ANEXO III REGRAS DISCIPLINARES CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS ARTIGO 1.º Jurisdição disciplinar 1. Estão sujeitos à jurisdição disciplinar da Ordem dos Médicos, nos termos previstos neste Estatuto e seus regulamentos, todos os médicos que exerçam legalmente medicina no território português no momento da prática da infração bem como aqueles a quem tenha sido concedida a licença para a realização de estágios profissionais. 2. O pedido de cancelamento e a suspensão da inscrição ou da licença para a realização de estágio profissional, não fazem cessar a responsabilidade disciplinar por infrações praticadas anteriormente. 3. Durante o tempo de suspensão da inscrição o médico continua sujeito à jurisdição disciplinar da Ordem dos Médicos, exceto após o cancelamento. 4. A punição com a pena de expulsão não faz cessar a responsabilidade disciplinar do médico relativamente às infrações por ele cometidas antes da decisão definitiva que tenha aplicado aquela pena. ARTIGO 2.º Infração disciplinar 1. Comete infração disciplinar o médico que, por ação ou omissão, violar, dolosa ou negligentemente, algum ou alguns dos deveres decorrentes do Estatuto da Ordem dos Médicos, dos regulamentos por esta elaborados ou das demais disposições legais aplicáveis. 2. O reconhecimento da responsabilidade dos médicos, emergente de infrações à Deontologia Médica, é uma competência disciplinar exclusiva da Ordem dos Médicos. 1
3. Quando as violações à Deontologia Médica se verifiquem em relação a médicos que exerçam a sua profissão vinculados a entidades públicas, cooperativas, sociais ou privadas, devem estas entidades limitar-se a comunicar à Ordem as presumíveis infrações. 4. Se a factualidade das infrações deontológicas preencher também os pressupostos de uma infração disciplinar incluída na competência legal daquelas entidades, as respetivas competências devem ser exercidas separadamente. ARTIGO 3.º Responsabilidade disciplinar 1. A responsabilidade disciplinar perante a Ordem dos Médicos concorre com quaisquer outras previstas por lei, sendo independente de qualquer eventual responsabilidade criminal, civil, administrativa ou disciplinar em que o médico tenha incorrido face a quaisquer pessoas ou entidades. 2. O Conselho Disciplinar competente pode determinar, desde que se revele necessário à prova da infração disciplinar, por despacho devidamente fundamentado, a suspensão do processo disciplinar perante a Ordem dos Médicos até à decisão a proferir noutra jurisdição. 3. Quando, com fundamento em factos que constituem simultaneamente infração disciplinar, tiver sido instaurado processo criminal contra médico, em razão dessa mesma qualidade, a autoridade de investigação criminal ou a judicial tem que ordenar a remessa à Ordem dos Médicos de cópia da participação e do despacho de acusação, ou do requerimento de abertura de instrução e do despacho de pronúncia. ARTIGO 4.º Independência Os titulares dos órgãos da Ordem dos Médicos com competência disciplinar são independentes dos demais órgãos. ARTIGO 5.º 2
Iniciativa Disciplinar Tem legitimidade para participar fatos suscetíveis de constituir infração disciplinar, ao órgão com competência disciplinar, designadamente: a) Os órgãos executivos da Ordem dos Médicos; b) O Ministério Público; c) Qualquer pessoa direta ou indiretamente afetada pelos fatos participados; ARTIGO 6.º Instauração de procedimento disciplinar 1. O procedimento disciplinar é instaurado: a) Por deliberação do Conselho Disciplinar competente com base em participação dirigida à Ordem dos Médicos pelo próprio queixoso ou seu representante legal, sempre que seja necessário averiguar matéria sujeita a segredo, ou, noutros casos, por qualquer pessoa ou entidade devidamente identificada que tenha conhecimento de facto suscetível de integrar infração disciplinar; b) Por decisão do presidente do Conselho Superior ou do presidente do Conselho Disciplinar competente, independentemente de participação. 2. Havendo participação, ou de acordo com o disposto na alínea b) do número anterior, o presidente do Conselho Disciplinar competente pode, se assim o entender, começar por instaurar um processo de averiguação sumária tendo em vista um melhor esclarecimento dos factos, só depois decidindo se é ou não de instaurar processo disciplinar. 3. A instauração de processo disciplinar não implica qualquer pré-juízo de culpa, gozando o médico arguido da presunção legal de inocência até prova em contrário. ARTIGO 7.º Legitimidade Nos termos previstos no presente diploma, podem intervir no processo, requerendo e alegando o que tiverem por conveniente, as pessoas com interesse direto nos factos participados. 3
