Análise das Dificuldades da Prática de Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil em Obras de Pequeno Porte

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Transcrição:

1 Análise das Dificuldades da Prática de Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil em Obras Klênnia Silva klennia_silva@yahoo.com.br MBA Gerenciamento de Obras, Tecnogias e Qualidade na Construção Civil Instituto de Pós-Graduação - IPOG Salvador, BA, 12 de março de 2015 Resumo Os primeiros registros de experiências com reciclagem de RCC no Brasil datam de 1997, mesmo assim os trabalhos nessa área ainda são tímidos, restringidos a grandes centros e grandes obras, e mesmo assim existe muita dificuldade de incorporação dessas experiências no cotidiano das construções. De fato esse assunto está ainda muito mais inserido nas salas de aula que nos canteiros de obras, o que não deveria ser, uma vez que o gerenciamento de RCC dentro do canteiro de obras na verdade apresenta inúmeras vantagens para as empresas como a redução do volume de resíduos a descartar, a redução do consumo de materiais extraídas diretamente da natureza, como a areia e a brita, redução dos acidentes de trabalho, com obras mais limpas e organizadas, redução do número de caçambas retiradas da obra, melhoria na produtividade, não responsabilidade por passivos ambientais, atendimento aos requisitos ambientais em programas como PBQP-H, Quali-Hab e ISO 14.000 e diferencial positivo na imagem da empresa junto ao público consumidor. Este artigo baseia-se em pesquisas bibliográficas, e objetiva identificar as dificuldades para implementação da prática de gerenciamento do RCC em obras de pequeno porte, realizadas em municípios fora dos grandes centros, utilizando como parâmetro a Resolução 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA e a Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2ª edição, atualizada em 18/05/2012. Palavras-chave: resíduos da construção civil, meio ambiente, reutilização, reciclagem, redução de desperdícios. 1. Introdução A preocupação com a questão ambiental vem crescendo a cada ano. Cada vez mais a humanidade está mais consciente da importância da preservação da natureza para garantia da sobrevivência e melhoria da qualidade de vida. Com essa preocupação, o homem esta sendo levado a desenvolver alternativas sustentáveis para minimização de gastos e redução da agressão aos recursos naturais. O setor da construção civil tem tido bastante crescimento nos últimos anos, visto que é bastante expressivo em mão de obra, mas também é um dos setores que mais geram resíduos

2 e poluição. Vendo por este lado, vale ressaltar que esse setor pode ser extremamente nocivo para o meio ambiente se não estiver engajado em ações de sustentabilidade. Quando os RCC resíduos da construção civil, chamado de entulho, não têm a adequada destinação, acabam sendo depositados em aterros, lixões ou, clandestinamente, em terrenos baldios, áreas de preservação, calçadas e ruas, causando impacto que prejudicam tanto o meio ambiente como a qualidade de vida da população. Por esse motivo, nos últimos anos, tem aumentado gradativamente a atenção voltada aos projetos públicos e privados de criação de empresas responsáveis pela coleta e reciclagem desses resíduos. A preocupação com o gerenciamento de RCC vem se consolidando como uma prática importante e, assim, reduzir, reutilizar e reciclar resíduos vem se tornando práticas fundamentais a serem estudadas e implementadas nos canteiros de obras. O entulho apresenta características próprias e materiais inertes de grandes possibilidades de reaproveitamento. Estima-se que, no Brasil, 90% dos RCC são passíveis de serem reciclados. A partir de entulhos podem ser produzidos agregados como areia e brita para uso em pavimentação, contenção de encostas, canalização de córregos e uso em argamassas e concreto. Sendo assim, a reciclagem do entulho pode reduzir despesas com deposições irregulares e com a extração exagerada de matérias-primas. A reciclagem de RCC apresenta vantagens econômicas, sociais e ambientais para as prefeituras e para o construtor, com a diminuição do volume de resíduos a ser coletado e depositado em locais inadequados e com a execução de obras a menores custos, além de minimizar áreas para aterro sanitário, reduzir os custos dos materiais de construção oriundos da reciclagem e preservar o meio ambiente natural. De acordo com a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição - ABRECON, nesse tipo de atividade ser sustentável significa que no processo, como um todo, não se utiliza, em nenhuma hipótese, recursos naturais, como pedreiras, cascalhos, terra ou material congênere. (Cartilha Coleta e Reciclagem dos Resíduos da Construção Civil SEBRAE, 2012). O ideal seria se a reutilização e reciclagem dos resíduos na obra fossem prática constante e incorporada ao dia-a-dia das construtoras como parte integrante do planejamento e execução das obras. Porém, no Brasil, essa prática ainda é vista como uma sobrecarga de trabalho e até mesmo como empecilho para o bom andamento dos serviços e seus prazos. Por outro lado, a utilização de agregados produzidos a partir de reciclagem ainda é considerada como fator negativo à qualidade técnica dos serviços, o que evidencia a baixa mobilidade da indústria da construção civil, principalmente no que se refere à pesquisa e aceitação de novas tecnologias que, aparentemente, não se traduzem em grandes vantagens financeiras, embora o seja do ponto de vista ambiental. (Rosimeire Suzuki Lima e Ruy Reynaldo Rosa Lima, 2012). Verifica-se que a gestão pública no Brasil vem apresentando melhorias ao longo dos anos. Os programas de governos tornam as políticas públicas cada vez mais realistas levando a um momento positivo e de crescimento do país. Porém o saneamento básico ainda é uma área que preocupa e necessita de mais atenção por parte dos governantes e da população em geral e o destino dos resíduos sólidos é algo que está diretamente ligado à qualidade de vida da população e na preservação do meio ambiente.

