A banda de rock regressivo, totalmente nativa da cidade de Fortaleza, vem mostrando, por meio da qualidade de suas músicas autorais, que a capital cearense não pode ser conhecida apenas como a capital do forró. Aqui tem rock, Bebê!
Cor, irreverência, humor, críticas e rock. Assim é imagem da banda The Good Gardem. Com 13 anos de estrada, o grupo de rock regressivo (estilo musical caracterizado por fazer críticas de uma maneira simples e direta), utiliza-se das letras autorais para pontuar e até mesmo descrever a realidade de uma sociedade muitas vezes censurada ou não mencionada pelas grandes mídias. Nascida e formada por moradores do bairro Bom Jardim, em Fortaleza, a banda, que de início começou a movimentar o cenário musical dentro da própria comunidade, hoje conseguiu atingir não somente os demais bairros da capital, mas, também, entrar no hall das bandas de rock alternativo brasileiro. A gente conheceu o Brasil inteiro com a banda. Nós trazemos bandas de outros estados para Fortaleza, como do Pará, Piauí, Manaus, Maranhão. Só bandas autorais. Revela o baixista, Georgiano de Castro. Se já não bastasse toda a singularidade do grupo, um espaço da casa de um dos músicos foi transformado na Toca da banda. Toda tematizada, a Toca, assim apelidada, é climatizada e têm em suas paredes desenhos aleatórios bem característicos do grupo, as caricaturas dos integrantes, o piso montado por cerâmicas pretas e brancas, um telão com as tirinhas e fotos da banda, um bar todo temático e é iluminada por luzes que dão um ar bem rock in roll ao espaço que serve de palco tanto para apresentações da própria banda, como às bandas convidadas a tocarem aos fins de semana ao público formado, aos fãs, apreciadores de rock, convidados e, predominantemente, pela comunidade. Todo o dinheiro é utilizado para reaproveitar o espaço. (Georgiano)
Os eventos que acontecem todos os fins de semana, atingem em sua maioria um público jovem, de faixa etária entre 14 a 25 anos que comparecem assiduamente e se inspiram tanto pela música, como pelo o trabalho que a banda realiza. Hoje em dia, a banda gera o dinheiro de se sustentar como proposta. Todo o dinheiro é utilizado para reaproveitar o espaço. Muitas vezes esse retorno não é só financeiro, ele vem em forma de reconhecimento, visibilidade, e até mesmo, pelos contatos pessoais que podem abrir novas portas para o trabalho e mais tarde, podem ajudar financeiramente, conta Georgiano. Ultrapassando as barreiras do local, os integrantes frisaram que de início, ao se apresentar em alguns outros pontos da cidade, as pessoas não acompanhavam muito a banda devido ao conteúdo autoral, mas, em contraponto, a banda alugava um ônibus saindo do bairro Bom jardim para levar os moradores ao show. Com isso, eles tinham um público que se tornou cada vez mais fiel e despertou o interesse dos outros a visitar e a conhecer a Toca. A dificuldade de conseguir espaços em Fortaleza que fossem abertos, gratuitos e com exposição de um repertório totalmente autoral é um dos pontos negativos, segundo o grupo. Hoje, além da Toca, as bandas autorais têm esses espaços dedicados nos festivais de Rock Cordel no Centro Cultural do Banco do Nordeste e nos Cucas de Fortaleza.
Integrantes Georgiano (esq.) e Alexandre (dir) na Toca. (Foto: Ana Rebeca Queiroz) O grupo é formado por três integrantes. Na guitarra, Wellington Lobo, o presidente da empresa The Good Garden Produções - o nome também se estende a produtora que participa na realização e produção de outros shows. O de maior público foi o show dos Raimundos, com um público de 4 mil pessoas. No contra-baixo, Georgiano de Castro, policial militar, responsável pelo Marketing da banda. E na bateria, Cícero Alexandre, professor de educação física. O trio se intercala na voz. Considerado como o quarto membro da banda, o produtor Wesley Pontes, também funciona como o mediador. Apesar de manter uma vida paralela para garantir uma estabilidade financeira fixa, todos os integrantes afirmam que a primeira profissão de cada um é atrelada à banda.
Um fundo com dinossauros verdes e topetes no estilo Elvis Presley, só que em cor-de-rosa, tão chamativo como as roupas utilizadas nos shows, esta é a imagem que sintetiza o perfil da banda. Não é só pelas cores peculiares que o blog da banda chama atenção. A criatividade e os textos críticos trazem conteúdos que envolvem a sociedade para uma reflexão sobre o atual momento do país.
