A MARCAÇÃO DE NÚMERO NO SINTAGMA NOMINAL NOS FALANTES BREVENSES: UM EXERCÍCIO VARIACIONISTA

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19 A MARCAÇÃO DE NÚMERO NO SINTAGMA NOMINAL NOS FALANTES BREVENSES: UM EXERCÍCIO VARIACIONISTA Alan Gonçalves MIRANDA (G-UFPA) Celso FRANCÊS JÚNIOR RESUMO Diversos estudos sociolinguísticos já comprovaram que, no Brasil, grande parte dos falantes tende a não marcar o Sintagma Nominal (SN) quando ele está no plural. Contudo, há áreas do país em que tais estudos ainda não foram realizados. A Ilha de Marajó, mais especificamente a cidade de Breves, por exemplo, ainda é pouco estudada quanto aos fenômenos linguísticos que ocorrem na região. Neste sentido, o objetivo desse trabalho é apresentar um exercício variacionista a respeito da marcação do SN na fala dos moradores do município de Breves. Buscar-se-á, assim, determinar os fatores intralinguísticos e extralinguísticos que contribuem para a marcação ou ausência da variante <S> no SN. No que se refere à metodologia utilizada nesta pesquisa, foram realizadas entrevistas com 08 informantes da zona rural e da zona urbana do município. Como fundamentação teórica, foram utilizados Labov (2008), Brandão (21), Yacovenco e Scherre (21) e Camacho (21). Dentre os resultados obtidos ressaltamos que os falantes do município de Breves tendem a marcar o plural somente na posição de determinante; e o fator escolaridade é determinante para que se tenha ou não a ocorrência do fenômeno. PALAVRAS-CHAVE: Variação linguística. Município de Breves. Ausência da variante <S>. INTRODUÇÃO Diversos estudos sociolinguísticos já comprovaram que no Brasil grande parte dos falantes tende a não marcar o Sintagma Nominal (SN) quando ele está no plural. Contudo, há áreas do país em que esses estudos ainda não foram realizados. A Ilha de Marajó, mais especificamente a cidade de Breves, por exemplo, ainda é pouco estudada no que se refere aos fenômenos linguísticos que ocorrem na região. É neste sentido que esse trabalho apresentará um exercício variacionista quanto à marcação do SN na fala dos moradores do município de Breves. Buscará, por fim, determinar quais os fatores intralinguísticos e extralinguísticos que contribuem para a marcação ou ausência da variante <S> no SN. No que se refere à metodologia utilizada nesta pesquisa, foram realizadas, primeiramente, entrevistas com 08 (oito) informantes das zonas rural e urbana do município. Como aparato teórico, foram utilizados os seguintes autores: Labov (2008), Brandão (21), Yacovenco Scherre (21) e Camacho (21). A organização do trabalho se dará desta maneira: em um primeiro momento, serão esboçados os passos da metodologia. Em seguida, o embasamento teórico acerca das discussões sobre a marcação de número no sintagma nominal. Posteriormente, serão apresentados os dados coletados e resultados obtidos a partir deles. Por fim, serão feitas as conclusões da pesquisa.

METODOLOGIA Para a análise das ocorrências da regra de concordância de número no SN, foram realizadas entrevistas com 08 informantes, levando em consideração os seguintes fatores extralinguísticos: zona que residem, escolaridade e sexo. Os informantes foram divididos entre 04 homens (dois da zona rural e dois da zona urbana) e 04 mulheres (duas da zona rural e duas da zona urbana). Eles foram, também, divididos de acordo com seu grau de escolaridade, assim, foram entrevistados 02 homens escolarizados e 02 não escolarizados, 02 mulheres escolarizadas e 02 não escolarizadas. A tabela 1 apresenta mais detalhadamente a disposição dos informantes: 20 Tabela 1: Organização dos informantes. QUANTIDADE ZONA SEXO ESCOLARIDADE NÃO-ESCOLARIZADO MASCULINO ESCOLARIZADO RURAL NÃO-ESCOLARIZADO FEMININO ESCOLARIZADO NÃO-ESCOLARIZADO MASCULINO ESCOLARIZADO URBANA NÃO-ESCOLARIZADO FEMININO ESCOLARIZADO Fonte: Elaborado pelo autor. No que diz respeito às entrevistas, foram feitas perguntas com temas do cotidiano dos entrevistados como a profissão ou trabalho que exercem, perguntas sobre a família, bem como sobre histórias que marcaram suas vidas, todas com o intuito de incentivar uma conversa informal. Em decorrência da falta de um equipamento profissional, todas as entrevistas foram gravadas por meio do um gravador de áudio de um Smartphone. A duração das entrevistas foi, em média, de 25 minutos. Como dito anteriormente, a pesquisa foi realizada no município de Breves, estado do Pará, com informantes das zonas urbana e rural. Os que residem na cidade foram entrevistados em suas casas, localizadas nos seguintes bairros brevenses: Santa Cruz, Riacho Doce, Centro e Aeroporto. Já os informantes da zona rural, todos ribeirinhos, residem nos rios, Camarapi, Macacos, Tajapurú, Japixauá, sendo que, no momento da entrevista, todos estavam na cidade, na casa de familiares. Dentre os contratempos enfrentados na realização dessa pesquisa, podem ser destacadas as dificuldades em encontrar informantes da zona rural, principalmente os escolarizados. Outro fator que dificultou a pesquisa foi a necessidade de deslocamento às residências dos entrevistados, que, em sua maioria, são localizadas em bairros periféricos e de difícil acesso.