3 2. Política Nacional de Resíduos Sólidos No Brasil, a maioria da destinação dos resíduos é feita de maneira inadequada e descontrolada, indo de encontro às legislações sobre o meio ambiente, comprometendo a gestão pública eficaz, voltada para o desenvolvimento socioambiental. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei 12.305 de 02 de agosto de 2010 vem para instituir a aplicação de ações ambientalmente corretas, chamando os governos e a população à responsabilidade. Art. 13. Para os efeitos desta lei, os resíduos sólidos têm a seguinte classificação: I quanto à origem: (...) d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas b, e, g, h e j; (...) h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis; Art. 16. A elaboração de plano estadual de resíduos sólidos, nos termos previstos por esta lei, é condição para os estados terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade. (...) 3º Respeitada a responsabilidade dos geradores nos termos desta lei, as microrregiões instituídas conforme previsto no 1º abrangem atividades de coleta seletiva, recuperação e reciclagem, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos, a gestão de resíduos de construção civil, de serviços de transporte, de serviços de saúde, agrossilvopastoris ou outros resíduos, de acordo com as peculiaridades microrregionais. Art. 20. Estão sujeitos à elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sólidos: (...) III as empresas de construção civil, nos termos do regulamento ou de normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama; Art. 45. São planos de resíduos sólidos: (...) VI os planos de gerenciamento de resíduos sólidos. 1º O Ministério do Meio Ambiente e os demais órgãos competentes darão ampla publicidade, inclusive por meio da rede mundial de computadores, à proposta preliminar, aos estudos que a fundamentaram, ao resultado das etapas de formulação e ao conteúdo dos planos referidos no Capítulo II deste Título, bem como assegurarão o controle social na sua formulação, implementação e operacionalização, observado o disposto na Lei nº 10.650, de 16 de abril de 2003, e na Lei nº 11.445, de 2007. 2º Os planos de gerenciamento de resíduos da construção civil serão regidos pelas normas estabelecidas pelos órgãos competentes do Sisnama. SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente 3. Desperdícios REFERÊNCIAS DOS RCC NA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Fonte: PNRS 2ª Edição, 2005. De acordo com dados da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição - ABRECON, o segmento da reciclagem de resíduos da construção e demolição no Brasil ainda é incipiente. A reciclagem deste resíduo é um mercado desenvolvido em muitos países da Europa, em grande parte pela escassez de recursos naturais

