ANUROFAUNA EM ÁREA ANTROPIZADA NO CAMPUS ULBRA, CANOAS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Documentos relacionados
26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas

ANFÍBIOS COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE AMBIENTAL DA FAIXA DE PROTEÇÃO CILIAR DO RESERVATÓRIO DA USINA HIDRELÉTRICA ITÁ

ANFÍBIOS ANUROS DE UMA ÁREA DA SERRA DO SUDESTE, RIO GRANDE DO SUL (CAÇAPAVA DO SUL)

BIODIVERSIDADE DE ANFÍBIOS EM AMBIENTES DE MATA ATLÂNTICA E ANTRÓPICOS NA REGIÃO DO SUL DE MINAS GERAIS

Anurofauna de uma área do domínio da Mata Atlântica no Sul do Brasil, Morro do Coco, Viamão, RS

Candiota: Carvão e anfíbios

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA ANUROFAUNA EM UMA ÁREA DE CERRADO ENTRE DIAMANTINA E AUGUSTO DE LIMA, MINAS GERAIS, BRASIL.

A inclusão da amostragem de girinos em inventariamentos e monitoramentos de fauna. Qual a vantagem dessa amostragem em relação aos anuros adultos?

Relatório Parcial FCTY-RTP-HPT Referência: Diagnóstico da Herpetofauna. Fevereiro/2014. At.: Gerência de Sustentabilidade FCTY

MONITORAMENTO DE ANFÍBIOS ATROPELADOS NO EIXO DA RODOVIA DO PARQUE BR-448 ATRAVÉS DO CAMINHAMENTO

INVENTÁRIO PRELIMINAR DA ANUROFAUNA NA SERRA DAS TORRES, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS

Graduação em Ciências Biológicas, DBI - UFMS. Centro de Ciências Biológicas, DBI - UFMS

Levantamento Preliminar da Herpetofauna em um Fragmento de Mata Atlântica no Observatório Picos dos Dias, Brasópolis, Minas Gerais

ASPECTOS REPRODUTIVOS E RIQUEZA DE ESPÉCIES DA ANUROFAUNA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR

RIQUEZA E DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DE ANUROS EM ÁREA REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO.

Diversidade de anfíbios anuros de uma área de Pampa no município de São Gabriel, Rio Grande do Sul, Brasil

INVENTÁRIO DE ANUROS OCORRENTES NO SUDOESTE DO PARANÁ

LEVANTAMENTO DAS ESPÉCIES DE ANUROS (AMPHIBIA: ANURA) EM UMA ÁREA URBANA DE SÃO MIGUEL DO OESTE, SANTA CATARINA, BRASIL

Distribuição temporal e espacial de anuros em área de Pampa, Santa Maria, RS

ABUNDÂNCIA DE ANFIBIOS ANUROS EM ÁREAS DE EXTRAÇÃO DE AREIA NO BIOMA PAMPA JEFERSON MARTINS¹; VANESSA DOS ANJOS BAPTISTA²

TÍTULO: RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS ANUROS EM UMA ÁREA DE CERRADO FRAGMENTADO, CUIABÁ - MATO GROSSO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL CAMILA CAMARGO DE SOUZA

UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Taciano Moreira Gonçalves ANFÍBIOS ANUROS NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO BANHADO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP

Diversidade e padrão de atividade de anfíbios. anuros em ambientes úmidos costeiros no extremo. sul brasileiro.

20. Anfíbios. Márcio Borges-Martins, Patrick Colombo, Caroline Zank, Fernando Gertum Becker & Maria Tereza Queiroz Melo

TÍTULO: LEVANTAMENTO DE ANFÍBIOS NA FAZENDA SANTO ANTONIO, AGUDOS, SÃO PAULO

RELAÇÃO ENTRE MORFOLOGIA E UTILIZAÇÃO DO MICROAMBIENTE.

Notas sobre predação de anuros em uma poça temporária no nordeste do Brasil

Composição e Diversidade Temporal de Anfíbios Anuros em uma Área de Maciço Urbano no Sudeste do Brasil

COMPARAÇÃO DA DIVERSIDADE DE ANUROS ENTRE AMBIENTES DE AGRICULTURA TECNIFICADA E PRESERVADO NA PLANÍCIE DO RIO ARAGUAIA, TOCANTINS.

