Cultura e Apatia: uma análise da cisão entre as lideranças palestinas Ana Luiza Terra Costa Mathias Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Cruz Aguilar Introdução O impasse entre palestinos e israelenses continua em pauta devido ao fracasso das diversas tentativas de negociações, à não criação de um Estado Palestino de facto e à ocupação militar e construção de assentamentos israelenses em parte desse território. Recentemente ocorreu uma cisão entre os líderes do Hamas, grupo islâmico que governa a Faixa de Gaza, percebida como fator que debilita ainda mais as negociações. O conflito Israel-Palestina possui suas raízes ainda no fim do século XIX, apesar de a área ser motivos de disputa desde os tempos antigos devido ao seu posicionamento estratégico, por ligar três continentes, localizar-se próximo ao canal de Suez e conter áreas sagradas para três diferentes religiões (islamismo, judaísmo e cristianismo). A pesquisa aborda a cisão das lideranças palestinas pelo conceito de apatia, segundo o qual, em momentos de crise, uma sociedade pode repulsar suas crenças e valores e perder a motivação que os mantém unidos. A pesquisa também analisa se essa cisão agrava as negociações de paz entre a Palestina e Israel. Nesta pesquisa, utilizamos fontes secundárias como material bibliográfico como livros, artigos de revistas especializadas publicados pela imprensa nacional e internacional, que tratam do conflito e dos conceitos de cultura e apatia utilizados no texto, e fontes primárias como documentos oficiais da ONU sobre a questão palestina. O Conflito Israel-Palestina Desde que o chamado sionismo político passou a tomar forma na construção de um Estado judeu na Palestina como alternativa ao antissemitismo, a imigração de judeus para a região se intensificou, especialmente durante o período do nazismo, se transformando em escoamento de refugiados na época da Segunda Guerra Mundial (GATTAZ, 2002).
Em 1947, quando a situação saiu do controle do Reino Unido, Mandatário da região da Palestina desde 1922, este levou o problema à ONU, sendo formado um Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP) que apresentou o plano de partilha da Palestina que foi aprovado e consistia na divisão do território em oito partes: três destinadas ao Estado judeu, três ao Estado árabe, uma consistia em um enclave árabe em território judeu (Jaffa) e uma ficaria sob administração da ONU (Jerusalém). Além disso, os Estados seriam economicamente ligados e o Reino Unido deveria assegurar a instalação do Estado judeu a partir de fevereiro de 1948 com prazo de retirar-se da região até 1 de agosto de 1948 (UNITED NATIONS, 2008, p 3-9). Em 1948, quando Israel declarou sua independência, iniciaram-se os conflitos entre o novo Estado e vários países árabes da região, implicando no rearranjo das fronteiras palestinas e israelenses diversas vezes (GATTAZ, 2002). Em 1967 a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964, obteve sua autonomia, dentre seus partidos, foi criado o Al Fatah, de caráter laico. No mesmo ano, os israelenses fizeram nova ofensiva e ocuparam militarmente a Cisjordânia, Faixa de Gaza, Península do Sinai e Colinas de Golã, durante a Guerra dos Seis Dias. Tal ocupação resultou na aprovação da Resolução 242 na ONU que previa a retirada dos israelenses das regiões ocupadas e apelava para o reconhecimento da soberania palestina. No entanto, não houve empenho em garantir sua efetivação. Em 1968, a OLP adotou em sua Carta uma posição mais ofensiva, declarando Israel um Estado ilegal e clamando pela afirmação de sua identidade e autodeterminação (GATTAZ, 2002). Em 1973, ocorreu uma ofensiva egípcia e síria contra Israel, conhecida como Guerra do Yom Kippur. Arábia Saudita, Iraque e Líbia boicotam a venda de petróleo aos aliados de Israel, o que implicou na imposição de um cessar fogo pelos EUA. Israel ainda conseguiu ocupar territórios nas Colinas de Golã e no Sinai. De acordo com os interesses estadunidenses no Oriente Médio, Egito e Israel chegaram a um acordo e findaram com o impasse (GATTAZ, 2002). Israel expulsou a OLP da Jordânia, que a usava como base desde 1967. A Organização, então, se estabeleceu no Líbano e construiu uma estrutura política e militar dando assistência e educação à população. Israel invadiu o Líbano, em 1982, visando destruir sua liderança, esta que mudou seu posicionamento em relação a Israel, pois oferecia seu
