ANÁLISE DE RUÍDO NA ATIVIDADE DE OPERADORES DE BATE-ESTACAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Rafaela Colamarco Ferreira 1 ; Luciano José Minette 2 ; Valéria Antônia Justino Rodrigues 3 ; Guilherme Luciano Sensato 4 ; Valdemar de Oliveira Porto Neto; 5 Amaury Paulo de Souza 6 1 Universidade Federal de Viçosa (rcolamarco@yahoo.com.br); 2 Universidade Federal de Viçosa (minetti@ufv.br); 3 Universidade Federal de Viçosa (valeriaufv2001@yahoo.com.br); 4 Universidade Federal de Viçosa (gsensato@yahoo.com.br); 5 Universidade Federal de Viçosa (valdemar.neto@ymail.com); 6 Universidade Federal de Viçosa (amaury@ufv.br) Resumo: O setor da construção civil expõe os trabalhadores a diversas situações de risco e dentre estas, observam-se os altos níveis de pressão sonora. O estudo teve a finalidade de analisar quantitativamente os ruídos de impacto e contínuo, provenientes dos golpes do martelo e do motor do bateestacas, respectivamente. Avaliou-se a exposição do operador durante a atividade, considerando uma jornada de trabalho de 8 (oito) horas. As medições e comparações basearam-se na norma NR-15 do Ministério do Trabalho. Verificou-se que os valores encontrados para ruído de impacto e para ruído contínuo não ultrapassaram os limites de tolerância recomendados pela legislação vigente. Este fato está relacionado a utilização de peças como os cepos e as tortas, e também com a lubrificação contínua das engrenagens do motor que atenuaram os níveis de ruído de impacto e contínuo. Palavras-chave: ruído contínuo; ruído de impacto; operador de bate-estacas ; construção civil. 1. Introdução A indústria da construção civil é um dos ramos de atividade que apresenta o maior índice de acidentes e doenças do trabalho, uma vez que em virtude de suas características dinâmicas, esses riscos são múltiplos e variáveis em cada fase do processo. A construção civil é considerada um dos setores mais perigosos, apresen-tando elevadas taxas de acidentes de trabalho. A Norma Regulamentadora nº 18 estabelece os procedimentos e os requisitos legais de segurança, visando à prevenção dos acidentes e as doenças ocupacionais inerentes da atividade no setor de construção civil. 1
A atividade é desenvolvida sob a influência de agentes agressivos à saúde do trabalhador. As taxas de acidentes estão relacionadas principalmente às más condições de segurança dos canteiros de obra, a falta ou uso inadequado de equipamentos de proteção individual (EPI), a falta de treinamento, a rotatividade e a pouca instrução dos trabalhadores e também pelo próprio ritmo desgastante do trabalho (RODRIGUES et al., 2009). Um dos principais agentes físicos agressivos à saúde do trabalhador na construção civil é o ruído, que é observado em várias etapas dessa atividade, principalmente à primeira, denominada fundação. Dentre as opções de fundação profunda utiliza-se no processo, o bate-estacas, que é um sistema (máquina/equipamento) manual, rudimentar e semimecanizado, destinado a cravação das estacas. Nesta fase, para cravação das estacas, ocorre acionamento do motor juntamente com a força física exercida pelo operador, movimentando o martelo sobre a parte superior da estaca com o objetivo de cravála ao solo. O ruído do bate-estacas geralmente depende das condições da máquina, manutenção, local de instalação, do volume de serviço, do material que está cravando, do tipo de solo, da altura de queda do martelo e do peso do martelo (RODRIGUES et al., 2009). Segundo Iida (2005), fisicamente, ruído é uma mistura de vibrações, medidas em uma escala logarítmica, em uma unidade chamada decibel (db), que acima do limiar da percepção dolorosa pode produzir danos ao aparelho auditivo. O objetivo deste estudo foi a análise da exposição do operador de bateestacas ao ruído durante a atividade. 2. Material e Métodos 2.1. Local de estudo O estudo foi realizado em um canteiro de obras durante a implantação da primeira etapa de execução civil em uma instituição federal de ensino situada na Zona da Mata mineira. 2
