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Transcrição:

Uma reflexão da ética protestante atual no Brasil baseado no espírito do capitalismo teológico uma referência à obra de Max Weber Gleubert Carlos Coliath Valério Vitor Bonelli Amaury Souza Amaral Andréia Aparecida de Melo Coliath Resumo Com o surgimento da Revolução Industrial, o protestante encontrou um ambiente propício para exercitar a sua fé e buscar a prosperidade prometida, onde no início do século passado abordou-se uma tendência que até os dias atuais podemos observar no meio protestante. Este artigo faz uma reflexão e nos remete a concluir que as observações de Max Weber no início do século passado estão presentes nos dias atuais. O protestantismo incentiva a busca por progresso financeiro, o que é muito propício dentro de um ambiente capitalista. Caso Max Weber pudesse observar atualmente o comportamento de uma parcela do meio protestante no Brasil, com certeza não ficaria surpreso com o que presenciaria. Palavras-chave: protestantismo; cristianismo; capitalismo; pentecostalismo; neopentecostalismo; teologia; sociologia; revolução industrial. Abstract With the advent of the Industrial Revolution, the Protestant found an environment conducive to exercise their faith and seek the promised prosperity, where earlier this century approached a trend that even today we see among Protestants. This article is a reflection and leads us to conclude that the remarks of Max Weber early last century are present today. Protestantism encourages the search for financial progress, which is very conducive within a capitalist environment. If Max Weber could now observe the behavior of a portion of the Protestant half in Brazil, certainly would not be surprised with what they witnessed. Keywords: protestantism; christianity; capitalism; pentecostalism; neo-pentecostalism; theology; sociology; industrial revolution. * Professor do Departamento de Ciências Contábeis da FEA-PUC/SP. E-mail: coliath@pucsp.br ** Professor do Departamento de Ciências Contábeis da FEA-PUC/SP e da Pós graduação da FECAP. E-mail: wbonelli@pucsp.br *** Professor do Departamento de Ciências Contábeis da FEA-PUC/SP. E-mail: contmir@ mircontabil.com.br **** Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP. Graduada em Psicologia Clínica. Psicoterapeuta especialista em teologia cristã. E-mail: andreia.coliath@ig.com.br ; ponto-e-vírgula, 9: xx-xx, 2011.

Introdução A tradicional obra de Max Weber escrita no início do século passado cujo título é A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905) chama a atenção quando nos remetemos aos dias atuais. Esta obra de Weber fornece argumentos históricos e sociais para a compreensão e análise de um comportamento que está ocorrendo atualmente dentro do movimento protestante brasileiro, com potencial tendência de aumento para os próximos anos. O ambiente protestante brasileiro Para prosseguir, faz-se necessário identificar o ambiente protestante no Brasil. Para Freston (1995), basicamente são três as ramificações que se apresentam no meio protestante: Tradicionais, Pentecostais e Neopentecostais. As igrejas protestantes Tradicionais compreendem principalmente as chamadas igrejas históricas, as quais tiveram origem no início da Reforma Protestante, ou bem próximo dela, sendo: Luterana - fundada por Martinho Lutero (1517); Anglicana - fundada por Henrique VIII (1534); Presbiteriana - fundada por João Calvino (1549); Batista - fundada por John Smith (1609); Metodista - fundada por John Wesley (1740). As principais igrejas Pentecostais no Brasil são as seguintes: Congregação Cristã no Brasil - fundada por Louis Francescon (1910); Assembleia de Deus - fundada pelos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren (1911); Igreja do Evangelho Quadrangular - fundada por Aimée Semple McPhersom (1950); O Brasil para Cristo - Fundada por Manoel de Melo (1955); Deus é Amor - Fundada por Davi Miranda (1962). ; ponto-e-vírgula 9 183