4 desses países. (Cartilha Coleta e Reciclagem dos Resíduos da Construção Civil SEBRAE, 2012). Conforme os dados apresentados em 2010 pelo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (elaborado e publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ABRELPE), a geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no Brasil registrou um crescimento expressivo de 2009 para 2010 (de 57.011.136 t/ano para 60.868.080 t/ano). As causas da geração dos RCC se devem ao desperdício durante o processo de execução das obras, assim como pelos restos de materiais que são perdidos por danos no recebimento, transporte e armazenagem. Além das construções, as reformas, ampliações e demolições são grandes geradoras de RCC, sendo 59% decorrentes de reformas, 21% da construção de prédios novos e 20% de residências novas. As autoconstruções e as pequenas reformas feitas por empresas de pequeno porte ou pequenos empreiteiros, mesmo não gerando grandes volumes, estes são na maior parte transportados e depositados inadequadamente, o que traz transtornos a toda a população. Umas das causas de geração de desperdício, além do entulho que é descartado, são os erros que são incorporados à obra, como a sobre espessura de emboço. Existem estudos que afirmam ser de 50% a taxa de ocorrência de cada um. A tabela 1 mostra as taxas de desperdícios de materiais. Materiais Taxa de Desperdício (%) Média Mínimo Máximo Concreto usinado 9 2 23 Aço 11 4 16 Blocos e tijolos 13 3 48 Placas cerâmicas 14 2 50 Revestimento têxtil 14 14 14 Eletrodutos 15 13 18 Tubos para sistemas prediais 15 8 56 Tintas 17 8 24 Condutores 27 14 35 Gesso 30 14 120 Concreto usinado 9 2 23 TABELA 1 TAXAS DE DESPERDÍCIO DE MATERIAIS Fonte: Espinelli, 2005 Para o setor da construção civil, a redução de perdas e desperdícios passou a ser de grande importância para a sobrevivência das construtoras e para adequação do mercado de trabalho, sendo que essa importância vem tanto do lado econômico como da ação de preservação ambiental. 4. Resolução 307/2002 CONAMA A Resolução 307/2002 estabeleceu e determinou a execução de um PLANO INTEGRADO DE GERENCIAMENTO DE RCC, cabendo aos Municípios e Distrito Federal, buscar

5 soluções para o gerenciamento dos pequenos volumes de resíduos, bem como com o disciplinamento da ação dos agentes envolvidos com os grandes volumes. Este plano deverá contemplar o PROGRAMA MUNICIPAL DE GERENCIAMENTO DE RCC PMG/RCC e os PROJETOS DE GERENCIAMENTO DE RCC PG/RCC. Sendo o PMG/RCC responsável pelos pequenos geradores: pequenos transportadores, deposições irregulares, pequenas obras, busca de soluções, ações de fiscalização e controle dos impactos ambientais; e o PG/RCC responsável pelos grandes geradores: licenciamento das empresas transportadoras, licenciamento de áreas receptoras (ATT, reciclagem e aterros), ações de fiscalização e controle, controle dos impactos ambientais. O PMG/RCC e o PG/RCC seriam a fundamentação para o Plano Integrado de Gerenciamento de RCC. A resolução determinou um prazo de 18 meses para que os Municípios e Distrito Federal parassem de dispor os RCC em aterros de resíduos domiciliares. Prazo que se esgotou em 2004. O art. 4º da Resolução diz também que os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e secundariamente a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final. Resolução 307/2002 CONAMA estabelece uma classificação específica para os RCC de acordo com a sua composição que depende das características específicas de cada região tais como geologia, morfologia, disponibilidade dos materiais de construção, desenvolvimento tecnológico etc. A tabela 2 mostra essa classificação. Tipo de RCC Definição Exemplos Destinações Resíduos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; Resíduos de componentes cerâmicos Classe A (tijolos, blocos, telhas, Resíduos reutilizáveis ou placas de revestimento, recicláveis como etc.), argamassa e agregados concreto; Resíduos oriundos de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras. Classe B São os resíduos recicláveis para outras destinações Plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros; Reutilização ou reciclagem na forma de agregados, ou encaminhados às áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura. Reutilização/reciclagem ou encaminhamento às áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.

6 Classe C Classe D São os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação São os resíduos perigosos oriundos do processo de construção Produtos oriundos do gesso tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros. Armazenamento, transporte e destinação final conforme normas técnicas específicas. Armazenamento, transporte, reutilização e destinação final conforme normas técnicas específicas. TABELA 2 CLASSIFICAÇÃO DOS RCC SEGUNDO A RESOLUÇÃO 307/2002 CONAMA Fonte: Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, 2012. O fato da Resolução 307/2002 CONAMA não incluir os resíduos de amianto na Classe D, trouxe como consequência a publicação de um aditivo, constituído pela Resolução 348/2004 que inclui o amianto na Classe D. Resíduos da construção civil Geradores Transportadores Agregado reciclado Gerenciamento de resíduos Reutilização Reciclagem Beneficiamento Aterro de resíduos da construção civil Áreas de destinação de resíduos São os resíduos provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha. Pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos da construção civil. Pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação. Material granular proveniente do beneficiamento de resíduos de construção que apresentem características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de infraestrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia. Sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos. Processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo. Processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação. Ato de submeter um resíduo à operações e/ou processos que tenham por objetivo dotá-los de condições que permitam que sejam utilizados como matéria-prima ou produto. Área onde serão empregadas técnicas de disposição de resíduos da construção civil Classe A no solo, visando a preservação de materiais segregados de forma a possibilitar seu uso futuro e/ou futura utilização da área, utilizando princípios de engenharia para confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente. Áreas destinadas ao beneficiamento ou à disposição final de resíduos.

