08/11/2016 RESUMO 1 INTRODUÇÃO

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA Lenar Cardoso Behling Orientadora: Prof. Lisa Fernanda Meyer da Silva Centro Universitário Leonardo da Vinci UNIASSELVI Licenciatura em História (HID-0320) 08/11/2016 RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar os fatos marcantes da luta revolucionária que marcou a história do povo rio Grandense. A história de lutas e batalhas travadas em prol da liberdade dos gaúchos que sofriam com a falta de autonomia política e com as altas taxas de impostos cobrados pelo Império brasileiro e a desvalorização de produtos industrializados como; charque, couro, cebo, gado e outros derivados típicos do sul do Brasil. Os gaúchos baseados nos ideais norte americanos de liberdade, igualdade e fraternidade decidiram empunhar armas e declarar guerra ao todo poderoso império brasileiro. Essa causa nobre, não alcançou seus principais objetivos, mas conseguiu melhorar alguns aspectos políticos, dando mais voz e dignidade ao povo gaúcho. PALAVRAS-CHAVE: Lutas. Liberdade. Dignidade. 1 INTRODUÇÃO A Revolução Farroupilha foi um movimento organizado pelas classes dominantes pecuaristas, latifundiárias e escravocratas em que se nota uma grande demonstração de força e tamanha capacidade de resistência, uma vez que o conflito é considerado pelos estudiosos do assunto, um dos mais bem planejados. Baseada numa economia estancieira de produção de charque, exportado principalmente para a região sudeste onde era utilizado na alimentação das massas escravas, o charque gaúcho sofria com a concorrência do charque platino em virtude do preço do produto estrangeiro que era escoado diretamente pelos portos de Montevidéu e Buenos Aires, tornando-o mais barato e isento de impostos para entrada no porto do Rio de Janeiro.

2 Os portos nacionais mais próximos das estâncias do oeste da Província (principal foco da Revolução), Laguna e Rio Grande, não tinham ligações diretas com a região e tornavam o produto mais caro, sendo mais viável escoar a produção pelo porto de Montevidéu. O Rio Grande do Sul por almejar mais autonomia tornou-se palco de guerras entre os revoltosos e as tropas imperiais. A maioria dos criadores e charqueadores gaúchos engajou-se diretamente na luta ou colaborou financeiramente para manter as tropas ativas. As camadas mais pobres da população serviam como massa de manobra e os negros escravos na época lutavam na revolução em troca da sua liberdade o que acabou não acontecendo, pois na verdade não existiu entre as lideranças gaúchas o desejo de libertar as camadas mais pobres da escravidão social que predominava na época. As batalhas se estenderam por um longo período que devido ao clima de violência alterou a rotina de paz e tranquilidade dos pampas gaúchos e da população rio-grandense, onde as mulheres, prendas de fibra, tocavam as lidas do campo e cuidavam dos a fazeres domésticos e dos filhos enquanto os maridos lutavam na causa revolucionária. No Rio Grande do Sul na época predominava a agricultura de subsistência, onde as famílias sobreviviam daquilo que cultivavam, no geral criavam galinhas, porcos, gado e alguns poucos animais para consumo próprio, os pampas costumavam ser lugar calmo e tranquilo, onde tropeiros levavam as tropas de gado de um lugar ao outro pousavam ao relento e se aqueciam a beira do fogo nas noites frias do rigoroso inverno gaúcho, onde as temperaturas costumam ficar abaixo de zero grau, mas esse cenário de tranquilidade mudou quando foi declarada a Revolução Farroupilha. 2 CAUSAS DO CONFLITO A justificativa original se centrava no conflito político entre os liberais que reivindicavam um estado com maior autonomia às províncias no modelo imposto pela constituição de D. Pedro I de caráter unitário. Além disso, havia uma disseminação de ideais separatistas, vistos por muitos gaúchos como o melhor caminho para a paz e a prosperidade, seguindo o exemplo da Província Cisplatina. O Rio Grande do Sul encontrava-se muito dependente do mercado brasileiro de charque, que com o câmbio supervalorizado, e benefícios tarifários, podia importar o produto por custo