Ressalta-se, ainda, que essa pesquisa consiste em uma análise quantitativa seguindo o modelo teórico-metodológico proposto por Labov (2008) e Tarallo (1986), o qual leva em consideração o fator social, contrapondo ao modelo gerativo. Assim, para a verificação do número de ausências da variável <S>, foram utilizados um total de 225 grupos de força, obtidos por meio da fala dos entrevistados. 21 MARCAÇÃO DE NÚMERO NO SN: DISCUSSÕES TEÓRICAS O precursor dos estudos linguísticos, Ferdinand de Saussure, considerava a língua como um sistema autônomo e homogêneo. A abordagem laboviana, no entanto, afirma que a língua é um sistema heterogêneo. E é essa característica de heterogeneidade da língua, citada por Labov, que provoca a variação linguística. De acordo com Camacho (20, p. 56), as variações representam duas ou mais formas alternativas de dizer a mesma coisa no mesmo contexto. Sendo assim, no Português Brasileiro (PB), a marcação de número é considerada uma variante, pois um falante é capaz de ter entendimento mesmo de orações em que não há a marcação de plural. Por outro lado, a não marcação do <S> não acontece com todos os falantes do PB, desta forma, segundo Scherre (1994, apud LEMOS, p. 44) esse fenômeno não é uma regra categórica, mas sim variável que se apresenta conforme certos determinantes linguísticos e sociais. Os determinantes linguísticos se tratam de questões gramaticais que favorecem ou não às ocorrências das variantes. Já os sociais são ocasionados por diferenças sociais como a idade, escolaridade, zona de residência, sexo e fatores econômicos, os quais influem diretamente no modo de expressão oral do falante. Ainda com relação aos determinantes sociais, Yacovenco e Scherre (21, p. 122), apoiadas na teoria de WLH 1, afirmam que os fatores externos são de suma importância na compreensão dos fenômenos variáveis e postulam que alguns deles podem ser os responsáveis pela variação e pela mudança linguística. Por fim, é necessário falar sobre a concordância nominal. Para Ferreira (23, p. 103), Há uma regra gramatical que exige a marcação de plural em todos os constituintes de um Sintagma Nominal (SN). A essa regra damos o nome de concordância nominal. Portanto, a concordância nominal se dá quando marcamos devidamente todas as palavras do SN com o segmento fônico <S>, 1 Weinreich, Labov e Herzog.

como no exemplo: as meninas bonitas. No entanto, reitera-se que no PB essa regra gramatical nem sempre é seguida. É o que será exposto no tópico a seguir. 22 A CONCORDÂNCIA NOMINAL NOS FALANTES BREVENSES Antes de enfatizar os dados e resultados parciais desse estudo, é importante mostrar a construção básica da frase nominal e as posições que são dadas a cada elemento que as compõe. Com relação à frase nominal, sua construção comum no português possui a seguinte estrutura básica: determinantes (o, a, os, as, um, uma, uns, umas, meu, minha, meus, minhas, etc. ou numeral), núcleo do sujeito (substantivo) e modificador adjetival (adjetivo). Já a posição dos elementos utilizada neste estudo, pode ser observada no exemplo abaixo: Os meninos espertos det. núcleo mod. P1 P2 P3 Tem-se, portanto, que na frase de construção básica, as posições P1, P2 e P3 representam, consecutivamente, o determinante, o núcleo e o modificador. É necessário destacar, contudo, que, na análise do corpus coletado para a pesquisa, não foram encontrados grupos de força com a presença de um modificador adjetival. Por isso, a análise se ateve somente as duas primeiras posições do sintagma nominal, P1 (artigos e pronomes) e P2 (substantivos). Como se vê nas amostras dos informantes R, M04 e B02: Us irmãu (O<s> (artigo) irmão[ø] (substantivo)) R Meus netinhu (Meu<s> (pronome) netinho[ø] (substantivo)) M04 Três alunu (Três (numeral) aluno[ø] (substantivo)) B02 Os três exemplos mostram que, apesar de não haver elementos na P3 (modificador adjetival), as frases, ainda assim, não apresentam concordância de número. Partindo desse pressuposto, a partir de agora, será evidenciado, por meio de tabelas e gráficos, como fatores internos e externos à língua podem provocar variação. Neste caso, primeiramente, observar-se-á se os falantes marcaram o plural nos artigos e/ou pronomes (P1) e nos substantivos (P2), que são os fatores internos, tendo como parâmetro o sexo, a zona de residência e a escolaridade, os fatores externos. É preciso lembrar, entretanto, que os numerais (determinantes) não serão analisados aqui, já que não precisam de marcação para indicar pluralidade.

