Prefácio Maria é exemplo de doação total à vontade do Pai, também é referência no seguimento de Jesus. Poderia Maria ter dito não ao projeto de Deus para sua vida? Esse é o questionamento que o autor deste livro, Valdeci Toledo, levanta a todos nós cristãos. Muito se diz do sim de Maria, mas qual foi o real envolvimento dessa mulher, ainda jovem, ao dizer: Faça-se em mim segundo a tua palavra? Existia consciência por parte de Maria de que a humanidade de ontem, hoje e sempre dependia desse seu sim para que a obra salvífica de Deus se realizasse? 11
12 Maria poderia ter dito não? São questões profundas, e ao mergulhar neste tema, ficamos ainda mais admirados com a espiritualidade da mãe de Deus. Maria era livre, para dizer sim ou não, mas Maria era Maria... E a vontade de Deus (era, é e será) o seu maior desejo, e foi justamente por esse comprometimento que ela foi escolhida. Ao ler as reflexões de Valdeci, é quase impossível não nos colocarmos no lugar de Maria. Qual seria a nossa resposta? Diante da nossa liberdade, quais são os sins e os nãos que diariamente damos ao querer de Deus? O livro nos leva a meditar sobre Maria, porém coloca um holofote sobre a nossa relação com Deus, capaz de desnudar a nossa alma diante dos nossos medos e inseguranças que nos são empecilhos no cumprimento da orientação que a Mãe de Jesus deu-nos nas bodas de Caná: Fazei o que Ele vos disser. Maria insiste para fazermos a vontade do seu Filho, pois ela livremente já havia experimentado a ação transformadora de Deus em sua vida, depois que ela havia dito sim. Ou seja, Maria deseja que o mesmo Deus que atuou em sua vida atuasse e (atue) também em nós.
Prefácio Com liberdade plena, digamos de forma pessoal, como um compromisso: Sim, seja feita em minha vida a tua vontade, Senhor. Pe. Luís Erlin 13
Introdução Haveria possibilidade de Maria ter dito não ao plano de Deus relativo à concepção de Jesus em seu ventre? Esta é a pergunta que motiva e norteia esta publicação. Sabemos dos dogmas relacionados a Maria: Virgindade; Mãe de Deus; Imaculada Conceição e Assunção. Destes, o que mais se aproxima de nossa linha de reflexão é o dogma da Imaculada Conceição, pois se refere à sua origem e é determinante para que nos questionemos se Maria foi livre ou condicionada ao dar sua resposta ao mensageiro de Deus. Tendo sido predestinada para gerar o Filho de Deus e, por isso, preservada de qualquer mancha do pecado original, será que Maria teria 15
16 Maria poderia ter dito não? sido condicionada a dizer sim? Será que sua liberdade teria sido prejudicada? Uma hipótese de resposta é a de que, justamente pelo fato de não ter tido nenhuma mancha do pecado original, tinha total livre-arbítrio para dizer sim à vontade de Deus. O não da humanidade a Deus é simplesmente por causa de sua concupiscência, sua inclinação a não atender à vontade de Deus. Maria, sendo o protótipo da nova criação, serve de modelo para a humanidade. Ela é mãe da obediência, pois tem um coração livre de toda inclinação de soberba e desobediência. Maria é a Nova Eva, que se contenta com a companhia de Deus. Não busca apenas a soberba do conhecimento; por isso, guarda em seu coração as palavras e os acontecimentos que o Senhor lhe vai revelando ao longo da vida até a espada de dor transpassar-lhe o coração como se fosse uma extensão do que acontecera a seu Filho. O coração do Filho é perfurado e de lá jorram sangue e água, uma forma de santificar e purificar todos os homens e mulheres, pois estes são chamados a fazer parte da nova criação, que tem no sacrifício de Cristo sua origem. Maria não precisa ser purificada, pois é imaculada, mas não deixa de participar desse momento tão
Introdução importante para a humanidade. Simplesmente presencia o próprio Filho sendo crucificado, o vê morto e acompanha seu sepultamento. Isto é retratado na obra de Michelangelo, a Pietà, na qual vislumbramos Maria com o corpo de seu Filho em seus braços. Ela acredita na ação de Deus e espera com confiança, mas seu coração imaculado também sente a dor da perda do filho amado. É uma dor que não tem nome: e as mães que já perderam algum filho sabem bem o que isso significa. De qualquer forma, Maria não se entrega a seu momento de dor. Ao contrário, ela segue em frente, pois sabe que depositou sua fé no Deus que jamais a decepcionará. Ela é a Mãe da esperança, ciente de que a morte não é o último acontecimento na vida do ser humano. Maria torna-se verdadeiramente livre, e seu desejo não é outro senão fazer a vontade de Deus. Ela não é invadida pela vontade de Deus, pois Ele respeita sua liberdade e espera a resposta de seu livre-arbítrio. Embora sejamos todos livres, pesa contra nós a concupiscência: os batizados foram lavados da mancha do pecado original, porém neles permanece a inclinação ao pecado. Maria, por sua vez, é a singela, doce e pura Filha de Sião. 17
Maria poderia ter dito não? Ela marca também a passagem do Antigo para o Novo Testamento, servindo de protótipo para a nova criação. É toda pura, plena do Espírito Santo, portanto, cheia de graça. 18