EFEITOS DA CEMENTAÇÃO E DA NITRETAÇÃO NO CUSTO E NA QUALIDADE DE ENGRENAGENS PRODUZIDAS COM AÇOS ABNT 4140 E 8620

Documentos relacionados
Tratamentos Termoquímicos [23]

Influência do tempo e temperatura de nitretação a plasma na microestrutura do aço ferramenta ABNT H13

Departamento de Engenharia Mecânica. Prof. Carlos Henrique Lauro

Estudo do Efeito do Teor de Alumínio na Cementação e Têmpera em Banho de Sal de um Aço DIN 16MnCr5

Tratamentos Termoquímicos [9]

GUIA PRÁTICO AÇOS E METAIS

Tratamentos Térmicos

CATÁLOGO TÉCNICO Aços e Metais

MARTEMPERA. Cesar Edil da Costa e Eleani Maria da Costa. O resfriamento é temporariamente interrompido, criando um passo isotérmico

EFEITO DA NITRETAÇÃO GASOSA NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS AÇOS FERRAMENTA PARA TRABALHO A FRIO AISI D2 E D6

INFLUÊNCIA DO PROCESSO DE ELETROEROSÃO A FIO NAS PROPRIEDADES DO AÇO AISI D6.

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DA TÊMPERA SUPERFICIAL A LASER POR DIODO NA DUREZA DO AÇO FERRAMENTA PARA TRABALHO A FRIO VF 800AT

longitudinal para refrigeração, limpeza e remoção de fragmentos de solos provenientes da perfuração, Figura 10.

Curvas de resfriamento contínuo com diferentes taxas de resfriamento: Ensaio Jominy. Resultados: - Microestruturas diferentes; - Durezas diferentes.

Figura 49 Dispositivo utilizado no ensaio Jominy e detalhe do corpo-de-prova (adaptado de Reed-Hill, 1991).

Tratamentos Termoquímicos

Tratamento Térmico. Profa. Dra. Daniela Becker

Informativo Técnico Nr Nitretação a Plasma (iônica) como alternativa para cementação em Engrenagens

ESTUDO AVALIATIVO DA TENACIDADE AO IMPACTO DE UM AÇO SAE 1644 SUBMETIDO A TRATAMENTO TERMOQUÍMICO DE CEMENTAÇÃO.

AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE A NITRETAÇÃO EM BANHOS DE SAL E A NITRETAÇÃO GASOSA, ATRAVÉS DE ENSAIOS DE DESGASTE POR DESLIZAMENTO E ROLAMENTO.

DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS DE TRATAMENTO QUE TORNEM O PERFIL DE DUREZAS DO AÇO SAE 4140 SIMILAR AO DE UM FERRO FUNDIDO NODULAR TEMPERADO E NITRETADO

PMR 3101 INTRODUÇÃO À MANUFATURA MECÂNICA

CARACTERIZAÇÃO DO AÇO SAE-4140 TEMPERADO EM ÁGUA, SALMOURA E ÓLEO E, POSTERIORMENTE, REVENIDO*

5.3. ANÁLISE QUÍMICA 5.4. ENSAIO DE DUREZA

Processos de tratamentos térmicos dos metais ferrosos e não ferrosos - parte 1/2

Beneficiamento de Aços [21]

Carbonitretação Por Plasma do Aço Ferramenta AISI H13. R. M. M. Riofano, L. C. Casteletti, E. D. Francisco

TRATAMENTOS TÉRMICOS: AÇOS E SUAS LIGAS. Os tratamentos térmicos em metais ou ligas metálicas, são definidos como:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE FURG ESCOLA DE ENGENHARIA EE PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA - PPMEC MARCELO GAUTÉRIO FONSECA

Projeto e Tratamentos Térmicos Prof. Lauralice Canale

EFEITO DA TEMPERATURA DE REVENIMENTO NO AÇO ASTM A 522 UTILIZADO NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS *

ENRIQUECIMENTO SUPERFICIAL COM CROMO E NITRETAÇÃO DO AÇO IF EM DESCARGA ELÉTRICA EM REGIME ANORMAL

Aengenharia de superfície aumenta no

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Seleção de Aços pela Temperabilidade

CENTRO DE SERVIÇOS DE TRATAMENTO TÉRMICO. Soluções completas em tratamento térmico.