23 Determinantes: Artigos e Pronomes Poucas ocorrências da não marcação de plural foram registradas quando os artigos e pronomes foram observados. Veja a tabela 2. Tabela 2: Ausência de marcação do <S> nos artigos e pronomes (P1). Sexo Zona Escolaridade Classe M F Urbana Rural Escolarizado Não-escolarizado Artigo 1 1 0 2 1 1 Prono me 0 4 0 4 1 3 Fonte: Elaborado pelo autor. De acordo com a tabela, apenas em 2 (dois) casos os informantes deixaram de marcar o plural no artigo e somente 4 (quatro) não marcaram o plural de pronomes. Esses informantes que não marcaram a P1 com <S> são, em sua maioria, mulheres da zona rural não-escolarizadas. No entanto, como são poucas ocorrências, não se pode afirmar que tal acontecimento é uma tendência no município de Breves. As frases u meus alunu (os meus alunos) e tudu velhu (todos velhos) foram retiradas da fala dos informantes B02 e D05. Ambas ilustram os casos em que a P1 não foi devidamente marcada. A seguir, ver-se-á as ocorrências de apagamento do <S> nos substantivos. Núcleo: Substantivo Como se sabe, o núcleo da frase nominal é sempre um substantivo. Sendo assim, o objetivo, a partir de agora, é analisar se o núcleo das frases foi devidamente marcado com o segmento <S>. Veja-se a tabela 3. Tabela 3: Ausência de marcação do <S> no substantivo (P2). Sexo Zona Escolaridade Classe M F Urbana Rural Escolarizado Não-escolarizado Substantivo 6 9 86 83 72 37 118 Fonte: Elaborado pelo autor.

Como se observa na tabela 3, informantes do sexo feminino e da zona urbana marcaram menos o plural, apesar de a diferença para o sexo masculino e zona rural ser pequena. O fator da escolaridade, por sua vez, na análise do núcleo, evidencia que os falantes não-escolarizados marcam o plural do núcleo com menos frequência. De toda forma, diferentemente dos determinantes, o número de apagamentos do <S> no núcleo das frases foi bem alto, já que das 255 frases analisadas, em 155 a P2 deixou de ser marcada. É preciso ressaltar, ainda, que, nos casos em que ocorreu o apagamento do <S> no núcleo, a P1 foi devidamente marcada, isto é, os falantes brevenses tendem a marcar plural na P1, não achando necessário a concordância de número na P2. Sobre esse fato, Camacho afirma que Assim, uma variante, como presença de marca de plural no sintagma nominal, é conhecida como detentora de prestígio social entre membros da comunidade, sendo por isso chamado variante padrão ou de prestígio. Já sua alternativa, a ausência de marca de plural, é conhecida como variante não-padrão ou estigmatizada. (CAMACHO, 21, p. 59). O autor determina que o contraste entre a marcação e a não-marcação de plural é definido pelos membros da comunidade, em outras palavras, os falantes dessa comunidade é que fazem com que uma forma seja considerada de prestígio ou não. No caso dos falantes de Breves, destaca-se que a forma de prestígio é a marcação de plural no determinante e a não-marcação no núcleo. O fragmento uns freguês (uns fregueses) retirado da fala de E06 exemplifica o fenômeno, pois, como se vê, o pronome indeterminado uns está no plural e o substantivo freguês está no singular. 24 Os fatores Sociais/Extralinguísticos na marcação do <S> Após ter verificado como os fatores internos à língua interferem na marcação de plural na fala dos brevenses, ver-se-á, agora, de maneira geral, os resultados que a questão social, independentemente da posição do apagamento <S>, propiciou à pesquisa, pois, como diz Tarallo (1986, p. 46), A formalidade vs. a informalidade do discurso, o nível socioeconômico do falante, sua escolaridade, faixa etária e sexo poderão ser considerados como possíveis grupos de fatores condicionadores. Em outras palavras, Tarallo ratifica o que vários sociolinguístas já vinham exemplificando em suas pesquisas, a ideia de que os fatores sociais determinavam variações aos resultados. Sendo assim, o gráfico 5 exemplifica os resultados.