7 TABELA 3 DEFINIÇÕES CONFORME RESOLUÇÃO 307/2002 CONAMA Fonte: Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, 2012. 5. Programa Municipal de Gerenciamento de RCC e Projeto de Gerenciamento de RCC A Resolução 307/2002 incumbe os Municípios de elaborar e implementar o PMG/RCC, o que trará uma solução para o problema dos pequenos geradores. Para tanto o PMG deve assumir em caráter de serviço público, através da implantação de uma rede serviços que dê condições dos pequenos geradores e transportadores assumirem as suas responsabilidades na destinação dos RCC gerados pelas suas próprias atividades. Para formulação dos PG, os grandes geradores deverão estabelecer os procedimentos necessários para o manejo e destinação adequados do RCC, lançando mão de princípios básicos de acordo com a Agenda 21/1992, que tem como primeiros passos os 3Rs: Redução (reduzir ao mínimo os resíduos); Reutilização (reutilizar o máximo possível dos resíduos gerados); Reciclagem (reciclar o que não reutilizar). O processo de elaboração do PG/RCC deve seguir etapas e antes de tudo deve priorizar a não geração dos resíduos nas construções, conforme o art. 4º da Resolução 307/2002 CONAMA. A primeira fase é a de planejamento, aonde a atenção vai para a fase pré-obra. Nesta fase as medidas adotadas para a minimização da geração de RCC são a compatibilidade entre os projetos, a exatidão em relação às cotas, níveis e alturas, observação da especificação inexata ou a falta de especificação de materiais e componentes e a verificação da falta ou detalhamento inadequado dos projetos. Na segunda fase devem-se caracterizar os RCC gerados por etapa da obra. Para isso a Resolução 307/2002 CONAMA oferece uma tabela de classificação (tabela 4). FASES DA OBRA LIMPEZA DO TERRENO MONTAGEM DO CANTEIRO FUNDAÇÕES SUPERESTRUTURA ALVENARIA INSTALAÇÕES HIDROSANITÁRIAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS REBOCO INTERNO/EXTERNO REVESTIMENTOS FORRO DE GESSO TIPOS DE RESÍDUOS POSSIVELMENTE GERADOS SOLOS ROCHAS, VEGETAÇÃO, GALHOS BLOCOS CERÂMICOS, CONCRETO (AREIA; BRITA) MADEIRAS SOLOS ROCHAS CONCRETO (AREIA; BRITA) MADEIRA SUCATA DE FERRO, FÔRMAS PLÁSTICAS BLOCOS CERÂMICOS, BLOCOS DE CONCRETO, ARGAMASSA PAPEL, PLÁSTICO BLOCOS CERÂMICOS PVC BLOCOS CERÂMICOS CONDUITES, MANGUEIRA, FIO DE COBRE ARGAMASSA PISOS E AZULEJOS CERÂMICOS PISO LÂMINADO DE MADEIRA, PAPEL, PAPELÃO, PLÁSTICO PLACAS DE GESSO ACARTONADO

