ESTIMATIVAS DAS TAXAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA E DOS FLUXOS TURBULENTOS DE CALOR EM FLORESTA DE TERRA FIRME NA AMAZÔNIA

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Transcrição:

ESTIMATIVAS DAS TAXAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA E DOS FLUXOS TURBULENTOS DE CALOR EM FLORESTA DE TERRA FIRME NA AMAZÔNIA Ralf Gielow 1, Alessandro Augusto dos Santos Michiles 1 RESUMO Utilizando dados observacionais obtidos no final da estação seca de 22 na Reserva Biológica do Jaru (1 45 S e 62 22 O), Rondônia, determinou-se, para dias sem chuvas, a taxa de armazenamento de energia (TAE) no interior de floresta amazônica de terra firme utilizando uma metodologia simplificada, verificando-se uma alta correlação linear entre esta e a mais metodologia mais completa (r 2 =,96). Similarmente, determinaram-se os fluxos turbulentos de calores (FTC) sensível e latente sobre a mesma floresta, utilizando o método da razão de Bowen e, comparando os resultados com os obtidos pelo método da covariância de vórtices, constatou-se uma boa correlação linear (r 2 =,85) entre as somas dos dois FTC obtidos através dos dois métodos. Portanto, para dias sem chuvas, podem-se utilizar os métodos simplificados mencionados, obtendo-se resultados sem desvios significativos dos obtidos através de métodos mais completos. ABSTRACT Observational data obtained at the end of the dry season of 22 at the Reserva Biológica do Jaru (1 45 S e 62 22 O), Rondonia, Brazil, were used to determine, for non-rainy days, the energy storage rate (ESR) inside a Amazon Terra Firme Forest. A simplified method and a complete one were used, thus resulting a high linear correlation between their results, with r 2 =,96. Similarly, the latent and sensible turbulent heat fluxes (THF) over the same forest were determined using the Bowen ratio method, with the results being compared with the ones obtained through the eddy correlation method. Thus, a good linear correlation, with r 2 =,85 did result between the sums of the two THF obtained using each one of the methods. So, for non-rainy days, the simplified methods mentioned may be used, thus obtaining results that do not deviate significantly from the ones obtained through more complete methodologies. Palavras-Chave: Armazenamento de energia, fluxos turbulentos de calor, Floresta Amazônica.

INTRODUÇÃO Dentre os processos que governam a circulação geral da atmosfera, os mecanismos de troca de energia que acontecem acima das regiões equatoriais florestadas têm um papel importante no aquecimento da atmosfera tropical e potencialidade para provocar efeitos nos balanços globais de energia. Desta maneira, o conhecimento dos fluxos de energia (dados em W m 2 ) e de suas características sobre florestas, é fundamental para qualquer modelo que simule a interação solovegetação-atmosfera. Então, atualmente, uma das maiores preocupações relacionadas às observações micrometeorológicas em florestas é a grande variação que ocorre nos fluxos turbulentos de calor (FTC), sendo um problema particularmente sério sobre vegetação alta. A planície da Bacia Amazônica é coberta por uma vasta porção de florestas primárias de terra firme, que ocupam entre 8 e 9% de sua área total, caracterizando-se por elevados valores de biomassa e alta biodiversidade e, devido à grande heterogeneidade em espécies e tamanhos de árvore, é muito difícil medir as trocas de energia que ocorrem sobre estas florestas (Ayres, 1995; Monteny et al., 1985). Dessa forma, muitas investigações sobre as transferências de calor e de massa em coberturas vegetais da Amazônia tiveram o objetivo de descrever como ocorre a partição da energia radiativa que nelas incide e, particularmente, especificar a entrada de calor e vapor d água na baixa atmosfera (Legg e Monteith, 1975). No caso de florestas de terra firme densas, a taxa de armazenamento de energia (TAE) no interior da vegetação pode ser um componente significativo para o balanço de energia, e seu cálculo pode ser necessário para aprimorar modelos e métodos utilizados para estudar fenômenos com respostas em curta escala de tempo. Assim, pode-se destacar o uso da TAE para melhorar a precisão na estimativa dos FTC sensível e latente que ocorrem no topo da vegetação. Neste trabalho, teve-se como objetivos a determinação da TAE e dos FTC, por meio de metodologias simplificadas, e a verificação da validade destes cálculos, para um sítio de floresta de terra firme da Reserva Biológica do Jaru (Rebio Jaru), Rondônia, durante o final da estação seca de 22. DADOS E METODOLOGIA