25 Gráfico 1: Ocorrências de ausência da variável <S> nos fatores sociais. 100% 80% 76% 60% 57% 55% 40% 43% 45% 20% 24% 0% Fonte: Elaborado pelo autor. Sexo Masculino Sexo Feminino Zona Urbana Zona Rural Escolarizado Não-escolarizado De acordo com o gráfico, nota-se que o percentual de ausências de marcação de plural, quando o fator sexo é analisado, tem uma razoável diferença entre homens e mulheres. Enquanto eles apagaram o segmento <S> em 43% das frases em que a marcação era necessária, elas deixaram de marcar em 57% das frases, fato esse que pode indicar uma certa tendência de as mulheres apagarem com frequência a marca de plural no SN. Nos dados referentes à zona de moradia dos entrevistados, percebeu-se um relativo equilíbrio nas porcentagens. A diferença de 10 pontos percentuais entre os moradores da zona urbana e os da zona rural indica que o fator zona de residência não é tão preponderante para que ocorra uma maior ou menor quantidade de casos de apagamento do <S> na fala dos brevenses. A escolaridade, por sua vez, parece ser o fator extralinguístico mais categórico para a marcação ou não de número no SN, pois as ocorrências de não marcação de plural em frases nominais teve um percentual 52% maior entre os entrevistados não-escolarizados, em detrimento dos escolarizados. Esse aspecto deixa claro que aqueles que tiveram ou têm acesso à educação, muito pelo fato de a escola pregar o ensino da norma culta da língua, irão marcar o plural mais do que aqueles que não tiveram acesso. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise sociolinguística de uma comunidade exibe ao pesquisador um retrato quase que fiel da realidade vivida por determinado grupo social. Além de participar do cotidiano linguístico da região, o sociolinguísta interage socialmente com aquela comunidade, percebendo assim, os fatores que podem influenciar nos resultados de sua pesquisa. No município de Breves, não foi diferente. A partir dos resultados alcançados nesta pesquisa, notou-se que a marca de concordância de número no SN é maior na posição inicial do sintagma, no determinante, independentemente de ser pronome ou artigo, do que na segunda posição, a do núcleo. As únicas exceções encontradas foram

vistas no corpus do trabalho. Naquelas ocorrências, foi o núcleo do SN que recebeu a marca de plural. Por fim, tratando agora dos fatores extralinguísticos, a escolaridade demonstrou ser o fator que mais provoca a marcação ou não do plural no SN. A partir dos dados estudados sobre esse fator, ficou comprovado que os falantes não-escolarizados realizaram mais vezes o apagamento do <S>, do que os informantes escolarizados. Em suma, essa pesquisa chegou a duas conclusões: a primeira é de que os falantes do município de Breves tendem a marcar o plural somente na posição de determinante; a segunda é de que, mais do que sexo e a zona de residência, o fator escolaridade é determinante para que ocorra ou não a marcação do <S>, pois, como dito anteriormente, os informantes escolarizados marcam o plural do SN em muito mais casos do que os colaboradores não-escolarizados. 26 REFERÊNCIAS BRANDÃO, Silvia Figueiredo. Concordância nominal em duas variedades do português: convergências e divergências. Rio de Janeiro, 21. Disponível em: <www.ufjf.br/revistaveredas/files/21/05/artigo-19-silvia-brand%c3%a3o- Pagina%C3%A7%C3%A3o.pdf> acesso em: 22 de Maio de 25. CAMACHO, Roberto. Sociolinguística: Parte II. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES Anna Christina. Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. v.1 9 ed. São Paulo: Cortez, 21. FERREIRA, Samuele Bahia Rodrigues. A variação na concordância nominal de número no Sintagma Nominal no Português afro-brasileiro: abordagem mórfica. Fortaleza, 23. LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. (trad.) Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. - São Paulo: Parábola Editorial, 2008. SCHERRE, Maria Marta Pereira; YACOVENCO, Lilian Coutinho. A variação linguística e o papel dos fatores sociais: o gênero do falante em foco. Rio de Janeiro 21. Disponível em: <http://www.abralin.org/revista/rve1/v14.pdf> acesso em: 20 de Maio de 25. TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 1986.