PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2015 COMPLEMENTAR Acrescenta o art. 66-A à Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, altera a redação do art. 74 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950 e do art. 1º do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, para suspender a sanção de não recebimento de transferências voluntárias imposta aos entes da Federação, para afastar a tipificação de crime de responsabilidade das condutas indicadas de Governadores de Estado e do Distrito Federal e dos Prefeitos, quando a taxa de variação real acumulada do Produto Interno Bruto nacional, aferida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ou outro órgão que vier a substituí-la, sofrer redução superior a 1,5% (um e meio por cento), no período correspondente aos quatro últimos trimestres. O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º Esta Lei Complementar promove alterações na Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, na Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, e no Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, para suspender a sanção de não recebimento de transferências voluntárias imposta aos entes da Federação e para afastar a tipificação de crime de responsabilidade das condutas indicadas de Governadores de Estado e do Distrito Federal e dos Prefeitos quando a taxa de variação real acumulada do Produto Interno Bruto nacional, aferida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ou outro órgão que vier a substituí-la, sofrer redução superior a 1,5% (um e meio por cento), no período correspondente aos quatro últimos trimestres.
2 Art. 2º A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, passa a vigorar acrescida do seguinte artigo: Art. 66 A. A sanção de não recebimento de transferências voluntárias, prevista no inciso I do 3 do art. 23 e no 2º do art. 31, não se aplica aos entes da Federação quando a taxa de variação real acumulada do Produto Interno Bruto nacional, aferida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ou outro órgão que vier a substituí-la, sofrer redução superior a 1,5% (um e meio por cento), no período correspondente aos quatro últimos trimestres. Art. 3º O art. 74 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único: Art. 74... Parágrafo único. A conduta tipificada no item 5 do art. 10 desta Lei não é considerada crime de responsabilidade dos Governadores dos Estados ou do Distrito Federal se ocorrida durante o período em que a taxa de variação real acumulada do Produto Interno Bruto nacional, aferida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ou outro órgão que vier a substituí-la, sofrer redução superior a 1,5% (um e meio por cento), no período correspondente aos quatro últimos trimestres. (NR) Art. 4º O art. 1º do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, passa a vigorar acrescido do seguinte 3º: Art. 1º...... 3º A conduta tipificada no inciso XVI deste artigo não é considerada crime de responsabilidade dos Prefeitos Municipais se ocorrida durante o período em que a taxa de variação real acumulada do Produto Interno Bruto nacional, aferida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ou outro órgão que vier a substituí-la, sofrer redução superior a 1,5% (um e meio por cento), no período correspondente aos quatro últimos trimestres. (NR)
3 Art. 5º As matérias tratadas nesta Lei Complementar que não sejam reservadas constitucionalmente a lei complementar poderão ser objeto de alteração por lei ordinária. publicação. Art. 6º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua JUSTIFICAÇÃO Segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central em 2 de outubro último, que coleta a previsão de cerca de 100 instituições financeiras e consultorias, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá cair 2,85% em 2015 e 1,00% em 2016. A queda do PIB é a causa principal da crise fiscal que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios passam no momento. Por um lado, o menor crescimento da economia nacional implica queda real da arrecadação das receitas tributárias da União, em especial do imposto sobre produtos industrializados e do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, que compõem a base de cálculo do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Isso tem acarretado redução real do volume de transferências federais aos entes subnacionais. Na comparação de janeiro a setembro de 2015 com janeiro a setembro de 2014, os recursos transferidos às unidades federadas por meio do FPE sofreram queda real de 2,71%. Já os recursos transferidos aos Municípios por meio do FPM tiveram queda real de 0,84%. Por outro lado, a crise econômica também tem diminuído a arrecadação do principal imposto dos Estados e do Distrito Federal, o Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), que é compartilhado com os Municípios, os quais têm direito assegurado pela Constituição de receber 25% da arrecadação desse imposto.