mais baixo. O charque rio-grandense tinha preço maior do que o similar vindo da Argentina e do Uruguai, perdendo assim competitividade no mercado interno. O imposto sobre a importação de sal, indispensável para indústria do charque e para manutenção do gado, era muito elevado. O antigo Quinto Real, 20% em espécie, continuava depois da independência. Em 1821, foi decretada a lei do dízimo sobre as exportações, como charque, sebo, a erva mate, e o trigo. (LOPES, 2013, pag. 10). A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, acabou influenciando movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna, com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: Bento Gonçalves, General Neto, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, Davi Canabarro, Vicente Ferrer de Almeida, José Mariano de Mattos, além de receber inspiração ideológica de italianos carbonários refugiados, como o cientista Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além de Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. 3 2.1 FARROUPILHAS OU FARRAPOS Farroupilha ou farrapos, assim eram chamados todos aqueles que se revoltavam contra o governo Imperial. O termo era considerado pejorativo, oriundo do parlamento para designar os revoltosos, oposicionistas radicais ao governo central e com tempo foi adotado pelos próprios revolucionários. Inicialmente os farroupilhas reivindicavam a retirada de todos os portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do exército, também havia entre os farrapos aqueles que acreditavam que somente tornando o estado independente que poderiam obter uma sociedade administrada por provincianos. Inicialmente nem todos eram separatistas, mas os acontecimentos e os novos rumos foram conduzindo a esse desfecho. Já no ano de 1835 os ânimos estavam exaltados. O descontentamento dos estancieiros, militares, industriais do charque promoviam reuniões em casa particulares. Neste mesmo ano foi nomeado à presidência da província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, que apesar de ser riograndense, servia fielmente ao Império. Em várias cidades no interior as milícias estavam em estado de alerta prontas para deflagrarem a revolta. Porto alegre completamente cercada pelas tropas farroupilhas, não ofereceu nenhuma

4 resistência entregando-se aos revolucionários. O presidente da Província de São Pedro Fugiu para Cidade portuária de Rio Grande de onde passou a comandar os contra ataques. 2.2 AS ARMAS UTILIZADAS EM BATALHAS As revoluções de um modo geral, sempre enfrentaram dificuldades por serem movimentos que se rebelam contra governos já constituídos e quase sempre mais poderosos. A Revolução Farroupilha também enfrentou esse problema, eram pobres de armamentos, munições, cavalos, roupas e mantimentos, mas sobrava-lhes destemor e coragem para lutar nos entreveros das batalhas Farroupilhas. Nas condições de inferioridade bélica, os revolucionários só combatiam quando tinham a certeza da vitória, caso contrário, faziam uma retirada estratégica, pois escapar com vida já era considerado uma vitória. Essa carência de material, como era natural, vinha acompanhada da necessidade de supri-la. Para tanto, empregavam a tática de guerrilha para manter o inimigo em permanente estado de alerta e, consequentemente, desgastado. A mobilidade era sua principal característica. Com a rapidez dos movimentos, vinham as surpresas, as emboscadas, a astúcia, o ardil; tudo com a finalidade de levar a inquietação ao inimigo e enfraquecer seu poderio físico e moral, refletido, também, na perda de armas, munição e víveres. (LOPES, 2013, Pag. 17). As armas utilizadas no conflito geralmente eram contrabandeadas do Uruguai e Argentina, outras eram tomadas dos inimigos vencidos em combate, assim como, todos os objetos de suas necessidades, os cavalos eram tomados das fazendas simpatizantes ao Império, assim como, o gado para o abastecimento das tropas, os arreios e vestuários, ponchos, cobertores, etc. Essas requisições eram realizadas não apenas para suprir as necessidades, mas também, para desfalcar os campos de cavalos dos inimigos. Para estes, não havia condescendência, nem mesmo regulamento, de quem se arrebatavam os bens como presa de guerra. As requisições de guerra, muitas vezes, eram tão drásticas, que arruinavam a economia de estancieiros e comerciantes, pois nem todas elas eram justas ou adequadas as necessidades. (LOPES, 2013, PAG. 19). Os Farroupilhas possuíam grandes habilidades lutando em cima de um cavalo e utilizavam-se de lanças e boleadeiras, portavam algumas poucas armas de fogo como pistolas, trabucos e alguns canhões. As facas, espadas, adagas e punhais eram armas de punho utilizadas