O Pentecostalismo As igrejas pentecostais são aquelas que tiveram início nos Estados Unidos entre 1906 e 1910. Os pentecostais revivem a passagem bíblica que está no livro do Novo Testamento em: Atos, capítulo 2 versículos 1 ao 13, e tem como referencial central o evento de Pentecostes, em que os apóstolos receberam, com a descida do Espírito Santo, os dons de cura e o de falar em línguas (glossolalia). Ser pentecostal torna-se sinônimo do cristão que crê na manifestação dos dons do Espírito Santo. Estes dons são vivenciados dentro das igrejas pentecostais por seus membros. As experiências do batismo do Espírito Santo levaram os membros que tinham essas experiências à exclusão de suas antigas igrejas tradicionais, formando assim as igrejas pentecostais. No Brasil, o pentecostalismo chegou ao final da primeira década do século XX, através de missionários suecos e italianos que vieram dos EUA e fundaram em São Paulo a igreja Congregação Cristã do Brasil (1910) e no Pará a igreja Assembleia de Deus (1911). O pentecostalismo expandiu-se por todo o país. As igrejas pentecostais dão forte ênfase ao louvor, ao ensino teológico e ao trabalho social. A maioria delas não possui doutrinas que obrigam uso de saias longas, cabelos compridos, como é o caso da Congregação Cristã, Deus é Amor e algumas Assembleias de Deus que ainda valorizam este tipo de doutrina. O campo religioso brasileiro e o Neopentecostalismo Conforme Freston (1995), o campo religioso brasileiro apresentou nas últimas décadas algumas alterações significativas. Em um tempo historicamente curto, o Brasil que sustentava o título de maior país católico do mundo, ganha outro, o do segundo maior país protestante do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. As igrejas Neopentecostais são oriundas do pentecostalismo original. Surgiram 60 anos após o movimento pentecostal, por volta de 1970. Nos Estados Unidos são chamados de carismáticos sendo que, aqui no Brasil, essa nomenclatura é reservada exclusivamente para um movimento dentro da igreja Católica que se assemelha aos Pentecostais. ; ponto-e-vírgula 9 184

As igrejas Neopentecostais diferenciam-se das igrejas pentecostais pela ênfase colocada na teologia da prosperidade e pela ampla utilização dos meios de comunicação para evangelização em massa. A Teologia da Prosperidade e a Teologia do Triunfalismo Segundo a psicóloga clínica Andréia Coliath (2007), a teologia da prosperidade baseia-se no dar para receber ou semear para colher, jargões que se transformaram em modismo em tempos de crise e que atraem muitos na intenção de se beneficiarem desta suposta lei espiritual do retorno. Coliath (2007) esclarece que correntes contrárias dentro do protestantismo, como as igrejas tradicionais e a maioria das pentecostais estão insatisfeitas e resistem a esta teoria que termina por promover um movimento de arrecadação, visto que ela não reflete o principal propósito do cristianismo que é a salvação e a obtenção da vida eterna através do sacrifício do Senhor Jesus Cristo, seguindo a afirmação de Cristo: Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas lhes serão acrescentadas, em Mateus, capítulo 6, versículo 33. As igrejas Neopentecostais são as que mais crescem atualmente no Brasil, devido a um maciço investimento na mídia, como é o caso das igrejas Universal do Reino de Deus (IURD) liderada por Edir Macedo, Renascer em Cristo, liderada por Estevam e Sonia Hernandes e a Igreja Internacional da Graça liderada por R.R. Soares. Essas igrejas dominam espaços televisivos em horários nobres, possuem empresas no mercado da comunicação em massa e disputam espaços entre si, tornando-se concorrentes pela audiência. Não há uma comunhão cristã ou relacionamento entre elas e os fiéis são disputados acirradamente como se fossem clientes ou uma fatia do mercado. Observa-se, neste cenário de disputa televisiva, que o evangelho de Cristo está sendo negociado como uma mercadoria. O sucesso prometido depende do tamanho da fé e da capacidade de contribuir com o crescimento deste evangelho, nem sempre ético e às vezes pobre e medíocre do ponto de vista teológico. Outra corrente muito forte é a que prega a teologia do triunfalismo, onde tudo que o indivíduo deseja pode ser alcançado e dado por Deus, desde que tenha fé suficiente. Se não houver êxito, faltou fé. ; ponto-e-vírgula 9 185