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS BACHARELADO VANESSA DE SOUZA PACHECO

Caderno de Pesquisa, série Biologia, volume 24, número 2 21

ANFÍBIOS DE UMA ÁREA DE CAMPO DA DEPRESSÃO CENTRAL DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL ¹

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA UHE MONJOLINHO

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE UNESC UNIDADE ACADÊMICA DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (BACHARELADO)

Distribuição temporal e diversidade de modos reprodutivos de anfíbios anuros no Parque Nacional das Emas e entorno, estado de Goiás, Brasil

Padrões de canto de anúncio de duas espécies de hylidae (Amphibia: Anura) do Sudeste do Brasil

Temporada reprodutiva, micro-habitat e turno de vocalização de anfíbios anuros em lagoa de Floresta Atlântica, no sudeste do Brasil

Nádia Alves de Macedo. Levantamento da anurofauna da Escola do Meio Ambiente, Botucatu - SP

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Biociências Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA UHE MONJOLINHO

RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS EM ÁREA DE CERRADO FRAGMENTADA NO MUNICÍPIO DE CUIABÁ

Levantamento preliminar herpetofaunístico no Parque Ambiental Galeno Santos Mota, São Sepé, Rio Grande do Sul, Brasil

Distribuição e fidelidade de desenvolvimento de Rhinella icterica (Anura, Bufonidae) no rio Cachimbaú, Sudeste do Brasil

Cássio Zocca¹,*, João Filipe Riva Tonini² & Rodrigo Barbosa Ferreira 1,3

Distribuição espacial e temporal de uma comunidade de anuros do município de Morrinhos, Goiás, Brasil (Amphibia: Anura)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Biologia Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas

Ocorre nas regiões central, oriental e sul do Brasil, na região oriental da Bolívia, no

Diversidade e Estruturação Espacial da Comunidade de Anfíbios Habitantes de Bromélias em Área de Restinga no Sudeste Brasileiro

PREDAÇÃO DA ARANHA Kukulcania hibernalis (ARANEAE: FILISTATIDAE) PELA PERERECA Scinax fuscovarius (ANURA: HYLIDAE)

LEVANTAMENTO DE ANFÍBIOS NO BOSQUE MUNICIPAL DE OURO PRETO DO OESTE, RONDÔNIA, BRASIL.

Anurofauna da Colônia Castelhanos, na Área de Proteção Ambiental de Guaratuba, Serra do Mar paranaense, Brasil

Diversidade e uso de hábitat da anurofauna em um fragmento de um brejo de altitude

COLABORADOR(ES): LEONARDO HENRIQUE DA SILVA, VINICIUS JOSÉ ALVES PEREIRA

Composição e ameaças à conservação dos anfíbios anuros do Parque Estadual de Itapeva, Município de Torres, Rio Grande do Sul, Brasil

Anuros do cerrado da Estação Ecológica e da Floresta Estadual de Assis, sudeste do Brasil

Ecologia de uma comunidade de anuros em Botucatu, SP

ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS

Atividade reprodutiva de Rhinella gr. margaritifera (Anura; Bufonidae) em poça temporária no município de Serra do Navio, Amapá.

Liberado para Publicação em: 18/12/2003 ISSN :

ARTIGO. Composição e uso do habitat pela herpetofauna em uma área de mata paludosa da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil

Distribuição Espacial e Temporal de uma Comunidade de Anfíbios Anuros do Município de Rio Claro, São Paulo, Brasil

Estrutura e organização espacial de duas comunidades de anuros do bioma Pampa

Distribuição espacial e sazonal de anuros em três ambientes na Serra do Ouro Branco, extremo sul da Cadeia do Espinhaço, Minas Gerais, Brasil

25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas

DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE ANFÍBIOS ANUROS NO PARQUE ESTADUAL DO TURVO, RIO GRANDE DO SUL

Anfíbios de dois fragmentos de Mata Atlântica no município de Rio Novo, Minas Gerais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS CIAMB

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS CIAMB

PARTILHA DE NICHO ENTRE DUAS ESPÉCIES DO GÊNERO

Ecologia de Campo na Ilha de Santa Catarina

HERPETOFAUNA EM ÁREA DO SEMIÁRIDO NO ESTADO DE ALAGOAS, NORDESTE DO BRASIL

Comunidades de girinos de lagoas permanentes e temporárias em ambientes montanos

Revista Ibero Americana de Ciências Ambientais, Aquidabã, v.2, n.1, maio, ISSN SEÇÃO: Artigos TEMA: Ecologia e Biodiversidade