ARTIGO 8.º Natureza secreta do processo 1. O processo é de natureza secreta até ao despacho de acusação. 2. O relator pode, contudo, autorizar a consulta do processo pelo interessado ou pelo arguido quando não haja inconveniente para a averiguação ou instrução, ou ainda, no interesse desta, dar-lhes a conhecer cópia do processo, a fim de sobre a mesma se pronunciarem. 3. Mediante requerimento em que se indique o fim a que se destinam, pode o Conselho Disciplinar competente autorizar a passagem de certidões em qualquer fase do processo, para defesa de interesses legítimos dos requerentes, podendo condicionar a sua utilização, sob pena de o infrator incorrer no crime de desobediência, e sem prejuízo do dever de guardar segredo. 4. O relator pode autorizar a informação pública da pendência de processo disciplinar contra médico determinado, sem identificar os factos e a fase processual. 5. O arguido e o interessado quando médico, que não respeitem a natureza secreta do processo, incorrem em responsabilidade disciplinar. ARTIGO 9.º Prescrição do procedimento disciplinar 1. O procedimento disciplinar extingue-se, por efeito de prescrição, logo que sobre a prática da infração tiver decorrido o prazo de cinco anos. 2. A infração disciplinar que constitua simultaneamente ilícito penal prescreve no mesmo prazo que o procedimento criminal, se este for superior. 3. O prazo de prescrição do procedimento disciplinar corre desde o dia em que o facto se tiver consumado. 4. Para efeitos do disposto no número anterior, o prazo de prescrição só corre: a) Nas infrações instantâneas, desde o momento da sua prática; b) Nas infrações continuadas, desde o dia da prática do último ato; 4
c) Nas infrações permanentes, desde o dia em que cessar a consumação. 5. A prescrição do procedimento disciplinar tem sempre lugar quando, desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo normal de prescrição acrescido de metade. 6. A prescrição é de conhecimento oficioso. ARTIGO 10.º Suspensão do prazo de prescrição do procedimento disciplinar 1. O prazo de prescrição do procedimento disciplinar suspende-se durante o tempo em que: a) O processo disciplinar estiver suspenso, nos termos do nº 2 do artigo 3º; b) Estiver a decorrer processo de inquérito, nos termos dos artigos 59.º e 60.º; c) O processo disciplinar estiver pendente, a partir da notificação da acusação nele proferida; d) A decisão final do processo disciplinar não puder ser notificada ao arguido, por motivo que lhe seja imputável. 2. A suspensão, quando resulte das situações previstas nas alíneas b) e c) do número anterior, não pode ultrapassar o prazo de dois anos. 3. O prazo prescricional volta a correr a partir do dia em que cessar a causa da suspensão. ARTIGO 11.º Interrupção do prazo de prescrição do procedimento disciplinar 1. O prazo de prescrição do procedimento disciplinar interrompe-se com a notificação ao médico arguido: a) Da instauração do processo disciplinar; b) Do despacho de acusação. 2. Após cada período de interrupção começa a correr novo prazo de prescrição, sem prejuízo do nº 5 do artigo 9º. 5
ARTIGO 12.º Desistência do procedimento disciplinar A desistência do procedimento disciplinar pelo interessado extingue a responsabilidade disciplinar, salvo se a falta imputada afetar o prestígio da profissão ou da Ordem dos Médicos, os interesses legítimos de terceiros ou, ainda, quando médico visado requerer o prosseguimento do processo por considerar que a falta imputada afeta a sua dignidade. ARTIGO 13.º Comunicação sobre o movimento dos processos Durante o primeiro mês de cada semestre, e com referência ao semestre anterior, devem os Conselhos Disciplinares Regionais enviar ao Conselho Superior relação dos processos disciplinares distribuídos, pendentes e julgados no semestre anterior. ARTIGO 14.