1 Direitos reservados Domingos Sávio Rodrigues Alves Uso gratuito, permitido sob a licença Creative Commons Série: Experiências consigo, com Deus, com a vida #1 Crise Jn 1:1-3 A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai, com esta ordem: Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença. Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo- se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor Estamos iniciando hoje uma série nova de mensagens: Experiências: Consigo, com Deus com a vida Introdução: A vida nos impõe muitos medos. A letra da música Medo, de Lenine, define muito bem essa sensação: Medo, que dá medo do medo que dá Essa é uma experiência universal. Entretanto, em demasia, acaba nos fazendo sentir medo inclusive de sentir medo. O medo nos torna indecisos. O medo nos torna traidores. O medo nos torna procrastinadores. O medo nos torna agressivos. O medo é uma prisão que nos mantêm cativos e nos impede de sermos nós mesmos e de desenvolvermos tudo o que temos para desenvolver. Um de nossos principais medos é enfrentar Crises porque em geral as crises são avassaladoras.
2 Crise é diferente de problema. - Crise é um momento de descontinuidade da vida. Somos invadidos por uma circunstância e paralisamos. Ficamos confusos e absolutamente solitários. O futuro parece vazio e o presente parece estar congelado no tempo (Moffat, 1981) Na crise temos a impressão de que nossa vida vai diminuir e de que jamais seremos os mesmos. Mas, ao contrário do que parece, a crise pode ser incrivelmente construtiva. Por isso, Estranhamente, vemos na Bíblia Deus conduzindo alguns para o centro da crise Por exemplo: Jesus foi levado ao deserto para ser tentado pela mais avassaladora de todas as questões: A identidade. Há uma repetição na fala do diabo: Se você é mesmo o filho de Deus : Se você é mesmo o filho de Deus, transforme pedras em pães. Se você é mesmo o filho de Deus, lança- te daqui para baixo. Jonas também foi conduzido por Deus à crise, na cidade de Nívive. Há duas maneiras de ler esse texto: Ou entendemos que Deus é tinhoso e mostrou a Jonas que manda quem pode e, obedece, quem tem juízo. ou... Deus é cuidadoso e levou Jonas para uma experiência de vida capaz de ampliar seus horizontes. Aposto na segunda alternativa, por uma simples razão: Se a grande questão fosse apenas Nínive, Deus poderia ter enviado Oséias ou Amós. Jonas, Oséias e Amós moravam na mesma cidade, na mesma época e estavam debaixo das mesmas circunstâncias.
3 Porém, Oséias era mais obediente que Jonas casou- se com uma prostituta, por pura obediência a Deus Amós era mais corajoso que Jonas. - Diferente de Jonas, que foi criado na coorte, Amós foi um boiadeiro que mesmo sem qualquer treinamento, enfrentou toda a coorte de Israel, denunciando sua corrupção. I - Por que Jonas tinha que ir a Nínive? Por trás dessa pergunta esconde- se os mistérios da relação de Deus com cada um de nós. Revelam um Deus pessoal: Veja: Superficialmente diríamos que Deus enviou Jonas a Nínive para salvar aquela cidade. Todavia, o relato do livro de Jonas mostra o contrário: O trabalho não foi em Nínive. Foi em Jonas. Não foi o profeta que restaurou a cidade dos inimigos, mas foi a cidade dos inimigos que restaurou o profeta. Isso aconteceu através da crise de Jonas. Nívive era a principal cidade dos Assírios. Há muitos anos a assíria ameaçava a segurança de Israel. A diferença entre a Assíria e Israel era mais ou menos a diferença hoje entre Israel e o povo da faixa de Gaza: Ricos rodeados por uma multidão de pobres. A situação seria mais ou menos o seguinte: Deus pediria a um profeta que habitava em Gaza, para pregar aos israelitas a fim de que Deus os livrasse da destruição. Claro que seria muito mais negócio para aquele profeta de Gaza que Israel fosse destruída. Assim também, Jonas desejou que Nínive fosse destruída por Deus. Em outras palavras, ao fugir, o profeta traiu a si mesmo e aos votos que tinha feito, de ser porta- voz de Deus, e mais: desejou manobrar Deus para que seus desafetos fossem destruídos. Esse era o coração do homem de Deus II - Jonas: Um de nós
4 Enxergamos nas reações de Jonas, as nossas próprias reações. Talvez esse livro esteja na Bíblia exatamente para mostrar que Deus faz um trabalho em nós, enquanto fazemos um trabalho para Ele. 1 A primeira reação de Jonas foi a fuga (1:1-3) "E VEIO a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta- te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do SENHOR para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do SENHOR." Fugir de nossas crises e problemas não resolverá. Precisamos encontrar forças em Deus para que possamos ver as coisas de modo diferente. Crises mexem conosco e temos medo de que a vida nunca mais volte a ser a mesma. No entanto, a vida pode até ser melhor que antes. Desapegue- se e confie no amor de Deus 2. A segunda reação de Jonas foi a desistência Foi para o fundo do navio, dormir. Desistiu de tudo. Não era um sono normal. O navio enfrentou uma tempestade, chacoalhando de um lado a outro, e ele não acordou. Era um sono de desistência (4 a 6). A excessiva tristeza às vezes nos põe a dormir como uma forma de fugir de tudo e de todos. Enquanto isso, Jonas, que tinha descido ao porão e se deitara, dormia profundamente. O capitão dirigiu- se a ele e disse: Como você pode ficar aí dormindo? Levante- se e clame ao seu deus! Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos Dormir é uma forma de fazer o tempo passar. É uma forma de não enfrentar o que precisamos enfrentar: a nós mesmos, porque nossos maiores problemas não estão do lado de fora, mas do lado de dentro: São nossos fantasmas. São as respostas que não queremos encontrar, porque no momento em que as encontramos, nos tornamos responsáveis 3. A terceira reação de Jonas foi evitar a tomada de decisões