Anfíbios anuros associados a corpos d água do sudoeste do estado de Goiás, Brasil

Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente 1(1):65-83, mai-out, 2010

PREDAÇÃO DE Scinax ruber (LAURENTI, 1768) (ANURA: HYLIDAE) POR Liophis typhlus (LINNAEUS, 1758) (SERPENTE: DIPSADIDAE) NA AMAZÔNIA CENTRAL, BRASIL

Anfíbios. Caroline Zank Ana Carolina Anés Patrick Colombo Márcio Borges Martins

ECOLOGIA TRÓFICA DE ANFÍBIOS ANUROS NA PLANÍCIE DO RIO ARAGUAIA, TOCANTINS.

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL. Fauna

Estudo da comunidade de anuros em poça temporária com ênfase na espécie Phyllomedusa hypochondrialis.

ANÁLISE DE MÉTODOS DE AMOSTRAGEM PARA A HERPETOFAUNA EM UM FRAGMENTO FLORESTAL, ACRE

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO CERRADO UNICERP Graduação em Ciências Biológicas

Anfíbios anuros dos Campos Sulinos

ECOLOGIA ISOTÓPICA DE ANFÍBIOS ANUROS NA PLANÍCIE DO RIO ARAGUAIA, TOCANTINS.

ANFÍBIOS DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE CAETÉS PAULISTA, PERNAMBUCO - ATUALIZAÇÃO DA LISTA DE ESPÉCIES RESUMO ABSTRACT

Fenômenos como a industrialização, a urbanização, o LEVANTAMENTO CIENCIOMÉTRICO DA SERPENTE B. MOOJENI PARA A ÁREA DA SAÚDE HUMANA

ANUROS DE ÁREAS CONSERVADAS E URBANIZADAS DO MUNICÍPIO DE IPORANGA, ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

LEVANTAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DA AVEFAUNA DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA FAP

Rodrigo Barbosa Ferreira 1, 2, 4, Roberto de Barros Dantas 1 & João Filipe Riva Tonini 3

OCORRÊNCIA DA ESPÉCIE EXÓTICA Lithobates catesbeianus (RÃ-TOURO) EM AMBIENTES NATURAIS NOS MUNICÍPIOS DE CHAPECÓ E GUATAMBU, SANTA CATARINA, BRASIL¹

ÍNDICE Fauna... 1/10 ANEXOS. Anexo Autorizações de Captura, Coleta e Transporte de Material Biológico n 325/2015

Estrutura populacional e padrão reprodutivo de Pseudis boliviana (Gallardo, 1961) (Anura: Hylidae) em uma planície de inundação na Amazônia Oriental

Redalyc. Gomes dos Santos, Tiago

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC UNA DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

UHE MONJOLINHO PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA

HERPETOFAUNA DE UMA ÁREA DE FLORESTA ATLÂNTICA NO HERPETOFAUNA OF AN ATLANTIC FOREST AREA IN SOUTHERN BRAZIL

Transcrição:

BIODIVERSIDADE PAMPEANA ISSN 1679-6179 PUCRS, Uruguaiana, 6(2): 39-43, dez. 2008 ANUROFAUNA EM ÁREA ANTROPIZADA NO CAMPUS ULBRA, CANOAS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL Ricardo Garcia RODRIGUES 1,3 ; Iberê Farina MACHADO 2,4 & Alexandre Uarth CHRISTOFF 1,5 ¹Universidade Luterana do Brasil ULBRA, Departamento de Biologia/Museu de Ciências Naturais. Av. Farroupilha, 8001. CEP 92425-900, Canoas, RS, Brasil. ²Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Aquáticos. Av. Unisinos, 950. CEP 93022-000, São Leopoldo, RS, Brasil. 3 E-mail:ecologia.ricardo@gmail.com 4 E-mail: iberemachado@gmail.com 5 E-mail:auchrist@ulbra.br ABSTRACT - ANURAN IN THE CAMPUS AREA NATURAL ULBRA, CANOAS, RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL. This work aimed to identify species of anuran amphibians in an area on the campus of the Universidade Luterana do Brazil (ULBRA), municipality of Canoas, Rio Grande do Sul. The work was conducted from October 2006 to May 2007. We found 12 species of frogs, distributed in four families: Bufonidae, Hylidae, Leptodactylidae, and Leiuperidae. The habitats that showed the highest richness were permanent ponds (eight species), followed by the wetland (seven species). This study demonstrated the importance of natural areas, even when impacted, to the regional diversity of frogs. Key words: Amphibian, survey methods, wetland. RESUMO - O presente trabalho teve como objetivo, inventariar espécies de anfíbios anuros em uma área no Campus da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), município de Canoas, Rio Grande do Sul. Os trabalhos foram realizados de outubro de 2006 a maio de 2007. Foram encontradas 12 espécies de anuros, distribuídos em quatro famílias: Bufonidae, Hylidae, Leptodactylidae e Leiuperidae. Os ambientes que apresentaram a maior riqueza foram as lagoas permanentes (oito espécies) seguidas da área de banhado (sete espécies). Este trabalho demonstrou a importância de áreas naturais, mesmo que impactadas, para a da diversidade regional de anuros. Palavras-chave: Anfíbios, métodos de levantamento de fauna, área úmida. BIODIVERS. PAMPEANA, v. 6, n. 2, 2008 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/biodiversidadepampeana Recebido em 02/02/2009. Aceito em 17/03/2009.

INTRODUÇÃO A maior diversidade de anuros ocorre na região neotropical, que conta com 43,7% das espécies conhecidas no mundo (DUELLMAN & TRUEB, 1994). O Brasil abriga a maior riqueza de anuros do planeta com 813 espécies (SBH, 2009). No Rio Grande do Sul (RS) são reconhecidas pouco mais de 84 espécies, o que corresponde a 11,23% das encontradas no Brasil (Machado & MALTCHIK, 2007). O estudo sobre anfíbios no RS é fragmentado e principalmente de cunho taxonômico (GARCIA & VINCIPROVA, 2003), porém vem se desenvolvendo consideravelmente nos últimos anos (KWET & DI-BERNARDO, 1999; DI- BERNARDO et al., 2004; GRANDO et al., 2004; LOEBMANN & VIEIRA, 2005; BOTH et al., 2008; COLOMBO et al., 2008; MALTCHIK et al., 2008; MOREIRA et al., 2008 & SANTOS et al., 2008). Muitas áreas do Brasil ainda necessitam de inventários de fauna (HADDAD, 1998), essa escassez de informações sobre a real diversidade da anurofauna se torna preocupante, pois a constante degradação dos ecossistemas naturais, especialmente em virtude de ações antrópicas, implica na alteração ou eliminação completa dos microhabitats específicos explorados pelos anuros (SEMLITSCH, 2003). Logo, estudos em ambientes naturais próximas a centros urbanos são importantes, uma