Por onde passa, a banda exala dedicação, humor e respeito pelo bairro que tornou possível toda essa jornada. Ser um morador do bairro Bom Jardim e integrante do The Good Gardem é acreditar avidamente no famoso mantra do Punk Rock Do It Yourself (faça você mesmo), ressalta Georgiano. Eles não têm medo de arriscar e se jogar de cabeça nos projetos com autoridade para criar desde suas próprias gravações e produção de álbuns, até organização de concertos e vendas de merchandising. Os três integrantes tentam manter o roteiro do show o mais divertido possível, zombando uns dos outros, mas mantendo a amizade e a essência do rock. Num tom bem humorado, o blog apresenta tirinhas ilustradas por um amigo, Thiago Nascimento. Abaixo, uma homenagem ao disco Abbey Road, dos Beatles, de 1969. A tira se passa numa faixa de pedestres na Avenida Oscar Araripe, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza.
Além do blog, a banda participa de projetos, principalmente na Rede Cuca. Lá, recentemente, alunos da turma de Produção de Videoclipe produziram o vídeo da música Cotidiano. Por essa razão, atualmente, o rock está bem mais presente no underground e é nele que o estilo vem conquistando grandes seguidores. Atualmente, existe uma maior locomobilidade das pessoas. Não são apenas as bandas que se encarregam de levar música até elas. Agora, esse publico se mobiliza até a cena underground para estar perto dos grupos que gostam. Isto permite que o rock ainda se mantenha, mesmo que não seja no mainstream atual na cidade. O compromisso desse público, permite que bandas como The Good Gardem deem continuidade ao seu trabalho, sempre com a vontade de apresentar algo inovador.
se manterem vivas, mostrarem seu trabalho sem amarras e com autenticidade, passarem seus recados que são verdadeiras sugestões de mudanças sociais, de mentalidade. Como surgiu a banda? Há quanto tempo estão na estrada? Gostaríamos que apresentassem a formação da banda e falassem sobre dela. A banda surgiu como a maioria. Uma molecada sem ter muito o que fazer começa a tocar violão para impressionar as meninas (risos), acaba formando uma banda. Também muito pela força do movimento Rock no bairro Bom Jardim, do qual somos oriundos, e nisso já se vão 14 anos. Temos como formação Renato Souza nos vocais, Celino e Carlos nas guitarras, Tetê no baixo e Phelippe na bateria. Juntos somos a banda Radix e representamos o underground da periferia de Fortaleza, passamos nossas mensagens críticas, de motivação através do hardcore alternativo como costumamos dizer, pelas junções de vários outros estilos. Quais as maiores dificuldades que vocês tiveram que enfrentar como grupo? Talvez a maior seria a falta de recurso mesmo. Fazer Rock no Ceará não é fácil. Como é pra vocês a cena local? Quais são os maiores desafios que vocês tem aqui no Brasil? Nossa cena evoluiu muito de uns anos pra cá, mas ainda está bem longe do ideal. Temos poucos espaços para shows, muito pouco de mídias, salvo a internet lógico! As dificuldades no Brasil é que as grandes mídias não tem interesse pelo Rock, ainda mais o nosso underground, e assim fica difícil se manter, ter sua banda como profissão. Quais são as influências da banda? Em quem vocês se inspiram? É bem difícil dizer as nossas influências, pois cada um escuta de tudo um pouco, no que diz respeito às vertentes do Rock, MPB, Rap, enfim, muita coisa. Certamente não vamos muito longe para nos inspirarmos, porque são as próprias bandas de Rock da nossa cena, que lutam bastante para
Como é o processo da gravação dos álbuns? Quem faz as capas e quem os produz? Quem compõe as músicas? Fazemos uma construção coletiva. São várias reuniões e experimentos onde cada um dá a sua ideia no que diz respeito a tudo, fazemos uma compilação do que melhor ficou, pedimos as opiniões dos mais próximos da banda e lançamos para o público. Até agora tem dado certo (risos). Há planos de lançamento de um novo álbum da banda? Hoje nossa proposta é interna. É de estruturação para melhor mostrarmos nosso trabalho, temos pensado em álbum novo, mas ainda vamos amadurecer a ideia. São cenas para os próximos capítulos (risos). Qual foi o show mais marcante? Graças a Deus são inúmeros, mas posso citar o do Bomja Rocks, em 2012. Tivemos como atração principal Os Raimundos, e que depois fizemos vários shows.