ENDURECIMENTO DO AÇO AISI 1140 POR TÊMPERA*

FADIGA DE CONTATO DE FERRO FUNDIDO NODULAR NITRETADO POR PLASMA

PACK CARBURIZING TREATMENT ANALYSIS IN SPUR GEARS OF SAE 4320 STELL part 1

Tratamentos Térmicos

FORNO T4 (c/ Atm. Controlada) AUTOMATIZADO

CENTRO DE SERVIÇOS DE TRATAMENTO TÉRMICO. Soluções completas em tratamento térmico.

CATÁLOGO TÉCNICO Aços e Metais

INFLUÊNCIA DO CAMINHO DE AQUECIMENTO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO 1020 TEMPERADO A PARTIR DE TEMPERATURAS INTERCRÍTICAS

Tratamentos Térmicos

LEVANTAMENTO DA CURVA DE TEMPERABILIDADE E CARACTERIZAÇÃO METALOGRÁFICA DO AÇO SAE-1140-D

ESTUDO DA ETAPA DE CEMENTAÇÃO NO ESTADO SÓLIDO DE UM AÇO AISI 5115 PARA APLICAÇÕES COM RESISTÊNCIA AO DESGASTE SUPERFICIAL *

Bacharel em Engenharia Mecânica das Faacz - Faculdades Integradas de Aracruz,Operador na Fibria Celulose S/A. Aracruz, ES, Brasil.

TRATAMENTO TÉRMICO E DE NITRETAÇÃO SOB PLASMA DO AÇO INOXIDÁVEL MARTENSÍTICO AISI 420

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS TRATAMENTOS TÉRMICOS REALIZADOS EM AÇO 8640

SILFERTRAT REPRESENTAÇÃO TÉCNICA EM TRATAMENTO DE METAIS

TRATAMENTOS TÉRMICOS

TRATAMENTOS TÉRMICOS TRATAMENTOS TÉRMICOS

5 Resultados (Parte 02)

MARTENSITA DE NITROGÊNIO OBTIDA PELO PROCESSO DE SHTPN EM AÇOS INOXIDÁVEIS FERRITICOS

Palavras-chave: aço inoxidável martensítico, nitretação sob plasma.

Características de Endurecimento Superficial na Nitretação por Plasma de um Aço com 13,5% de Cromo

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO NO AUMENTO DA DUREZA NOS TRATAMENTOS TÉRMICOS DE TÊMPERA DO AÇO ABNT 1045

Aula 14: Tratamentos Termoquímicos e Desgaste

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DO AÇO INOXIDÁVEL 17-4 PH NITRETADO UTILIZADO NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS

USINABILIDADE DOS AÇOS DE CEMENTAÇÃO

COMPARAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS EM FADIGA AXIAL DO AÇO MARAGING 300 E 300 M SOLDADOS A LASER E NITRETADOS A PLASMA

Edição 3 UDDEHOLM HOTVAR

AVALIAÇÃO DA MICROESTRUTURA DOS AÇOS SAE J , SAE J E DIN100CrV2 APÓS TRATAMENTOS TÉRMICOS*

3 Material e Procedimento Experimental

Aços Ferramenta. A.S.D Oliveira

Avaliação do revenimento na dureza e microestrutura do aço AISI 4340

Palavras chave: tratamento térmico, óleo de palma, caracterização microestrutural

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

Heterogeneidade de temperaturas em fornos de nitretação a plasma

COMPARAÇÃO MICROESTRUTURAL DE DOIS AÇOS PARA UTILIZAÇÂO EM MOLDES DE FABRICAÇÃO DE COMPÓSITOS*

Material conforme recebido (CR) e/ou metal base (MB)

GUIA PRÁTICO AÇOS E METAIS

3 Material e Procedimento Experimental

[8] Temperabilidade dos aços

Existem diversas técnicas e procedimentos empregados visando o aumento das propriedades

BREVE DISCUSSÃO DO COMPONENTE RUGOSIDADE EM AÇO CARBONO SAE 1045 e SAE 1035 NITRETADOS PELOS PROCESSOS: SAL, GÁS e PLASMA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS SAMUEL CLAUDINO SIMÕES

23º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2018, Foz do Iguaçu, PR, Brasil