O conjunto de dados utilizados neste trabalho, isto é, temperatura e umidade relativa do ar, saldo de radiação, fluxo de calor no solo e FTC sensível e latente (os últimos tendo sido obtidos pelo método de covariância de vórtices), foram coletados por meio de instrumentos montados numa torre micrometeorológica erguida, em 1999, numa área de floresta de terra firme localizada na Reserva Biológica do Jaru (1 45 S e 62 22 O), no Estado de Rondônia, durante a realização de campanhas experimentais do projeto RACCI/LBA, em 22. Os dados de temperatura de tronco foram obtidos por meio de termopares instalados numa árvore da espécie Hymenea courbaril (jatobá), nas alturas de 1,7 e 15, m, nas profundidades radiais de,5 e 3, cm, e armazenados em um datalogger (modelo CR-1, Campbell Scientific Inc., EUA). O cálculo da TAE total na floresta foi realizado dividindo-a em três termos de armazenamento principais, isto é, TAE no ar (S ar ), nos troncos (S tr ) e nos outros componentes da biomassa da floresta (S bio ), assim: S + = S ar + Str Sbio (1) Considerando uma camada de ar de altura Δz (= 28 m), e que as variações horárias de temperatura, ΔT, e umidade específica, Δq, são representadas por uma medida pontual num único nível da camada (12 m), a TAE no ar, escrita em aproximações por diferenças finitas, é dada por: S ar Δz = ρ a ( c pδt + Lq) (2) Δt sendo ρ a, c p, respectivamente, a massa específica e o calor específico à pressão constante do ar, e L o calor latente de vaporização da água. O cálculo da TAE nos troncos foi realizado a partir das temperaturas medidas (na altura de 15 m e profundidade de 3, cm) na árvore instrumentada no sítio, e por meio do uso de uma solução analítica da equação de condução do calor, apresentada por Meesters e Vugts (1996), ou seja: ΔTtr Str = mtrctrλ ( ϕ, ϕ R )secψ ( ϕ, ϕ R ) (3) Δt em que m tr é a massa de troncos por unidade de área topográfica, obtida por meio de levantamento florestal realizado por Saatchi e Alvalá (26); c tr é o calor específico dos troncos; λ e ψ são funções adimensionais especiais relacionadas com as funções e fases de Kelvin; ϕ e ϕ R são, respectivamente, coordenada e raio adimensionais relacionados com a velocidade de fase da onda de temperatura e com a difusividade térmica de tronco. A TAE nos demais componentes da biomassa (ramos - r, galhos - g, folhas - f, liteira - l e outros - o) é obtida através da equação:

S bio [ m c + m + m ) c + ( m + m c ] ΔT = r r ( g l g f o ) f (4) Δt na qual m e c são, respectivamente, a massa por unidade de área topográfica e o calor específico estimados para cada um dos componentes da floresta do sítio. Para as estimativas dos FTC sensível, H, e latente, LE, utilizou-se o método da razão de Bowen, ou seja: β H = e LE = ( R S G) n 1+ β ( R S G) n 1+ β nas quais R n é o saldo de radiação, S é a TAE no interior da vegetação, G é o fluxo de calor no solo, e β é a razão de Bowen (= H / LE). É importante ressaltar que, para a correta aplicação deste método, é necessário que não haja (i) grandes variações nos campos de radiação e de vento durante o período de observação e (ii) divergência ou convergência vertical de fluxos (Oke, 1987). (5) (6) RESULTADOS Para o cálculo da TAE e dos FTC, foram selecionados cinco dias sem a ocorrência de precipitação pluviométrica e com um conjunto completo de dados, isto é, dias 13 (DJ 286), 15 (DJ 29), 22 (DJ 297), 27/1 (DJ 32) e 5/11/2 (DJ 39). Fluxo de Energia (W m -2 ) 12 1 (a) Sar Str Sbio S 8 6 4 2-2 -4-6 -8 286 29 297 32 39 Dia Juliano (22) 8 7 (b) H LE Hbw LEbw 6 5 4 3 2 1-1 -2 286 29 297 32 39 Dia Juliano (22) Figura 1 Variação horária (a) das TAEs no ar, S ar, nos troncos, S tr, nos outros componentes da biomassa, S bio, e total, S; (b) dos FTC obtidos (i) através da torre do sítio, H e LE, e (ii)