º Direito de informação, cooperação e livre acesso 1. No âmbito do exercício do poder disciplinar os órgãos competentes da Ordem dos Médicos gozam do direito a: a) Obter por parte de todas as entidades públicas, privadas, sociais e cooperativas onde se desenvolva a atividade médica a informação e a cooperação necessárias ao prosseguimento dos fins próprios da ação disciplinar da Ordem dos Médicos, designadamente todos os elementos, esclarecimentos, pareceres, informações e colaboração que lhes sejam solicitados; b) Aceder às instalações das entidades referidas na alínea anterior e a serem-lhes facultados todos os meios que se mostrem necessários para o apuramento dos factos em investigação; c) Solicitar a colaboração das autoridades policiais nos casos de recusa de acesso ou obstrução ao exercício da sua ação; d) Notificar e requerer a presença de testemunhas e declarantes no âmbito de ações disciplinares pendentes; 6
e) Solicitar a adoção de medidas cautelares necessárias e urgentes para assegurar os meios de prova quando tal se mostre necessário. 2. No exercício das suas funções os órgãos disciplinares devem pautar a sua conduta pela adequação dos seus procedimentos aos objetivos da ação disciplinar. ARTIGO 15.º Direito subsidiário 1. Ao exercício do poder disciplinar da Ordem dos Médicos, em tudo o que não for contrário ao estabelecido no presente Estatuto e respetivos regulamentos, são subsidiariamente aplicáveis as normas do Código Penal e do Código de Processo Penal. 2. Os prazos para a prática de atos processuais são contados nos termos do Código de Procedimento Administrativo. CAPÍTULO II DAS PENAS DISCIPLINARES E DA SUA APLICAÇÃO ARTIGO 16.º Penas disciplinares As penas disciplinares são as seguintes: a) Advertência; b) Censura c) Suspensão até dez anos; d) Expulsão. ARTIGO 17.º Penas acessórias 1. As penas acessórias são as seguintes: a) Multa de quantitativo entre duas a vinte e duas vezes o valor da quota anual mais elevada à data da infração; b) Perda de honorários; 7
c) Publicidade da pena. 2. A pena de multa consiste no pagamento de um valor pecuniário e é graduada em razão da gravidade da infração e da culpa e determinada por comportamento praticado em abuso da função ou com grave violação dos deveres que lhe são inerentes ou que revele grave indignidade no exercício da profissão. 3. A perda de honorários consiste na devolução dos honorários já recebidos que tenham origem no ato médico objeto da infração punida, ou na perda do direito de os receber, se ainda não tiverem sido pagos. 4. A publicidade da pena é efetuada em órgãos de comunicação social, de âmbito nacional ou regional, bem como no sítio eletrónico da Ordem, sem prejuízo do estabelecido do art.º 29.º e determinada por comportamento que revele indignidade no exercício da profissão. 5. As penas acessórias só podem ser aplicadas cumulativamente com as penas disciplinares previstas no art.º 16.º. ARTIGO 18.º Medida e graduação da pena Na determinação da medida das penas deve atender-se aos antecedentes profissionais e disciplinares do arguido, ao grau da culpa, às consequências da infração e a todas as demais circunstâncias agravantes e atenuantes. ARTIGO 19.º Advertência A pena de advertência é aplicável a infrações praticadas com culpa leve e consiste em mero reparo pela irregularidade praticada. ARTIGO 20.º Censura A pena de censura é aplicável a infrações leves praticadas com negligência e consiste num juízo de reprovação ética pela falta cometida. 8
ARTIGO 21.º Suspensão 1. A pena de suspensão é aplicável aos casos de infração grave praticados com negligência grosseira ou dolo eventual e consiste no afastamento total do exercício da medicina durante o período de aplicação da pena. 2. Constituem, entre outras, causas de suspensão, as seguintes infrações: a) Desobediência a determinações da Ordem dos Médicos, quando estas correspondam ao exercício de poderes vinculados atribuídos por lei; b) Violação de quaisquer deveres consagrados na lei ou nos Estatutos e regulamentos da Ordem dos Médicos e que visem a proteção da vida, da saúde, do bem-estar ou da dignidade das pessoas, quando não lhe deva corresponder sanção superior; c) Encobrimento do exercício ilegal da medicina; d) Prática de infração disciplinar que também constitua crime punível com pena de prisão superior a um ano. 3. A pena de suspensão de duração superior a cinco anos só pode ser aplicada mediante deliberação que obtenha a maioria de dois terços dos votos de todos os membros efetivos do Conselho Disciplinar competente. ARTIGO 22.