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AÇO RÁPIDO E AÇO PARA TRABALHO A QUENTE NO PROCESSO DE CONFORMAÇÃO A FRIO

Estudo de três distintas rotas de têmpera a vácuo e revenimento para o aço AISI H13

TRATAMENTOS EMPREGADOS EM MATERIAIS METÁLICOS

AVALIAÇÃO DAS DIFERENÇAS NOS PERFIS EXPERIMENTAIS DE DUREZA E NAS CONCENTRAÇÕES TEÓRICAS DE CARBONO EM FUNÇÃO DA GEOMETRIA DA PEÇA CEMENTADA

Efeito da temperatura de tratamento térmico sobre a dureza de um ferro fundido branco multicomponente com alto teor de molibdênio

Transformações de fase em aços [15]

APLICAÇÃO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS NA MICROESTRUTURA DE AÇO PADRÃO ABNT 1020: UM ESTUDO DE CASO

TERMINOLOGIA UTILIZADA NOS TRATAMENTOS TÉRMICOS

Microestrutura dos aços [5] Ferro δ (CCC) Ferro γ (CFC) Ferro α (CCC)

A nitretação em banhos de sais uma visão sistêmica do processo

Aços para Construção Mecânica

ESTUDO DE TRATAMENTO TÉRMICO DE PINO J*

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR IV

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DA INTEGRIDADE SUPERFICIAL EM PEÇAS SUBMETIDAS A PROCESSOS DE USINAGEM EM CONDIÇÕES OTIMIZADAS

ANÁLISE DE FALHA EM EIXO DE MOTOR USADO EM PROCESSAMENTO DE COSMÉTICOS.

INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO E DO TEMPO DE AUSTENITIZAÇÃO SOBRE A DUREZA DE ENGRENAGENS DE AÇO SAE 1045 RESUMO

Tratamentos Térmicos Especiais [22]

UNICAMP FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS INTRODUÇÃO À METALOGRAFIA DOS AÇOS CARBONO

Avaliação de processos de produção de rodas ferroviárias fundidas. Denilson José do Carmo

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

ESTUDO DO DESGASTE ABRASIVO DE AÇO CARBONITRETADO EM DIFERENTES RELAÇÕES AMÔNIA/PROPANO

Transcrição:

http://dx.doi.org/.4322/tmm.2012.036 EFEITOS DA CEMENTAÇÃO E DA NITRETAÇÃO NO CUSTO E NA QUALIDADE DE ENGRENAGENS PRODUZIDAS COM AÇOS ABNT 4140 E 8620 Claudio José Leitão 1 Paulo Roberto Mei 2 Rodolfo Libardi 3 Resumo Este trabalho tem por objetivo a comparação entre os processos de nitretação e de cementação para engrenagens submetidas a tensões de contato abaixo de 1.300 MPa. São analisados os custos de fabricação, assim como a profundidade da camada endurecida e a distorção produzida pelos dois processos em engrenagens do aço ABNT 4140 beneficiadas e submetidas a nitretação líquida e gasosa e do aço ABNT 8620 submetido a cementação líquida, seguida de têmpera e revenimento. Foi realizado o controle dimensional das engrenagens, antes e após os tratamentos térmicos e termoquímicos. Conclui-se que os processos de nitretação líquida ou gasosa são mais adequados que o de cementação quando se objetiva a diminuição das deformações em engrenagens, além de serem cerca de 30% mais econômicos. O processo de cementação, ao mesmo tempo em que apresenta a maior profundidade endurecida e a maior dureza superficial, apresenta também a maior deformação e o maior custo. O processo de nitretação líquida, por outro lado, apresenta o menor custo e a menor deformação, porém a menor profundidade endurecida. Palavras-chave: Cementação; Nitretação; Engrenagens; Deformação. EFFECTS OF CARBURIZING AND NITRIDING PROCESSES ON THE COST AND QUALITY OF GEARS PRODUCED WITH AISI 4140 AND 8620 STEELS Abstract This study compares the effects of nitriding and carburizing processes applied to gears subjected to contact stresses below 1300 MPa. The manufacturing cost, as well the depth of hardened layer and the distortion produced by two processes are analyzed. AISI 4140 gears quenched, tempered, liquid and gas nitriding and AISI 8620 gears after liquid carburizing, quenching and tempering are analyzed. The dimensional control of the gears was carried out before and after heat and thermochemical treatments. It is concluded that liquid or gas nitriding processes are about 30% more economical than liquid carburizing an also they reduce the dimensional changes. By the other hand liquid carburizing achieves greater case depth. Liquid nitriding process presents the lowest cost, dimensional changes and case depth. Key words: Carburizing; Nitriding; Gears; Dimensional changes. 1 INTRODUÇÃO O processo de cementação é largamente utilizado para a fabricação de componentes que necessitam de alta dureza superficial e de grande resistência ao desgaste, como pinhões, engrenagens, eixos etc.; (1) porém, devido às características do processo (temperaturas acima de 900 C, resfriamento brusco, mudança de fases etc.), esse tratamento termoquímico ocasiona, em geral, grandes deformações. A nitretação é outro processo termoquímico utilizado também em aplicações que requeiram elevadas durezas superficiais e grande resistência ao desgaste. Contudo, ao contrário da cementação, as deformações 1 Engenheiro Industrial Mecânico, M. Sc., Diretor Técnico da Supertrat, Rua Irmã Aneta Schnapp, 262, Distrito Industrial II, Cep 13457-194, Santa Bárbara D Oeste, SP, Brasil. E-mail: claudio@supertrat.com.br 2 Professor Titular do Depto de Engenharia de Materiais, Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas UNICAMP, CP 6122, Cep 13083-970, Campinas, SP, Brasil. E-mail: pmei@fem.unicamp.br 3 Físico, Professor Doutor da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP, Rua Território do Acre, 1222, Cep13420.585, Piracicaba, SP, Brasil. E-mail: rlibardi@unimep.br Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 257-263, jul.-set. 2012 257

