CONTROLO DE PRAGAS 1

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Transcrição:

CONTROLO DE PRAGAS 1

PRAGA É a abundância de indivíduos de uma espécie indesejável para o ser humano. As pragas disseminam doenças, competem pelo alimento, invadem campos de cultura e jardins ou são, simplesmente, incómodas. Estima-se que cerca de 35% da produção primária mundial de alimentos é destruída por pragas. 2

Em ecossistemas naturais e agrossistemas de policultura, as populações das espécies consideradas como pragas encontram-se em equilíbrio dinâmico com as populações de predadores e de espécies patogénicas e os danos que causam a esses sistemas não são muito graves. 3

Em agrossistemas de monocultura, a falta de biodiversidade limita as interacções entre diferentes populações e as pragas tornam-se um problema grave que é tradicionalmente combatido pela aplicação de agentes biocidas. 4

Biocidas ou Pesticidas Um agente biocida, ou pesticida, é um produto químico utilizado no controlo de pragas. Principais agentes biocidas: Herbicidas matam plantas infestantes; Insecticidas matam insectos; Fungicidas matam fungos; Rodenticidas matam roedores;

Aplicação dos biocidas

Breve história dos pesticidas A história dos pesticidas começa bem para trás... na antiguidade! Mesmo nos anos antes de Cristo os povos da China, da Grécia e da Suméria já se tinham apercebido do efeito de alguns sais inorgânicos no combate aos insectos nas suas colheitas. Mais tarde aperceberam-se também que certas plantas funcionavam perfeitamente como um veneno potente para a maioria dos vertebrados e invertebrados, embora não tivessem a menor ideia de quais as substâncias activas que elas continham. 7

Uma dessas substâncias era... a nicotina! Coincidência de nomes? Não, esta é a mesma nicotina que é extraída da planta Nicotina tabacum e usada como a substância activa do tabaco O uso "oficial" de pesticidas começou no final do século XIX, com a comercialização de alguns sais inorgânicos no combate às espécies de escaravelhos que nessa altura afectavam as plantações de batatas. No entanto a maioria destes sais eram tão tóxicos para as pestes como para o Homem. E por isso acabaram por ser abandonados uns anos depois, sendo substituídos por compostos orgânicos. 8

O DDT - um perigo "latente" Como seguimento aos sais inorgânicos, que se mostravam eficientes mas demasiado tóxicos, surge em 1941 o DDT. Este insecticida organoclorado (orgânico que contém cloro), também conhecido como Diclorodifeniltricloroetano, pode ser considerado o pesticida de maior importância histórica, devido ao seu impacto no ambiente, agricultura e saúde humana. 9

O DDT - um perigo "latente" Este composto, surpreendentemente, demonstrava ser eficaz contra uma vasta gama de insectos, o que levou a uma rápida comercialização e a um uso vastíssimo, abrangendo na década de 60 a aplicação para 334 variedades diferentes de produtos agrícolas, só nos Estados Unidos. 10

ESPECTRO DE ACÇÃO DE UM PESTICIDA Está relacionado com a quantidade de espécies para as quais é tóxico. Um pesticida com um largo espectro de acção é tóxico para muitas espécies e um pesticida com um espectro de acção estreito é tóxico para um pequeno número de espécies. 11

PERSISTÊNCIA DE UM PESTICIDA É dada pelo intervalo de tempo que permanece activo. Pesticidas com grande persistência podem permanecer activos durante alguns anos e pesticidas com baixa persistência são activos durante algumas horas. 12

A utilização dos pesticidas permite aumentar a produtividade agrícola e combater a expansão a certas doenças mas apresenta desvantagens Leva ao desenvolvimento de variedades resistentes por um mecanismo de selecção natural dirigida. 13

Eliminação dos não-resistentes Sobrevivência dos resistentes Aplicação do pesticida Proliferação dos resistentes

Afecta outros organismos, incluindo por vezes, os predadores naturais das pragas, introduzindo desequilíbrios nos ecossistemas, que se podem traduzir por um agravamento das pragas 15

BIOACUMULAÇÃO Consiste na absorção e no armazenamento das moléculas do pesticida, em tecidos ou orgãos específicos, numa concentração mais elevada do que aquela que seria de esperar. 16

BIOAMPLIAÇÃO Consiste no aumento da concentração do pesticida, de nível trófico para nível trófico, ao longo das cadeias alimentares ameaça à saúde humana de forma directa, por envenenamento, e de forma indirecta, ao longo das cadeias alimentares. Nº com circulo [DDT] no respectivo compartimento (água, peixes e ave) Nº associado a uma seta [DDT] que se transfere de um compartimento para outro. 17

Desvantagens dos pesticidas As desvantagens associadas à utilização de pesticidas levaram ao desenvolvimento de métodos alternativos de controlo de pragas.