tanto nas batalhas quanto nos acampamentos, indispensáveis, estavam sempre na cintura dos revolucionários. 5 2.3 BATALHA DO SEIVAL A batalha do Seival teve maior importância pelo desfecho gerado do que pela vitória expressiva e estrategicamente vantajosa. A batalha aconteceu próximo ao Arroio do Seival, entre beligerantes e as tropas do Império. O comandante João da Silva Tavares, vinda do Uruguai em direção a Rio Grande e passando pelos campos do Seival, resolveu atacar as tropas farroupilhas que estava sob o comando de Antônio de Souza Netto, no dia dez de setembro de 1886 ocorreu a batalha do Seival, onde as tropas imperiais contavam com um contingente de 560 homens e os farroupilhas apenas 430 soldados. Apesar de menor número os farroupilhas se superaram e destroçaram a tropa Imperial deixando cerca de 180 soldados mortos, 60 feridos e 116 presos, do lado farroupilha as perdas foram mínimas. No dia seguinte soldados e comandantes republicanos inspirados pela vitória proclamaram a República Rio-Grandense se desligando definitivamente do Império brasileiro. O então coronel Antônio de Souza Netto, mesmo sem comunicar aos superiores como Bento Gonçalves, redigiu a proclamação da República Rio-Grandense no Campo dos Menezes, dia 11 de setembro de 1836. 3. A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA Depois da inspiradora vitória sobre a sangrenta batalha do Seival o comandante da tropa farroupilha Antônio de Souza Netto reuniu a tropa e comemoraram vibrantemente seus feitos, cresce então a vontade separatista de manter um país independente. À noite questões ideológicas republicanas foram revistas e visto que o desejo popular era de liberdade e democracia sob um sistema republicano, a hora havia chegado, hora da vitória, do jubilo, da afirmação. Netto simpatizou com a ideia e passou a escrever a proclamação da República Rio-Grandense que foi lida e efetivada por ele perante a tropa perfilada, em 11 de setembro de 1836. Após a cerimônia de proclamação todos gritaram euforicamente, gritos de liberdade e vivas à república com tiros para o alto e cantorias. Neste instante chega a galope em seu cavalo o tenente Teixeira Nunes, empunhando a bandeira tricolor, feita as pressas em Bagé para desfilar

6 entre os companheiros nas cores verde, vermelho e amarelo da república Rio-Grandense comemorando a sua independência. Foram conclamadas as demais províncias brasileiras para unirem-se como entes federados no sistema republicano, foi criado um hino e uma bandeira própria para o novo Estado. A nova capital foi estabelecida na cidade de Piratini. A partir desse momento a revolta farroupilha deu lugar a Guerra dos Farrapos, propriamente dita a mudança de posicionamento foi imediata. Os combatentes deixaram de ser farrapos e passaram a ser soldados do Exército Republicano Rio-Grandense, não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país. A República Rio-Grandense tinha o escasso apoio nas áreas colonizadas recentemente pela imigração alemã. Esses imigrantes haviam se fixado em colônias cedidas pelo Império no Vale dos Sinos. Em Porto Alegre, apesar da simpatia das camadas médias, não recebia grande apoio popular. Os estancieiros eram capazes de liderar verdadeiros exércitos de peões, mas por vezes necessitavam de seus serviços para subsistência e defesa de seus feudos. Os cavaleiros da lida campeira chamados de gaúchos formavam corpos da cavalaria de choque aptos a travar uma guerra eles possuíam grandes habilidades e conhecimento do terreno, no entanto, não dispunham de infantaria e nem artilharia adequada. Os farroupilhas tinham fraca capacidade bélica contra as cidades fortificadas e pouca defesa das praças que controlavam. 3.1 BATALHA DO PAMPA No dia 12 de setembro, após a proclamação da República Rio-Grandense, aconteceu a solenidade de lavratura e assinatura da ata de declaração de independência, pela qual os assinantes declararam não embainhar suas espadas e derramar todo sangue antes de retroceder de seus princípios políticos proclamados na seguinte declaração. Deste documento foram feitas varias cópias e enviadas às câmaras municipais e aos principais comandantes do exército republicano. As câmaras municipais convocaram imediatamente sessões extraordinárias para analisar e discutir os feitos registrando em atas sua adesão proclamando assim a independência por vontade geral da maioria. Bento Gonçalves após saber da proclamação da república, levantou acampamento na lomba do Tarumã e seguiu para juntar forças com Netto, quando finalmente precisava atravessar

7 a ilha de Fanta, no município de Triunfo se depara com as tropas imperiais comandadas por Bento Manoel, agora a serviço do Império, a fim de impedir sua passagem. Cercado por terra e por água Bento ainda conseguiu enviar um mensageiro solicitando socorro a Netto e Canabarro. Depois de desarmar os soldados Bento Manuel manteve os chefes presos e Bento foi levado à prisão no Rio de Janeiro. 3.2 BENTO GONÇALVES ASSUME A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Bento tentou escapar da prisão no Rio de Janeiro junto com outros companheiros, porém Pedro Boticário não conseguiu passar pela janela por ser muito gordo ficou trancado. Por solidariedade ao amigo Bento Gonçalves desistiu da fuga na qual escaparam Onofre Pires e o coronel Corte Real. Depois da tentativa de fuga Bento foi transferido para Bahia e ficou preso no Forte do Mar. Com o auxilio da maçonaria conseguiu fugir da prisão, chegou de volta ao Rio Grande do Sul via Buenos Aires e assumiu a presidência da república, nessa época os farrapos dominavam quase toda a província. 4 MARINHA FARROUPILHA A marinha Imperial comandava os mais importantes meios de comunicação da província, a Lagoa dos Patos, entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande e também a maior parte dos rios navegáveis, mas apesar disso, era constantemente atacada pelos farroupilhas. O fator estratégico de maior efeito a favor do Império era o bloqueio da barra da Lagoa dos Patos, único acesso ao Porto de Rio Grande por onde desembarcavam continuamente os reforços imperiais e o mar. A república procurava manter a supremacia das áreas conquistadas, na região das serras, sudeste do Rio Grande do Sul, região de relevo irregular com apenas um rio que ligava a Lagoa dos Patos, o Rio Camaquã. Com a ajuda do italiano Giuseppe Garibaldi o qual conheceu Bento Gonçalves ainda na prisão, criaram a Marinha Rio-Grandense. Bento concedeu a Garibaldi uma carta de Corso para aprisionar embarcações imperiais, logo Garibaldi foi nomeado capitão-tenente e passou a comandar a Marinha Farroupilha.