Leitão; Mei; Libardi são mínimas, pois o processo é realizado em baixas temperaturas (350 a 575 C) e não necessita de resfriamento rápido para produzir o endurecimento da camada nitretada. (2-5) Como os dois processos apresentam objetivos similares, há casos onde a nitretação poderia ser usada para substituir a cementação. Porém, para realizar esta substituição vários aspectos precisam ser considerados como: deformações geradas, dureza superficial, profundidade da camada endurecida e custos de fabricação. 1.1 Objetivo 2.1.2 Beneficiamento e nitretação gasosa e liquida (BNG e BNL) A austenitização das engrenagens de aço ABNT 4140 foi feita em um forno de banho de sais a 850 C e o resfriamento em banho de sal Durferrit AS-140 a 180 C. (6) O revenimento foi feito a 600 C por 2 horas para estabilizar a estrutura dos aços antes do processo de nitretação, ou seja, garantir que todas as transformações ocorram neste processo, visto que as nitretações ocorreram em temperaturas menores (565 C na nitretação líquida e 5 C na nitretação gasosa). (7) O presente trabalho tem por objetivo demonstrar que o processo de cementação utilizado em componentes que necessitam de alta dureza superficial e de grande resistência ao desgaste pode, em alguns casos, ser substituído pelo processo de nitretação, trazendo algumas vantagens, entre as quais a redução dos custos de fabricação. 2 MATERIAL E MÉTODOS As engrenagens foram fabricadas com aços ABNT 4140 e 8620 e submetidas a três tipos de tratamentos. Cada uma das três engrenagens foi identificada pelas siglas: BNL: Engrenagem beneficiada e submetida a nitretação líquida. Aço ABNT 4140. BNG: Engrenagem beneficiada e submetida a nitretação gasosa. Aço ABNT 4140. CTR: Engrenagem submetida a cementação seguida de têmpera e revenimento a 180 C. Aço ABNT 8620. A Tabela 1 mostra a composição química dos aços ABNT 8620 e 4140 utilizados. A Figura 1 mostra as dimensões das engrenagens forjadas e a Figura 2 mostra o fluxograma das atividades realizadas com as engrenagens. Figura 1. Dimensões do material forjado para confecção das engrenagens de aços ABNT 8620 e 4140 (dimensões em milímetros). 2.1 Tratamentos Térmicos e Termoquímicos 2.1.1 Cementação, têmpera e revenimento (CTR) A engrenagem de aço ABNT 8620 foi cementada a 925 C por 4 horas em um forno de banho de sal, utilizando o sal Durferrit C-97, com potencial de carbono de 0,8%, seguindo-se um resfriamento em banho de sal Durferrit AS140 a 180 C. O revenimento foi feito a 180 C por 2 horas para manter a dureza acima de 60 HRC. Figura 2. Fluxograma de atividades desenvolvidas. CTR: Cementar, temperar e revenir; BNG: Beneficiado + nitretação gasosa; BNL: Beneficiado + nitretação líquida; MO: Microscopia ótica; HV: Dureza Vickers; CQ: Controle de qualidade; T T 1: Austenitização a 850 C por 2 horas, seguida de revenimento a 600 C por 2 horas. Tabela 1. Análise química via espectrometria de emissão óptica (% em massa) Aço - Processo C Mn Si Ni Cr Mo V Al 8620 - CTR 0,20 0,72 0,23 0,670 0,50 0,24 0,003 0,032 4140 - BNL 0,37 0,82 0,26 0,094 1,03 0,19 0,003 0,014 4140 - BNG 0,41 0,99 0,26 0,032 0,95 0,19 0,0 0,020 258 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 257-263, jul.-set. 2012