vez que há a propensão de conversão urbana. O objetivo deste trabalho é apresentar a anurofauna amostrada entre outubro de 2006 a dezembro de 2007 no Campus da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Município de Canoas, localizada no centro da Região Metropolitana do Estado. Área de Estudo MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo foi realizado no Campus da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) 29 55 12 S, 51 10 48 W, Município de Canoas, localizada no centro da Região Metropolitana do Rio Grande do Sul. O clima é classificado como subtropical, mesotérmico úmido, com temperaturas médias entre 15º e 18º C (MALUF, 2000). As precipitações apresentam uma distribuição relativamente equilibrada ao longo do ano, tendo como média 1.299 e 1.500 mm. Fito-geograficamente, a vegetação original de Canoas é composta por campos IBGE (2004). A área de entorno da estudada pode ser caracterizada como região de ecótono, entre savana e savana estépica com vegetação típica de sítios úmidos e paludosos, apresentando um estrato arbóreo-arbustivo esparso constituído de poucas espécies em geral. O total da área estudada é de 120.000m², em ambiente intensamente alterado por ação antrópica. Através do histórico da instituição, verificou-se que a área atualmente formada por pastagens, aterros e uma construção civil, era originalmente um grande lago. Métodos de amostragem Utilizou-se procura ativa (HEYER et al., 1994) entre 17h00min e 22h00min, para investigar a serrapilheira, nas axilas de bromélias e Eryngium horridum (Apiaceae) e os perímetros de corpos d água como: poças temporárias, uma lagoa permanente e um banhado permanente; ao longo de duas transecções diárias limitadas por tamanho de 1.220 m., totalizando 460 horas. Para a amostragem da anurofauna terrícola utilizaram-se armadilhas de interceptação e queda (pitfall traps with drift fences) disposta em três estações amostrais nas áreas de mata (CECHIN & MARTINS, 2000). Cada estação consistiu em uma linha continua composta de quatro baldes (60L), dispostos a cada 4m e interligados por uma cerca-guia de tela de Nylon @ com 46cm de altura (CORN, 1994). As armadilhas permaneceram abertas continuamente, e foram inspecionadas uma vez ao dia. Nas áreas de banhado e da lagoa permanente registrou-se as vocalizações de alguns exemplares com gravador digital Panasonic RR-US 380. As gravações ocorreram entre 17h00min e 22h00min resultando em um total de 36 horas de gravação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registradas 12 espécies de anuros, distribuídas em quatro famílias: Bufonidae, Hylidae, Leiuperidae e Leptodactylidae. As espécies amostradas apresentam, em sua maioria, uma ampla distribuição pelo bioma Pampa abrangendo desde o sul do Brasil até parte do Uruguai e Argentina (IUCN, 2009), representando 70,58% e 52,17% da anurofauna conhecida para região metropolitana de Porto Alegre (MOREIRA et al., 2007; BRAUN & BRAUN, 1976). As famílias Leiuperidae e Hylidae apresentaram a maior riqueza de espécies e a de menor diversidade foi Bufonidae. Entre as metodologias de inventário empregadas no presente estudo, a procura ativa e gravação sonora foram as que mais contribuíram para a detecção de espécies (seis espécies cada), seguidas pelo pitfall (cinco espécies) (Tab. I). Algumas espécies de hilídeos e uma de Leiuperidae foram amostradas e identificadas apenas pelo processo de gravação, sendo elas Hypsiboas pulchellus, H. faber, Scinax squalirostris e Pseudopaludicola falcipes.

