Potencial do citrumelo como porta-enxerto na citricultura Everton Geraldo de Morais (1) ; Ricardo Monteiro Corrêa (2) ; Dário Aparecido Leite (3) ; Gustavo Henrique Branco Vaz (4) ; Konrad Passos e Silva (5) ; Cheine Aniel da Silva (3). (1) Mestrando em Ciência do Solo (Bolsista CAPES). Universidade Federal de Lavras (UFLA). DCS/UFLA. 37200-000. Lavras-MG. (2) Professor IFMG-Bambuí. (3) Estudante de Agronomia IFMG-Bambuí. (4) Mestrando em Fitotecnia-UFLA. (5) Engenheiro Agrônomo IFMG-Bambuí. RESUMO - A citricultura é de grande importância no âmbito nacional, sendo o Brasil o maior exportador de suco de laranja concentrado e congelado (SLCC). A citricultura é atacada por uma gama de doenças que pode provocar perdas enormes, que pode em alguns casos até inviabilizar o seu cultivo. Dentre as estratégias de manejo das doenças na citricultura se destaca o uso da resistência de plantas conferida muitas das vezes pelo porta-enxerto empregado. Atualmente tem-se que grande parte da citricultura nacional está sobre o porta-enxerto limão cravo, com isso o emprego de somente um porta-enxerto pode futuramente ser um problema, devido o risco de vulnerabilidade genética que poderia dizimar a citricultura no país, com isso novas espécies devem ser estudadas e utilizadas como porta-enxertos, dentre estas espécies com alto potencial de uso destaca-se o Citrumelo swingle. Este hibrido foi descoberto na Flórida e ganha destaque pela substituição do uso do limão cravo como porta-enxerto, enfatiza-se a resistência do citrumelo à morte súbita do citrus, doença esta última que causa grandes perdas nas lavouras citrícolas. Tem-se usado o citrumelo nos programas de melhoramento para tolerância a gomose e seu uso apesar de relativamente novo é de caráter promissor devido a características que este porta-enxerto consegue passar para os frutos dando uma melhor qualidade destes quando comparado com plantas enxertadas sobre outros porta-enxertos. Poucos são os estudos com esta espécie, a fim de elucidar suas principais potencialidades e características. A presente revisão tem por objetivo abordar os principais pontos no uso de C. swingle e suas caraterísticas como porta enxerto para a citricultura. Palavras-chave: Enxertia, C. swingle, resistência. INTRODUÇÃO As plantas cítricas são pertencentes à família Rutáceae, sendo os principais gêneros: Citrus, Poncirus e Fortunella. A citricultura tem grande importância no âmbito nacional, devido ao fato do Brasil ser o maior produtor mundial de citros e o maior exportador de suco de laranja concentrado e congelado (SLCC) (Lopes et al., 2011).
Na citricultura usa-se a produção de mudas frutíferas, através do processo de reprodução assexuada, pela técnica de enxertia. Esta técnica se caracteriza pela união de duas plantas diferentes, sendo que a partir desta união, as plantas continuam seu crescimento como um único ser. O enxerto também pode ser denominado como cavaleiro, e este é responsável pela formação da parte aérea, já o porta-enxerto também chamado de cavalo é responsável pela formação da parte radicular, empregando-se espécies que possuam desenvolvimento radicular mais acentuado, provocando melhor ocupação do solo (Ribeiro et al., 2005). Um dos principais aspectos que alavancou o uso do Citrumelo swingle como porta-enxerto foi à susceptibilidade que o limão cravo possui a morte súbita do citros, doença esta que ataca o porta-enxerto, o C. swingle possui resistência a tal doença, e seu uso veio inicialmente como estratégia para substituir o limão cravo; devido à citricultura estar principalmente sobre o portaenxerto limão cravo a substituição deste porta-enxerto pelo uso do citrumelo ganhou destaque e seu uso tem sido alvo de pesquisas (Ramos et al., 2006). A presente revisão bibliográfica tem por finalidade abordar os principais pontos no uso de C. swingle, destacando suas características como porta-enxerto e potencialidades no seu uso, visto que este é um material que agrega alto potencial na citricultura. REFERENCIAL TEÓRICO Panorama da Citricultura e a enxertia A citricultura brasileira destaca-se tanto pela sua produção em relação ao nível mundial, como pela promoção do crescimento socioeconômico de determinadas regiões, contribuindo para a geração direta e indireta de empregos na área rural e também industrial. A citricultura ocasiona um fator positivo na balança comercial nacional, pois o seu principal produto (suco de laranja concentrado e congelado (SLCC)) é exportado (Lopes, 2011). A citricultura é atacada por vários fitopatógenos que provocam perdas consideráveis nas lavouras. Como estratégia para diminuir as perdas de lavouras citrícolas tem se o uso da técnica de enxertia, que é um método de controle de doenças, que pode ser empregado para alguns fitopatógenos; este controle se dá através do princípio da resistência das plantas aos fitopatógenos, sendo que na maioria dos casos a resistência é conferida pelo porta-enxerto (Rodrigues et al., 2010). A enxertia consiste na combinação de duas plantas, através de um processo de compatibilidade das suas células, de modo que a partir dessa união haja um desenvolvimento de uma nova planta, proveniente de partes de duas outras, sendo respectivamente uma responsável pela formação da parte aérea (cavaleiro ou enxerto), e uma responsável pela formação da parte radicular (cavalo ou porta-enxerto). O porta-enxerto é capaz de conferir algumas características no enxerto