Efeitos da cementação e da nitretação no custo e na qualidade de engrenagens produzidas com aços ABNT 4140 e 8620 Após beneficiamento, uma das engrenagens foi submetida a nitretação líquida por 90 minutos a 565 C, em um banho de sais com 33% de cianato e 3% de cianeto, usando o processo Durferrit-Tenifer. A outra passou por um processo de nitretação gasosa a 5 C utilizando uma sequência de operações definidas na Tabela 2. 2.3 Análise dos Dentes das Engrenagens 2.2 Usinagem das Engrenagens Forjadas Tabela 2. Etapas do processo de nitretação gasosa As engrenagens de aço ABNT 4140 foram usinadas após o beneficiamento e a engrenagem de aço ABNT 8620 foi usinada após forjamento e normalização, antes da cementação + têmpera + revenimento, conforme apresentado na Figura 3. As engrenagens foram medidas e avaliadas conforme as exigências da norma DIN 3962 de 1978 (Tolerances for Cylindrical Gear Feeth),(8) que define as tolerâncias dimensionais para os dentes de engrenagens e um índice de qualidade, que varia desde a menor qualidade (12) até a de maior precisão (qualidade 1). As medições foram efetuadas em uma medidora de engrenagens universal Mahr GMX 400. As microestruturas das camadas nitretadas e cementadas foram avaliadas nas seguintes regiões: topo e flanco do dente, (mostradas na Figura 4). Etapas Purgar Aquecer até 5 C Nitretar a 5 C Nitretar a 5 C Ligar ventilador e resfriar até 90 C Quando chegar a 90 C, retirar as peças Tempo total Dissociação Pressão Tempo da amônia (torr) (horas) (%) -0,5 20 30 30 18 5 - - 1-69,5 Figura 3. Dados das engrenagens. Número de dentes: 75. Módulo: 5,0. Largura do dente: 50 mm. Ângulo de pressão: 20. Figura 4. Fragmento da engrenagem utilizado para avaliações microestruturais da camada cementada e nitretada, perfil de dureza Vickers (posição B) e de dureza externa (posição A).(9) Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 257-263, jul.-set. 2012 259

