ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA FALA ITAJUBENSE: O FENÔMENO DO ROTACISMO SOB UMA PERSPECITVA VARIACIONISTA RESUMO

Documentos relacionados
CRAVÍCULA E CARCANHÁ: a incidência do rotacismo no falar maranhense. Gizelly Fernandes MAIA DOS REIS. Introdução

A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS POPULAR DA COMUNIDADE RURAL DE RIO DAS RÃS - BA

O /S/ EM CODA SILÁBICA NO NORDESTE, A PARTIR DOS INQUÉRITOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL (ALIB).

A DISTRIBUIÇÃO DO PROCESSO DE APAGAMENTO DO RÓTICO NAS QUATRO ÚLTIMAS DÉCADAS: TRÊS CAPITAIS EM CONFRONTO

LHEÍSMO NO PORTUGÛES BRASILEIRO: EXAMINANDO O PORTUGÛES FALADO EM FEIRA DE SANTANA Deyse Edberg 1 ; Norma Lucia Almeida 2

UMA ANÁLISE SOCIOFUNCIONALISTA DA DUPLA NEGAÇÃO NO SERTÃO DA RESSACA

ANÁLISE VARIACIONISTA DO PROCESSO DE MONOTONGAÇÃO NO BREJO DA PARAÍBA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA

ANÁLISE DA ELEVAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS SEM MOTIVAÇÃO APARENTE 1. INTRODUÇÃO

CRIAÇÃO LEXICAL: O USO DE NEOLOGISMOS NO PORTUGUÊS FALADO EM DOURADOS

A REALIZAÇÃO DAS FRICATIVAS ALVEOLARES NAS CAPITAIS DA REGIÃO SUDESTE: UM ESTUDO A PARTIR DOS DADOS DO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (ALiB)

II SiS-Vogais. Priscilla Garcia Universidade Federal da Bahia. Belo Horizonte MG Maio de 2009

REFLEXÕES SOBRE O APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA NA ESCRITA

COMO FALA O NORDESTINO: A VARIAÇÃO FÔNICA NOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL

UMA ABORDAGEM SOCIODIALETOLÓGICA DO FENÔMENO DO ROTACISMO NO MUNICÍPIO DE ITAJUBÁ-MG

IMPLICAÇÕES DA AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS 1

A REALIZAÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL DE REFERÊNCIA ARBITRÁRIA NA COMUNIDADE LINGUÍSTICA DE VITÓRIA DA CONQUISTA *

FALAR POPULAR DE FORTALEZA: UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA

VARIAÇÃO NO USO DAS PREPOSIÇÕES EM E PARA/A COM VERBOS DE MOVIMENTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES

O APAGAMENTO DO RÓTICO EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: INDICADORES LINGUÍSTICOS E SOCIAIS

Estudo variacionista sobre a palatalização de S em coda silábica na fala fluminense

A VARIAÇÃO DO MODO SUBJUNTIVO: UMA RELAÇÃO COM O PROCESSO DE EXPRESSÃO DE MODALIDADES

OS PRONOMES PESSOAIS-SUJEITO NO PORTUGUÊS DO BRASIL: NÓS E A GENTE SEGUNDO OS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL

A harmonização vocálica nas vogais médias pretônicas dos verbos na

Apresentar uma análise inicial da variação na sílaba postônicaem paroxítonas segundo a

DIA OU DJIA: UM CASO DA VARIAÇÃO DE /T/ E /D/ DIANTE DA VOGAL /I/ NOS FALARES PAULISTAS EM CORPUS ORAL DO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL

2. O CENTRO DE DIALECTOLOGIA DO ACRE projetos e banco de dados

O ALÇAMENTO VOCÁLICO NO FALAR BALSENSE

O USO CORRENTE DA VARIEDADE NÃO-PADRÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA: UM ESTUDO DE CASO DA COMUNIDADE DA DERRADEIRA MUNICÍPIO DE VALENÇA