º Expulsão 1. A pena de expulsão da Ordem dos Médicos é aplicável: a) Quando tenha sido cometida infração disciplinar com culpa grave que também constitua crime punível com pena de prisão superior a três anos; b) Quando se verifique incompetência profissional notória, com perigo grave para a integridade física, psíquica ou vida dos pacientes ou da comunidade; c) Quando ocorra encobrimento ou participação na violação de direitos da personalidade dos doentes. d) Quando tenha sido cometida infração disciplinar que afete gravemente a dignidade e o prestígio profissional, retirando idoneidade ao médico para o exercício da profissão. 9
2. A pena de expulsão só pode ser aplicada mediante deliberação que obtenha a maioria de dois terços dos votos de todos os membros efetivos do Conselho Disciplinar competente. ARTIGO 23.º Circunstâncias atenuantes Constituem, entre outras, circunstâncias atenuantes: a) O exercício efetivo da medicina por um período superior a cinco anos, sem qualquer sanção disciplinar; b) A confissão; c) A colaboração do médico arguido para a descoberta da verdade; d) A reparação espontânea, pelo médico arguido, dos danos causados pela sua conduta. ARTIGO 24.º Circunstâncias agravantes Constituem, entre outras, circunstâncias agravantes: a) A verificação de dolo; b) A premeditação; c) O conluio; d) A reincidência; e) A acumulação de infrações; f) A prática de infração disciplinar durante o cumprimento de pena disciplinar ou de suspensão da respectiva execução; g) A produção de prejuízo de valor igual ou superior a metade da alçada dos Tribunais da Relação; h) A prática de quaisquer atos que visem a obtenção de lucros indevidos ou desproporcionados à custa dos doentes; 10
i) A prática de quaisquer atos que importem prejuízo considerável para terceiros. ARTIGO 25.º Reincidência e acumulação 1. Dá-se a reincidência quando a nova infração disciplinar é cometida antes de decorridos dez anos sobre a data em que tiver findado o cumprimento da pena imposta por virtude de infração anterior. 2. Verifica-se a acumulação de infrações sempre que duas ou mais infrações sejam cometidas simultaneamente ou antes da punição de infração anterior. ARTIGO 26.º Causas de exclusão da ilicitude e da culpa São causas de exclusão da ilicitude e da culpa as previstas na lei penal. ARTIGO 27.º Condenação em processo criminal 1. Sempre que em processo criminal seja imposta a proibição total de exercício da profissão durante período de tempo determinado, este é deduzido à pena disciplinar de suspensão que, pela prática dos mesmos factos, vier a ser aplicada ao médico. 2. A condenação de médico em processo criminal, que esteja correlacionada com o exercício da profissão, é comunicada à Ordem dos Médicos para efeitos de registo no respetivo processo individual. ARTIGO 28.º Suspensão de execução das penas 1. Atendendo, nomeadamente, ao grau de culpa, ao comportamento do arguido e às circunstâncias que rodearam a prática da infração, a execução das penas disciplinares inferiores à suspensão pode ser suspensa por um período compreendido entre três e cinco anos. 11
2. O Conselho Disciplinar competente, se o julgar conveniente e adequado à realização das finalidades da punição, pode subordinar a suspensão da execução da pena à verificação de certas condições e ao cumprimento de determinados deveres ou regras de conduta por parte do médico condenado. 3. A suspensão da execução da pena é revogada sempre que, no seu decurso, seja proferida decisão definitiva que imponha nova pena disciplinar superior à de censura, pela prática de infração posterior à primitiva condenação. ARTIGO 29.º Publicidade das penas É sempre dada publicidade à aplicação das penas de expulsão e suspensão efetiva, as quais também são publicadas em Diário da República a expensas do arguido, apenas sendo publicitadas as restantes penas se o médico arguido também tiver sido condenado na pena acessória de publicidade da pena. CAPÍTULO III DA INSTAURAÇÃO DO PROCESSO ARTIGO 30.º Instauração e distribuição do processo 1. Instaurado o procedimento disciplinar, deve o processo ser distribuído a um dos membros do CDR competente, para instrução. 2. A distribuição será proporcional e equitativa entre os membros do Conselho Disciplinar. 3. Qualquer relator designado nos termos dos números anteriores deve pedir escusa, alegando impedimento temporário ou a existência entre ele e o presumível infrator ou demais interessados, de relações que possam pôr em causa a sua independência e imparcialidade na instrução. 4. Com a distribuição do processo o relator deve ordenar a junção aos autos de extrato do registo disciplinar do arguido. 12
