Domingo de Páscoa Homilia meditada para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb IV Domingo de Páscoa Jo 10,11-18 Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas. 1. Introdução Domingo do Bom Belo Pastor, dia de eloquente mensagem de amor, de ternura, de proximidade. É também o Dia Mundial de Orações pelas Vocações, um dom de Deus à Sua Igreja e que constitui uma das suas grandes inquietações. Dia a dia celebramos o tempo da promessa. Sabemos quem nos aponta a direção, o caminho, a meta. É Jesus Cristo, o único Senhor da vida. Oxalá saibamos interpretar a majestosa melodia que escutamos desta fonte. 2. Ambiente da imagem do Pastor No Antigo Testamento, essa imagem aparece atribuída a Abel, Moisés, David... Num país árido, a presença do pastor era vital para as ovelhas sobreviverem. O pastor passava o dia todo com as ovelhas e estabelecia profunda identidade com elas. O próprio Deus se compara a um Pastor. O livro de Ezequiel é eloquente neste tema: Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas (Ez 34,15).
3. Ritmo da parábola Encontramos duas grandes perspetivas no desenvolvimento da parábola. Por um lado o contraste que Jesus faz entre o Bom Pastor e o mercenário na Sua relação com as ovelhas. É quase dramática essa relação. Por outro lado a abundante descrição de proximidade e defesa de Jesus pelas Suas ovelhas: está disposto a dar a vida, conhece as Suas ovelhas e é conhecido por elas. Ele chama-as pelo nome e elas seguem-n O ( Conhecer é mais que um ato intelectual, é comunhão de vida). É fruto do convívio, do diálogo, e gera o amor, a comunhão, uma música envolvente que tudo preenche e extasia. Recordamos o grito dos Apóstolos numa noite de tempestade: «Senhor, não Te importas que pereçamos?» (cf. Mc 4,38), E o Senhor responde aplacando as ondas, gritando ao vento: sim, importo-me, a tua vida importa-me, tu és importante para Mim. O mercenário é retratado nesta bela síntese: diante do perigo abandona as ovelhas e foge. 4. Um hino à vida O clímax da parábola está numa exaltação do valor da vida humana, tão querida e abençoada por Deus. Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não a terias criado. E como subsistiria uma coisa, se Tu a não quisesses? Ou como se conservaria, se não tivesse sido chamada por ti? Mas Tu poupas a todos, porque todos são Teus, ó Senhor, que amas a vida! (Sab 11,24-26). Mas esta vida livre, verdadeira, plena e bela, assente na verdade e na confiança, sem mentiras nem imposições nem malabarismos, deixa ver em expresso contraponto o seu oposto.
É que também saltam da página os ladrões, os salteadores, os mercenários, que, em vez de conjugarem os verbos indicados para traduzir a relação do Bom e Belo Pastor com o Seu rebanho, conjugam antes os verbos «roubar», «matar», «destruir», «abandonar», «fugir» (A. Couto). Jesus é o verdadeiro dador da vida. Quão grande é o Seu amor por nós. 1 Jo 3,1-2 5. Veremos a Deus tal como Ele é É este o ponto de partida de cada chamamento para o discipulado; de facto, toda a vida do Filho não é mais do que um desenvolvimento progressivo em direção a uma maturidade que culmina na visão de Deus «tal como Ele é». (v. 2) Esta realidade pode ser compreendida só por aqueles que conheceram a Deus (cf. v. 1), isto é, por aqueles que renasceram do «Alto», da «água e do Espírito»: cf. Jo 3,3-5. 6. Sentido da esperança A esperança é, portanto, o caráter distintivo do cristão que, embora vivendo na prova e nas contrariedades, sabe que a última palavra compete a Deus, e esta última palavra é Jesus Cristo. A esperança não afunda as suas raízes sobre aquilo que nós somos, mas sobre o que Deus é para nós. Act 4,8-12 7. Em nenhum outro há salvação Nas palavras de Pedro está, por isso, condensada a fé das primeiras comunidades cristãs: Jesus é o único mediador colocado entre o Céu e a terra no qual cada homem pode ser salvo (v. 12).
Ele é aquela «pedra» sobre a qual se apoia o edifício inteiro ou, segundo outra interpretação, do Sl 117,22, essa pedra que está colocada na parte mais alta do edifício, e é visível por todos. Pedro, transformado pela ação do Espírito Santo, já não está titubeante e medroso como naquela última noite diante da criada do Sumo Sacerdote; pelo contrário, diante do Sinédrio é agora testemunha fidedigna de Cristo. 9. «Falamos de Ti como se Tu nos tivesses amado primeiro uma só vez» É, porém, dia após dia, a vida inteira, que Tu nos amas primeiro. Quando acordo pela manhã e elevo para Ti a minha alma, Tu és o primeiro, Tu amas-me primeiro. Se pela madrugada me levanto, e logo para Ti a minha alma e a minha oração elevo, Tu precedes-me, Tu já me amaste primeiro. É sempre assim. E nós, ingratos, falamos como se Tu nos tivesses amado primeiro uma só vez...» (Kierkegaard). 8. Quanto sol galopante neste dia do Bom Belo Pastor Quanta luz nesta Igreja que é do povo santo do Criador, Quantos pastores desejados, amados, no caminho das trevas sem Deus, Quantas perdas de momentos de acolhimento que seriam salvação, Quantos jovens generosos a querer ser pastores e a testemunhar com a linguagem do coração: Sou Terra Nova, Bom Belo Pastor. Meu Senhor, Eis-me aqui. Presente.
Senhor, Tu me chamaste! Eu sou o Bom e Belo Pastor. Carreiros de pastor serra acima, Desejos inocentes de ver Maria; Cordeirinhos ao colo quem diria, Um dia pastor de almas seria. Só Deus a alma enche toda; Dia a dia cresce a vocação Rezada cantada em loas Da mãe, do pai, da avó, do irmão. Pastor de meus passos inseguros, De sonhos tecidos de inquietações; Dúvidas sem ver caminho andado, Raízes frágeis no tempo caminhado. Apoio-me nas muralhas da sede, Bom Pastor, longe longe vamos Abrir de perto longos segredos, Até quando arrimados caminhamos. Glória, louvor ao Bom e Belo Pastor, Meu Rei, meu Senhor, meu Criador; Meu rio cristalino de bondade, Manso, a correr para a eternidade. Ó mares, ó terra, naves do céu em prece, Ó lua branca, estrela matutina, Erguei-vos como ovelha perdida, O Bom Belo Pastor vos dá guarida.
Espírito Criador, ilumina teu povo! Tantos sonhos, tantas dúvidas, anseios Apaga sua sede de puros desejos, Sacia-nos na plena madrugada. Dia Novo. J. Rocha Monteiro in Palavra ardente