FALAR TERESINENSE: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA

O APAGAMENTO DO /R/ FINAL NA ESCRITA DE ESTUDANTES CATUENSES

GRAMATICALIZAÇÃO DO PRONOME PESSOAL DE TERCEIRA PESSOA NA FUNÇÃO ACUSATIVA

P R O G R A M A III - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

APAGAMENTO DO RÓTICO EM CODA SILÁBICA INTERNA E EXTERNA: A REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO

Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos. Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

Disciplinas Optativas

REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA

PADRÃO FORMÂNTICA DA VOGAL [A] REALIZADA POR CONQUISTENSES: UM ESTUDO COMPARATIVO

PROGRAMA. Romanização da Península Ibérica; A reconquista; Modalidades do latim: clássico e vulgar;

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Variação lingüística. Coda silábica. Variedade popular. Sociolingüística. Linguistic variation. Syllable coda. Substandard variety. Sociolinguistics.

VARIAÇÃO DITONGO/HIATO

COMPORTAMENTO DA FRICATIVA CORONAL EM POSIÇÃO DE CODA: UM ESTUDO VARIACIONISTA DA INTERFACE FALA E LEITURA DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PESSOENSES

Reflexões sobre a Redução eles > es e a Simplificação do Paradigma Flexional do Português Brasileiro

PALAVRAS-CHAVE: Fonologia; variação linguística; sociolinguística; ditongo.

VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1

PROCESSOS FONOLÓGICOS NA PRODUÇÃO ORAL DE INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN: UMA ANÁLISE DESCRITIVA

III FEIRA DE NOÇÕES BÁSICAS DE LINGUÍSTICA 1. Polêmicas linguísticas em pauta: livro do MEC e estrangeirismos

O APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA DO RIO DE JANEIRO: UMA INVESTIGAÇÃO GEO-SOCIOLINGUÍSTICA Danielle Kely Gomes (Universidade Feder

EPÊNTESE VOCÁLICA NA ESCRITA: UMA ABORDAGEM SOCIOLINGUÍSTICA. Palavras-chave: Sociolinguística; Fonologia; Epêntese vocálica; Escrita.

ALÇAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS FINAIS /e/ E /o/ NAS CIDADES DE CURITIBA E LONDRINA

Veredas atemática. Volume 17 nº

A lateral pós-vocálica /l/ em comunidades baianas do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB)

AS VOGAIS PRETÔNICAS [-BX] NO DIALETO CARIOCA: UMA ANÁLISE ACÚSTICA

UM ESTUDO VARIACIONISTA SOBRE O APAGAMENTO DO /R/ NA FALA RIO BRANQUENSE

VOGAIS MÉDIAS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA FALA CULTA CARIOCA

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

VARIAÇÃO NO USO DAS VOGAIS PRETÔNICAS [e] E [o] E DO PLURAL METAFÔNICO NO PORTUGUÊS FALADO EM DOURADOS

PROJETO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL (ALiB): A REALIZAÇÃO DE /T, D/ DIANTE DE [I] EM CARUARU E GARANHUNS PE

ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE ARTIGOS DEFINIDOS DIANTE DE POSSESSIVOS PRÉ-NOMINAIS E ANTROPÔNIMOS EM DADOS DE FALA* 1

Apócope dos fonemas átonos finais /I/ e /U/ na localidade de Beco, Seabra-BA

A VARIAÇÃO/ESTRATIFICAÇÃO DO SUBJUNTIVO EM ORAÇÕES PARENTÉTICAS

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

O LÉXICO RELIGIOSO NO NORDESTE DO BRASIL

INVESTIGAÇÃO ACERCA DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO SILÁBICA CVC NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E NO INGLÊS: UMA ANÁLISE FONÉTICO-ACÚSTICA

Fatos fonéticos em estudantes residentes em áreas rurais da Bahia *

ANÁLISE DA AVALIAÇÃO NEGATIVA DO USO DE GÍRIAS MASCULINAS POR MULHERES HOMOSSEXUAIS

SÍNCOPE E ALÇAMENTO DA VOGAL POSTÔNICA NÃO-FINAL/O/: INDÍCIOS DE MOTIVAÇÃO EXTRALINGUÍSTICA

Análise das vibrantes e líquidas laterais da língua portuguesa na fala de uma informante nativa do japonês