ARTIGO 31.º Assessoria jurídica Os CDR são assistidos nas suas funções por um ou mais assessores jurídicos, a quem cabe prestar todo o apoio necessário ao presidente e aos relatores, quer no que respeita à análise e instrução dos processos, quer no tocante à redação dos despachos, pareceres e decisões finais.. ARTIGO 32.º Instrução 1. A instrução do processo disciplinar é sumária, devendo o relator remover todos os obstáculos ao seu célere andamento e recusar tudo o que for impertinente, inútil ou dilatório. 2. A forma dos atos, quando não esteja expressamente regulada, deve ajustarse ao fim em vista e limitar-se ao indispensável para o atingir. ARTIGO 33.º Poderes do relator Compete ao relator regular o andamento da instrução do processo e manter a disciplina nos respetivos atos. ARTIGO 34.º Correspondência e requisição oficial de documentos No exercício das suas atribuições legais podem os órgãos disciplinares da Ordem dos Médicos corresponder-se com quaisquer entidades públicas, autoridades judiciárias e policiais, bem como órgãos de polícia criminal, podendo requisitar, com isenção de pagamento de taxas e despesas, documentos, cópias, certidões, informações e esclarecimentos, incluindo a remessa de processos em confiança, nos termos em que os organismos oficiais devem satisfazer as requisições dos tribunais judiciais. ARTIGO 35.º 13
Dever de colaboração 1. Sem prejuízo do disposto no art.º 14.º, todas as entidades públicas, autoridades judiciárias e policiais, bem como os órgãos de polícia criminal, têm o especial dever de prestar total colaboração aos órgãos disciplinares da Ordem dos Médicos, no exercício das suas funções. 2. Os particulares, sejam pessoas singulares ou colectivas, têm o dever de colaboração com os órgãos disciplinares da Ordem dos Médicos no exercício das suas atribuições. 3. A falta de colaboração de qualquer médico com os órgãos disciplinares da Ordem dos Médicos, quando estes atuam no exercício das suas funções e dos poderes vinculados atribuídos por lei, constitui infração disciplinar. ARTIGO 36.º Local de instrução 1. A instrução realiza-se na cidade sede do CDR competente, salvo quando haja conveniência para o processo em que as diligências ocorram noutro local. 2. Quando necessário ou conveniente, o relator pode delegar a competência instrutória em conselhos sub-regionais, conselhos médicos das regiões autónomas e noutros conselhos disciplinares. ARTIGO 37.º Meios de prova 1. Na instrução do processo são admitidos todos os meios de prova permitidos em direito. 2. O relator deve notificar o médico arguido para se pronunciar, querendo, sobre a matéria da participação, salvo quando isso possa prejudicar a instrução. 3. Sem prejuízo do disposto no artigo 32º, o interessado e o arguido podem requerer ao relator todas as diligências que considerem necessárias ao apuramento da verdade. 14
ARTIGO 38.º Termo da instrução 1. Finda a instrução, o relator profere despacho de acusação ou elabora proposta fundamentada de arquivamento do processo ou de que este fique a aguardar produção de melhor prova, consoante considere que existem ou não indícios suficientes da prática de infração disciplinar. 2. A proposta de arquivamento ou de que o processo fique a aguardar produção de melhor prova é apresentada ao CDR competente, o qual com ela concorda ou determina que o processo prossiga com a realização de diligências complementares ou com a emissão de um despacho de acusação, podendo, neste caso, ser designado novo relator de entre os membros do CDR que tenham votado a continuação do processo. ARTIGO 39.º Reabertura do Processo 1. O processo pode ser reaberto se surgirem novos elementos de prova que invalidem os fundamentos invocados na deliberação de arquivamento. 2. Da decisão do CDR que deferir ou recusar a reabertura cabe recurso para o Conselho Superior. CAPÍTULO IV DA ACUSAÇÃO E DA DEFESA ARTIGO 40.º Despacho de acusação O despacho de acusação deve especificar a identidade e demais elementos pessoais relativos ao arguido, os factos imputados e as circunstâncias em que os mesmos foram praticados, as circunstâncias atenuantes e agravantes, as 15