pelo método da razão de Bowen, H bw e LE bw, na floresta da Rebio Jaru durante os dias selecionados (ver texto). Em termos horários (Figura 1a), verifica-se que a TAE total, S, é geralmente negativa antes do nascer-do-sol e após as 16 HL, e alcança os máximos durante o início da manhã com valores que podem exceder 1 W m 2. Em totais diários (não mostrados), os componentes S ar, S tr e S bio, contribuem, em média, para S, respectivamente com: 38, 26 e 36%. Quando se comparam os FTC calculados pelo método da razão de Bowen, H bw e LE bw, com aqueles obtidos a partir de equipamentos da torre do sítio, através do método de covariância de vórtices, H e LE, observa-se que, tanto em totais horários (Figura 1b) quanto diários (Tabela 1), existe uma correspondência muito boa entre LE bw e LE, sendo melhor que entre H bw e H. Em geral, os termos H bw e LE bw tendem a superestimar H e LE, com H bw fazendo-o em maiores proporções. Tabela 1 Totais diários dos termos H, LE, H bw e LE bw, em MJ m 2 dia 1, para os dias selecionados, com Média e Desvio Padrão (DP) calculados entre os dias 13 e 27/1/2 (exclui-se 5/11 do cálculo, pois o campo de radiação apresentou grande variabilidade neste dia). DJ Data H LE H bw LE bw H bw / H LE bw / LE 286 13/1/2 3,46 11,74 3,99 1,58 1,15,9 29 15/1/2 2,28 7,9 3,1 1,16 1,36 1,29 297 22/1/2 2,1 9,3 3,9 1,8 1,47 1,8 32 27/1/2 1,65 12,36 3,41 12,2 2,6,99 39 5/11/2 1,7 4,85 -,6 9,47 -,35 1,95 Média dias 286 1,51 1,6 DP a 32,39,17 S sim (W m -2 ) 1 8 6 4 2-2 -4-6 -8-1 (a) y = 1,22x +,64 y =,87x + 36,34 r 2 =,96 r 2 =,85 1 Instituto -1-8Nacional -6-4 -2 de Pesquisas 2 4 6 Espaciais 8 1 - INPE. -1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Av. dos Astronautas, S comp (W m1758-2 ) - DJ - 286 Jardim e 39 da Granja, São José dos H + LE Campos (W m -2 ) - 5 SP, dias 12227- H bw + LE bw (W m -2 ) 9 8 7 6 5 4 3 2 1-1 (b)

Figura 2 Regressões entre (a) TAE calculada pelo método simplificado, S sim, e pela integração completa, S comp, para os dias 13/1 (DJ 286) e 5/11/2 (DJ 39); (b) soma dos FTC obtidos (i) pelo método da razão de Bowen, H bw + LE bw, e (ii) através da torre do sítio, H + LE, para os mesmos dias da Figura 1. Com o intuito de verificar a validade do cálculo da TAE e dos FTC através da metodologia proposta neste trabalho, fizeram-se regressões lineares entre: (i) TAE calculada através das Equações 1 a 4, S sim, e pela integração completa, S comp, apresentada em Michiles e Gielow (26) para os dias 13/1 e 5/11/2 (únicos com um conjunto completo de dados para o cálculo de S comp ); (ii) soma dos FTC H bw + LE bw e H + LE (Figura 2). Dessa maneira, observou-se que S sim apresentou uma correlação muito boa com S comp (r 2 =,96), e H bw + LE bw correlacionou-se satisfatoriamente com H + LE (r 2 =,85). CONCLUSÕES Em regiões de floresta Amazônica de terra firme como a da Rebio Jaru, para dias sem chuvas, podem-se utilizar os métodos simplificados apresentados neste trabalho, não ocorrendo desvios significativos dos resultados obtidos por meio de metodologias mais completas. AGRADECIMENTOS A Antônio Ocimar Manzi e Celso von Randow e à equipe técnica do projeto RACCI pela montagem do experimento e obtenção dos dados na árvore, e a Sassan Saatchi e Regina Célia dos Santos Alvalá pela cessão do levantamento da biomassa da floresta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ayres, As matas de várzea do Mamirauá. Brasília: CNPq, 1995. 123 p. Legg, B.; Monteith, J. Heat and mass transfer within plant canopies. In: de Vries, D. A.; Afgan, N. H. (ed.) Heat and mass transfer in the biosphere. Washington: John Wiley & Sons, 1975. v. 1, chap. 11, p. 167-186. Meesters, A. G. C. A.; Vugts, H. F. Calculation of heat storage in stems. Agricultural and Forest Meteorology, v. 78, n. 3-4, p. 181-22, Feb. 1996.

Michiles, A. A. S.; Gielow, R. Armazenamento e balanço de energia em superíficie para uma área de floresta no sul da Amazônia. Submetido ao XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia. Monteny, B. A.; Barbier, J. M.; Bernos, C. M. Determination of the energy exchanges of a foresttype culture: Hevea brasiliensis. In: Hutchison, B. A.; Hicks, B. B. (ed.) The forest-atmosphere interaction. Dordrecht: D. Reidel Publishing Company, 1985. chap. 14, p. 211-233. Oke, T. R. Boundary layer climates. New York: Methuen, 1987. 435 p. Saatchi, S.; Alvalá, R. C. S. Inventário florestal completo realizado na floresta de terra firme da Reserva Biológica do Jaru, em 22. (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 26). Comunicação pessoal.