Leitão; Mei; Libardi 3 RESULTADOS 3.1 Dureza e Microestrutura após o Tratamento Térmico de Beneficiamento A Tabela 3 mostra as respectivas microestruturas e durezas das engrenagens de aço ABNT 4140 após beneficiamento. 3.2 Deformações após Tratamentos Térmicos e Termoquímicos Foi realizado o controle dimensional das engrenagens, antes e após os tratamentos térmicos e termoquímicos. Na Figura 5 observa-se que as engrenagens dos aços ABNT 8620 e 4140 foram usinadas para obtenção da mesma qualidade (nível 7). Posteriormente, a engrenagem do aço ABNT 8620 foi submetida a cementação seguida de têmpera e revenimento (CTR), e as engrenagens de aço ABNT 4140 foram submetidas a nitretação líquida (BNL) e a nitretação gasosa (BNG). Observa-se que a engrenagem que passou pelo processo CTR apresenta a pior qualidade (12). Em seguida, a engrenagem que passou pelo processo BNG possui qualidade 9 e, por fim, a engrenagem que passou pelo processo BNL praticamente não deformou, pois apresenta a mesma qualidade (7). CTR: Cementação, Têmpera e Revenimento; NG: Nitretação Gasosa; NL: Nitretação Líquida. 3.3 Dureza após os Processos de Nitretação e Cementação A Tabela 4 mostra as medidas de dureza superficial (posição A da Figura 4) e os valores de dureza abaixo da superfície obtidos nos processos de cementação e nitretação gasosa e líquida (posição B da Figura 4). A Figura 6 mostra os perfis de dureza para os três processos. Verifica- -se que os valores da camada nitretada, ou seja, a dureza de núcleo da engrenagem mais 50 pontos encontrados na escala Vickers conforme determina a norma DIN 50190, () estão em 0,50 mm para a nitretação gasosa e 0,25 mm para a nitretação líquida. No caso da engrenagem cementada encontra-se uma camada efetiva de 1, mm, ou seja, a profundidade na qual se encontra um valor de 513 HV (50 HRC, camada efetiva segundo Parrish (11) ). Figura 5. Qualidade de engrenagens antes e após os tratamentos termoquímicos efetuados. Tabela 4. Dureza das engrenagens nitretadas 4140 BNG HV 0,5 4140 BNL HV 0,5 8620 CTR HV 1 Superfície 670 725 792 0,05 635 625 805 0, 590 490 809 0,20 575 451 805 0,25 550 329 802 0,30 537-796 0,40 390-787 0,50 342-773 0,60 - - 727 0,80 - - 621 1,00 - - 571 1, - - 513 Núcleo 292 279 327 Distância da superfície (mm) Tabela 3. Microestrutura e dureza após o beneficiamento de engrenagens do aço ABNT 4140 antes da nitretação Tratamento Microestrutura Dureza do núcleo (RC) BNL Martensita revenida 27 ±1 BNG Martensita revenida 28 ±1 Figura 6. Perfis de dureza das engrenagens após a nitretação e a cementação. 260 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 257-263, jul.-set. 2012

Efeitos da cementação e da nitretação no custo e na qualidade de engrenagens produzidas com aços ABNT 4140 e 8620 Figura 7. Microestruturas observadas nos processos de nitretação gasosa (BNG) e líquida (BNL): CB: camada branca; ZD: zona de difusão; ZT: zona de transição e N: núcleo (metal base). Ataque: nital 3%. A cementação produz uma dureza superficial maior que a nitretação líquida ou a gasosa (792, 725 e 670 HV, respectivamente) e uma profundidade de camada endurecida, com dureza acima de 500 HV, muito maior que a nitretação gasosa e líquida (>1,1; 0,3 e 0,1 mm, respectivamente). Tabela 5. Valores admissíveis da camada branca em função da classe da engrenagem(12) Classe A B C Espessura da camada branca admissível (μm) 12,7 20,3 25,0 3.4 Microestrutura após os Processos de Nitretação A Figura 7 mostra a variação da espessura da camada branca em função do processo de nitretação utilizado. A Tabela 5 mostra as camadas brancas admissíveis para cada classe de fabricação das engrenagens.(12) Portanto, os valores encontrados, tanto para a nitretação gasosa (5 a 14 μm) quanto para a nitretação líquida (9 a 18 μm), atendem aos parâmetros da qualidade classe B (abaixo de 20 μm). 3.5 Custo dos Processos A Figura 8 mostra a comparação dos custos envolvendo a confecção de engrenagens de acordo com os tipos de tratamentos térmicos e termoquímicos utilizados. As Figuras 9-11 mostram as composições dos custos apresentados para cada processo. Nota-se que o custo sofre grande influência do processo de acabamento final (retífica). Nesta situação, por exemplo, a engrenagem cementada fica cerca de 40% mais cara que a nitretada. Este custo fé calculado levando-se em conta os valores fornecidos pela empresa ACE-Supertrat, para o mês de maio de 20. A Figura 12 resume os resultados obtidos, onde se pode observar que: Os processos de nitretação líquida ou gasosa são mais adequados que o de cementação quando se objetiva a diminuição das deformações em engrenagens, além de serem mais econômicos. No entanto, deve-se atentar que a nitretação não deve ser utilizada quando as tensões de contato nas engrenagens forem acima de 1.300 MPa;(13) Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 257-263, jul.-set. 2012 Figura 8. Comparação do custo total para a produção de engrenagem usando diferentes tratamentos térmicos e termoquímicos. Figura 9. Distribuição de custos na fabricação da engrenagem de aço ABNT 8620 no processo CTR. Custo total de R$ 644,00. 261