como: precocidade na produção, redução do porte da planta, maior absorção de água e nutrientes dentre outros. A técnica de enxertia alia a resistência a doenças e pragas de solo pelo emprego de porta-enxerto, com características desejáveis do fruto conferidas pelo enxerto (Ribeiro et al., 2005). Um dos problemas enfrentados atualmente na citricultura é o fato da utilização em larga escala de somente um único porta-enxerto, o limão cravo. Apesar do seu alto valor para a citricultura, o uso contínuo deste como porta-enxerto é um risco, devido à vulnerabilidade genética, que pode dizimar as plantações devido a fatores como surgimento de novas doenças, ataque de pragas, e mudanças climáticas, (Liberato et al., 2013). Neste contexto novas espécies como é o caso do C. swingle ganha destaque devido ao seu alto potencial apresentado como porta-enxerto. Caracterização do Citrumelo swingle O Citrumelo swingle é um híbrido obtido na Flórida no ano de 1907 pelo pesquisador W. T. Swingle, que obteve este hibrido polinizando flores de pomelo Duncan (Citrus paradisi), com flores de Trifoliata (Poncirus trifoliata). Atualmente este é responsável por ocupar a segunda posição no uso como porta-enxerto de citros, ficando atrás somente do limão cravo (Dantas, 2009). O C. swingle (Figura 1) quando foi introduzido não apresentou qualquer qualidade do fruto que propiciasse valor para o consumo humano, principalmente por possuir casca espessa, pouca polpa e seu sabor não ser agradável; a partir da década de 40 o seu uso como porta-enxerto começou a ser pesquisado; notou-se que no início dos estudos que o C. swingle apresentava certa incompatibilidade com alguns enxertos, mas quando esta incompatibilidade não existia os frutos eram de ótima qualidade, melhor do que frutos sobre porta-enxertos usados habitualmente, Dantas (2009) relata que cultivares enxertadas em citrumelo apresentou qualidade acima daquelas enxertadas sobre limão cravo. Figura1: Caracteristcas do citrumelo, A- plântula; B-Planta adulta com frutos. Uma doença que ataca seriamente a citricultura é a morte súbita dos citros (MSC), uma doença virótica, sendo o limão cravo altamente susceptível a esta doença, ao contrário do C. swingle
que se tem mostrado tolerante à morte súbita dos citros (Barbasso et al., 2005). O C. swingle apresenta outras tolerâncias que desperta muito o interesse no seu uso como porta-enxerto como: tolerância à gomose (Phytophthora sp.), ao nematóide dos citros (Tylenchulus semipenetrans), ao declínio, ao exocorte, a xiloporose e a baixas temperaturas (Liberato et al., 2013). O C. swingle é um potencial material que pode ser empregado em vários programas de melhoramento, visando à resistência à gomose causada por Phytophthora spp.. Estudos realizados por Campos et al. (2008), mostraram o seu potencial em cruzamentos com limão cravo, obtendo híbridos com moderada resistência. Estudo realizado por Calzavara et al. (2007), comparando diferentes porta-enxertos mostrou que o C. swingle apresenta resistência ao ataque do nematoide Pratylenchus jaehni, patógeno este responsável por causar lesões radiculares nos citros. Estudos com transformação genética em citrumelo têm sido realizados para obter uma resistência horizontal amplificada, fato este que garantia resistência a um número maior de patógenos (Vieira et al., 2005). No que refere à viabilidade das sementes de citrumelo, Morais (2015) mostrou que ocorre uma perda rápida da viabilidade com o passar do tempo de armazenamento, devendo a semente ser colhida e semeada logo em seguida. Um dos fatos que não difundiu ainda o uso do citrumelo como porta-enxerto é a incompatibilidade que este possui com algumas espécies cultivadas comercialmente de citros. Estudos têm sido feitos a fim de tentar popularizar a compatibilidade citrumelo, como o trabalho feito por Barbasso et al. (2005) que avaliou a compatibilidade do C. swingle com as seguintes tangerinas: Thomas, Szuwinkon, Szuwinkon x Szinkon-Tizon e Sul da África, em tal estudo não houve problema de incompatibilidade do porta-enxerto (citrumelo) e o enxerto utilizado. Como exemplo do sucesso do C. swingle como porta enxerto tem-se que na Flórida, 50% das plantas cítricas cultivadas estão sobre o porta-enxerto citrumelo, destacando a rentabilidade dos pomares comerciais (Castle e Stover, 2001); CONCLUSÕES Apesar do alto potencial do uso do C. swingle como porta-enxerto, pouco ainda é a proporção do seu uso na citricultura, principalmente a não popularização das suas vantagens, que incluem determinadas resistências e tolerâncias a fatores bióticos e abióticos. O grandes entraves na utilização do C. swingle é a incompatibilidade com algumas espécies, porém quando esta não existe, os frutos provenientes de tal combinação são de ótima qualidade. AGRADECIMENTOS A Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa.
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