2009/01/22 A POLÍTICA EXTERNA DE DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS (Brasil) O resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos reacendeu a esperança de todo o mundo em torno de "um aquecimento global" nas relações entre Moscou e Washington. É grande a expectativa de que Barack Obama seja capaz de corrigir os erros do seu antecessor. A crise financeira mundial minou a confiança de líderes europeus e asiáticos nos Estados Unidos, por culpa de George W. Bush e sua administração. No entanto, a política externa de Washington continua bastante agressiva. Em grande parte, os meios de comunicação vendem os Estados Unidos como a nação que é sinônimo de liberdade, paz e prosperidade. A Rússia, por outro lado, é vista como o Império que se esforça para enfraquecer o Ocidente e restaurar a União Soviética em um novo formato, que espezinha a liberdade do seu próprio povo. A administração norte-americana provocou muitos danos aos seus próprios interesses quando insistiu que Moscou é regida pela ambição de poder e antagonismo em relação aos Estados Unidos, enquanto que os passos de Washington é que são corretos, sensatos e justos. A política externa norte-americana das últimas duas décadas contribuiu muito para o surgimento de problemas que a humanidade se vê obrigada a enfrentar nos dias de hoje. São inúmeros os casos de interferência em assuntos internos de países soberanos e de violação de princípios democráticos fundamentais. Área de influência dos Estados Unidos, a América Latina sente fortemente o impacto dessa política de duas faces, que oferece com uma mão e retira com a outra. Ao reativar a Quarta Frota, os Estados Unidos deram um tiro no pé, pois ninguém mais engole essa conversa de apoio humanitário. A DEA foi expulsa da Bolívia de onde o embaixador norte-americano já havia sido convidado a se retirar. As tensões com a Venezuela e a propalada intenção de instalar uma base militar na Colômbia, mantém os Estados Unidos distantes de uma região sempre tratada como seu quintal. Some-se a isso, as difíceis relações com o Equador que não vai renovar o contrato para uso da Base Aérea Militar de Manta e a incógnita em torno do absurdo que é Guantánamo, para citar alguns exemplos. Mantida essa tendência, os Estados Unidos podem, eventualmente, perder a sua autoridade e até mesmo a de seus aliados. Em resposta às acusações de que a Rússia arma "potenciais agressores", minando os alicerces do mundo da segurança e da defesa dos valores democráticos, Moscou prometeu fornecer à defesa aérea dados atualizados ao Irã e admitiu a possibilidade de usar o território de Cuba para reabastecer bombardeiros estratégicos. Não se pode negar que isso incomoda os Estados Unidos. Para a Rússia, essa política de "dois pesos e duas medidas" dos Estados Unidos, em última instância, caiu em descrédito em todo o mundo. Enquanto os Estados Unidos insistem que a Rússia não deve vender armas ofensivas no mercado internacional, o país consolida sua posição de principal vendedor de armas. Alega que a presença militar russa em Cuba é intolerável ao mesmo tempo em que recomenda a circulação silenciosa nas fronteiras da Rússia. O fracasso da política externa norte-americana consiste no fato de que o resto do mundo enxerga nessas ações a manifestação do imperialismo. Tal comportamento tem levado à perda de respeito dos Estados Unidos, inclusive entre seus amigos e aliados. Precisamos ter claro que o futuro da nova ordem internacional passa obrigatoriamente pelo estado das relações entre Estados Unidos e Rússia. Se a nova administração norte-americana estiver disposta a repreender a Rússia, Moscou fará o mesmo. Barack Obama terá de rever radicalmente o curso da política externa dos Estados Unidos, começando por respeitar a segurança jurídica e os interesses dos demais atores. Terá, obrigatoriamente, de prescindir da política de dois pesos duas medidas. Estados Unidos e Rússia desempenham um papel-chave na provisão da segurança e estabilidade mundial e isso deve ser compreendido em toda a sua complexidade.
[1] Marcelo Rech é jornalista, editor do InfoRel e especialista em Relações Internacionais e Estratégias e Políticas de Defesa. Correio eletrônico: mailto:inforel@inforel.org 60 TEXTOS RELACIONADOS: 2011/12/07 AFRICOM, UM OLHAR MAIS ABRANGENTE SOBRE ÁFRICA Pedro Barge Cunha[1] 2011/07/07 A RETIRADA AMERICANA DO AFEGANISTÃO 2011/05/29 O DISCURSO DE OBAMA E O M ÉDIO ORIENTE 2010/07/09 A INTERVENÇÃO MILITAR DA OTAN NA JUGOSLÁVIA[1] Carlos Ruiz Ferreira[2] (Brasil) 2009/08/16 OS EUA E AS RELAÇÕES RUSSO-IRANIANAS 2009/08/01 IRÃO, UMA CRISE NÃO RESOLVIDA 2009/07/15 A CIMEIRA EUA/RÚSSIA 2009/06/09 AS HIPÓTESES DE NEGOCIAR COM A COREIA DO NORTE 2009/03/08 O QUE PODE MUDAR NA POLÍTICA DE DEFESA AMERICANA 2009/02/17 GAZA E AS ELEIÇÕES EM ISRAEL 2009/02/01 QUO VADIS NATO? OS GRANDES REPTOS PARA A ALIANÇA Luís Falcão [1] 2008/12/19 A HEGEMONIA NORTE-AMERICANA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO (Brasil) 2008/12/03 A EUFORIA NA ANGÚSTIA DO IMPÉRIO EM TRANSIÇÃO Tiago Fernandes Maurício 2008/12/01 O PRESIDENTE OBAMA 2008/11/25 IRAQUE, DEPOIS DAS ELEIÇÕES AMERICANAS 2008/11/14 EUA. O QUE SE PODE ESPERAR DE OBAMA
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