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

A INFLUÊNCIA DE FATORES EXTRALINGUÍSTICOS NA SUPRESSÃO DAS SEMIVOGAIS DOS DITONGOS EI E OU NA ESCRITA INFANTIL 1. INTRODUÇÃO

ANÁLISE VARIACIONISTA DO ROTACISMO

Fonética e Fonologia: modos de operacionalização

VARIAÇÃO ESCRITA: A EPÊNTESE NA ESCRITA INFANTIL André Pedro da Silva (UFRPE)

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

AULA 3: ANÁLISE FONÊMICA EM PORTUGUÊS 1. Introdução Fonêmica

O OBJETO DIRETO ANAFÓRICO E SUAS MÚLTIPLAS REALIZAÇÕES NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

A ESCOLHA DO PRONOME POSSESSIVO DE TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA

Aquisição do Encontro Consonantal: Um Estudo Comparativo Consonant Cluster Acquisition: a Comparative Study

VOGAL [A] PRETÔNICA X TÔNICA: O PAPEL DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL E DA INTENSIDADE 86

Formas variantes LOIRA ~ LOURA ~ LORA no português falado em Belo Horizonte

Plano de ensino: CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Linguagem, Língua, Linguística. Apoio Pedagógico: Estudos Linguísticos I Tutor: Frederico Cavalcante (POSLIN)

A REDUÇÃO DAS PROPAROXÍTONAS A PARTIR DOS DADOS DO PROJETO ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Características da duração do ruído das fricativas de uma amostra do Português Brasileiro

A realização do /R/ pós-vocálico (róticos) no Brasil está condicionada por fatores sociais e associada a contextos linguísticos

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA

Quadro 2: vogais pretônicas orais do português (SILVA, 2008, p. 81)

CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS PORTUGUÊS E ESPANHOL

Aspectos fônicos do Nordeste a partir de dados do ALiB

P R O G R A M A. IV Unidade Prática de textos: Textos de autores portugueses e brasileiros dos séculos XIX e XX

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

Web - Revista SOCIODIALETO

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

A REALIZAÇÃO DAS OCLUSIVAS [T] E [D] NA PRONÚNCIA DA ZONA RURAL DA CIDADE DE CARUARU-PE

Raquel Pereira Maciel PG/UFMS. Justificativa

Transcrição:

(1) ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA FALA ITAJUBENSE: O FENÔMENO DO ROTACISMO SOB UMA PERSPECITVA VARIACIONISTA Cecília de Godoi Fonseca (1) ;Valter Pereira Romano (2) Aluna do 6º Período do curso de Letras do Centro Universitário de Itajubá. cecilia_fonseca20@hotmail.com; (2) Mestre em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina. Professor do curso de Letras do Centro Universitário de Itajubá. valter.romano@hotmail.com RESUMO Este trabalho apresenta aspectos teóricos e metodológicos de um projeto de pesquisa em andamento cujo corpus refere-se a dados orais coletados junto a informantes naturais do município de Itajubá-MG. A pesquisa fundamenta-se nos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1966), objetivando a descrição e a análise do fenômeno fonético-fonológico conhecido como rotacismo, ou seja, troca da consoante lateral alveolar /l/ pela vibrante /r/ em contexto de encontro consonantal, como em planta > pranta e coda silábica: sol > SoR. A partir deste trabalho, espera-se compreender melhor o fenômeno em pauta correlacionando variáveis linguísticas e extralinguísticas que o condicionam. Palavras- chave: Rotacismo. Pesquisa sociolinguística. Itajubá-MG. INTRODUÇÃO A Sociolinguística é uma área que estuda a língua em seu uso real, levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais da produção linguística (CEZARIO, 2013). Essa disciplina pauta-se em dados reais da fala de indivíduos inseridos numa comunidade de fala que partilham, com os membros dessa comunidade, uma série de experiências e atividades. O presente trabalho pauta-se nos aspectos teóricos metodológicos da Sociolinguística variacionista (LABOV, 1966) com vistas a descrever e analisar o rotacismo, ou seja, fenômeno fonológico relacionado com a realização fonética de um som rótico em substituição a um som lateral e vice-versa (SILVA, 2011), que, no português, ocorre quando há substituição da líquida lateral [l] pela vibrante simples ou tepe [r] (SILVA, 2011), ocasionando a neutralização de uma líquida lateral por uma líquida vibrante em sílabas do tipo CCV (consoante, consoante e vogal) como, por exemplo, em problema por probrema ou em contexto de coda silábica em posição final ou medial, como em sal / sar, calça / carça, respectivamente. 1