4 O cotejo da arrecadação do ICMS entre janeiro e junho de 2015 com o mesmo período de 2014, a valores corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo de junho de 2015, informa que vinte e uma unidades federativas apresentaram queda real na arrecadação do ICMS. Somente os Estados de Pará, Paraná, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins demonstraram aumento real da arrecadação do ICMS. Particularmente grave é a situação da queda de arrecadação real do ICMS dos Estados do Amazonas, Amapá, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais de, respectivamente, 15,3%, 12,9%, 10,2%, 10% e 9%. Outras unidades federativas que enfrentam problemas de gestão fiscal grave, substanciado nas dificuldades para o pagamento dos salários dos servidores públicos, como o Distrito Federal e o Estado do Rio Grande do Sul, também tiveram queda da arrecadação real do ICMS de, respectivamente, 3,9% e 2,3%. Assim, o presente Projeto de Lei do Senado (PLS), de natureza complementar, busca criar uma válvula de escape provisória às finanças públicas, para que os entes subnacionais, quando a taxa de variação real do PIB nacional sofrer redução superior a 1,5% na comparação anual, não sofram a penalidade de não recebimento de transferências voluntárias em caso de não recondução das despesas com pessoal e do estoque da dívida consolidada aos respectivos limites previstos na Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2001, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e na Resolução do Senado Federal nº 40, de 20 de dezembro de 2001. É importante frisar que a queda do PIB nacional, ao diminuir o volume real das transferências federais e a arrecadação dos tributos próprios, reduz a base de cálculo da receita corrente líquida e, consequentemente, implica elevação do gasto com pessoal e do estoque da dívida consolidada líquida, mesmo que o ente da Federação não tenha concedido aumentos salariais, ampliado o seu quadro de pessoal ou contratado novas operações de crédito. Como existe grande risco de os entes subnacionais descumprirem os limites das despesas de pessoal e do estoque da dívida consolidada líquida, a aplicação da penalidade de suspensão do recebimento de transferências voluntárias iria aumentar ainda mais o quadro recessivo
5 atual, pois os recursos recebidos dessas transferências custeiam investimentos públicos, que criam condições estruturais para a retomada do crescimento econômico futuro ao ampliar a capacidade produtiva da economia. As demais hipóteses de suspensão do recebimento de transferências voluntárias previstas na LRF não serão afetadas pela mudança legislativa proposta por não dependerem do PIB. Com isso, continuará a existir a obrigatoriedade de instituição e efetiva arrecadação dos impostos da competência estadual ou municipal, bem como do encaminhamento das contas do exercício anterior dos Estados à União e dos Municípios aos Estados e à União nos prazos devidos. Na mesma linha da alteração proposta ao texto da Lei de Responsabilidade Fiscal, no sentido de não penalizar os entes subnacionais com a suspensão do recebimento das transferências voluntárias, entendemos razoável afastar a caracterização como crime de responsabilidade das condutas dos Governadores dos Estados e do Distrito Federal e dos Prefeitos que deixarem de ordenar a redução do montante da dívida consolidada, nos prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante da aplicação do limite máximo fixado pelo Senado Federal, durante o período em que a taxa de variação real acumulada do Produto Interno Bruto nacional, aferida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sofrer redução superior a 1,5% (um e meio por cento), no período correspondente aos quatro últimos trimestres. Para tanto, propomos a alteração do art. 74 da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, que dispõe sobre o crime de responsabilidade dos Governadores de Estado e do Distrito Federal, e do art. 1º do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, que cuida do crime de responsabilidade dos Prefeitos. Registramos que tanto a Lei nº 1.079, de 1950, quanto o Decreto-Lei nº 201, de 1967, possuem status de leis ordinárias, eis que a Constituição de 1988 não identificou expressamente em seu corpo que as matérias por eles tratadas demandariam regulamentação por lei complementar.
6 Nesse sentido, entendemos relevante introduzir cláusula interpretativa (art. 5º da proposição) para deixar claro que as matérias tratadas nesta proposição no caso de posterior aprovação e transformação em Lei Complementar que não são reservadas constitucionalmente à lei complementar (arts. 3º e 4º), poderão ser objeto de alteração por lei ordinária futura. A lógica que preside a elaboração da proposição que ora submetemos ao crivo das Senhoras Senadoras e dos Senhores Senadores consiste, pois, no afastamento temporário, tanto da perspectiva punitiva do ente federado (sanção financeira), quanto dos respectivos Chefes do Poder Executivo (crime de responsabilidade), enquanto perdurarem as graves circunstâncias econômicas indicadas na proposição, que denotam o garroteamento das finanças públicas estaduais, distritais e municipais. Em face do exposto, esperamos contar com o apoio das Senhoras Senadoras e dos Senhores Senadores para o aprimoramento e posterior aprovação do presente PLS - Complementar. Sala das Sessões, Senador JORGE VIANA