Anoitecer em Luanda Tive a oportunidade de me deslocar em trabalho a Luanda, entre 20 de Abril e 3 de Maio de 2006. Não sendo propriamente um destino onde se vai frequentemente (aliás, pode mesmo ter sido a primeira e a última vez que lá fui), não quis deixar passar a oportunidade de, com algumas fotografias que consegui tirar à socapa (as máquinas fotográficas ainda são mal vistas em Angola ), mostrar a quem tem interesse por este país um pouco do que ele é neste momento. A minha estadia resumiu-se a Luanda, com os dias praticamente passados no interior das instalações do operador de telecomunicações onde fui fazer uma instalação, à excepção de um merecido Domingo de descanso durante o qual consegui juntar-me a um grupo de colegas que ia passar o dia ao Mussulo, uma ilha (na realidade é uma península) que fica a cerca de 17 km a sul de Luanda. 06-06-06 Pág. 1
Miúdos a lavar os carros Pelos relatos e conversas que tive com pessoas mais ambientadas com o historial da capital angolana, cheguei à conclusão que ao longo da História recente, Luanda atravessou três fases distintas: a fase colonial, antes da independência, em que Luanda era uma cidade próspera; a fase da guerra civil, pós-independência, em que a cidade cresceu em musseques (bairros de lata) enquanto se iam degradando os edifícios do tempo colonial; e a fase actual, em que Luanda está a pouco e pouco a reconstruir-se a si própria. Sede do Banco Nacional de Angola, um dos poucos edifícios coloniais que resistiu 06-06-06 Pág. 2
Começam a aparecer novos arranha-céus, construídos pelas grandes empresas de construção civil portuguesas, as ruas do centro da cidade estão agora todas alcatroadas, o lixo, que antes abundava, começa a desaparecer das ruas. Arranha-céus em construção Estão também a ser construídos prédios ao estilo dos bairros sociais, onde estão a ser realojados os milhares de pessoas que moram em determinados musseques, que estão a ser destruídos. Marginal de Luanda 06-06-06 Pág. 3
Resquícios das antigas instalações da Companhia Geral de Angola Ainda assim, apesar de todo este alvoroço de desenvolvimento (muito pouco sustentado, na minha opinião), impera em Luanda o laxismo da população, a atitude de subsistência diária (apenas se trabalha o suficiente para comer hoje, e amanhã logo se vê). Musseque 06-06-06 Pág. 4
Outro musseque Para piorar a situação, a densidade populacional em Luanda é muito superior à desejável, e assim continuará enquanto não se começarem a ver os investimentos que estão a ser feitos nas províncias, que são a única solução para o povo angolano. É nas províncias que se pode investir na agricultura e na indústria, e caso essas apostas sejam feitas em força, Angola pode tornar-se num dos países mais ricos de África, visto que tem recursos naturais e humanos suficientes para subsistir sem ter que importar o que quer que seja. Candongueiros, as carrinhas Hiace azuis que são os táxis angolanos 06-06-06 Pág. 5
Em termos agrícolas, o clima e o solo angolano são perfeitos: praticamente tudo pode ser cultivado. A juntar a isto as jazidas de petróleo e diamantes que vão aumentando de ano para ano, conclui-se que Angola tem um percurso facilitado pela frente, desde que se combatam os dois grandes problemas do país: a corrupção dos ricos, e a falta de cultura dos pobres. Também em Luanda há Escuteiros! Falando um pouco da ida ao Mussulo, há que começar por dizer que turismo é uma palavra que não existe no léxico angolano. Não há qualquer tipo de estrutura turística neste país, à excepção de alguns bares e restaurantes que existem nas praias da ilha de Luanda, do Mussulo e em alguns locais mais recônditos na costa sul do país. 06-06-06 Pág. 6
Futuros Mantorras, junto a uma zona de moradias dos ricos, a caminho do Mussulo Embarcadouro para o Mussulo Para se chegar ao Mussulo há duas opções: a primeira, e mais usada, é ir de carro até ao embarcadouro para o Mussulo, a cerca de 30 minutos de carro do centro de Luanda. Chegados ao embarcadouro, temos apenas que esperar pelo barco da praia para onde queremos ir. Cada praia tem o seu barco que vai e vem para o Mussulo com uma cadência de mais ou menos 30 minutos por percurso, sendo que a viagem de barco propriamente dita demora mais ou menos 20 minutos. 06-06-06 Pág. 7
Vista da ilha do Mussulo Chegados ao bar pretendido (no nosso caso foi o Bar-Sulo), o que encontramos é de facto paradisíaco: uma praia privativa, com sombrinhas e espreguiçadeiras que são autênticas camas. A água está constantemente agradável, e é óptimo passar o dia a jogar vólei, intercalando cada set com 10 minutos na água para arrefecer o corpo. Um Portugal vs. Brasil que vai ficar para a História 06-06-06 Pág. 8
Vista do Bar-Sulo No final do dia, faz-se o percurso inverso de volta ao embarcadouro, e cruzamo-nos com as lanchas e o catamarans dos ministros e empresários, que parecem viver numa Angola definitivamente à parte. Será do Zé Eduardo? 06-06-06 Pág. 9
De volta a Luanda, ainda houve tempo para fotografar mais uma vez o magnífico pôr-do-sol com que fui brindado todos os dias, com a baía e a fortaleza de Luanda ao fundo, e desejando que este país volte a ter a beleza que outrora teve. Pôr-do-sol em Luanda Para o Rituais, Ricardo Melo 06-06-06 Pág. 10