Estudiosos como Coutinho (1976) comprovam que a origem desse fenômeno tem suas motivações históricas, uma vez que remonta à língua latina, refletindo-se até hoje na fala espontânea de brasileiros. Para Teyssier (1994), ao se retornar à língua-mãe, o latim vulgar, a categoria de palavras pertencentes a uma série menos popular, os grupos iniciais pl-, cl- e fl- deram em português pr-, cr- e fr-; ex.: placere > prazer; clavu > cravo, flaccu > fraco, evolução idêntica à de bl- > br-; ex.: blandu > brando. (TEYSSIER, 1994). Ainda segundo o estudioso, o português moderno possui um grande número de palavras eruditas em que os grupos iniciais pl-- cl- e fl-, assim como bl- foram conservados sem modificação; ex.: pleno, clima, flauta, bloco (TEYSSIER, 1994). Por outro lado, sabe-se que variedades linguísticas em que ocorre o rotacismo costumam ser associadas a comunidades rurais e são estigmatizadas. De acordo com Bagno (2007), este desprestígio que é atribuído ao fenômeno deve-se à crença de que só existe, uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicadas nas gramáticas e catalogadas nos dicionários (BAGNO, 2007), tratando-se, portanto, as formas que não condizem com os instrumentos normativos, de expressões inadequadas e de grande discriminação. Entretanto, as pesquisas acadêmicas têm comprovado a presença inconteste do fenômeno na história da língua portuguesa e explicado fatores condicionantes para a realização do rotacismo. A título de exemplo, encontram-se pesquisas como a de Cox (2001), Lebrão (2004), Costa (2006), Romano; Silva (2010), Tem (2010), Reis (2010), Romano (2012) entre outros, que, de um modo geral, evidenciam a presença do rotacismo em diferentes comunidades de fala. Em decorrência de fatores extralinguísticos como: faixa etária, escolaridade, sexo, e também linguísticos como sonoridade do segmento precedente na coda silábica, item lexical e extensão do vocábulo, observa-se que o fenômeno não ocorre aleatoriamente e pode ser explicado sob uma forma científica. Todavia, uma consulta à literatura da área revela que a língua falada na cidade Itajubá-MG carece de estudos sistemáticos com abordagens sociolinguísticas, sobretudo, no que se refere ao rotacismo. Desse modo, este trabalho poderá revelar quais fatores são condicionantes para realização do rotacismo na fala dos itajubenses de nível de 2