2.2. Descrição da máquina O bate-estacas é composto basicamente por um martelo de queda (para aplicação dos golpes), dispositivos de içar (para levantamento do martelo de queda entre os sucessivos golpes), capacete (para proteção das estacas), guincho de cravação, guincho de movimentação e carregamento, motor e torre. Na Figura 1, são mostrados os principais componentes listados anteriormente de um bate-estacas. Figura 1 Componentes de um bate-estacas (Fonte: adaptado de Felten, 2011). 2.3. Descrição da atividade A atividade realizada pelo operador de bate-estacas consiste primeiramente no deslocamento e içamento das estacas, até o local de cravação das mesmas. Antes de iniciar os golpes do martelo sobre as estacas coloca-se o cepo (peça que vai dentro do capacete para aliviar o impacto do martelo na estaca), depois coloca-se o capacete (peça posicionada na ponta superior da estaca) e entre o capacete e a estaca, são colocadas as tortas 3
(placas de madeirite), posicionadas na cabeça da estaca para evitar danos oriundos do impacto do martelo sobre a mesma. O cepo, geralmente é encaixado manualmente pelo ajudante do operador de bate-estacas. A próxima etapa ocorre com a penetração da estaca no solo, através de sucessivos golpes sobre a mesma até o momento em que se atinge a nega, finalizando assim o ciclo e passando para a cravação da próxima estaca. O limite de penetração da estaca no solo ( nega ) e a quantidade de estacas a serem cravadas são fornecidos pelo engenheiro calculista através de análises de sondagem do solo e cálculos de projeto. 2.4 Metodologia As medições de nível de pressão sonora foram realizadas através de dois equipamentos: dosímetro para ruído contínuo e decibelímetro para ruído de impacto. O medidor de ruído foi colocado na vestimenta do operador, com o microfone próximo ao ouvido do operador. Utilizou-se o dosímetro da marca WED 007, modelo 01 db e um decibelímetro, da marca Icel, modelo DL 4200, posicionados próximo ao operador, ambos devidamente calibrados, conforme recomendação descrita na Norma Regulamentadora nº 15 (NR-15). O ruído contínuo foi obtido no circuito de compensação A e resposta lenta (SLOW) e o ruído de impacto no circuito de compensação C e resposta rápida (FAST). A aquisição dos dados para análise dos ruídos foi obtida através do download em um computador, utilizando software adequado. A análise dos dados foi feita considerando uma jornada de trabalho de 8 (oito) horas, em que o trabalhador ficava exposto aos ruídos decorrentes da operação. Para a análise dos dados utilizou-se como referência os limites estabelecidos na NR-15. Esta norma descreve para o ruído de impacto, medido no modo de resposta rápida (FAST), o limite de tolerância de 120 db (C) não podendo ser superior a 130 db (C), oferecendo assim risco grave e eminente. 4
Para o ruído contínuo, o anexo 1 da NR-15 estabelece a exposição máxima diária permitida em função do nível de ruído db (A). 3. Resultados e Discussão A operação de cravação com o bate-estacas expõe os trabalhadores a dois tipos de ruídos: o ruído proveniente do motor e o ruído dos golpes do martelo sobre a estaca. O ruído oriundo dos golpes do martelo possui intervalos que variam em função da altura entre a estaca e o martelo. No início da cravação os intervalos foram menores que 1 segundo, o que caracterizou como ruído contínuo e a medida que a estaca estava sendo cravada o intervalo se tornou superior a 1 segundo, caracterizando ruído de impacto. Isto ocorre porque o intervalo entre uma batida e outra aumentou à medida que a altura entre o martelo e a estaca se tornava maior. É importante salientar que na maior parte do tempo em que foram realizadas as coletas de dados, o ruído predominante foi de impacto. Visto que os intervalos de tempo variaram entre 2 (dois) e 5 (cinco) segundos logo após as primeiras batidas do martelo na estaca. Na Figura 2, é mostrada a curva referente aos valores dos ruídos de impacto, durante o período de aproximadamente 4 (quatro) horas da jornada de trabalho. Figura 2 Resultados de níveis de pressão sonora do ruído de impacto, durante o período de 4 horas da jornada de trabalho. 5
