Cristo e a Verdadeira Doutrina Exposição de 2ªJoão (1ª Mensagem) Cristo é a Verdade Eterna 2Jo v.1-3 Continuando nossa exposição dos escritos joaninos, vejamos a partir de hoje a 2ª Carta de João e na sequência, 3ª João. Ambas foram escritas na mesma época da 1ª Carta e apresentam em forma de resumo o mesmo assunto da 1ª Carta. Falsos mestres se infiltravam nas comunidades cristãs trazendo suas heresias devastadoras. Estes tais aproveitavam da bondade dos verdadeiros crentes que abriam suas casas para hospedá-los. John Stott lembra que as hospedarias naqueles tempos além de serem desconfortáveis e nada higiênicas (há relatos de hospedarias serem cheias de pulgas), geralmente eram instaladas ao lado de meretrícios o que dava uma conotação muito ruim. Os crentes generosos abriam suas casas com toda confiança a todos quantos vinham pregando o Evangelho pensando se tratarem de verdadeiros mensageiros cristãos. Estas duas cartas trabalham de forma muito clara a prática da hospitalidade e como ela deve ser criteriosa (2Jo v.10,11). Hoje meditaremos na introdução da carta (v.1-3) na qual o assunto é Cristo é a Verdade Eterna. O v.2 nos fornece a chave para compreendermos o que João quer nos ensinar aqui nestes versos. Cristo é a Verdade, e Ele permanece em nós e estará conosco para sempre. Cristo é a Verdade -01-
1) Que une a Sua Igreja nos laços do verdadeiro amor, v.1,2 Partindo para o final do século I d.c., o ofício apostólico já estava consolidado. Muitos (senão todos com exceção de João) dos apóstolos já haviam morrido. Somente João exercia o ofício apostólico que era a liderança maior da Igreja Cristã. Daí ele apresenta-se como O presbítero, que além de significar ancião, indica também a supervisão apostólica, pois, já no século I d.c., vemos que o presbítero não era apenas um líder numa comunidade local, mas, sim, supervisionava várias Igrejas. Por isso o título bispo (do grego evpi,skopoj) literalmente significa: aquele que vê de cima ou seja, supervisiona. Mas, a quem João destina sua carta? Quem seria esta senhora eleita? As conjecturas aqui são muitas. Há quem afirme que senhora eleita é o nome de uma pessoa, pois, no grego temos a expressão evklekth/ kuri,a que transliterado seria Electa Kyria. Tal ideia não encontra nenhum respaldo bíblico e histórico. Outra interpretação é a de que senhora eleita foi um termo que João empregou em relação à uma Igreja específica, o que tem respaldo bíblico. No v.13 João se despede desses irmãos dizendo que Os filhos da tua irmã eleita te saúdam. Duas irmãs com o mesmo nome é algo no mínimo estranho. Além disso, o apóstolo Pedro também se dirige de forma muito parecida à uma igreja (1Pe 5.13). Como disse John Stott, aqui não se trata de uma pessoa, mas, sim, de uma personificação. O que realmente nos interessa aqui é a amor e o carinho com que João se dirige a esta comunidade de irmãos: a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade. -02-
O amor entre os irmãos em Cristo é baseado na verdade, ou seja, no Senhor Jesus Cristo. Como vimos em 1João, é impossível amarmos de verdade se não estivermos em Cristo. Sem Cristo o nosso amor pelas pessoas não somente é uma utopia, uma ilusão, como expressão de carnalidade e egocentrismo. Também vemos que esse amor está presente somente em todos que conhecem a verdade, ou seja, vivem num estreito relacionamento com Cristo. Quem não conhece a Cristo por meio de um relacionamento profundo jamais conseguirá amar aos irmãos. Somente quem conhece o profundo amor de Cristo, a forma como Ele amou a pecadores como nós, suportou a cruz e toda sorte de desaforos para que pudéssemos ser salvos e constituídos Seu povo, Sua Igreja, é que poderá amar aqueles que Ele