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Transcrição:

Galáxias Roberto Ortiz EACH/USP

Definição Galáxias são sistemas estelares gravitacionalmente ligados contendo um número entre 107 e 1012 estrelas, incluindo sistemas estelares binários ou múltiplos, aglomerados de estrelas e matéria interestelar (gás e poeira). NGC 4414

O protótipo de galáxia é a Via-Láctea (ou Galáxia). O Sol situa-se próximo ao plano da Galáxia e à distância de 8 kpc de seu centro. A Via-Láctea é vista no céu sob a forma de uma faixa difusa de estrelas e gás.

No século XVIII, o filósofo Immanuel Kant postulou que haveria outras galáxias além da Via-Lactea. Ele chamou-as de universos-ilha. No final do século XIX, o astrônomo Charles Messier, um caçador de cometas, cansou-se de confundilos com outros objetos difusos no céu. Messier compilou um catálogo contendo mais de uma centena de objetos difusos. Na época, esses objetos eram chamados simplesmente de nebulosas. Cometa Holmes, na constelação de Perseus, 2007

No século XIX, William Parsons, o III Conde de Rosse construiu em sua propriedade, na Irlanda, o maior telescópio de sua época, com 1,8m de diâmetro. Em 1845 ele distinguiu uma estrutura espiral na nebulosa catalogada por Messier sob número 51. William Parsons, o III Conde de Rosse

Galáxia M 51, na constelação de Canis Venatici

O grande debate Em 1917, Heber Curtis identificou 12 estrelas tipo nova em M31. Ele observou que essas estrelas eram, em média, cerca de 10 magnitudes mais fracas do que as novas encontradas ao longo da ViaLactea. Curtis calculou a distância de M31 em 150 kpc, muito distante para que ela fizesse parte da Via-Lactea. M31

Em 26 de abril de 1920, astrônomos reuniram-se em Washington DC para um congresso sobre Astronomia. Compareceram ao evento, entre outros, Heber Curtis e Harlow Shapley, dois eminentes astrônomos da época.

H. Curtis apresentou seus resultados, que implicavam que M31 seria uma galáxia externa à nossa. Por outro lado, Harlow Shapley argumentava que M31 não poderia estar tão distante. O astrônomo holandês Adriaan van Maanen alegou que havia medido a rotação de M31. Portanto ela deveria estar próxima... x Harlow Shapley Heber Curtis

A polêmica foi resolvida somente alguns anos depois, quando o astrônomo Edwin Hubble, utilizando um novo telescópio, conseguiu resolver estrelas do tipo cefeida em M31, confirmando o ponto de vista de Curtis. Ficou estabelecido que M31, assim como muitas outras nebulosas, era externa à Via-Lactea. Um universo-ilha, como havia proposto Kant no século XVIII.

Os espectros de galáxias revelaram-se ser predominantemente de absorção, como os espectros estelares. No entanto, havia uma enorme variedade de formas e aspectos de galáxias.

Em 1936, o astrônomo americano Edwin Hubble propôs uma classificação morfológica para as galáxias. Hubble propôs também que essa sequência seria evolutiva, i.e. a galáxia evoluiria do tipo recente para tardio. Essa classificação perdura até os dias de hoje, porém sabe-se que as galáxias não evoluem ao longo da sequência de Hubble. Edwin Hubble

Galáxias elípticas: Designadas como En, onde n é um número inteiro: n = 0 para as galáxias elípticas de excentricidade zero e n = 7 para as mais achatadas. Não possuem braços espirais. Sua cor é brancoamarelada, indicando a predominância de estrelas gigantes tipo K e M. São pobres em gás. Galáxia eliptica, tipo E2

Galáxias espirais: Possuem estrutura espiral ou braços espirais. Apresentam uma parte central brilhante: o bojo. São ricas em gás. Sub-dividem-se em espirais normais (S) e espirais barradas (SB). Possuem subclassificação a,b ou c, conforme o grau de enrolamento dos braços espirais. Galáxia espiral, tipo Sc

Galáxia M33, tipo Sc (constelação do Triângulo)

Galáxia M31, tipo Sb (constelação de Andrômeda)

Galáxia M104 (NGC4594), tipo Sa Sombrero, constelação de Virgo

Espirais barradas Designadas como SB, possuem uma estrutura sob a forma de uma barra, incorporando o bojo. As demais características assemelham-se às de galáxias espirais normais. NGC1300, tipo SBb

Galáxia NGC253, tipo SBc (constelação de Sculptor)

Galáxias Lenticulares E. Hubble propôs uma categoria intermediária entre as espirais e elípticas. Galáxias lenticulares reunem algumas características dos tipos E e S. Elas possuem disco, mas não uma estrutura espiral. São ricas em gás.

Galáxias Irregulares Existem galáxias que não possuem um padrão regular. São chamadas de irregulares, tipo I ou Irr. Muitas delas são o resultado de interações gravitacionais com galáxias vizinhas que as deformam devido à força gravitacional.

Galáxias Irregulares Dentro dessa categoria existem as galáxias canibais, que engolem galáxias menores por meio da força gravitacional. Ao lado, o par de galáxias Antena, um exemplo de galáxia irregular devido à interação gravitacional. Em geral, as galáxias irregulares são ricas em gás.

Galáxias Irregulares: sub-tipos Hubble subdividiu as galáxias irregulares em dois sub-tipos: Irr-I e Irr-II As de tipo Irr-I apresentam uma estrutura definida de algum tipo. Também são chamadas de tipo magelânico. São ricas em gás. As de tipo Irr-II são completamente amorfas, não apresentando nenhuma estrutura morfológica proeminente. NGC1427: galáxia tipo Irr-II

Grande Nuvem de Magalhães: galáxia tipo Irr-I

Galáxia IC10 (tipo Irr-II, constelação de Cassiopeia)

Dinâmica de galáxias O estudo da dinâmica de galáxias fornece informações sobre o conteúdo das mesmas. Analisando como as galáxias giram é possível calcular a distribuição de massa e compará-la com a distribuição de estrelas, obtida a partir do perfil de brilho. Dá-se o nome de curva de rotação ao gráfico da velocidade de rotação de uma galáxia (em km/s) como função de sua distância galactocêntrica. A curva de rotação de uma galáxia é obtida a partir do efeito Doppler: o lado que se afasta do observador tem maior desvio para o vermelho do que o lado que se aproxima.

A partir dos anos 1970, Vera Rubin e colaboradores obtiveram curvas de rotação de centenas de galáxias. Eles observaram que a curva de rotação de muitas delas apontava a existência de mais massa do que o cálculo feito a partir do brilho da galáxia. Essa matéria faltante, que não emitia radiação de nenhum tipo, foi chamada de matéria escura. Curva observada Curva correspondente à distribuição de estrelas

Ainda não se sabe de que é feita a matéria escura. Porém observa-se que ela permeia não somente as galáxias, mas todo o Universo. Estranhamente, algumas galáxias possuem proporcionalmente uma enorme quantidade de matéria escura, enquanto outras aparentemente não a possuem. A quantidade de matéria escura calculada em muitas galáxias é dezenas de vezes superior à matéria visível. Em aglomerados de galáxias, a razão massa/luminosidade é da ordem da centena.

Bibliografia Astronomia & Astrofísica (Kepler & Saraiva); p.p. 439 444 Descobrindo o Universo (Sueli Viegas & Fabíola de Oliveira, orgs.); cap. 10