Durante a realização da atividade, foram verificados valores de picos, com valor máximo de 97,5 db (C). Este resultado encontra-se abaixo do limite máximo de tolerância estabelecido pela NR-15. É importante salientar que a estaca utilizada durante a operação era de concreto, no caso da utilização de outros tipos de materiais os ruídos de impacto podem variar, se tornando maiores ou menores que o limite de tolerância estabelecido em norma. Além disto, a utilização de peças como o cepo e as tortas, podem ter auxiliado na redução do ruído de impacto. Na Figura 3, é mostrada a curva com os resultados dos valores de ruído contínuo, durante um período de 4 horas da jornada de trabalho. Figura 3 Resultados de níveis de pressão sonora do ruído contínuo. O ruído proveniente do funcionamento do motor do bate-estacas, apresentado na Figura 3, foi analisado de acordo com as faixas, onde ocorreu apenas o ruído contínuo. Os valores de ruído contínuo compreendidos nas faixas analisadas, encontraram-se entre 60 db (A) e 70 db (A), estando abaixo do limite máximo de exposição para uma jornada de trabalho de 8 (oito) horas. As doses obtidas em cada faixa foram inferiores a 50 %, entretanto o operador utilizava protetor auricular do tipo concha durante a jornada de trabalho. Segundo Saliba (2010), os intervalos entre os picos caracterizados como ruído de impacto, deverão ser avaliados como ruído contínuo. No entanto, a análise dos dados de ruído foi feita somente para o ruído contínuo proveniente do motor. 6
Na Tabela 1, a seguir são apresentados os níveis de pressão sonora máximo para o ruído de impacto e nível equivalente de pressão sonora para as faixas onde foi avaliado o ruído contínuo. Tabela 1 Resultados de nível de pressão sonora máxima e nível equivalente de pressão sonora Tipo de Ruído NPS LT (NR-15) Situação da Exposição Impacto 97,5 db(c) máximo 120 db(c) Conforme Contínuo (faixa 1) 63,7 (LAseq) 85 db(a) Conforme Contínuo (faixa 2) 63,1 (LAseq) 85 db(a) Conforme Contínuo (faixa 3) 64,3 (LAseq) 85 db(a) Conforme NPS = nível de pressão sonora; e LT = limite de tolerância. Os valores de ruído, tanto contínuo como o de impacto se encontram dentro dos limites de tolerância recomendados pela legislação vigente. Embora, estudos realizados por (RODRIGUES et al., 2009) citam valores acima de 100 decibéis durante a cravação da estaca, e acima de 95 decibéis para etapa de movimentação da estaca. 4. Conclusões O conjunto máquina/equipamento possui dois tipos de ruído, ruído contínuo do motor e a alternância do ruído contínuo e de impacto do bate estacas. O ruído proveniente do bate-estacas avaliado como ruído contínuo diferenciou-se em função da altura em que o martelo se encontrava da estaca. Os níveis de ruído (contínuo e impacto) estavam abaixo dos limites estabelecidos em Norma. A utilização de peças ( cepos e tortas ), entre a estaca e o capacete e a lubrificação constante das engrenagens do motor atenuaram o nível do ruído de impacto e nível de ruído contínuo respectivamente. 7
5. Referências Bibliográficas BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO. PORTARIA n o 3.214, de 8 de junho de 1978: Normas Regulamentadoras relativas à segurança do trabalho. NR 15 Atividades e operações insalubres. In: Manual de Legislação Atlas de Segurança e Medicina do Trabalho, 65ª edição, São Paulo, Atlas, 2010. 747 p. BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO. PORTARIA n o 3.214, de 8 de junho de 1978: Normas Regulamentadoras relativas à segurança do trabalho. NR 18 Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. In: Manual de Legislação Atlas de Segurança e Medicina do Trabalho, 65ª edição, São Paulo, Atlas, 2010. 747 p. IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. Ed. ver. e ampl., São Paulo: Edgard Blücher, 2005. RODRIGUES, P.; CATAI, R.; AGNOLETO, R.; FERREIRA, M.; GUDEIKI, I.; MATOSKI, A. Análise dos níveis de ruído em equipamentos da construção civil na cidade de Curitiba. Curitiba, 2009. SALIBA, T. M. Curso básico de segurança e higiene ocupacional. 3. ed., São Paulo: LTR, 2010. 8