Tabela I: Lista das famílias e espécies de anfíbios anuros identificados no campus da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), no período de outubro de 2006 a dezembro de 2007; através das metodologias: Procura ativa (PA), Armadilha de queda (AQ) e Gravação sonoras (GS); nos ambientes: Lagoas permanentes (LP), poças temporárias em áreas abertas (PT), área de banhado (BA), serrapilheira (SE), nas axilas de E. horridum, (EH) e vegetação herbácea (VH). Famílias/espécies Bufonidae Rhinella dorbignyi Método PA AQ GS Hylidae Dendropsophus minutus Dendropsophus sanborni Scinax fuscovarius Scinax squalirostris Hypsiboas pulchellus Hypsiboas faber Pseudis minuta Leiuperidae Physalaemus cuvieri Physalaemus gracilis Pseudopaludicola falcipes Leptodactylidae Leptodactylus ocellatus Total 6 5 6 O ambiente que apresentou a maior riqueza foi o banhado com oito espécies: H. pulchellus, Dendropsophus minutus, D. sanborni, S. squalirostris, Physalaemus gracilis, P. falcipes, Pseudis minutus e Rhinella dorbignyi; seguida pela Lagoa Permanente com sete espécies: D. minutus, D. sanborni, S. squalirostris, Leptodactylus ocellatus, P. falcipes, Physalaemus cuvieri e P. gracilis (Tab. II). A maior riqueza encontrada no banhado pode estar relacionada com a distribuição de espécies ao longo de um gradiente ambiental, uma vez que esta interfere nos processos de estruturação das comunidades (WELLBORN et al., 1996). Anfíbios necessitam de vários habitats ao longo de seu ciclo de vida, variando desde ambientes aquáticos para reprodução e crescimento larval a ambientes terrestres para crescimento e dispersão de adultos. No uso de habitats para reprodução e desenvolvimento larval, muitas espécies são influenciadas por fatores abióticos, como por exemplo, o hidroperíodo e fatores bióticos, tais como predação e competição (KUPFERBERG, 1997). Habitats estruturalmente complexos fornecem aos girinos abrigo contra os predadores (ROZAS & ODUM, 1988; KOPP et al., 2006). Além disso, ambientes heterogêneos também favorecem a riqueza de espécies de anuros pela maior disponibilidade de sítios de vocalização (ETEROVICK & SAZIMA, 2000). Tabela II: Lista das famílias e espécies de anfíbios anuros identificados no campus da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), no período de outubro de 2006 a dezembro de 2007; nos ambientes: Lagoas permanentes (LP), poças temporárias em áreas abertas (PT), área de banhado (BA), serrapilheira (SE), nas axilas de E. horridum, (EH) e vegetação herbácea (VH). Ambiente Famílias/espécies LP PT BA SE EH VH Bufonidae Rhinella dorbignyi Hylidae Dendropsophus minutus Dendropsophus sanborni Scinax fuscovarius Scinax squalirostris Hypsiboas pulchellus Hypsiboas faber Pseudis minuta Leiuperidae Physalaemus cuvieri Physalaemus gracilis Pseudopaludicola falcipes Leptodactylidae Leptodactylus ocellatus Total 7 3 8 3 2 3 Os resultados aqui apresentados são esperados, uma vez que a área de estudos está inserida na região metropolitana, com forte pressão antrópica. Entretanto, existem poucos estudos publicados sobre taxocenoses de anuros em áreas fortemente impactadas e os resultados obtidos no presente estudo demonstram uma taxocenose dominada por espécies generalistas. Estudos que enfoquem essas comunidades podem favorecer a compreensão dos fatores mínimos necessários para o estabelecimento de uma população de anuro, auxiliando assim programas de recuperação de áreas degradadas. Material examinado: Dendropsophus sanborni MCNU 0098, 0099; Dendropsophus minutus MCNU 0100, 0101; Physalaemus cuvieri MCNU 0102; Scinax fuscovarius MCNU 0103; Leptodactylus ocellatus MCNU 0104; Pseudis minutus MCNU 0105, 0106; Physalaemus gracilis MCNU 0107, 0108, 0109, 0110; Rhinella dorbignyi MCNU 0111, 0112.