normas infringidas, a sanção aplicável e o prazo para a apresentação de defesa. ARTIGO 41.º Suspensão preventiva 1. Com o despacho de acusação que conclua pela possibilidade da aplicação de pena de suspensão pode ser proposta a suspensão preventiva do arguido, a deliberar, por maioria qualificada de dois terços dos membros efetivos do CDR competente. 2. A suspensão preventiva pode ser decretada, em especial, nos casos seguintes: a) Quando exista a possibilidade de prática de novas e graves infrações disciplinares; b) Quando a instrução possa ser perturbada em termos que prejudiquem o apuramento da infração; c) Quando tenha sido cometida infração disciplinar que afete gravemente a dignidade e o prestígio profissional; d) Quando o médico arguido tenha sido acusado ou pronunciado criminalmente por crime cometido no exercício da profissão, ou por crime a que corresponda pena igual ou superior a dois anos de prisão. 3. A suspensão preventiva não pode ultrapassar seis meses. 4. O CDR competente pode, mediante proposta fundamentada do relator aprovada por dois terços dos seus membros efetivos, prorrogar uma única vez a suspensão preventiva por mais seis meses. 5. O tempo de duração da suspensão preventiva é sempre descontado na pena disciplinar de suspensão que venha eventualmente a ser aplicada ao arguido. 6. Os processos disciplinares em que o arguido se encontre preventivamente suspenso têm carácter urgente e preferem a todos os demais. ARTIGO 42.º Notificação da acusação 16
1. O arguido é notificado da acusação pessoalmente ou pelo correio, entregando-se-lhe a respectiva cópia. 2. A notificação, quando feita pelo correio, é remetida, sob registo com aviso de receção, para o domicílio profissional, ou para a residência, ou domicílio fiscal do arguido. 3. Se o arguido se encontrar em parte incerta e for desconhecida a sua residência, é notificado por edital referindo apenas que se encontra pendente um processo e qual o prazo para apresentação de defesa, que deve ser afixado na porta do seu último domicílio profissional, do seu último local de trabalho ou da sua última residência ou domicílio fiscal conhecidos e ainda nas instalações do CDR competente. ARTIGO 43.º Prazo para defesa 1. O prazo para defesa é fixado pelo relator, não podendo ser inferior a quinze nem superior a trinta dias. 2. Quando a notificação seja feita para o estrangeiro ou por edital, o prazo para defesa não pode ser inferior a trinta nem superior a sessenta dias. 3. A pedido do arguido, pode o relator, em casos justificados pela complexidade da matéria ou por impedimento manifesto, prorrogar o prazo para apresentação da defesa, ou aceitá-la quando apresentada fora de prazo. ARTIGO 44.º Representação 1. O arguido deve defender-se pessoalmente, podendo, porém, nomear em sua defesa um representante especialmente mandatado para o efeito. 2. O arguido pode fazer-se representar, quando esteja impossibilitado de o fazer pessoalmente por ausência ou incapacidade física ou mental. ARTIGO 45.º Apresentação da defesa 17
1. A defesa deve ser apresentada por escrito, expondo claramente os factos, a sua interpretação e as razões que a fundamentam. 2. Com a defesa deve o arguido, querendo, apresentar o rol de testemunhas, juntar documentos ou requerer a realização de quaisquer diligências, que podem ser recusadas quando manifestamente impertinentes, dilatórias ou desnecessárias para o apuramento dos factos. 3. Não podem ser indicadas mais de três testemunhas por cada facto especificado, não devendo o total exceder dez testemunhas. ARTIGO 46.º Consulta do processo Durante o prazo para a apresentação da defesa, pode o processo ser consultado na secretaria do Conselho Disciplinar Regional respetivo, às horas de expediente, ou facultada cópia ao próprio ou a advogado constituído. ARTIGO 47.º Novas diligências 1. O relator pode ordenar a realização de novas diligências que considere necessárias para o apuramento da verdade. 2. Quando surjam novos elementos probatórios, deve ser notificado o arguido para que se pronuncie, querendo, em prazo não inferior a dez nem superior a vinte dias. ARTIGO 48.º Relatório final Realizadas as diligências referidas no artigo anterior, o relator elabora um relatório fundamentado, do qual constem os factos apurados, a sua qualificação e gravidade, a pena que entende dever ser aplicada ou a proposta de arquivamento dos autos. CAPÍTULO V 18