Métodos alternativos controlo de pragas Práticas de cultura alternativas Rotação de culturas Recurso à policultura Plantação de sebes Plantio de culturas marginais 19

Engenharia Genética para aumentar a resistência das plantas às pragas A tecnologia do DNA recombinante pode ser usada para a introdução nas plantas de genes que codificam produção de biopesticidas. As toxinas Bt, quitinases e lisozima são algumas dessas substâncias. A transformação genética permite aumentar a especificidade, eficiência e estabilidade dos biopesticidas e já foi testada em várias espécies de plantas, como o tomateiro, o milho e o algodão.

Engenharia Genética para aumentar a resistência das plantas às pragas Resistência a insetos Milho Bt, que possui uma toxina que elimina pragas de insetos graças a um gene da bactéria Bacillus thuringiensis inserido no seu genoma Resistência a fungos e bactérias Plantas transformadas com genes de proteínas PR (pathogenesis related). Estas proteínas incluem a quitinase (enzima que degrada a quitina, principal componente das paredes das células dos fungos). No caso das bactérias as plantas são transformadas com o gene da lisozima do fago T4, esta enzima hidroliza a parede das bactérias. 21

Engenharia Genética para aumentar a resistência das plantas às pragas Resistência a vírus Plantas portadoras do gene que codifica a expressão de uma proteína da cápsula viral que atua como antigénio, permitindo à planta tornarse imune à infeção do vírus do mosaico do tabaco Resistência a Herbicidas Criação de plantas resistentes a herbicidas permite a utilização destes sem que as plantas sejam afetadas

Controlo biológico de pragas Regulação das populações de pragas pelos seus inimigos naturais, como predadores, parasitas e agentes patogénicos. É um método de regulação selectivos e não tóxico. Desvantagens: Dificuldades na selecção do melhor inimigo natural e na sua produção em grande escala; Maior lentidão da acção dos inimigos naturais em relação aos pesticidas; Risco do crescimento das populações de inimigos naturais constituindo uma nova praga.

Controlo biológico de pragas A vespa parasitóide conhecida como Trichogramma spp. é um insecto, que se caracteriza pelo tamanho diminuto e por parasitar ovos de inúmeras espécies de praga da ordem Lepidoptera. A fêmea adulta da vespa coloca os seus ovos no interior dos ovos da praga onde ocorre todo o desenvolvimento do parasita. 24

Esterilização dos insectos Machos de insectos criados em laboratório e tornados estéreis são libertados numa zona infestada pela sua espécie. O seu acasalamento com as fêmeas não produz descendência e a população da praga diminui. Desvantagens: aplicação reduzida de algumas espécies; método dispendioso; aplicação contínua, exigindo grandes quantidades de machos estéreis.

Esterilização de insectos Numa fábrica da Madeira produzem-se semanalmente cerca de 50 milhões de moscas do Mediterrâneo. Esta espécie, Ceratitis capitata, existe nos cinco continentes e é a maior praga mundial da fruticultura. Uma avioneta liberta, duas vezes por semana, machos estéreis. Estes irão competir com os animais selvagens pelo acasalamento com as fêmeas e, caso "ganhem" não surgem as larvas que se iriam alimentar dos frutos e causar elevados prejuízos. As moscas ajudarão a proteger as plantações de fruta, agindo como um insecticida natural e substituindo os pesticidas, que são lançados para o ambiente em grande quantidade, contaminando animais e pessoas. 26

Uso de feromonas As feromonas são substâncias produzidas pelos animais e que lhes permitem estabelecer comunicação. Nos insectos, são libertadas na altura do acasalamento para atrair o parceiro.

Uso de feromonas As feromonas podem ser colocadas em armadilhas, atraindo os insectos e desviando-os das culturas. Podem, também, ser utilizadas para atrair os predadores ou parasitas naturais. Tem uma acção específica, mas a identificação, o isolamento e a produção de uma feromona é um processo demorado e dispendioso.

Hormonas juvenis e de muda Estas hormonas controlam o desenvolvimento e a reprodução dos insectos em diferentes momentos do seu ciclo de vida. A aplicação de hormonas sintéticas ou outras substâncias que interfiram com as hormonas naturais pode impedir que se complete o ciclo de vida do insecto.

Luta integrada Não tem como objectivo a erradicação das pragas, mas a sua redução e manutenção gestão controlada em níveis economicamente aceitáveis. Os programas de controlo integrado de pragas baseiam-se no conhecimento e na avaliação do sistema ecológico formado pela cultura, pragas que a atacam, inimigos naturais, condições ambientais e outras. Associam diferentes métodos com o objectivo de conjugar a produtividade das culturas com a redução dos riscos ambientais. A aplicação destes programas é complexa e demorada.