Arqueologia e História Indígena em Museu de Território

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Transcrição:

Arqueologia e História Indígena em Museu de Território 154 vaso de cerâmica reconstituído pelo MAC / (200 a 500 anos antes do presente)

Sede do MAC em Pains, MG Na cidade de Pains, MG, encontra-se o Museu Arqueológico do Carste¹ do Alto São Francisco (MAC), primeiro museu do município e também o primeiro museu arqueológico de história indígena de toda a região do alto São Francisco. Seu acervo é composto por objetos de sociedades indígenas que viveram naquela região desde 11.000 anos atrás: pontas de projéteis feitos de pedras lascadas, de povos caçadores-coletores que habitaram o território mineiro entre 11.000 e 9.000 anos antes do presente (9.000 a.c. a 7.000 a.c.); machados, rolos, moedores e outros objetos de perfuração, corte e impacto feitos de pedras polidas, datadas em cerca de 6.000 a 3.000 anos antes do presente (4.000 a.c. a 1.000 a.c.); artefatos de cerâmica e litocerâmica (cerâmica com pedra) de diversas formas, de 3.000 a 500 anos antes do presente (1.000 a.c. a 1.500 d.c.), além de artefatos de ossos, matéria orgânica petrificada, e restos humanos. 1 - Carste ou Carso ou ainda Karst, também conhecido como relevo cárstico ou sistema cárstico, é um tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas, que leva ao aparecimento de uma série de características físicas, tais como cavernas, dolinas, vales secos, vales cegos, cones cársticos, rios subterrâneos, canhões fluviocársicos, paredões rochosos expostos e lapiás. O termo Carste deriva do alemão Karst (em português, Carso), nome de uma região que se estende do norte da Itália até o sudoeste da Eslovênia e o noroeste da Croácia. O nome local em língua eslovena Kras, significa aproximadamente "campo de pedras calcárias". A região também é chamada Carso em italiano. Esta região possui um sistema geológico cárstico e foi a primeira região onde esse fenômeno foi estudado. (FONTE: Wikipédia). Nota da revisão. 155

O MAC foi criado a partir do Edital Mais Museus² - ano 2008. Seu projeto de implantação foi aprovado então pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que estabeleceu um convênio com a Prefeitura Municipal de Pains. No ano de 2009 o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) passou a acompanhar o processo de implantação e funcionamento do MAC. A inauguração deste museu de território se deu em 10 de abril de 2010. Ao longo de seu primeiro ano de funcionamento, o MAC recebeu milhares de visitantes, sendo a maior parte composta por estudantes do ensino básico de Pains e região. Além da exposição, a equipe do MAC realiza oficinas de arqueologia e educação patrimonial, incluindo visita a sítios arqueológicos durante escavações. Por ser um museu arqueológico e também um centro de pesquisas da arqueologia regional, o trabalho com a cultura material na educação patrimonial tem sido a grande contribuição do MAC para o patrimônio cultural indígena brasileiro. É importante registrar que Pains encontrase situada em uma província cárstica, ou seja, uma região com predomínio da rocha calcária, e possui uma intensa e extensa atividade mineradora como a base econômica do município. Pelo mesmo motivo da presença do calcário, que é uma rocha alcalina, os vestígios arqueológicos orgânicos que permitem a datação são mais preservados em cavernas, abrigos e sepultamentos a céu aberto. Estes vestígios vêm sendo escavados e pesquisados por arqueólogos desde o final da década de 1990. 2 - O Edital Mais Museus visa o conveniamento de projetos para a implantação de museus em municípios com menos de 50 mil habitantes e que ainda não possuam instituição museológica instituída. Promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia do Ministério da Cultura (MinC). ( F O N T E : W W W. m u s e u s. g ov. b r / p remios- e d i t a i s - e - concursos/edital-mais-museus/). Nota da revisão. 156

Artefatos em exibição no MAC, do alto, à esquerda, em sentido horário: colar de ossos (300-1000 anos antes do presente); uma ponta de projétil de pedra lascada (9.000 a 11.000 anos antes do presente) e objetos de pedra polida em forma cilíndrica, conífera e esférica (3.000 a 6.000 anos antes do presente). O acervo do MAC é composto por artefatos de sociedades que estão sendo compreendidas por meio destes mesmos artefatos. São objetos que evidenciam a antigüidade e diversidade da ocupação humana indígena nas terras mineiras, o desenvolvimento tecnológico dessas sociedades, assim como sua complexidade. A fabricação dos objetos de perda lascada, pedra polida e cerâmica indica uma divisão social do trabalho nessas sociedades. E podemos imaginar como as técnicas de transporte, corte de pedras e polimento eram transmitidas entre os indivíduos em situações de ensino-aprendizagem. Esse museu tem o propósito de guardar artefatos sobre a história indígena da região sudoeste de Minas Gerais. Considerando que museus e escolas possuem temporalidades diferentes e distintas maneiras de trabalhar a cultura material, professores indígenas e nãoindígenas podem incluir a musealização de artefatos em seus planejamentos curriculares. Musealizar é explorar as potencialidades comunicativas e informativas dos artefatos para o conhecimento da história e de outras dimensões da realidade humana. (esquerda) Sítio arqueológico em escavação no município de Pains - MG / Sala de exposição do MAC (abaixo) 157

158 Gilmag Henriques, Neide Aranã, Júlia Bernardes,... Xacriabá, Pablo Lima, Maria Aparecida Xacriabá, Aracy Coelho, Cristina e Carolina em Pains, MG.

A musealização ocorre nos museus, de diversas maneiras, e também pode ocorrer nas escolas indígenas e não-indígenas. No museu, muitas vezes, não se pode tocar em artefatos exibidos, mas apenas observá-los. Porém, há um trabalho intenso de exploração de suas informações por meio das pesquisas museológicas expressas nos textos das exposições, nas legendas e nas publicações. Nas escolas, a muzealização pode ser realizada com artefatos de propriedade dos próprios professores, estudantes e seus familiares, podendo ser tocados e explorados mais diretamente. E muitas atividades de pesquisa sobre história indígena local, do cotidiano, da vida privada, do mundo do trabalho, da tecnologia, etc, podem ser realizadas com o foco sobre a cultura material. O MAC tem por objetivo guardar e proteger materiais provenientes de pesquisas arqueológicas no Carste do Alto São Francisco, região que compreende a área conjunta de oito municípios do centro oeste de Minas Gerais: Pains, Arcos, Formiga, Córrego Fundo, Pimenta, Piumhí, Doresópolis e Iguatama. Constitui um projeto pioneiro de museu arqueológico e de história Indígena, pois integra atividades educacionais com a pesquisa científica, além da conservação de uma infinidade de artefatos da cultura material indígena para as gerações presentes e futuras. Gilmar Henriques Pablo Lima 159