ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORA: uma nova mentalidade
Tanto o Documento de Aparecida (248) como a Exortação Apostólica Verbum Domini (73) se referem à uma nova linguagem e a um novo passo na questão bíblica: Animação Bíblica da Pastoral.
A Palavra de Deus precisa se tornar, cada vez mais, o coração de toda a atividade eclesial (VD 1). A primeira mediação do encontro com Jesus Cristo é a Sagrada Escritura (DAp 250-265).
Uma pastoral orgânica ou de conjunto não pode conceber a Sagrada Escritura como objeto específico de uma pastoral. O acesso à Sagrada Escritura não é privilégio dos que participam da Pastoral Bíblica, mas de todo o povo de Deus.
O caminho de encontro com Jesus Cristo mediante a Escritura exige, como disse Bento XVI, o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus (Discurso Inaugural da V Conferência, citado por DA 247).
Alguns exemplos de encontros com Jesus Cristo na Bíblia: a) Nicodemos e seu anseio de vida eterna (Jo 3,1-21) b) Samaritana com seu desejo de culto verdadeiro (Jo 4,1-42) c) Cego de nascença e seu desejo de luz interior (Jo 9) d) Zaqueu e seu anseio de conversão (Lc 19,1-10) Todas estas experiências buscam algo comum: a verdade, o Transcendente, o Reino de Deus... O sentido da vida.
Estes encontros não foram com ideias, e sim com o próprio Cristo. Um encontro de deslanchou um processo de discipulado, de vida em comunhão com os irmãos, de testemunho do Reino...
Os discípulos não foram convocados para algo, mas para Alguém (Mc 1,17: Vinde em meu seguimento...; Mc 2,14: Segue-me...). Para que estivessem com Ele e para enviá-los a pregar (Mc 3,14).
O Documento de Aparecida, neste sentido, lembra que a todos nos toca recomeçar a partir de Cristo reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva (12).
A Animação Bíblica da Pastoral pode ser compreendida a partir de três metáforas: Como seiva, como farol e como alma (coração, segundo Bento XVI). a) A Palavra de Deus não pode ser um ramo a mais no conjunto da árvore que é a Igreja, e sim a SEIVA que corre em seu tronco e nutre todos os ramos.
b) A Palavra de Deus é o FAROL que ilumina e guia o caminho e a atuação da Igreja de Cristo (DAp 180).
c) A Palavra de Deus é a alma/coração da ação evangelizadora da Igreja (DAp 248). Por isso, a ABP não quer ser uma pastoral entre outras, mas quer perpassar todas as pastorais, tendo a Bíblia como fonte teológica e espiritual do seguimento a Jesus Cristo, da santidade cristã e da proclamação do Evangelho. Fundamentar a vida na rocha da Palavra de Deus (Mt 7).
Três funções básicas da ABP: a) Oferecer e acompanhar a interpretação/ conhecimento da Sagrada Escritura. Não basta ler a Bíblia. É necessário como Filipe fez ao ministro etíope (At 8,30-35) saber interpretá-la;
b) Ajudar e ensinar o discípulo missionário a fazer da Bíblia uma escola de comunhão e oração encontro dialogante com o Senhor, escuta atenta da sua Palavra como Maria de Betânia aos pés de Jesus (Lc 10,39).
O encontro com a Palavra guia para a adesão de fé em Jesus Cristo. Foi o que aconteceu com o eunuco etíope que, após entender a Palavra, foi batizado (At 8,35-38). A Lectio Divina como método privilegiado de comunhão com Deus a partir da Sagrada Escritura.
c) Educar os discípulos para a proclamação da Palavra e para pô-la em prática, tendo os mesmos sentimentos de Jesus Cristo (Fl 2,5). É como o eunuco etíope que se tornou um discípulo missionário fascinado ( cheio de alegria At 8,39).
O Documento de Aparecida (146), usando as palavras de Bento XVI, diz que discipulado e missão são como as duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva (At 4,12).
Desse modo, a pastoral bíblica, entendida como animação bíblica da pastoral, satisfaz a permanente necessidade dos discípulos missionários de Jesus de nutrir-se com o pão a Palavra mediante a interpretação adequada dos textos bíblicos, de seu emprego como mediação de diálogo com Jesus Cristo e como alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus para todos. (Santiago Silva Retamales).
Escola de interpretação... Porque a Sagrada Escritura... É Palavra escrita de Deus. Escola de comunhão e oração... É Inspirada pelo Espírito Santo. Escola de evangelização inculturada... Para Anunciar Cristo, Vida nova para todos.
Porém, não basta levar em conta somente a natureza e a função da ABP É necessário também considerar a situação vital dos destinatários: As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo (GS 1); a realidade marcada por grandes mudanças que afetam profundamente a vida dos povos da América Latina e do Caribe (DAp 33).
Indicações: 1. Na área do conhecimento/interpretação: - Estudo iniciático da intepretação bíblica para lideranças pastorais; - Proporcionar o método da Lectio Divina; - Material bibliográfico para o povo; - Acentuar o uso da SE na catequese; - Todo batizado tenha a Bíblia em sua casa.
2. Na área da comunhão/oração: - Valorizar a Palavra de Deus na liturgia: procissões, ambão bem situado e somente para a Palavra, proclamação a partir da Bíblia ou Lecionário (e não de folhetos); - Celebrações da Palavra bem feitas; - Celebração dos sacramentos com a devida proclamação e pregação da Palavra; - Incentivar a Leitura Orante diária;
- Realizar a Leitura Orante nas reuniões das instâncias pastorais; - Organizar e realizar retiros centrados na compreensão, atualização e interpretação da Palavra de Deus;
3. Na área da evangelização/proclamação da Palavra: - Grupos de reflexão; - Mês da Bíblia; - Gincanas Bíblicas; - Uso dos MCS; - Ajudar as pequenas comunidades a pautar sua vida, espiritualidade e missão, tendo como eixo dinamizador a Palavra de Deus; - Vídeos; - Encontros ecumênicos.