AGRADECIMENTOS Agradecemos à direção da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), pela autorização para a realização desta pesquisa. E a Vinicius Siqueira de Souza, Diego Jung e Ione Hayashida pelo auxilio nas saídas de campo e revisão do manuscrito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BOTH, C.; KAEFER, I. L.; SANTOS, T. G. & CECHIN, S. T. Z. An austral anuran assemblage in Neotropics: seasonal occurrence correlated with photoperiod. Journal of Natural History. v. 1-4, n. 42, p. 205-222. 2008. BRAUN, P. C. & BRAUN, C. A. S. Contribuição ao estudo da fauna anfibiológica da região metropolitana (Grande Porto Alegre), Rio Grande do Sul. Com. Mus. Ciênc. PUCRS, v.10, p. 1-16. 1976. CECHIN, S. & MARTINS, M. Eficiência de armadilhas de queda (pitfall traps) em amostragens de anfíbios e répteis no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, v. 17, n. 3, p. 729-740. 2000. COLOMBO, P.; KINDEL, A.; VINCIPROVA, G. & KRAUSE, L. Composição e ameaças à conservação dos anfíbios anuros do parque estadual de Itapeva, município de Torres, Rio Grande do Sul, Brasil. Biota Neotropica. v. 3, n. 8, p. 229-240. 2008. CORN, P. S. Straight-line drift fences and pitfall traps. In: Heyer, W. R.; Donnely, M. A.; McDiarmid, R. W.; Jayek, L. A.; Foster, M. (eds.). Measuring and monitoring biological diversity: standard methods for amphibians. Washington, D.C.: Smithsonian Institution Press. 109-117 p. 1994. DI-BERNARDO, M.; OLIVEIRA, R. B.; PONTES, G. M. F.; MELCHIORS, J.; SOLÉ, M. & KWET, A. Anfíbios anuros da região de extração e processamento de carvão de Candiota, RS, Brasil. In: Teixeira, E. C.; Pires, M. J. R. (eds.). Estudos ambientais em Candiota: carvão e seus impactos. FEPAM. 163-175 p. 2004. DUELLMAN, W. & TRUEB, L. Biology of Amphibians. New York: McGraw Hill. 670 p. 1994. ETEROVICK, P. C. & SAZIMA, I. Structure of an anuran community in a montane meadow in southeastern Brazil: effects of seasonality, habitat, and predation. Amphibia-Reptilia. n. 21, p. 439-461. 2000. GARCIA, P. C. A. & VINCIPROVA, G.. Anfíbios. In: Fontana, C. S.; Bencke, G. A.; Reis, R. E. (eds). Livro vermelho da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS. 147-164 p. 2003. GRANDO, J. V.; GONÇALVES, F. A. & ZANELLA, N.. Composição e distribuição estacional dos anuros de um remanescente de floresta nativa em área urbana no município de Passo Fundo, RS. Acta Biológica Leopoldensia. v. 1, n. 26, p. 93-100. 2004. HADDAD, C. F. B. Biodiversidade dos anfíbios no estado de São Paulo. In: Castro, R. M. C. (ed). Biodiversidade do estado de São Paulo, Brasil. Série: Vertebrados. São Paulo: FAPESP. 16-26 p. 1998. HEYER, W. R.; DONNELY, M. A.; MCDIARMID, R. W.; HAYEK, L. C. & FOSTER, M. Measuring and monitoring biological diversity. Standard methods for amphibians. Washington: Smithsonian Institution. 364 p. 1994. IBGE. 2004. Mapa de biomas do Brasil. Disponível em: http://www.ibge.gov.br acessado em 18 de março de 2009. IUCN. IUCN Red List of Threatened Species: http://www.iucnredlist.org/amphibians acessado em 18 de março de 2009. KOPP, K. & ETEROVICK, P. C. Factors influencing spatial and temporal structure of frog assemblages at ponds in southeastern Brazil. Journal of Natural History. n. 40, p. 1813-1830. 2006. KUPFERBERG, S. J. Bullfrog (Rana catesbeiana) invasion of California river: the role of larval competition. Ecology. n. 75, p. 1736-1751. 1997. KWET, A. & DI-BERNARDO, M. Pró-Mata: Anfíbios, Amphibien-Amphibians. Edipucrs. 1999. LOEBMANN, D. & VIEIRA, J. P. Relação dos anfíbios do Parque Nacional da lagoa do Peixe, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia. v. 2, n. 22, p. 339-341. 2005. MACHADO, I. F. & MALTCHIK, L. G. Check-list da diversidade de anuros no Rio Grande do Sul (Brasil) e proposta de classificação para as formas larvais. Neotropical Biology and Conservation. v. 2, n. 2, p. 101-116. 2007. MALTCHIK, L.; PEIOTO, C. D.; STENERT, C. MOREIRA, L. F. B. & MACHADO, I. F. Dynamics of the terrestrial amphibian assemblage in a flooded riparian Forest fragment in a Neotropical region in the south of Brazil. Brazilian Journal Biology, v. 4, n. 68, p. 763-769. 2008. MALUF, J. R. T. Nova classificação climática do Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrometeorologia. n. 8, p. 141-150. 2000. MOREIRA, L. F. B.; MACHADO, I. F.; LACE, A. R. G. M. & MALTCHIK, L.. Anuran amphibians dynamics in na intermitent pond in southern Brazil. Acta Limnologica Brasiliense. v. 20, n. 3, p. 205-212. 2008. MOREIRA, L. F. B.; MACHADO, I. F.; LACE, A. R. G. M. & MALTCHIK, L. G.. Calling period and reproductive modes in an anuran community of a temporary pond in Southern Brazil. South American Journal of Herpetology, v. 2, n. 2, p. 129-135. 2007.

ROZAS, L. P. & ODUM, W. E. Occupation of submerged aquatic vegetation by fishes: testing the roles of food and refuge. Oecologia. n. 7, p. 101-106. 1988. SANTOS, T. G. S.; KOPP, K.; SPIES, M. R.; TREVISAN, R. & CECHIN, S. Z. 2008. Distribuição temporal e especial de anuros em área de Pampa, Santa Maria, RS. Iheringia. v. 2, n. 98, p. 244-253. 2008. SBH. Lista de espécies de anfíbios do Brasil. Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH). http://www.sbherpetologia.org.br/checklist/anfibio s.htm, acessado em 02 de fevereiro de 2009. SEMLITSCH, R. D. Amphibian Conservation. Smithsonian Institution, Washington, 324p. 2003. WELLBORN, G. A.; SKELLY, D. K. & WERNER, E. E. Mechanism creating community strucuture across a freshwater habitat gradient. Annual Review of Ecology and Systematics. n. 27, p. 337-363. 1996.