Introdução O filo Mollusca (do latim mollis = mole) é um dos grupos animais mais interessantes, incluindo os caramujos, as ostras, as lulas e os polvos. As coleções de conchas representam um passatempo apreciado desde o século XVIII, e, devido ao fato de conter espécimes coletados por todo o mundo, sem dúvida contribuíram para um maior conhecimento desses organismos. É o segundo maior filo animal em número de espécies, abaixo apenas dos artrópodes. Mais de 100 mil espécies vivas já foram descritas e conhecem-se pelo menos outras 35 mil espécies fossilizadas. Aliás, sua história geológica está bem determinada pelo fato de que seus componentes geralmente são dotados de uma concha mineral com boas chances de preservação após a morte. Os moluscos formam um conjunto bastante heterogêneo. Estão adaptados a inúmeros hábitats. Geralmente, são de vida livre e a maioria dos membros do grupo é marinha, embora muitas espécies tenham se adaptado aos ambientes de água doce e terrestre. Muitos movem-se lentamente e em associação com algum substrato. Alguns vivem fixos a madeira ou rochas. Há, no entanto, organismos de natação mais rápida e ágil, como polvos e lulas. Apresentam grande importância econômica: mariscos, lulas e escargots, entre outros, por serem usados como alimento pelo homem. Agumas espécies de ostras são importantes economicamente pelo fato de produzir pérolas. Podem também ser prejudiciais: certos caramujos e lesmas são pragas agrícolas porque se alimentam de plantas cultivadas; alguns caramujos também são hospedeiros intermediários de vermes. Além disso, as larvas de certos moluscos desenvolvem-se em brânquias de peixes, parasitando-os, o que pode provocar perdas na piscicultura. 1. Organização do Corpo A diversidade dos moluscos é notável. Entretanto, todos os membros do filo apresentam o mesmo plano fundamental de organização: possuem o corpo mole, com cabeça, pé e massa visceral. Exibem simetria bilateral e não são segmentados. Podem apresentar ou não uma concha. A. Cabeça Situada na região anterior do corpo, contém a abertura bucal e os órgãos sensoriais, que, em certos organismos, são muito complexos, como é o caso dos olhos de polvos e lulas. Em alguns animais, simplesmente não existe, como em ostras e mexilhões. B. Pé Corresponde ao órgão motor; é musculoso e fica situado ventralmente. Pode apresentar modificações, nas diversas formas, para cavar, rastejar, nadar ou capturar alimento. C. Massa visceral É o conjunto de órgãos digestivos, excretores e reprodutores, situando-se internamente junto à face dorsal do corpo. Está circundada parcial ou totalmente por uma formação carnosa denominada manto. Entre o manto e a massa visceral existe a cavidade do manto ou paleal, preenchida por água nos animais aquáticos e, por ar, nos terrestres. Na cavidade do manto estão os órgãos respiratórios. Muitos autores imaginam como seria o molusco hipotético, a partir do qual se teriam diferenciado as formas modernas. Observe a existência da cabeça e do pé (fundidos), do manto e da concha. D. Concha Em grande parte dos moluscos, o manto secreta uma concha calcária, responsável pela proteção do corpo. Algumas formas, entretanto, não possuem concha, como polvos e lesmas, enquanto outras passaram a tê-la reduzida e interna, como as lulas. A concha dos moluscos é composta por uma
camada proteica mais externa chamada perióstraco, freqüentemente colorida; uma camada prismática mediana, com células impregnadas de cristais de carbonato de cálcio; e acamada nacarada mais interna, também calcária e, geralmente, mais lisa e brilhante. As células da borda do manto secretam a camada prismática, enquanto as células da superfície produzem a camada nacarada. Isso faz com que a concha cresça simultaneamente em diâmetro e espessura. Em cada tipo de molusco, existem adaptações ao seu hábitat específico e que estão relacionadas com as estruturas descritas. Por exemplo, o caramujo é um molusco terrestre que explora continuamente o ambiente à procura de alimento e, por isso, tem a cabeça onde estão os órgãos sensoriais e, o pé, responsável pela locomoção, bem desenvolvido, assim como uma massa visceral reduzida. Já o mexilhão é um molusco aquático, fixo, que não explora seu ambiente em busca de alimento. Filtra alimento da água, possuindo cabeça e pé reduzidos, além de uma massa visceral que ocupa a maior parte do corpo. Secção transversal através da concha e do manto de um mexilhão de água doce. Observe as camadas da concha. 