escolaridade superior e fundamental, considerando-se também o sexo dos informantes. MATERIAL E MÉTODOS Para constituição do corpus, foram realizadas entrevistas com informantes naturais do município de Itajubá de dois níveis de escolaridades: Ensino Fundamental e Ensino Superior e de ambos os sexos (masculino e feminino), totalizando 24 informantes, distribuídos, equitativamente, por duas faixas etárias 18 a 30 anos e 50 a 65 anos. O instrumento de coleta de dados versa sobre 50 perguntas cujas respostas podem apresentar o fenômeno em pauta, além de três temas para discursos semidirigidos. Com a finalidade de evitar que informantes mais perspicazes identificassem os vocábulos que potencialmente apresentam o fenômeno, foram intercaladas, entre as 50 questões, outras questões, porém, de caráter lexical. A coleta de dados ocorreu somente na área urbana, principalmente, em bairros mais carentes para confirmar as hipóteses do estudo sobre a influência de variáveis sociais na realização do fenômeno. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dado o fato de a pesquisa estar em andamento, ainda não há resultados de análise do corpus coletado. Todavia, as etapas já realizadas do projeto refere-se à (i) organização dos informantes a partir de grupos de fatores externos (nível socioeconômico, sexo/gênero, faixa etária, escolaridade, localidade); (ii) estudo prévio sobre a comunidade de fala selecionada considerando aspectos históricos, sociais e demográficos; (iii) constituição do instrumento de coleta de dados; (iv) revisão da literatura acerca do estudo do fenômeno. As entrevistas foram realizadas de maio a agosto de 2014 com auxílio de gravador digital, todavia, buscando-se minimizar o paradoxo do observador (LABOV, 1966) a partir da criação de situações naturais de fala. Concomitantemente à coleta de dados, foram realizadas as transcrições grafemáticas e fonéticas dos inquéritos. Os passos seguintes do projeto serão a codificação dos dados para tratamento estatístico no programa GoldVarb 2001 (ROBINSON; LAWRENCE; 3

TAGLIAMONTE, 2001), elaboração de artigos científicos e comunicações em congressos da área e, por fim, redação do relatório final da pesquisa. CONCLUSÕES Com este projeto de Iniciação Científica, pode-se verificar a importância da compreensão da língua sob a perspectiva do uso, uma vez que o seu funcionamento é dinâmico e está atrelado a fatores de ondem linguística e extralinguística. Desse modo, ao final deste projeto, espera-se constatar que variáveis extralinguísticas e linguísticas interfiram na realização do fenômeno, pois pesquisas têm apontado para esta direção, contribuindo, de certa forma, aos estudos sociolinguísticos e dialetológicos do português brasileiro, sobretudo, no que se refere à língua falada no estado de Minas Gerais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editora, 2007. CEZARIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In.: MARTELOTTA, M. E (org.). Manual de linguística. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2013, p. 141-155. COUTINHO, I. de L. Gramática Histórica. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora ao Livro Técnico, 1976. COX, I. M. I. P. Crique aqui: um signo mestiço. Revista Signum: Estudos da linguagem, Londrina, n. 4, 2001, p.81-94. REIS, G. F. M. dos. Cravícula ou Carcanhá: a incidência do rotacismo no falar maranhense. Revista Littera, v. 1, nº 1, jan-jul 2010, p.33-40. COSTA, L. T. Estudo do rotacismo: variação entre as consoantes líquidas, 2006. 167 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. LABOV, W. The Social Stratification of English in New York City. Washington: Center of Ampplied Linguistics, 1966. LEBRÃO, S. M. M. Comunidade de Pouso Alto: um estudo sociolinguístico. Revista Signótica. Goiânia, UFGO, v. 16, n. 2, jul.-dez 2004, 243-256 4

ROBINSON, J. S.; LAWRENCE, H. R.; TAGLIAMONTE, S. A. GOLDVARB 2001: a multivariate analysis application for Windows. Department of Language and Linguistic Science, York, Canada: University of York, 2001. ROMANO, V. P.; SILVA, J. P. Bicicleta ou bicicreta: um estudo do rotacismo na fala de paulistas a partir dos dados do Atlas Lingüístico do Brasil. Anais. 1º CIELLI - Coloquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, Maringá, 2010. ROMANO, V. P.; Como falam os londrinenses? O caso do rotacismo a partir de dados geolinguísticos. Anais 2º CIELLI - Coloquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, Maringá, 2012. SILVA, T. C. Dicionário de Fonética e Fonologia. São Paulo: Contexto, 2011. TEM, L. F. T.. Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação fonológica e variação. 2010. 156 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas. UFRJ, Rio de Janeiro, 2010. TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. Trad. Celso Cunha. 6. Ed. Lisboa: Sá da Costa, 1994. 5