8 PINTURAS TINTAS, SELADORAS, VERNIZES, TEXTURAS MADEIRAS COBERTURAS CACOS DE TELHAS DE FIBROCIMENTO TABELA 4 GERAÇÃO DE RESÍDUOS POR ETAPA DE UMA OBRA Fonte: VALOTTO, 2007 A terceira fase é de triagem e segregação. Obra desorganizada dificulta a reutilização dos resíduos. A prática da segregação contribui para a manutenção da limpeza da obra, evitando materiais e ferramentas espalhadas pelo canteiro, que pode contaminar os resíduos, trazer desorganização e aumentar as possibilidades de acidentes do trabalho e de desperdício de materiais e ferramentas. Nesta fase, é importante que os funcionários estejam treinados e sejam conhecedores da classificação dos resíduos, não só para executarem satisfatoriamente a sua segregação, mas também pela importância ambiental que esta tarefa representa. Também é de grande valor nesse processo a comunicação visual na obra, pois a sinalização dos locais de armazenamento de cada resíduo serve de alerta e orientação, além de lembrar a necessidade da separação correta de cada RCC. A próxima fase é a de acondicionamento. Nesta fase se determina o acondicionamento inicial, que vem da organização do canteiro com locais específicos para cada RCC e o acondicionamento final, que vai depender do tipo da sua destinação final. Para o acondicionamento no canteiro, os RCC possuem vários tipos de dispositivos de armazenamento: bombonas, bags, baias e caçambas estacionárias. O acondicionamento inicial deverá ser o mais próximo possível dos locais de geração do RCC. No caso de pequenas obras, os RCC devem ser coletados e levados diretamente para o acondicionamento final logo após a sua geração. O acondicionamento final depende do tipo de RCC, da quantidade gerada e de sua destinação. Para maior eficiência deve-se estudar a localização dos depósitos para onde serão mandados de forma a facilitar a sua remoção pelos agentes transportadores. Os resíduos comuns, como restos de alimentos, copos plásticos e papéis usados nos sanitários devem ser colocados em sacos e serem disponibilizados para a coleta pública. Já os resíduos de ambulatório devem atender às normas específicas. A quinta fase é a do transporte interno dos RCC entre o acondicionamento inicial e final, geralmente feitos por carrinhos de mão, giricos, elevadores de carga, gruas e guinchos. Sempre observando as viagens de rotina da obra para fazer o transporte de leva dos materiais para na volta trazer o entulho. A reutilização e a reciclagem na obra vêm a seguir. Essa ideia deve nortear o planejamento da obra desde a fase de concepção do projeto, o que, por exemplo, irá determinar o escoramento e andaimes metálicos que são totalmente reaproveitáveis até o fim da obra. O reaproveitamento de sobras de materiais dentro do próprio canteiro segue recomendações da Agenda 21, o que faz com que materiais que seriam descartados com certo custo financeiro e ambiental, voltem em forma de materiais novos e sejam inseridos novamente na construção, evitando a nova retirada de matéria-prima do meio ambiente. A tabela 5 mostra os tipos de resíduos que geralmente são produzidos nas várias fases da obra e seu reaproveitamento. FASES DA OBRA TIPOS DE RESÍDUOS POSSIVELMENTE POSSÍVEL REUTILIZAÇÃO NO POSSÍVEL REUTILIZAÇÃO

9 LIMPEZA DO TERRENO MONTAGEM DO CANTEIRO FUNDAÇÕES SUPERESTRUTURA ALVENARIA INSTALAÇÕES HIDROSANITÁRIAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS REBOCO INTERNO/EXTERNO REVESTIMENTOS FORRO DE GESSO PINTURAS GERADOS CANTEIRO FORA DO CANTEIRO SOLOS REATERROS ATERROS ROCHAS, VEGETAÇÃO, GALHOS BLOCOS BASE DE PISO FABRICAÇÃO DE CERÂMICOS, AGREGADOS CONCRETO (AREIA; BRITA) MADEIRAS FORMAS/ESCORAS/T LENHA RAVAMENTOS (GRAVATAS) SOLOS REATERROS ATERROS ROCHAS JARDINAGEM, MUROS DE ARRIMO CONCRETO (AREIA; BASE DE PISO, FABRICAÇÃO DE BRITA) ENCHIMENTOS AGREGADOS MADEIRA CERCAS, PORTÕES LENHA SUCATA DE FERRO, REFORÇO PARA RECICLAGEM FÔRMAS PLÁSTICAS CONTRAPISOS BLOCOS BASE PARA PISO, FABRICAÇÃO DE CERÂMICOS, ENCHIMENTOS, AGREGADOS BLOCOS DE ARGAMASSA CONCRETO, ARGAMASSA PAPEL, PLÁSTICO BLOCOS CERÂMICOS PVC BLOCOS CERÂMICOS CONDUITES, MANGUEIRA, FIO DE COBRE BASE PARA PISOS, ENCHIMENTOS BASE PARA PISOS, ENCHIMENTOS RECICLAGEM FABRICAÇÃO DE AGREGADOS RECICLAGEM FABRICAÇÃO DE AGREGADOS ARGAMASSA ARGAMASSA FABRICAÇÃO DE AGREGADOS PISOS E AZULEJOS FABRICAÇÃO DE CERÂMICOS AGREGADOS PISO LÂMINADO DE RECICLAGEM MADEIRA, PAPEL, PAPELÃO, PLÁSTICO PLACAS DE GESSO ACARTONADO TINTAS, SELADORAS, VERNIZES, TEXTURAS READEQUAÇÃO EM ÁREAS COMUNS RECICLAGEM MADEIRAS LENHA COBERTURAS CACOS DE TELHAS DE FIBROCIMENTO TABELA 5 IDENTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS POR ETAPA DE UMA OBRA E POSSÍVEL REAPROVEITAMENTO Fonte: VALOTTO, 2007, adaptado LIMA (2009)