DA DECISÃO DISCIPLINAR ARTIGO 49.º Decisão 1. Elaborado o relatório é este apresentado na primeira sessão que vier a ter lugar, a fim de ser submetido à apreciação dos seus membros. 2. Se algum ou alguns membros se declararem não habilitados a deliberar, o processo é dado para vista, por cinco dias, a cada membro que a tiver solicitado, findo o que é novamente presente para julgamento. 3. Os votos de vencido devem ser fundamentados. 4. Em caso de empate, o presidente tem voto de qualidade. ARTIGO 50.º Novo relator Quando o CDR discorde do relatório e das propostas do relator, pode deliberar a sua substituição por outro membro, que deve proceder, no prazo de quinze dias, à elaboração do novo relatório. ARTIGO 51.º Notificação da decisão 1. As decisões finais são notificadas ao arguido, aos interessados e ao presidente do Conselho Superior. 2. A decisão deve ser notificada ao arguido, nos termos do artigo 42.º. CAPÍTULO VI Dos recursos ARTIGO 52.º Das decisões recorríveis 1. Das decisões dos CDR cabe recurso para o Conselho Superior. 19
2. O direito de recurso não pode ser objeto de renúncia antes de conhecida a decisão. 3. Não são recorríveis as decisões de mero expediente ou de organização e disciplina dos trabalhos. ARTIGO 53.º Legitimidade Podem recorrer o arguido e os interessados. ARTIGO 54.º Prazo O prazo para a interposição dos recursos é de quinze dias a contar da notificação da decisão final, ou de trinta dias a contar da afixação do edital. ARTIGO 55.º Subida e efeitos 1. Os recursos interpostos de despachos ou decisões interlocutórios sobem com o da decisão final. 2. Têm efeito suspensivo os recursos interpostos das decisões finais dos CDR. ARTIGO 56.º Interposição e notificação do recurso 1. O requerimento de interposição do recurso é sempre motivado, mediante alegações escritas, sob pena de não admissão do mesmo, sendo, para tanto, facultada ao recorrente a consulta prévia do processo. 2. Com a motivação, que deve enunciar especificamente os fundamentos do recurso e terminar com a formulação de conclusões, pode o recorrente requerer a junção dos documentos que entenda convenientes, desde que os mesmos não pudessem ter sido apresentados até à decisão final objeto do recurso. 20
3. O recurso não é admitido quando a decisão for irrecorrível, quando for interposto fora de tempo, quando o recorrente não preencher as condições necessárias para recorrer ou quando não vier acompanhado de alegações que o fundamentem. 4. Admitido o recurso que subir imediatamente, é notificado o recorrido para responder no prazo de 15 dias, sendo-lhe facultada a consulta do processo. ARTIGO 57.º Decisão do recurso À decisão dos recursos aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 49.º a 51.º ARTIGO 58.º Baixa do processo Julgado definitivamente em recurso, o processo baixa ao CDR respetivo, para agir em conformidade com a decisão de recurso. CAPÍTULO VII DOS PROCESSOS ESPECIAIS Secção I Processo de Inquérito ARTIGO 59.º Objeto do inquérito 1. Pode ser deliberada a abertura de processo de inquérito sempre que não esteja concretizada a infração, não seja conhecido o infrator ou ainda quando seja necessário esclarecer factos constantes da participação. 2. No decurso do inquérito, as direções médicas e os órgãos de gestão das instituições médicas, públicas ou privadas, onde eventualmente tenham ocorrido os factos objeto de inquérito devem prestar, quando solicitados, toda a 21
colaboração necessária ao apuramento dos factos, sem prejuízo do estabelecido no art.º 14º. ARTIGO 60.º Tramitação 1. O processo de inquérito regula-se pelas normas aplicáveis ao processo disciplinar em tudo o que não estiver especialmente previsto. 2. Depois de averiguada a identidade do médico visado ou, logo que se mostrem minimamente concretizados ou esclarecidos os factos participados, sendo eles suscetíveis de constituir infração, é proposta a imediata conversão do processo de inquérito em processo disciplinar, mediante parecer sucintamente fundamentado. 3. Quando no inquérito se conclua que a participação é manifestamente inviável ou infundada, será elaborado parecer propondo o imediato arquivamento do processo. Secção II Processo de Revisão ARTIGO 61,º Competência A revisão das decisões insuscetíveis de recurso com trânsito em julgado é da competência do Conselho Superior. ARTIGO 62.º Legitimidade 1. O pedido de revisão pode ser formulado pelo interessado, pelo arguido condenado ou ainda pelos seus herdeiros. 2. O presidente do Conselho Superior pode apresentar, fundamentadamente, propostas de revisão. ARTIGO 63.º 22