8 Em Camaquã na estância de Ana Gonçalves irmã de Bento Gonçalves foi criado um estaleiro junto a uma fabrica de armas e munições. Garibaldi comandou a construção e armamento de dois lanchões de guerra. Alguns marinheiros vieram de Monte Vídeo e outros foram recrutados nas redondezas. Os imperiais souberam da construção dos lanchões e atacaram o estaleiro de Camaquã sob o comando de Chico Pedro, também conhecido por Moringue, mais de cem homens cercaram o galpão onde havia cerca de 14 trabalhadores entrincheirados. Garibaldi comandou a resistência durante horas e quase ao anoitecer o comandante Moringue foi baleado sendo recolhido por seus companheiros e fugindo rapidamente. Terminada a construção os barcos foram lançados na água cortando a Lagoa dos Patos até o rio Capivari e dali por terra, pois haviam construído rodados especialmente para isso. Despistando a armada imperial os farrapos conseguiram enveredar pelo estreito rio Capivari e quando por terra, os barcos eram puxados por juntas de bois atravessando ásperos caminhos sobre os campos úmidos. Cada barco possuía dois eixos e quatro rodas revestidas de couro cru. Alguns piquetes corriam à frente entulhando os atoleiros e outros cuidavam da boiada que puxava os barcos, para cada barco havia mais de cem juntas de bois. O objetivo era chegar a Laguna cidade de Santa Catarina e conquistá-la por água. 4.1 A CONQUISTA DE LAGUNA A Marinha Farroupilha uniu-se com as tropas do exército e sob o comando geral de David Canabarro, foi possível elaborar um ataque por terra e por mar. A marinha entrou através da Lagoa de Garopaba do Sul e passando pelo rio Tubarão e atacou Laguna por trás surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque pela barra de Laguna. A cidade foi tomada com a ajuda do próprio povo Lagunense em 22 de julho de 1839, e no dia 29 de julho foi proclamada a Republica Juliana ligada a Republica Rio-Grandense por laços de confederalismo. Os gaúchos dirigem-se à casa da câmara, onde os lagunenses proclamam a República Juliana e o governo é entregue, por eleição, aos ilustres representantes da população. Firma-se, em seguida, o acordo de alianças entre as duas repúblicas, iniciando um regime federalista no Brasil. Também é assegurado ao governo de Piratini a utilização do porto de Laguna. ( LESSA, 2005, Pag. 106). Com a tomada de Laguna praticamente metade do território da província Catarinense ficou sob domínio dos Farrapos. Foi então organizada a República Juliana sendo convocadas eleições

9 para constituir um novo governo. Canabarro manteve-se a frente do governo até o dia 7 de agosto de 1839, quando assumiu a presidência o Padre Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro. Pouco tempo depois o Império reagiu com força total e retomaram Laguna dia 15 de novembro de 1839. Garibaldi, diante da eminente derrota, queimou seu navio e juntou-se à tropa de Canabarro. Dos demais navios de Marinha Farroupilha nenhum comandante ou oficial escapou com vida, esse foi o fim da Marinha Farroupilha. Garibaldi fugiu com Ana, por ele chamada de Anita, mulher casada, cujo marido alistou-se no exército do Império e a abandonou, um escândalo para época. Anita seguiu Garibaldi e com ele constituiu família em meio às guerras e batalhas tanto no Rio Grande do Sul como na Itália, onde é considerada uma heroína. 5 OS FARRAPOS PERDEM TERRITÓRIO Até o ano de 1840, os farrapos encontravam-se em plena ascensão, com muitas vitórias no campo militar. Após esse período se inicia uma situação de decadência, a começar pela queda de Laguna. O general Andrea, que fez a retomada de Laguna, foi nomeado presidente imperial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e comandante do exército imperial da província. E neste período começam as desavenças políticas entre os farrapos. No ano de 1840, devido aos insucessos das batalhas Bento acenou ao Império uma possibilidade de acordo. Pediu salvo-conduto para seus companheiros atravessarem impunemente os locais conquistados pelo Império, a fim de acertar com os chefes imperiais uma rendição coletiva dos farrapos. No dia 10 de fevereiro de 1840, foi convocada uma assembléia constituinte, mas Bento Gonçalves não queria perder poderes e em razão disso só foi promulgada em 1842 a constituição da republica, o que deu ânimo momentâneo a luta. A Revolução Liberal de 1842 entusiasmou os farroupilhas, mas o foi de curta duração, pois as revoltas duraram pouco tempo e o fim das rebeliões em outras províncias, Sabinada, Revolução Liberal em São Paulo, trouxeram reforços às tropas Farrapas. Por outro lado, o fim dessas rebeliões liberou as tropas do exército brasileiro para concentrar seus esforços nas tropas Farroupilhas e precipitar o fim da guerra.