2. Aspectos Anatômicos e Fisiológicos Devido à enorme diversidade dos moluscos, não há um representante que reúna todas as características próprias dos animais do filo. Assim, para que possamos entender a organização corporal desses animais, tomaremos por base um molusco hipotético e, em seguida, analisaremos as particularidades de cada grupo separadamente. O tubo digestivo é completo, com a abertura bucal situada na cabeça e o ânus abrindo-se na cavidade do manto. Na boca, está posicionada a rádula, uma estrutura típica dos moluscos. É uma "língua" denteada, composta por tecido cartilaginoso, que opera por meio de movimentos rítmicos para trás e para a frente (como uma lambida), raspando algas e outros alimentos e empurrando-os na direção do trato digestivo. Assim, a rádula é útil na obtenção e trituração do alimento. O estômago surge de uma porção alargada do tubo digestivo e é envolvido por uma glândula digestiva, àqual se liga por canalículos. As secreções dessa glândula realizam a digestão extracelular na cavidade estomacal e as partículas digeridas são absorvidas por células do trato digestivo, de onde passam para a corrente sangüínea. O sistema circulatório é geralmente aberto, pois o sangue deixa os vasos e desemboca em cavidades do corpo, banhando todos os órgãos. O sangue é vermelho, contém hemoglobina e é impulsionado para todo o corpo por um coração musculoso, situado dorsalmente no interior de uma cavidade pericárdica. Ao se deslocar em direção ao coração, o sangue passa por um conjunto de pregas filamentosas pendentes na cavidade do manto. Ali, os vasos se ramificam e o sangue passa a circular em contato muito próximo com o meio externo, geralmente representado pela água. Neste momento, ocorrem as trocas gasosas: o gás carbônico é eliminado para o meio externo e o oxigênio é captado pelo sangue e depois distribuído para as células. Essas pregas da superfície corporal são as brânquias, os órgãos respiratórios do animal. Auxiliam a propulsão da água na cavidade do manto graças aos batimentos dos numerosos cílios que as recobrem. Quando circula entre os tecidos, o sangue recebe os resíduos tóxicos do metabolismo celular e os carrega até o coração, no qual se difundem para a
cavidade pericárdica. Um conjunto de nefrídios drena os excretas para a cavidade do manto, do qual podem ser facilmente enviados para o meio externo. Anatomia interna de um caracol O sistema nervoso é composto por um conjunto de gânglios pares situados em diferentes posições. Os gânglios cerebrais estão situados na cabeça e são os centros nervosos. A eles estão subordinados os demais gânglios, distribuídos por várias partes do corpo do animal. A cavidade do manto tem importância fundamental na vida do molusco. Nela estão situadas as brânquias, além das aberturas digestivas, excretoras e reprodutoras. Na maioria dos moluscos, é preenchida permanentemente por água, que nela circula graças a movimentos musculares do manto e aos batimentos dos cílios que recobrem sua superfície interna. A água entra e sai continuamente através de dobras do manto chamadas sifões: pelo sifão inalante a água entra e pelo sifão exalante ela sai. A circulação da água garante a respiração, a excreção e, em alguns casos, até a alimentação do animal. 3. Classificação Chiton A superfície dorsal desses moluscos apresenta uma armadura calcária composta por placas parcialmente sobrepostas. Um representante é o quíton. São todos marinhos. B. Classe Scaphopoda ( pé em forma de canoa ) A. Classe Polyplacophora ( muitas placas ) Pequenos animais dotados de uma concha cônica e alongada. São marinhos e vivem parcialmente enterrados na areia. Conhecidos, em geral, por dentálios. C. Classe Gastropoda ( Estômago nos pés ) Corresponde ao maior grupo de moluscos marinhos, de água doce e de ambientes terrestres. A