amou. O v.2 reforça essa afirmação quando expressa o motivo desse amor que João sentia por aqueles irmãos: por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre. João repete quatro vezes a palavra verdade nestes três versículos iniciais. O seu objetivo é contrastar as mentiras dos falsos mestres com a Verdade do Evangelho. Este verso expressa as profundas convicções de João a respeito da verdade. Ele diz que a verdade permanece em nós. Observe que ele não está se colocando como o dono da verdade, mas, sim, como um receptáculo da verdade. Somos apenas um vaso cujo conteúdo é a verdade. Outra convicção que ele expressa aqui é que a verdade conosco estará para sempre. A grande diferença entre um falso cristão e um verdadeiro cristão, é que este último sabe em quem ele tem crido, e por isso sabe que jamais se perderá, e nem mesmo se afastará da presença de Cristo porque é o próprio Cristo que o sustenta e o preserva. Já o falso crente juntamente com os falsos -03-
mestres estão sempre duvidosos quanto à obra de Cristo em seus corações. Sempre duvidam do perdão de Deus, sempre questionam a vontade de Deus e a Sua Palavra a ponto de negá-la. Aqueles que fazem parte da Família de Deus, da sua Igreja estão unidos eternamente pelos laços do amor de Deus revelado em Cristo que é a Verdade Eterna. Cristo é a Verdade Eterna: 2) Que produz em nós os benefícios do amor de Deus, v.3 Neste versículo João descreve que benefícios são estes: a graça, a misericórdia e a paz oriundas de Deus a nós por meio de Cristo, e são bênçãos permanentes naqueles que andam na verdade e no amor. John Bengel resume essa ideia da seguinte forma: A Graça remove a culpa; a misericórdia remove a miséria; a paz expressa a continuidade da graça e da misericórdia (in KISTEMAKER, 2006, p.502). A graça é o favor de Deus que nos dá a vida e a salvação. É o favor que não merecemos em hipótese alguma. É expressão da livre vontade de Deus em nos dar aquilo que jamais conseguiríamos por nós mesmos. A Lei dizia que a alma que pecasse essa deveria morrer para quitar essa dívida com Deus. É certo se você e eu morrêssemos para pagar pelos nossos pecados, conseguiríamos quitar essa dívida com Deus. Mas, haveria ainda uma outra questão: a eternidade. Para entrarmos no céu precisaríamos pagar, mas, a única moeda que tínhamos era a nossa vida a qual foi entregue para cancelar a nossa culpa. Mesmo assim, seríamos lançados no inferno. É aí que entra a misericórdia de Deus. -04-
A misericórdia é o ato de Deus em não nos dar o que merecíamos, o inferno. O sacrifício de Jesus foi pleno porque, não tendo Ele cometido nenhum pecado, Seu sacrifício não somente pagou pelos nossos pecados com Sua vida e ressurreição nos garante a salvação eterna. A misericórdia de Deus removeu a nossa miséria espiritual em Cristo. A paz é o resultado da graça e da misericórdia. A guerra em que estávamos com Deus (Rm 5.1-11) foi destruída e em Cristo, a paz com Deus foi estabelecida. Não somos mais inimigos de Deus. É Cristo quem produz em nós esses benefícios. A paz não é resultado do nosso esforço pessoal, nem mesmo da ausência de problemas, doenças e sofrimento. É perfeitamente possível a um crente passar pelas piores lutas dessa vida e ainda assim ter plena paz em seu coração porque a Paz que Cristo estabeleceu entre nós e Deus produz em nosso coração a tranquilidade que necessitamos. O que Deus quer que você faça? 1) Ame de verdade os seus irmãos em Cristo; 2) Tenha convicção da obra que Deus está realizando em sua vida; 3) Revele em sua vida a graça, a misericórdia e a paz de Deus. Conclusão Permanecemos na Verdade e no Amor permanece em nós. porque Cristo Rev. Olivar Alves Pereira São José dos Campos, 29/09/2013-05-