DEBATES SOBRE EDUCAÇÃO, GÊNERO E RELIGIÃO NO TRABALHO DE MULHERES TECELÃS Amanda Motta Angelo Castro UNISINOS Agência Financiadora: CAPES

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Transcrição:

1 DEBATES SOBRE EDUCAÇÃO, GÊNERO E RELIGIÃO NO TRABALHO DE MULHERES TECELÃS Amanda Motta Angelo Castro UNISINOS Agência Financiadora: CAPES Entendemos que a pesquisa não é neutra (FREIRE, 1999; BRANDÃO; STRECK, 2006). Sabemos, também, que o referencial epistemológico é situado, contingente e localizado (NEUENFELDT, 2008). Por esse motivo entendemos ser importante e necessário indicarmos o campo teórico de onde falamos. Utilizamos o conceito de gênero entendido como o estudo das relações cultural e socialmente produzidas entre homens e mulheres, e destes entre si. Um conceito que foi sendo construído nos estudos relacionados a diversos campos do feminismo e, por isso, também de ordem ideológica, política e de lutas (SAFFIOTI, 2004). Portanto homens e mulheres são ensinados a serem o que são na cultura que estão inseridos. Seguindo esta idéia, somos ensinados/as desde a infância como devemos ser meninas e meninos e nos portarmos, como homens ou mulheres, para sermos socialmente aceitos. A questão de gênero é sempre influenciada por fatores sociais como raça, etnia, cultura, classe social e idade (FIORENZA, 2009), segundo Gebara gênero é também influenciado pela religião. Gênero quer dizer, entre outras coisas. Falar a partir de um modo particular de ser no mundo, fundado, de um lado, no caráter biológico do nosso ser, e de outro lado, num caráter que vai alem do biológico porque é justamente um fato de cultura, de historia, de sociedade, de ideologia e de religião. (GEBARA, 2000, p. 107). Pensar na articulação entre educação, gênero e religião é de certa forma andar na contra mão. Sabemos que o campo religioso vem sendo escrito, pensado e dominado pelo mundo masculino dominante 1 há séculos (GEBARA, 2000; NUNES, 2005), portanto pensar, pesquisar e escrever sobre a mulher na religião, como atuante, tem sido a luta consciente de muitas mulheres dentro da academia e entendemos que esta luta, também é teórica. Embora saibamos que [...] nenhuma área das religiões instituídas deixou de passar pelo crivo crítico do olhar feminista (NUNES, 2006, p.1), entendemos, ser de extrema importância que as questões de gênero e religião sejam revistadas, por diferentes olhares, inclusive no campo da Educação, pois através dos/as fieis essas instituições ensinam e reafirmam ensinamentos, em especial aqui os ligados as questões de gênero. Portanto, há uma produção de 1 Por masculino dominante entendemos que nem todos os homens fazem parte do que representa o masculino que se refere como dominante, ou seja, heterossexual, provedor, decidido, o que não tem fraquezas, aquele que não pode chorar nem ser sensível. 1