10 5.1 ONOFRE PIRES X BENTO GONÇALVES A República Rio-Grandense não ficou livre da disputa pelo poder. Em dezembro de 1842, quando se instalou a assembleia constituinte também começaram as divergências ente os líderes Farrapos. Em agosto de 1843, Bento renunciou à presidência da Republica Rio-Grandense por conta de intrigas e assumiu o posto Gomes Jardim. Bento passou a comandar uma divisão do Exército Rio-Grandense. Onofre Pires passou a destratar Bento Gonçalves acusando-o pelo assassinato de Paulinho de Fontoura, um líder político militar era irmão de Vicente de Fontoura e vice-presidente da Republica Rio-Grandense, por isso foi desafiado para um duelo que foi realizado dia 27 de fevereiro de 1844. Durante o duelo Onofre Pires foi ferido no braço direito e apesar de ser socorrido por Bento veio à falecer dias depois em decorrência do ferimento. 5.2 BATALHA DE PORONGOS As primeiras negociações de paz ocorreram com a nomeação de Francisco Alves para presidência da província, o qual ofereceu à Bento anistia plena para negociar um tratado de paz. Bento respondeu propondo que as dívidas contraídas pela República fossem pagas pelo Império, propôs também que os escravos alistados como soldados republicanos fossem libertos e que os oficiais revolucionários se mantivessem em seus postos na Guarda Nacional. Para firmar o tratado solicitou com o presidente Francisco Alves, uma conferencia, mas este se recusou ao saber que os farrapos tentavam aliciar sua causa a diversos legalistas. A recusa da conferência resultou na suspensão da anistia e continuação das lutas. Quando em 9 de novembro de 1842, o Barão de Caxias foi nomeado presidente da Província e comandante supremo do Exército Imperial, o qual empregou toda sua força de 12 mil homens, conhecimento, experiência e inteligência para devorar a supremacia do Exército Republicano com apenas 3.500 homens. Entre as várias estratégias usadas, iniciou uma campanha de estrangulamento da economia republicana atacando as cidades de fronteira e impedindo o escoamento da produção de charque para Monte Vídeo e Laguna, comprando cavalos para impedir que as tropas Farrapas tivessem montaria e reativando o comércio.

11 O Exército Republicano sabendo da sua inferioridade evitou um combate direto e quando perseguidos os Farroupilhas se refugiavam no Uruguai. Em novembro de 1844, estavam todos em pleno armistício, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz, as tropas Farroupilhas encontravam-se relaxadas no acampamento na curva do Arroio Porongos. O comandante Canabarro e seus Oficiais foram a uma estância próxima visitar a viúva de um ex-guerreiro Farrapo. O Coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam no acampamento, foi então que apareceu Moringue de surpresa quebrando o decreto de suspensão de armas. Mesmo desarmados os Lanceiros Negros, cerca de cem homens, resistiram bravamente até a aniquilação. O General Canabarro ainda reuniu todo restante do seu Exercito, cerca de 1000 homens, e atacou Encruzilhada no dia 7 de dezembro 1844, tomando-a e mostrando assim, que sua intenção não era se entregar. 6 OS LANCEIROS NEGROS Os Lanceiros Negros eram escravos que lutaram a favor da causa Farroupilha, foram excelentes combatentes da cavalaria que entregavam-se ao combate com bravura e ousadia. Manejavam com grande habilidade suas armas prediletas, as lanças. Eles foram usados como tropa de choque e causavam grande terror nos adversários. Também lutavam armados com adagas ou facões e em algumas ocasiões chegaram a pegar em arma de fogo. Em sua grande maioria, foram recrutados entre os negros campeiros e domadores das Serras dos Tapes e do Herval (Canguçu, Piratini, Caçapava, Encruzilhada, Arroio Grande), na Zona Sul do Estado. Inicialmente comandados pelo Tenente Coronel Joaquim Pedro Soares, mais tarde tiveram por chefe o Major Joaquim Teixeira Nunes. Participaram da expedição de Laguna, jogando um importante papel na constituição da Republica Juliana. Eram a tropa de choque do exército farroupilha. (Carrion, pag. 8). Os lanceiros não possuíam escudos e seus grosseiros ponchos serviam como proteção do frio ou da chuva. Quando em combate a cavalo eles enrolavam o poncho em seu braço esquerdo para amortecer ou desviar os golpes de lança ou espada. Alguns possuíam grande habilidade com as boleadeiras, usando-as como arma de guerra, principalmente no abate de longo alcance. Eram homens rústicos, mas disciplinados, comiam quando tinha alimento e dormiam em qualquer lugar. Seu vestuário era composto de sandálias de couro cru, calças e um colete que