10 Outros exemplos de aplicação acontecem na confecção de pavers para pisos, utilização de resíduos de alvenaria, concretos e argamassas em bases para pisos de concreto sem função estrutural e a confecção de blocos de concreto utilizando agregados reciclados de blocos cerâmicos, concreto ou caco de cerâmica. As fotos a seguir são do sistema de gerenciamento de RCC da cidade de São José do Rio Preto/SP. (Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil) Ilustrações de várias aplicações de reciclagem de RCC: Fonte: Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, 2012.

11 Fonte: Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, 2012.

12 Fonte: Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, 2012. Fonte: Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, 2012.

13 Fonte: Coleta e Reciclagem de Resíduos da Construção Civil, 2012. A reciclagem fora da obra é feita em Centrais de Reciclagem de RCC. De acordo com o IGBE (2010) existem 392 municípios com serviço de manejo do RCC no Brasil.

14 Informação nacional sobre o número de municípios brasileiros com serviço de manejo de resíduos de construção civil, por tipo de processamento dos RCC * O município pode apresentar mais de um tipo de processamento dos resíduos de construção civil Fonte:Relatório Preliminar da Situação Atual dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2011. Após a reciclagem e/ou reutilização dos RCC, passa-se para as fases de transporte e destinação dos resíduos. Para facilitar o processo de transporte para fora do canteiro, a sua coleta e remoção deve ser controlada através de uma ficha contendo dados do gerador, tipo e quantidade de resíduos, dados do transportador e dados do local de destinação e o gerador deve guardar uma via desse documento assinada pelo transportador e pelo destinatário dos resíduos. Será sua garantia de que os destinou adequadamente, além de organizar as informações da geração de resíduos da sua obra. A destinação dos RCC deve ser feita de acordo com seu tipo. Os da Classe A deverão ser encaminhados para áreas de triagem e transbordo, áreas de reciclagem ou aterros da construção civil; os da Classe B podem ser comercializados com empresas, cooperativas ou associações de coleta seletiva; na destinação dos resíduos das Classes C e D, os fornecedores devem ser envolvidos para que seja configurada a corresponsabilidade na sua destinação. A tabela 6 apresenta alternativas de destinação para os diversos tipos de RCC. TIPOS DE RESÍDUOS CUIDADOS REQUERIDOS DESTINAÇÃO Blocos de concreto, blocos Privilegiar soluções de Áreas de Transbordo e Triagem, Áreas para cerâmicos, argamassas, outros componentes cerâmicos, destinação que envolvam a reciclagem dos resíduos, de Reciclagem ou Aterros de resíduos da construção civil licenciados pelos órgãos concreto, tijolos e modo a permitir seu competentes; os resíduos classificados como assemelhados aproveitamento como classe A (blocos, telhas, argamassa e agregado. concreto em geral) podem ser reciclados para uso em pavimentos e concretos sem função Madeira Para uso em caldeira, garantir separação da serragem dos demais resíduos de madeira. estrutural. Atividades econômicas que possibilitem a reciclagem destes resíduos, a reutilização de peças ou o uso como combustível em fornos ou caldeiras.