2 pedagogias no cotidiano das igrejas e nos vários espaços onde as pessoas se relacionam, espaços formais de ensino da igreja como os casamentos, cultos, enterros, escola dominical, etc. e nos espaços não formais de ensino, aqui em especial destacamos os locais de trabalho. No Brasil da década de 60 um nordestino passa a inverter essa lógica, Paulo Freire vai denunciar e romper com a lógica educacional vigente e dominante. Para ele, educação é sempre um ato político, implicando, portanto um desenvolvimento critico que ocorre através da leitura do mundo através da conscientização, uma educação que acontece com a relação de homens e mulheres entre si medidos pelo mundo. Para Freire (1999, 2003), não existe educação, mas educações, ou seja, formas diferentes de homens e mulheres partilharem seu saber, partilharem o que são. Com a lógica freiriana podemos passar a pensar em educação embaixo de uma arvore, dentro de uma fabrica, dentro de casa, numa igreja, e porque não dentro de um ateliê. Sem duvida Freire abre a discussão e possibilidade sobre a educação não formal, contudo o estudo sobre práticas educativas em espaços não-formais ainda é recente e tem se destacado pela variedade de formas de atuação. Segundo (Gonh 2001) a educação não-formal é aquela que se aprende "no mundo da vida", via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas. A educação não-formal, espaços educativos localizam-se em territórios que acompanham as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos, fora das escolas, em locais informais, locais onde há processos interativos intencionais. Segundo Torres a educação formal é organizada em determinada seqüência e acontece na escola; a informal são todas as possibilidades educativas no decurso da vida do indivíduo, de forma permanente e não organizada. (2001, p.113). Passado quase um século de sua fundação, a Igreja Assembléia de Deus é hoje a segunda instituição religiosa em número de fiéis e templos em solo Brasileiro, sendo superada, apenas, pela Igreja Católica. Segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas - FGV, a igreja AD 2 possui hoje cerca de 9 milhões de fiéis, além de ser a igreja que mais ganha fiéis por ano. Alem desses dados, das igrejas pentecostais existentes no Brasil, a AD é o grupo religioso que apresenta a maior taxa de mulheres em suas fileiras (MACHADO 2005). A Bíblia é contundente sobre a conduta submissa que as mulheres devem ter, os padrões de ser mulher socialmente construídos são reafirmados pela igreja através dos ensinamentos sobre como ser 2 Usaremos AD como abreviatura para Assembléia de Deus. 2

3 mulher e como ser uma boa mulher. Mesmo sendo até hoje excluídas do processo de decisão dentro da igreja, as mulheres na igreja Assembléia de Deus não podem exercer atos pastorais, devem ter uma conduta que engloba um modo de vestir peculiar, entretanto elas são maioria dentro dessa igreja e levam com afinco os ensinamentos religiosos adiante, sobre isso a telelã 1 afirma que: Deus colocou as mulheres como ajudadoras, lá na igreja eu sou uma ajudadora nos circulo de oração de mulheres tem muita gente que diz que mulher não pode pregar o evangelho, mas hoje muitas mulheres são usadas por Deus, em muitos lugares, então nos ensinamos à palavra, muitos pastores não aceitam porque no novo testamento a mulher não pode falar, mas no antigo testamento ela podia, então agente ensina mesmo. (TECELÃ 1 28.06.09) Quais são as peculiaridades da religiosidade das mulheres? Lagarde (2005) vai nos dar algumas contribuições importantes para pensarmos mulheres e religião, em especial quando ela desenvolve o argumento de um pensamento mágico. Aqui, a busca por um amparo e uma solução vem das alturas, como na forma de um milagre. Por aprender que a força vem de fora, dos outros, elas facilmente buscam fora de si mesmas as respostas necessárias para suas inseguranças e necessidades. A autora lista uma série de itens, os quais são muito mais comprados, lidos e freqüentados pelas mulheres do que pelos homens como, por exemplo: as cartas de tarô, a leitura dos horóscopos, a leitura das mãos e a freqüência a círculos de orações e igrejas. O pensamento mágico faz com que as mulheres acreditem no milagre, na força superior, na salvação das alturas. Para Lagarde o que faz as mulheres buscarem amparo e fé resultado de um pensamento mágico não é a incapacidade e falta de inteligência em buscar outras formas de pensamento e sim porque o pensamento mágico sociocultural as impede de buscá-lo e fazê-lo. Segundo Lagarde (2005, p 300): El pensamiento mágico y la deduccion exprimental coexisten em la mentalidad femenina con el principio político que rige su apreciación y afectiva del mundo: se trata del principio religioso, el crual hace que las mujeres consideren la vida, su vida y todo lo que ocurre a su alrededor, causado por fuerzas omnipotentes, exteriores y las más de las veces, ajenas a ellas. El principio religioso supone también lá consideración de los otros, sobre todo que quienes dependen de manera vital, como seres sobrenaturales, como deidades. 3

