferença na espessura da chapa, onde ocorre um incremento de até 50% no valor agregado quando comparamos uma chapa com espessura acima de 9 mm (mais barato) e outra chapa com 0,40 mm de espessura (mais caro). Quanto menor a espessura especificada maior o valor da chapa, devido ao valor agregado do processo de laminação ao qual o material tem de ser submetido para diminuição da espessura, e que depende de passes no cilindro laminador. A visão simplista de ressaltar o custo do inox mais utilizado (em volume de vendas) sendo cinco vezes superior ao aço carbono comum (tabela II), não leva em conta a relação custo/benefício, devendo portanto ser desconsiderada do ponto de vista técnico. Assim como outros materiais, o aço inox sofre variação de valor se comprado em pequenas quantidades, no varejo, ou então sendo adquirido em grandes quantidades, no atacado, podendo também sofrer variações de acordo com a região onde está localizado o varejo. MATERIAIS CUSTO RELATIVO/KG Aço Carbono 1020 X Aço Carbono 1045 1,25X Aço Inox 304 5,00X Aço Inox 304L 5,25X Aço Inox 316 6,75X Aço Inox 316L 7,00X Tabela II Conclusão Conforme visto neste trabalho, as informações a respeito dos aços inoxidáveis são bastante amplas: microestruturas, propriedades mecânicas, propriedades magnéticas, reações com o meio, acabamento superficial, custos agregados, trabalhabilidade, junções com outros materiais; deve-se ter o esmero de especificar o material que satisfaça a maior quantidade de requisitos do projeto, possibilitando ampliações no seu uso. O conhecimento a respeito das características microestruturais torna-se imprescindível nos projetos de responsabilidade, pois permite ao designer uma escolha baseada em informações de nível técnico, podendo este prever como o material se comportará em serviço. Bibliografia CHIAVERINI, Vicente, Aços e ferros fundidos. São Paulo. 6 ª ed. 1988. ACESITA, Módulos capacitivos Programa de capacitação da cadeia produtiva. Dezembro de 1997. INOX, NÚCLEO, Guia brasileiro do aço inox 2001. GERDAU, AÇOS FINOS PIRATINI, Catálogos de aços inoxidáveis. ACESITA, Catálogos de aços inoxidáveis. SOUZA, Sérgio Augusto, Composição química dos aços. Edgard Blücher Ltda. São Paulo, 1989. Wilson Kindlein Junior, ndsm@vortex.ufrgs.br Leandro Ruchiga Bonilha, leanbonil@ig.com.br Wilbur Trajano G. Coelho, trajano@vortex.ufrgs.br