5 Quando temos medo de tomar a decisão certa, ainda que importe em sacrifícios, acabamos por tomar decisões erradas que na verdade são ainda mais radicais porque foram tomadas no calor da pressão (1:12) Respondeu ele: Peguem- me e joguem- me ao mar, e ele se acalmará. Pois eu sei que é por minha causa que esta violenta tempestade caiu sobre vocês A decisão correta não seria ser jogado ao mar, mas arrepender- se e pedir para que o navio voltasse à Nínive Mas o medo de perder e de esvaziar a vida, nos faz fugir de onde e de quem não deveríamos: Não deveríamos fugir da crise do casamento. Crise no casamento nos ajuda a definir e crescer. Não deveríamos fugir de nenhuma crise de relações. Elas ajudam a fundamentar melhor os relacionamentos Não deveríamos fugir de conversar adiadas. As coisas só piorarão 4. Tudo isso vai traçando para nós quem foi o profeta Jonas: Medroso. Egoísta. Teimoso. Inconstante. Ele é como um de nós. Sua história nos mostra que a grande questão nào está em nós, mas em Deus. Não é que somos bons e somos capazes de grandes feitos. É que Deus nào desiste de nós e nos conduz a grandes feitos. III - A grande lição desse livro é que as ações de Deus transformam a nós, e também a história. 1. Apesar de nós e de nossas crises, Deus realiza o bem na história Não tenha medo das crises. Elas poderão produzir uma pessoa melhor e um mundo melhor, se passarmos por elas ao lado de Deus, pois Ele nos orientará.
6 Apesar de Jonas, a grande cidade de Nínive foi transformada. 2. Deus permitiu que acontecesse o que ele mais temia: Os seus inimigos foram perdoados e mantidos com vida 3:4-10 Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: Daqui a quarenta dias Nínive será destruída. Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram- se de pano de saco. Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu- se de pano de saco e sentou- se sobre cinza. Então fez uma proclamação em Nínive: Por decreto do rei e de seus nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas, provar coisa alguma; não comam nem bebam! Cubram- se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos. Tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado Deve ter sido uma cena belíssima. Um grande avivamento espiritual. Mas tinha um problema: O avivamento foi na casa dos caras que deveriam ser destruídos. Isso nos ensina que Deus não é propriedade nossa. Isso nos ensina que para viver bem, precisamos aprender a amar o que Deus ama. A vida vista por esse prisma é melhor mais significativa e mais profunda. 3. Mas Jonas ficou revoltado. Assim como nós, Ele ainda não havia compreendido o coração de Deus. Isso também é revelador. Nunca estamos prontos. 4. Então, Deus lhe proporcionou outra experiência transformadora (4: 5 e 6) Jonas saiu e sentou- se num lugar a leste da cidade. Ali, construiu para si um abrigo, sentou- se à sua sombra e esperou para ver o que aconteceria com a cidade. Então o Senhor Deus fez crescer uma planta sobre Jonas, para dar sombra à sua cabeça e livrá- lo do calor, o que deu grande alegria a Jonas
7 Dessa experiência Jonas gostou, porque estava de acordo com os paradigmas de sua religiosidade: Deus é por nós e contra o resto do mundo. Deus cuida de mim, livrando- me de meus problemas Esses são os paradigmas de nossa relação com Deus. Mas eles nos impedem de enxergar mais além e com mais sentido. IV - Na morte da planta, Jonas entendeu o valor da vida. 1. A grande questão é que o profeta entendia o valor de sua vida pessoal, e não o valor da vida em si. Qual a diferença? Quem aprende o valor de sua vida, não se importará em condenar milhares à morte, contanto que esteja bem. Quem aprende o valor da vida, aprende o valor que cada pessoa tem e realizará grandes feitos porque aprendeu a olhar para o lugar certo. 1.1 - Diante de sua crise, olhe para a vida e aceite que tudo é passageiro A planta que traz sombra (estruturas, empreendimentos, etc), pode acabar- se de uma hora para outra, Porém, mais importante é a vida humana (olhe para Nínive) Ela precisa ser preservada acima de qualquer coisa. Essa é a grande lição que Jonas finalmente aprendeu. Nossas crises são legítimas. Mas cuidado para que elas ceguem seu coração. 2. Se não sabe para onde ir durante sua crise, então olhe para Deus. Ele apontará uma direção melhor. A crise nos leva a aperceber que é melhor estar à sombra do Altíssimo que à sombra de uma planta que hoje existe e amanhã morre. Melhor são as coisas que dão sentido à vida, que as coisas V - Conclusão:
O caminho da mudança interior diante das crises, não é o medo ou a autoproteção. É a entrega nos braços do Pai. 8