12 encobria o tronco, sobre isso um chiripá de pano grosseiro que lhes protegia do rigoroso frio do inverno gaúcho. Estima-se que em determinado período os lanceiros negros tenham representado metade do exército rio-grandense eles participaram da tomada de Laguna, em Santa Catarina e também dos combates no Rio Grande do Sul, onde foram massacrados e dizimados no dia 14 de novembro na localidade de Porongos. O massacre foi resultado de um traiçoeiro acordo entre o chefe dos Farrapos Davi Canabarro com o comandante do Exército Imperial Barão de Caxias (futuro Duque de Caxias). O objetivo seria favorecer a vitória do exército imperial, desarmando a infantaria farroupilha, facilitando assim, o Tratado de Poncho Verde que já vinha sendo negociado. Apesar das promessas, em nenhum momento a República Rio-Grandense libertou seus escravos, já que a questão da abolição era controversa entre os líderes. Com o acordo de paz ficou estabelecido que os negros engajados na revolução fossem entregues ao Barão de Caxias e reconhecidos como livres pelo Império. Se de fato receberam a liberdade não se tem nenhuma certeza. Alguns soldados negros, mesmo durante o conflito, teriam fugido para o Uruguai, formando quilombos ou buscando refugio nas cidades, onde tentaram se passar por homens livres. Outros permaneceram escravos no Rio Grande do Sul, não encontrando outra opção de sobrevivência eles acabavam acompanhando os lideres farrapos em suas estâncias onde permaneciam como escravos até sua morte. 7 TRATADO DE PONCHO VERDE No dia 1º de março de 1845, foi assinado o Tratado de Poncho Verde, um tratado de paz entre o Império e Os Farrapos. Após quase dez anos de guerra com um espantoso saldo de 47 829 mortos. Entre as condições dos Farroupilhas estava a anistia plena dos revoltosos, a libertação dos escravos que lutaram pela causa Farroupilha e também a escolha de um novo presidente para província que fosse escolhido pelos Farroupilhas. Nem todas as exigências foram atendidas, sobre o destino dos escravos sobreviventes ha poucas informações devido à quase inexistência de documentos históricos sobre o assunto, alguns acompanharam o exército do General Antônio Netto em seu exílio no Uruguai, outros

13 foram incorporados ao Exército Imperial no Rio de Janeiro. Algumas fontes históricas indicam a possibilidade de alguns foram vendidos novamente como escravos no Rio de Janeiro, mas essa hipótese não está comprovada. 8 AS MULHERES DURANTE A REVOLUÇÃO As mulheres rio-grandenses tiveram sua rotina transformada durante o período de guerra. No rio Grande do Sul na calmaria dos pampas predominava o grito dos quero-queros na imensidão do sul, mas com o inicio da revolução as famílias foram divididas. Os homens foram lutar pela liberdade do Rio Grande, enquanto as mulheres assumiam tarefas antes desempenhadas por eles como a lida de campo, os cuidados com o gado e outros animais. As mulheres tiverem que se mostrar fortes e destemidas diante da nova realidade em que viviam, tanto no físico como no emocional, elas assumiram os afazeres da casa, a criação dos filhos, os cuidados na estância e ainda conviviam com o medo diariamente. Além disso, suportavam a saudade de permanecer por longos períodos longe de seus cônjuges. Em época de conflitos elas costumavam se reunir nas estâncias e faziam suas orações pedindo a Deus que seus companheiros voltassem com vida, e claro, choravam e oravam pela alma daqueles que morreram em batalha. Essas mulheres não tiveram nenhum reconhecimento e sua bravura e coragem permaneceu as sombras dos maridos devido aos costumes rígidos da época. Foram poucas as mulheres gaúchas que tiveram seus nomes citados nos livros de história. As mais ousadas conhecidas como vivandeiras acompanhavas as tropas e cuidavam dos ferimentos dos soldados em combate. Muitas vezes era o único socorro médico disponível para eles. A sua companhia era uma distração necessária em meio ao ambiente tenso dentre mortos e feridos. Essas mulheres chegavam a praticar pequenos furtos para a própria sobrevivência, retirando roupas, acessórios e objetos pessoais de soldados mortos em batalha, com isso faziam um pequeno comercio, onde conseguiam dinheiro para sua sobrevivência. Em sua maioria pertenciam às classes populares, possuíam uma postura bastante arrogante, uma forma de defesa em um mundo em que lutavam bravamente pela sobrevivência a final era matar ou morrer.