Condições da concessão da revisão A revisão só pode ser concedida nos casos seguintes: a) Quando surjam novos factos ou novas provas suscetíveis de constituir forte presunção no sentido da alteração da decisão a rever; b) Quando outra decisão, já sem recurso, tenha considerado como falsos os elementos de prova decisivos para a decisão a rever; c) Quando outra decisão, já sem recurso, puna por parcialidade, corrupção ou suborno, praticados no processo a rever, elementos cuja intervenção tenha sido determinante para a decisão; d) Quando se mostrar, por exame psiquiátrico ou outras diligências, que a falta de integridade mental do arguido poderia ser causa da sua inimputabilidade. ARTIGO 64.º Tramitação 1. Apresentado o pedido, acompanhado de toda a prova, cabe ao Conselho Superior decidir da sua admissão, face aos elementos que o acompanharem. 2. Sendo admitido, é designado relator e são notificados o arguido e os interessados para se pronunciarem no prazo de 15 dias cada um. 3. Compete ao relator elaborar relatório, mandando, caso o entenda, realizar diligências complementares, e apresentar proposta que negue ou conceda a revisão. ARTIGO 65.º Baixa do processo Concedida a revisão, é o processo remetido ao órgão que primeiramente decidiu para que o instrua e decida de novo. Secção III Processo de Reabilitação ARTIGO 66.º 23
Reabilitação do médico expulso 1. Os médicos expulsos da Ordem dos Médicos podem ser reabilitados desde que tenham decorrido 10 anos sobre o trânsito em julgado da decisão que aplicou a pena e se encontrem verificados os seguintes requisitos: a) Tenha havido reabilitação judicial, se a ela houver lugar; b) Não haja riscos para a saúde dos pacientes e da comunidade; c) Se mostre acautelada a dignidade da medicina; d) O reabilitando tenha revelado boa conduta, podendo, para o demonstrar, utilizar os meios de prova admitidos em direito. 2. Quando a expulsão tenha ocorrido por força do disposto na alínea b) do nº 1 do artigo 22.º, a reabilitação depende da prestação de provas públicas, em termos a fixar em regulamento. 3. Em casos especiais, a reabilitação pode ser limitada à prática de certos atos médicos. 4. À reabilitação aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 61.º a 65.º. CAPÍTULO VIII DA EXECUÇÃO DAS DECISÕES E SUA IMPUGNAÇÃO CONTENCIOSA ARTIGO 67.º Efeitos das penas, momento da sua execução e impugnação contenciosa 1. As decisões disciplinares dos CDR devem ser executadas a partir do dia imediato àquele em que se tornem insuscetíveis de recurso. 2. As decisões disciplinares do Conselho Superior devem ser executadas a partir do dia imediato àquele em que forem notificadas aos arguidos. 3. As decisões do Conselho Superior são impugnáveis contenciosamente. ARTIGO 68.º 24
Competência A execução das decisões disciplinares, tomadas pelo Conselho Superior ou pelos Conselhos Disciplinares Regionais, compete ao presidente do CDR da área da prática da infração, sem prejuízo da colaboração dos órgãos executivos. ARTIGO 69.º Não cumprimento das penas No caso de não cumprimento da pena por parte do médico punido, será suspensa a sua inscrição ou licença, até integral cumprimento da decisão disciplinar, sem prejuízo de novo processo disciplinar por desobediência. ARTIGO 70º Comunicação aos Conselhos Regionais Todas as penas transitadas em julgado são comunicadas ao Conselho Regional R onde o médico se encontra inscrito para efeitos de averbamento no respetivo processo. CAPÍTULO IX TAXAS E CUSTAS PROCESSUAIS ARTIGO 71.º Taxas e custas processuais 1 É devido o pagamento de custas pelo participante que deu causa ao processo, entendendo-se que dá causa às custas se o processo for arquivado sem que o médico arguido tenha sofrido condenação. 2 Pela interposição de recurso para o Conselho Superior é devido o pagamento de uma taxa. 3 O valor e regras das custas e taxas serão definidos em regulamento próprio. 25