15 Plásticos (embalagens, aparas de tubulações etc.) Papelão (sacos e caixas de embalagens) e papéis (escritório) Metal (ferro, aço, fiação revestida, arames etc.) Máximo aproveitamento dos materiais contidos e a limpeza da embalagem. Proteger de intempéries. Não há. Serragem Ensacar e proteger de intempéries. Empresas, cooperativas ou associações de coleta seletiva que comercializam ou reciclam estes resíduos. Empresas, cooperativas ou associações de coleta seletiva que comercializam ou reciclam estes resíduos. Empresas, cooperativas ou associações de coleta seletiva que comercializam ou reciclam estes resíduos. Reutilização dos resíduos em superfícies impregnadas com óleo para absorção e secagem, produção de briquetes (geração de energia) ou outros usos. Gesso em placas cartonadas Proteger de intempéries. É possível a reciclagem pelo fabricante ou empresas de reciclagem. Gesso de revestimento e artefatos Proteger de intempéries. É possível o aproveitamento pela indústria gesseira e empresas de reciclagem. Solo Examinar a caracterização prévia dos solos para definir destinação. Desde que não estejam contaminados, destinar a pequenas áreas de aterramento ou em aterros de resíduos da construção civil, ambos devidamente licenciados pelos órgãos competentes. Telas de fachada e de proteção Não há. Possível reaproveitamento para a confecção de bags e sacos ou até mesmo por recicladores de plásticos. EPS (poliestireno expandido - exemplo: isopor) Materiais, instrumentos e embalagens contaminados por resíduos perigosos (exemplos: embalagens plásticas e de metal, instrumentos de aplicação como broxas, pincéis, trinchas e outros materiais auxiliares como panos, trapos, estopas etc.) Confinar, evitando dispersão. Possível destinação para empresas, cooperativas ou associações de coleta seletiva que comercializam, reciclam ou aproveitam para enchimentos. Maximizar a utilização dos materiais para a redução dos resíduos a descartar. Encaminhar para aterros licenciados para recepção de resíduos perigosos. TABELA 6 ALTERNATIVAS DE DESTINAÇÃO PARA DIVERSOS TIPOS DE RCC Fonte: Sinduscon-SP, 2005 6. Destinação dos RCC A destinação dos resíduos sólidos, de acordo com as legislações e atendendo aos preceitos de preservação do meio ambiente e saúde pública, deveria ser em aterros sanitários, porém a quantidade de aterros ainda é insatisfatória, principalmente nas regiões norte e nordeste do Brasil. A tabela 7 mostra indicadores de aterros sanitários, aterros controlados e lixões por regiões brasileiras. Região Norte Nordeste Centro Oeste Sudeste Sul Subtotal Aterro Sanitário 67 448 163 789 691 2.158

16 Aterro Controlado 116 480 163 631 359 1.749 Lixão 266 865 140 258 138 1.657 Total 449 1.793 466 1.668 1.188 5.564 TABELA 7- INDICADORES DE ATERROS SANITÁRIOS, CONTROLADOS E LIXÕES. Fonte: Adaptada da ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, 2008. O que mais contribui para essa deficiência é o fator econômico dessas duas regiões, que ainda possuem um número muito elevado de lixões, o que configura descaso com a saúde pública e degradação do meio ambiente. Além disso, a cultura da gestão municipal, onde a maioria dos gestores de pequenos centros não é preparada para gerenciar com vista a resultados eficientes, a iniciativa privada não se interessa e a consciência da população está longe de ser madura. Com os RCC não é muito diferente. Se já não existem aterros sanitários controlados para os resíduos sólidos de modo geral, aterros controlados e empresas de reciclagem de RCC também não são muito comuns, principalmente em Municípios pequenos e com baixa população. Sendo assim, o entulho é descartado de forma inadequada, prejudicando ainda mais o meio ambiente e não segue uma prática de reutilização, reciclagem e redução de desperdícios. 7. Conclusão A construção civil tem hoje um papel importante na economia industrial e registra grandes índices de geração de empregos. Mas, em contraponto às outras indústrias, a construção civil possui características próprias que muitas vezes dificultam a adoção de metodologias específicas e assim está sempre na busca de soluções econômicas e mais rápidas. Se junta a isso a necessidade de adequação do setor às novas tendências industriais no que diz respeito à redução de desperdícios e do consumo dos recursos naturais. Neste âmbito, há a necessidade de conscientização de que o desperdício gerado resulta em prejuízo para toda a sociedade. Com os recursos naturais usados para fabricar insumos sendo cada vez mais escassos, é inadmissível que estes insumos sejam devolvidos, os resíduos, descontroladamente ao meio ambiente, pois irá causar maiores danos ao sistema. De modo geral, já estão sendo realizados vários projetos, programas e ações que devem minimizar este impacto cada vez mais. As políticas públicas devem começar a correr atrás do prejuízo para evitar danos futuros ainda maiores ao meio ambiente. A dificuldade para as pequenas empresas de construção, e mesmo para os pequenos empreiteiros está na falta de políticas públicas e seu suporte; na ignorância da população que não cobra dos profissionais esta prática; em grandes empresas que visam apenas o lucro e não a saúde pública; da não exigência de qualidade na prestação de serviços; além de falta de iniciativa própria na redução da geração de resíduos. Isso resulta na problemática que observamos nas cidades onde não existem regras e nem a cobrança de boas práticas ambientais, como: entulho em calçadas, terrenos baldios, áreas de preservação; canteiros informais e desorganizados; desperdícios de materiais e ferramentas; áreas de proteção ambientais cada vez menores por serem invadidas por construções liberadas com descaso do poder público.