Leitão; Mei; Libardi Figura 12. Resumo das propriedades relativas das engrenagens nas três condições de tratamento. Figura. Distribuição de custos na fabricação da engrenagem de aço ABNT 4140 no processo BNL Custo total de R$ 416,00. 4 CONCLUSÕES Em relação às engrenagens fabricadas com os aços ABNT 8620 (cementada, temperada e revenida) e ABNT 4140 (temperada, revenida e nitretada) concluia-se que: Os processos de nitretação líquida e gasosa são mais adequados que a cementação quando se objetiva a diminuição das deformações em engrenagens, além de serem cerca de 30% mais econômicos; O processo de cementação, ao mesmo tempo em que apresenta a maior profundidade endurecida e a maior dureza superficial, apresenta também a maior deformação e o maior custo; e O processo de nitretação líquida, por outro lado, apresenta o menor custo e a menor deformação, porém a menor profundidade endurecida. Figura 11. Distribuição de custos na fabricação da engrenagem de aço ABNT 4140 no processo BNG Custo total de R$ 446,00. O processo de cementação, ao mesmo tempo em que apresenta as maiores profundidade endurecida e dureza superficial, apresenta também a maior deformação e o maior custo; e O processo de nitretação líquida apresenta o menor custo e a menor deformação, porém a menor profundidade endurecida. Agradecimentos Os autores agradecem às empresas: ACE_Supertrat; pelos tratamentos térmicos e termoquímicos realizados e pela determinação dos perfis de dureza; Eacial, pelas medidas de controle dimensional; e Labteste, pelas análises químicas e metalográficas realizadas. 262 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 257-263, jul.-set. 2012

Efeitos da cementação e da nitretação no custo e na qualidade de engrenagens produzidas com aços ABNT 4140 e 8620 REFERÊNCIAS 1 COLPAERT, H.; SILVA, A. L. C. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. São Paulo: Edgard Blücher, 2008. 2 DAVIS, J. R. Nitriding. In:, (Ed.). Surface hardening of steels: understanding the basics. Materials Park: ASM International, 2002. p. 141-94. 3 KNERR, C. H.; ROSE, T. C.; FILKOWSKI, J. H. Gas nitriding In: AMERICAN SOCIETY FOR METALS. Metals handbook. 6. ed. Metals Park, 2004. v. 4. Heat treating, p. 387-409. 4 PYE, D. Practical nitriding and ferritic nitrocarburizing. 2. ed. Materials Park: ASM International, 2005. 5 SILVA, A. L. C.; MEI, P. R. Aços e ligas especiais. 3. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 20. 6 DUBAL, G. P. et al. Modern applications for salt bath heat treating of automotive components. In: INTERNATIONAL AUTOMOTIVE HEAT TREATING CONFERENCE, 1., 1998, Puerto Vallarta, Mexico. Proceedings Materials Park: ASM International, 1999. p. 90-95. 7 ChaNDLER, H. Heat treater s guide: practices and procedures for irons and steels. 2. ed. Materials Park: ASM International, 2000. 8 Gemaque, M. J. A. Abordagem para solução de um problema metrológico na indústria: medição de engrenagens. 2004. 132 p. Dissertação (Mestrado em Metrologia) Programa de Pós-graduação em Metrologia Científica e Industrial da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. 9 ALBAN, L. E. Systematic analysis of gear failures. 4. ed. Materials Park: ASM International, 1993. SANTOS, C. E. Z. Simulação termodinâmica dos processos de nitretação, nitrocarburação e carbonitretação gasosas. 2003. 120 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. 11 PARRISH, G. Core proprieties and case depth. In: PARRISH, G. Carburizing: microstructures and properties. Materials Park: ASM International, 1999. p. 135-70. 12 RAKHIT, A. K. Heat treatment of gears: a practical guide for engineers. Materials Park: ASM International, 2000. 13 DAVIS, J. R. Gear: materials, proprieties, and manufacture. Materials Park: ASM International, 2005. Recebido em: 13/11/2011 Aprovado em: 19/08/2012 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 257-263, jul.-set. 2012 263