Local nº 3 Rua Cidade Dévnia Coordenadas GPS: 38.894, -9.039 38º53 36.35 N, 9º02 18,01 O Aspetos históricos Rua Cidade Dévnia deve o seu nome a cidade Búlgara, germinada com Alverca do Ribatejo. O seu nome deriva, dizem habitantes mais antigos, das parecenças de Alverca com uma cidade localizada no nordeste de Bulgária: Devnya. Nesta zona existia uma quinta chamada Quinta de Vale de Ranes Aspetos Geológicos As fachadas e as ombreiras dos prédios a Este são quase todas forradas por mármore rosado e mármore creme, salvo raras exceções, em que se podem encontrar calcários com fósseis de rudistas. Os mármores resultam da recristalização de calcários ou de dolomias, devida a acções metamórficas. São pois constituídos essencialmente por calcite ou por dolomite. São visivelmente cristalinos e mais ou menos brilhantes. Podem ser formados por grãos que se não distinguem macroscopicamente, ou serem fanerocristalinos, de grão fino, médio ou grosseiro. A fratura destas rochas tem, em certos casos, aspecto semelhante ao de cubos de açúcar.
A cor normal dos mármores é a branca mas muitas vezes são corados (principalmente por óxidos de ferro ou matérias carbonosas) uniformemente ou em desenhos variados. Fig. 1 Nº11 com mármore branco venado Fig. 2 Mármore rosa venado e mármore castanho venado Fig. 3 Mármore branco venado Fig. 4 Mármore cinzento. Como já foi referido é possível observar nas paredes que recobrem os edifícios desta rua (nas duas margens) um calcário esbranquiçado e rosa com rudistas. O calcário mais esbranquiçado indica um ambiente aquático, oxidante, de pequena profundidade e de forte energia hidrodinâmica pelo contrário o calcário rosa indica um ambiente aquático, oxidante, refletindo a presença de óxidos de ferro daí a sua cor rosa. Nos calcários que encontramos podemos observar bons exemplos de mineralizações de rudistas caprinídeos e radiolários.
Os rudistas (Ordem Rudista) são um grupo extinto de bivalves - com um aspeto muito diferente do dos bivalves que conhecemos da atualidade - que existiu desde o Jurássico superior até ao final do Cretácico da Era Mesozóica (durante cerca de 90 milhões de anos). Habitavam em ambientes marinhos pouco profundos, com águas quentes, tropicais, normalmente semienterrados no fundo lodoso formado por vasas carbonatadas. Os rudistas formavam, frequentemente, grandes aglomerados que ocupavam áreas extensas dos fundos marinhos pouco profundos de então. Os rudistas caprinídeos tinham conchas formadas por duas valvas distintas uma da outra: uma delas, a que se enterrava no substrato era cónica e a outra valva livre era enrolada em forma de corno de cabra. As paredes das valvas possuíam canal o que, em corte, dá à parede da concha um aspeto alveolar, por vezes visível nos fósseis. Fig. 5 Fachada do nº16 contendo calcário de liós com fósseis de rudistas caprinídeos
No calcário que revestem parte das paredes e entradas dos edifícios desta rua é também possível encontrar somatofósseis de conchas de rudistas radiolitídeos em vários cortes. Os fósseis destes bivalves, geralmente de grandes tamanhos (15 a 25 cm), são bastantes evidentes devido ao aspeto espesso e maciço da parede das suas conchas e também à cor esbranquiçada que se destaca no calcário de cor rosa a avermelhada. A rocha ornamental a que estes fósseis estão associados é um calcário fossilífero de idade cretácica mais comummente designado por liós. Esta rocha muito utilizada é proveniente de pedreiras localizadas na Terrugem e em Pero Pinheiro (Sintra). Os rudistas radiolitídeos possuíam uma valva inferior fixa e cónica, mais ou menos alongada e uma valva superior livre aplanada em forma de tampa visíveis em variados locais de Alverca. Fig.6 Nº 10 com calcário rosado com rudista radiolitídeos
A calçada é toda constituída por calcário de liós onde se podem encontrar fósseis de turritelas que são Moluscos da classe dos gastrópodes que se distribuiu pelos mares Mediterrâneo e do Norte, pelo oceano Atlântico e pelo canal da Mancha, do Cretácico (145 65 M.a.) à atualidade. Estes gastrópodes, bentónicos, pouco profundos (infralitoral), de substrato móvel, possuem concha enrolada com forma de cone alongado que podem ter um tamanho até 15 cm, turriculada. Estes organismos filtradores viviam em ambientes marinhos com salinidade normal e temperatura variável. Fig. 7 Fóssil de Turritela Fig. 8 Calçada em calcário de liós, contendo fósseis de turritelas em corte transversal (perto do Nº15). Preservação dos edifícios Como é possível observar nas imagens que se seguem, em algumas fachadas presentes na rua da Cidade de Dévnia, vemos que muitas destas fachadas estão remodeladas, ou seja, os moradores decidiram aplicar massa em cima dos fósseis ali presentes pensando que estas não passavam de pequenas fissuras na pedra e outros moradores procederam a pintura das fachadas incluindo a pedra ou aplicaram uma espécie de parede falsa. Devido a estas modificações muitos destes fósseis preservados nas rochas desapareceram.
Fig. 9 Nº4 pintado tapando rochas calcárias que contêm fósseis Fig. 10 Nº6 com fósseis tapados por massa de obras Fig. 11 Nº8 parede falsa a tapar rocha calcária Bibliografia http://www.cienciaviva.pt/veraocv/geologia/geo2001/paleomemorial.pdf http://paleoviva.fc.ul.pt Amparo Dias da Silva, e outros, Terra, Universo de Vida Biologia e Geologia 10.º ou 11.º (Ano 1),Porto Editora, 2007, 192 páginas, ISBN: 978-972-0-42170-8