14 Anita Garibaldi foi considerada como china de soldado a acompanhar Garibaldi e suas trapas durante as batalhas, mas em nome desse amor superou o preconceito e o machismo da época e lutou bravamente por aquilo em que acreditou. Sua história não teve um final feliz, mas seu nome até hoje é lembrado como sinônimo de coragem e valentia da mulher gaúcha. 8.1 ANITA GARIBALDI Anita nasceu de uma família modesta, o pai Bento e a mãe Maria Antônia de Jesus eram comerciantes descendentes de portugueses imigrados da região dos Açores, casaram-se e tiveram dez filhos. Anita era a terceira filha, após a morte do pai e o casamento da irmã mais velha, ela teve que ajudar no sustento da casa e na criação dos irmãos. Casou-se aos catorze anos com Manuel Duarte Aguiar, após três anos de matrimonio Manoel alistou-se no Exército Imperial abandonando a jovem esposa. Durante o período da Revolução Farroupilha Anita conheceu o italiano Giuseppe Garibaldi, comandante da Marinha Farroupilha, durante a tomada de Laguna na província de Santa Catarina. Quando Anita soube que Garibaldi sairia de Laguna para, em alto mar tentar apreender navios imperiais, pediu que a levasse junto, alegando que serviria de enfermeira. Em seu marido não mais pensava ela. Garibaldi teria sugerido que voltasse para casa, mas ela tanto insistiu que o comandante da esquadra acabou cedendo. ( SILVA, 1985. pag.37). Apaixonada Anita decidiu lutar ao seu lado e acompanhá-lo onde quer que ele fosse. Eles lutaram no Rio Grande do Sul, Uruguai (Montevidéu), e na Itália. Anita tinha 18 anos e Garibaldi 32 quando se conheceram. Ela decide segui-lo a bordo de seu navio para mais uma expedição militar. E na famosa batalha naval de Laguna Anita confirma sua coragem atravessando por varias vezes o rio a bordo de uma pequena lancha de combate para trazer munições aos Farrapos em meio a uma verdadeira carnificina. 8.2 ANITA NA BATALHA DOS CURITIBANOS Em janeiro de 1840, Anita foi feita prisioneira na batalha dos curitibanos. Durante a batalha Anita provia o abastecimento de armas para os soldados e foi pega pelo Exército

15 Imperial. O comandante do Exército Imperial, admirado com o forte temperamento de Anita, permitiu que ela procurasse o cadáver do marido supostamente morto em batalha. Bastou um instante de distração dos guardas para ela tomar um cavalo e fugir. Após atravessar a nado com o cavalo o Rio Canoas, chegou ao Rio Grande do Sul e encontrou-se com com Garibaldi em Vacarias oito dias depois. Em 1840 nasce o primeiro filho do casal e recebe o nome de Menotti, doze dias depois do nascimento o Exército Imperial cercou a casa para prender o casal. Anita foge a cavalo com o recém nascido nos braços e embrenhou-se num matagal nos arredores da cidade ficando escondida por quatro dias até que Garibaldi a encontrou. 8.3 ANITA VAI PARA O URUGUAI Em 1842 a situação militar da Republica Rio-Grandense ficou insustentável, Garibaldi solicitou à Bento Gonçalves, permissão para deixar o Exército Republicano e mudou-se com a mulher e o filho para Montevidéu, no Uruguai. La legalizou sua união, pois a certidão de casamento era exigida à ocupantes de cargos públicos. Garibaldi foi comandante da pequena frota uruguaia e combatia a potente esquadra naval argentina. No Uruguai nasceram mais três filhos do casal; Rosa, Teresa e Riciotti. Rosa veio a falecer de asfixia aos dois anos de idade por causa de uma infecção de garganta. Isso causou imenso sofrimento ao casal. Em janeiro de 1948, Anita embarca com os três filhos para Nice, na frança, ficando aos cuidados da família de Garibaldi por algum tempo. Garibaldi reuniu-se com eles por algum tempo e depois voltaram para Itália. 8.4 NA ITÁLIA Na Itália em 1849, Anita presenciou com o marido a proclamação da República Romana, mas com a invasão Franco-Austríaca de Roma foram obrigados a abandonar a cidade. Com 3800 soldados Garibaldi deixou Roma. Em sua perseguição havia três exércitos ( franceses, espanhóis e napolitanos) com 40 mil soldados. Também ao norte lhe esperava o exercito austríaco com 15 mil soldados.