Verifica-se no meio protestante atual uma incrível disputa econômica e financeira, sendo que os fiéis são cada vez mais condicionados por esta teologia que dá grande ênfase ao sucesso econômico e financeiro. A estrutura econômica e financeira de sustentação do protestantismo A Igreja Católica, ao longo de vários séculos, consolidou a sua estrutura física e econômica, onde a forma e as condições não é objeto desta discussão, mas são fatos estabelecidos historicamente. O Protestantismo, desde seu surgimento, em especial após Lutero e Calvino, precisava de uma estrutura e meios econômicos de sobrevivência para financiar a sua doutrina, e isso somente poderia ser extraído dos seus adeptos e fiéis através da contribuição financeira. Os dízimos e as ofertas são instrumentos que se encontram nas escrituras sagradas do cristianismo e, de fato, se corretamente praticados e utilizados, justificam o financiamento da propagação do evangelho de Cristo. A teologia protestante incentiva o fiel a buscar progresso financeiro e evolução profissional. Uma das passagens bíblicas, muito utilizada, encontra-se no livro de Deuteronômio, capítulo 28, versículos 11 ao 13: E o Senhor te fará prosperar grandemente no fruto do teu ventre, no fruto dos teus animais e no fruto do teu solo, na terra que o Senhor, com juramento, prometeu a teus pais te dar. O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar à tua terra a chuva no seu tempo, e para abençoar todas as obras das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado. E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás por cima, e não por baixo; se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, para os guardar e cumprir... O texto acima retrata uma das promessas de Deus para o seu povo hebreu que foi retirado da escravidão do Egito, e verifica-se o seu cumprimento com a prosperidade do povo judeu. O texto bíblico, em geral, contempla inúmeras promessas para os que crêem e não há dúvidas para um verdadeiro cristão que Deus cumpriu e cumprirá tudo que prometeu. ; ponto-e-vírgula 9 186

A tendência do protestantismo após a Revolução Industrial Com o surgimento da Revolução Industrial, o protestante encontrou um ambiente propício para exercitar a sua fé e buscar a prosperidade prometida. A passagem a seguir de Weber (2009), traduzido do original de 1904/1905 demonstra esta condição quando diz: A explicação desses casos está, sem dúvida, nas peculiaridades mentais e espirituais adquiridas no meio. O tipo de educação propiciado pela atmosfera religiosa da comunidade e da família determina a escolha da ocupação, e através dela, da carreira profissional. (nossos grifos) O fato é que Weber, no início do século passado aborda uma tendência que até os dias atuais podemos observar no meio protestante, ou seja, a busca por bens materiais baseado em argumentos e princípios religiosos adquiridos na comunidade religiosa. Esta busca por sucesso financeiro é chamada dentro do meio evangélico de teologia da prosperidade, já citada anteriormente, e encontrou num povo sofrido e necessitado o apoio e a colaboração necessária para que pudesse se consolidar nos cultos evangélicos, sob a promessa de que Deus retribuirá toda a fé depositada em forma de recursos financeiros nos cofres destas igrejas. Porém, muitos fiéis ficam frustrados e decepcionados quando as promessas não se realizam, a ponto de até abandonarem a fé cristã por conta disso. Entretanto, o que não se prega atualmente é a passagem que Cristo é tentado pelo diabo no livro de Mateus, capítulo 4, versículos 5 a 7: Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e: eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Neste caso, Cristo não obedeceu, mesmo o diabo citando uma promessa bíblica, porque obedecendo ao diabo, Cristo estaria tentando a Deus. ; ponto-e-vírgula 9 187

Considerações finais Atualmente, verifica-se que uma parcela do protestantismo resolveu tentar a Deus, e todo bom cristão deveria saber que a Deus não se deve tentar, como ensina Jesus Cristo. A partir disso as frustrações e decepções são consequências do exercício de uma fé não fundamentada ou induzida por outros interesses. Entretanto, esta reflexão nos remete a concluir que as observações de Max Weber no início do século passado estão presentes nos dias atuais. O protestantismo incentiva a busca por progresso financeiro, o que é muito propício dentro de um ambiente capitalista. Caso Weber pudesse observar atualmente o comportamento de uma parcela do meio protestante no Brasil, com certeza não ficaria surpreso com o que presenciaria. Se o protestantismo continuar crescendo no ritmo que está, estimase que em aproximadamente 20 anos o Brasil será um pais de maioria protestante (como nos EUA). Com base nesta hipótese, pode-se considerar que esta condição será favorável para o crescimento econômico, a exemplo dos EUA. Para concluir, sugere-se uma proposta de pesquisa na área de Ciências Sociais: verificar a relação que existe entre o crescimento do protestantismo no Brasil com o crescimento da atividade econômica. Referências bibliográficas BÍBLIA (1995). Português. Bíblia de Estudo Pentecostal : Antigo e Novo Testamento. Brasil, CPAD. COLIATH, A. A. de M. (2007). Escolha do terapeuta associada à denominação religiosa. Dissertação de Mestrado. São Paulo, PUC-SP. FRESTON, P. (1995). Breve história do pentecostalismo brasileiro. In: Nem anjos nem demônios. Petrópolis, Vozes. WEBER, M. (2009). A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo, Cengage Learning. ; ponto-e-vírgula 9 188