17 A satisfação na concretização desta pesquisa será de mais força quando, a partir dela, outras iniciativas sirvam para sensibilizar o poder público, a iniciativa privada e a população para a importância da gestão pública, do desenvolvimento econômico, da qualidade de vida, da preservação do meio ambiente e da legalidade das atividades pública e social. 8. Referências Bibliográficas ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). NBR 15112. Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes: Áreas de Transbordo e Triagem de RCD. Junho 2004a. ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). NBR 15113. Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes: Aterros Diretrizes para projeto, implantação e operação. Junho 2004b. ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). NBR 15114. Resíduos sólidos da construção civil: Área de Reciclagem Diretrizes para projeto, implantação e operação. Junho 2004c. ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). NBR 15115. Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: Execução de camadas de pavimentação Procedimentos. Junho 2004d. ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). NBR 15116. Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural. Junho 2004e. BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE CONAMA. Resolução nº. 307, de 05 de julho de 2002. Brasília DF, n. 136, 17 de julho de 2002. Seção 1. BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE CONAMA. Resolução nº. 348, de 16 de agosto de 2004. Brasília DF, n. 158, 17 de agosto de 2004. BRASIL. [Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010]. Política nacional de resíduos sólidos [recurso eletrônico]. 2. ed. Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012. 73 p. (Série legislação ; n. 81) Atualizada em 18/5/2012 Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e dá outras providências. ISBN 978-85-736-5972-6 1. Resíduo sólido, legislação, Brasil. I. Título. II. Série. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> Acesso em: 10 de mar 2015. LIMA, Rosimeire Suzuki/LIMA, Ruy Reynaldo Rosa. Guia para Elaboração de Projeto de Resíduos da Construção Civil. 1 Série de Publicações Temáticas do CREA-PR, 2012. CUNHA JÚNIOR, Nelson Boechat (coord.). Cartilha de gerenciamento de resíduos sólidos para a construção civil. Sinduscon-MG, 2005. 38 p. ESPINELLI, U. A gestão do consumo de materiais como instrumento para a redução da geração de resíduos nos canteiros de obras. In: Seminário de Gestão e Reciclagem de Resíduos da Construção e Demolição Avanços e Desafios. São Paulo. PCC USP, 2005. CD-ROM.

18 PINTO, T. P.; GONZÁLES, J. L. R. Manejo e Gestão de Resíduos da Construção Civil. Como implantar um Sistema de Manejo e Gestão dos Resíduos da Construção Civil nos Municípios. Brasília: Caixa Econômica Federal; Ministério das Cidades, Ministério do Meio Ambiente, 2005. v. 1, 198p. SINDUSCON-SP. Gestão Ambiental de Resíduos da Construção Civil. São Paulo, 2005. VALOTTO, Daniel Vitorelli. Busca de informação: gerenciamento de resíduos da construção civil em canteiro de obras. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) Universidade Estadual de Londrina, 2007. SILVA, Ademir Santana da. Análise da Destinação dos Resíduos Sólidos na Cidade de Valença/Ba, d a Política Nacional dos Resíduos Sólidos como Fomento para o Desenvolvimento Sócio-Econômico do Município. Artigo (Pós Graduação em Gestão Pública) Universidade Estadual da Bahia - UNEB, 2012. ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Disponível em:. Acesso em: 5 mai. 2011. FIEB/SEBRAE/SENAI/GTZ Livro Gestão de Resíduos na Construção Civil: Redução, Reutilização e Reciclagem, Disponível em: <http://www.fieb.org.br/adm/conteudo/uploads/livro-gestao-de- Residuos_id_177 xbc2901938cc24e5fb98ef2d11ba92fc3_2692013165855_.pdf> Acesso em: 16 de nov 2014. SEBRAE Cartilha Coleta e Reciclagem dos Resíduos da Construção Civil, Disponível em: < http://sustentabilidade.sebrae.com.br/sustentabilidade/cartilhas/coleta-e-reciclagemde-residuos-da-constru%c3%a7%c3%a3o-civil> Acesso em: 16 de nov 2014. IPEA Relatório Preliminar da Situação Atual dos Resíduos Sólidos no Brasil, Disponível em: < http://www.cressmg.org.br/arquivos/reciclagem/relatorio_preliminar_da_situa%c3%a7%c3%a3o_atual_dos _residuos_s%c3%b3lidos_no_brasil.pdf> Acesso em: 12 de mar 2015.