16 Anita grávida de seu quinto filho já no final da sua gravidez pensou ser um peso para o marido e tentou deixá-lo para que despreocupado lutasse sozinho na guerra. Ela queria voltar a morar com a mãe de Garibaldi onde estavam seus filhos, mas suas condições de saúde pioraram. Anita e Garibaldi não aceitaram a oferta de salvo conduto oferecido pelo embaixador e continuaram a fugir, pois não tinham como enfrentar tantos soldados. Com febre alta Anita foi levada as pressas para uma fazenda próxima a cidade de Ravena, onde acabou morrendo junto com a criança. Garibaldi se quer pode acompanhar o sepultamento e fugiu para o exílio. O corpo de Anita foi exumado por sete vezes e por vontade do marido foi transferido para Nice. Anita foi considerada um exemplo de dedicação e coragem foi homenageada pelos brasileiros com a designação de dois municípios, Anita Garibaldi e Anitápolis, ambos em Santa Catarina. Muitas cidades brasileiras possuem ruas e avenidas com seu nome. Em abril de 2012 foi sancionada a lei que determinou que seu nome fosse escrito no livro de heróis da pátria. 9 CLASSE SOCIAL E A REVOLUÇÃO Os gaúchos em sua grande maioria viviam em ranchos feitos de pau-a-pique (barro e madeira), geralmente possuíam apenas dois cômodos, quarto e cozinha e a cobertura era feita de capim santa fé. No quarto dormiam todos os integrantes da casa em camas feitas por eles mesmos forradas com pelegos e colchão preenchidos com palhas. Na cozinha um fogão à lenha aquecia a casa e os móveis eram todos de fabricação própria sem o menor luxo. As estâncias possuíam um pouco mais de conforto, as casas feitas de alvenaria possuíam suas paredes reforçadas para proteger dos ataques e tiroteios da guerra. Possuíam vários quartos e a sala e cozinha eram amplas, pois nestes cômodos as famílias costumavam se reunir. Os móveis eram feitos de madeira vindas da Europa, assim como as louças e assessórios. As mulheres mais cultas se dedicavam as aulas de piano e poesias usavam vestidos de veludo e outros tecidos nobres acompanhados de assessórios como; leques e luvas. As classes populares eram formadas por peões e as mulheres trabalhavam pesado na lavoura acompanhando os maridos na lida.

17 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS Farrapos era forma pejorativa como imperiais se referiam aos soldados do exército republicano, tal apelido demonstrava o descaso sofrido Rio Grande do Sul diante do governo centralizado da época. A insatisfação sentida pelo povo gaúcho não era recente e fez aflorar no peito o desejo de liberdade. Podemos afirmar que a liberdade foi ideal mais almejado durante a revolução. Para alguns a liberdade de impostos e taxas excessivas, mais autonomia e participação política. Para outros a luta era em prol da sua própria liberdade, como o caso dos escravos, lutaram acreditando em um futuro melhor livre de suas senzalas, seus castigos, seus senhores. O povo gaúcho de uma maneira geral agonizava as margens de um governo esnobe preocupado somente em manter seus caprichos. A Participação das mulheres durante a revolução nos faz repensar o conceito de sexo frágil atribuído a elas. Sua contribuição inquestionável foi essencial para o segmento da guerra. Se houve ou não vitória depende de cada ponto de vista, os mais otimistas vêem os gaúchos como valentes de coragem que se propuseram a lutar pela sua causa e mesmo que a Republica não tenha vigorado, ficou a imposição de um povo que não aceita submissão e exploração e mesmo em número consideravelmente menor, lutou bravamente como povo guerreiro. REFERÊNCIAS: CARRION, Raul. Os Lanceiros Negros na Revolução Farroupilha/ Porto Alegre. Pag. 8. LESSA, Barbosa. Garibaldi Farroupilha/ A História ilustrada do Herói de Dois Mundos. Porto Alegre, 2005, pag. 106. LOPES, João Máximo. Revolução Farroupilha em Camaquã. Porto Alegre. 2013-2ª Ed. Pag. 10,17 e 19. SILVA, Marô. Anita Garibaldi/ A paixão. O ciúme. As angustias de uma guerrilheira. Única mulher a entrar na história farroupilha. Tchê! Comunicações Ltda. 1985, pag.37.