concha, quando presente, tem formato helicoidal. São exemplos: o caramujo de jardim, a lesma, o caracol, entre outros. Caracol D. Classe Bivalva (duas metades de concha) Também são encontrados em água doce ou salgada. Sua concha possui duas partes que encerram completamente o corpo do animal. Essas duas partes são unidas pelo potente músculo adutor, capaz de fechá-las rápida e vigorasamente. Os exemplos mais familiares são as ostras, os mexilhões e os mariscos. Esses moluscos apresentam as brânquias recobertas por uma camada de muco; ao passar pelas brânquias, partículas alimentares ficam aderidas ao muco e são levadas para a boca. São os bivalvos os responsáveis pela produção das pérolas de valor comercial, embora qualquer molusco dotado de concha possa fabricálas. As pérolas são formadas pela deposição de uma substância chamada nácar, concentricamente ao redor de uma partícula estranha que penetra entre o manto e a concha. Pecten E. Classe Cephalopoda ( pés na cabeça ) Moluscos desprovidos de concha externa, que apresentam uma estrutura interna e uma morfologia bastante diferente dos demais. São o polvo, a lula, o náutilo e o calamar, animais exclusivamente marinhos. O pé dos cefalópodes é dividido em tentáculos. Polvo
Náutilo 4. Reprodução A reprodução dos moluscos é sexuada e, na maioria dos representantes do grupo, a fecundação é interna e cruzada. O caramujo-de-jardim, por exemplo, é monóico. Na cópula, dois indivíduos aproximam-se e encostam seus poros genitais, pelos quais se fecundam reciprocamente. Os ovos desenvolvem-se e, ao eclodirem, liberam novos indivíduos sem passagem por fase larval (desenvolvimento direto). Larva trocófora Nas formas aquáticas, há espécies monóicas e espécies dióicas (como o mexilhão). A forma mais comum de desenvolvimento é o indireto. Os estágios larvais mais conhecidos dos moluscos são a véliger e a trocófora. Resumo Os moluscos são animais encontrados sobretudo nos mares, mas também adaptados à água doce e a ambientes terrestres. Formam um grupo grande e bastante diversificado, no qual se destacam os gastrópodes (caramujos, caracóis e lesmas), os bivalves (ostras, mariscos e mexilhões) e os cefalópedes (polvos e lulas). Têm grande importância para o homem, devido ao seu uso como alimento, à produção de pérolas e até pela importância parasitológica. O corpo dos moluscos está organizado em: cabeça anterior, pé ventral e massa visceral dorsal, embora modificações ocorram de acordo com as adaptações em cada classe. Circundando a massa visceral está um manto carnoso, que delimita a cavidade do manto, por onde circula água ou ar. O manto é também o responsável pela secreção da concha calcária que a maioria dos moluscos exibe. A obtenção do alimento é facilitada pela presença da rádula (ausente apenas nos bivalves), uma espécie de língua raspadora. A digestão ocorre no estômago, graças a secreções liberadas por uma glândula digestiva. O sangue percorre um sistema circulatório aberto, impulsionado por um coração dorsal. Em cefalópedos, entretanto, existe um sistema fechado, o que explica a maior mobilidade destes animais. As brânquias são responsáveis pela respiração de todos os moluscos, com exceção dos gastrópodes terrestres, que são pulmonados. A excreção é feita por nefrídios, que eliminam os resíduos na cavidade do manto. O sistema nervoso é ganglionar e os cefalópodos se destacam pela capacidade de exploração ambiental, contando com olhos muito eficientes. Os processos reprodutivos variam de acordo com o tipo de molusco. Caracóis são hermafroditas e apresentam fecundação interna. Mexilhões são dióicos e fazem fecundação geralmente externa. Lulas são dióicas, mas têm fecundação interna. Larvas aparecem sobretudo em bivalves. Mecanismos de corte são comuns. Leitura Complementar A Importância Econômica dos Bivalves A importância econômica dos bivalves é notável. Muitos são comestíveis, como mariscos,
mexilhões e ostras, cultivados em vários países. As ostras também formam pérolas. A princípio, as pérolas podem ser produzidas por qualquer molusco que possua concha, mas apenas aqueles, cuja concha possui uma camada nacarada interna, produzem pérolas de valor comercial. Estas surgem ao redor de corpos estranhos que penetram no animal e se alojam entre o manto e a concha. Uma parte do manto circunda o objeto e secreta sobre ele camadas sucessivas de nácar (o componente da camada nacarada da concha). As pérolas mais valiosas são as produzidas por ostras marinhas, como Pinctada margaritifera. Na natureza, a produção de pérolas é totalmente casual, sendo muito difícil que sejam perfeitamente esféricas. Estas normalmente têm sua produção induzida pelo homem. Os japoneses chegam a cultivar ostras perlíferas e a estimular a produção de pérolas pela introdução artificial de pequenas partículas no manto. Geralmente conseguem pérolas de tamanho comercial após cerca de quatro anos. Formação de uma pérola em molusco bivalve: um parasita ou grão de areia posiciona-se entre a concha e o manto e é envolvido por camadas de nácar.