4 Parece-nos que a experiência da religiosidade para as mulheres está ligada ao pensamento mágico, fazendo assim com que elas se esvaziem, lançando o poder ao outro, de preferência a um ser masculino É um compasso de espera, omissão e alento vindo das alturas. Um homem cuida, resolve e soluciona os problemas e angustias. Sobre isso a Tecelã 1 desenvolve a seguinte fala durante uma entrevista: Eu estou muito alegre porque meu trabalho esta dando fruto, agora todas querem orar, pedir para Ele nos ajudar, Ele esta nos enviando trabalho, agente faz a oração, pede com fé e Ele tem nos ajudado sabe? Resolvido o problema de falta de trabalho e a fé de todas esta sendo acrescentada, eu estou fazendo o que Ele manda, eu estou semeando...agente não é melhor do que ninguém que não é da Igreja, o que agente precisa é ensinar a palavra para que todos venham como Jesus disse na palavra (TECELÃ 1 19.08.09) Simone de Beauvoir em um capítulo sobre A mística no livro Segundo sexo, inicia com a afirmação de que para a mulher o amor é sua suprema vocação. Tanto amar, como ser amada é o desejo socialmente ditado para as mulheres. Por esse motivo a mulher busca a experiência da religiosidade com fervor e intensidade, pois assim ela ama e é amada. Com o amor mútuo do ser sobrenatural a mulher sente-se extremamente valorizada, e a partir disso sente-se encarregada de uma missão, o que faz com que muitas mulheres preguem, ensinem e esperem. Segundo Beauvoir (2009, p 867) a mulher está acostumada a viver de joelhos; espera normalmente que a salvação desça do céu onde reinam os homens (...). Ao que parece, a necessidade organiza o desejo ou, na linguagem religiosa utilizada pelas mulheres do ateliê de tecelagem, Deus vem ao encontro de quem pede e acredita como um milagre. Foi Deus quem quis assim é uma fala muito ouvida no ateliê principalmente nos momentos de incertezas. Sobre isso a tecelã 4 afirma durante uma observação participante que: todas aqui estamos bem, esse é o melhor momento do ateliê, Ele tem resolvido e agente tem esperado, quando a TECELA 1 não faz a oração agente pede porque ficamos preocupadas em não fazer. (Tecelã 4 19.01.10) Hoje o que observamos no ateliê entendemos estar atrelado ao pensamento mágico descrito por Lagarde, a busca pela necessidade de esperança, conforme já citado inicio desse trabalho tem organizado o desejo das tecelãs que tem buscado na religião amparo consolo e ajuda, (NUNES, 2005), reforçando assim os ensinamentos da tecelã 1 dentro do ateliê de tecelagem onde ocorre a empiria desta pesquisa. 4

5 A partir da empiria, entendemos ser necessário que questões de educação, gênero e religião precisam ser revistadas, por diferentes olhares, inclusive no campo da Educação, pois suspeitamos que uma igreja com tamanha expressão em números de fieis, está culturalmente inserida na sociedade e através dos/as fieis estas instituições ensinam e reafirmam ensinamentos, em especial aqui os ligados as questões de gênero. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. FIORENZA, Elisabeth Schussler. Caminhos da sabedoria: uma introdução à interpretação Bíblica feminista. São Bernardo do Campo: Nhauduti, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. FREIRE, Paulo. Pedadogia da Esprança. Um reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo. Paz e Terra, 2003. GEBARA, Ivone. Rompendo o Silencio: Uma fenomenologia feminista do mal. São Paulo, Vozes, 2000. GONH, Maria da Glória. Educação não-formal e Cultura política: impactos sobre o associativo doterceiro setor. São Paulo: Cortez, 2001. LAGARDE, Marcela. Cautiverios de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas. 4.ed., Ciudad del México: UNAM, 2005. NUNES, Maria Jose Rosado. Teologia feminista e a critica da razão religiosa patriarcal: entrevista com Ivone Gebara. Revista de Estudos Feministas. Florianópolis: v. 14, jan./apr. 2006. p. 01-05. NUNES, Maria Jose Rosado. Gênero e Religião. 2005. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/ref/v13n2/26888.pdf>. Acesso em: 5 ago. 2008. TORRES, Carlos Alberto. A politica da educação não formal na America Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra.1992. 5