reconhecimento mútuo em troca da desocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e a formação de um Estado palestino nesses territórios (GATTAZ, 2002). Em 1974, a OLP passou a participar das reuniões da Assembleia Geral da ONU e, posteriormente, estendida aos demais corpos da organização, com status de observador como representante do povo palestino. Além disso, a Organização reconheceu, em 1988, a proclamação do Estado da Palestina, ganhando dez anos depois alguns privilégios e direitos nas Nações Unidas como participante nas sessões e trabalhos da Assembleia Geral e conferências internacionais (UNITED NATIONS, 2008, p-26). Em 1987, a população palestina iniciou um protesto contra a repressão dos israelenses e a ausência de solução concreta para o conflito que ficou conhecido como Primeira Intifada. Tal evento é conhecido até os dias de hoje por ser um protesto popular sem liderança de um grupo específico, além da forte repressão com que foram tratados pelos militares israelenses. Enquanto a população palestina reagia com o que havia no alcance das mãos, como paus e pedras, os israelenses revidavam com tiros e bombas, uma força claramente desproporcional que resultou em dezenas de mortos e feridos (GATTAZ, 2002). Em julho de 1988, a OLP, na busca por uma saída diplomática, definiu um governo provisório, através do Conselho Nacional da Palestina (CNP) parlamento que governava a Palestina do exílio na Argélia. Este se pronunciou a respeito da necessidade de formularem-se acordos com Israel baseados na Carta e nas resoluções da ONU e em seguida proclamou-se a independência do Estado da Palestina, com capital em Jerusalém. Em dezembro do mesmo ano, Yasser Arafat, líder da OLP, reconheceu a existência do Estado de Israel e o direito de convivência em paz e segurança dos envolvidos no conflito no Oriente Médio (UNITED NATIONS, 2008, p-29). Neste período, o grupo islâmico, Hamas que significa Movimento de Resistência Islâmico e tem suas origens na Irmandade Muçulmana - organização politico religiosa nascida no Egito e presente em todo mundo árabe - é fundado em Gaza sob a liderança do Sheikh Ahmed Yassin. O grupo passou a ser responsável por grandes ações sociais na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Em 1988, publicou sua Carta de princípios em que rompe com o princípio de não violência da Irmandade Muçulmana, compromete-se com a destruição de Israel e prega a substituição da Autoridade Nacional Palestina (ANP) por um Estado islâmico em Gaza e na Cisjordânia (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS).
Nos anos 1990, após pressão dos Estados Unidos ao primeiro ministro israelense, com o objetivo de amenizar a instabilidade no Oriente Médio em favor de seus aliados árabes Arábia Saudita e Kuwait (GATTAZ, 2002), Israel e a OLP assinaram diversos acordos, conhecidos como Processo de Paz de Oslo, que previam o reconhecimento mútuo entre Israel e a OLP, a desocupação de algumas áreas palestinas, tanto civil quanto militarmente e a criação da ANP que tinha por função governar as áreas desocupadas. As questões de Jerusalém, refugiados, assentamentos, arranjos de segurança, fronteiras entre outros foram adiadas para uma fase de negociação com status permanente que se iniciaria a partir do terceiro ano do período provisório de transição, além de clamar por maior assistência técnica e econômica ao povo palestino pelos Estados Membros da Organização e a própria ONU (UNITED NATIONS, 2008, p-31/32). Em 1996, ocorreram as primeiras eleições para um conselho Legislativo Palestino composto de 88 membros, quando foi eleito Yasser Arafat para presidente da ANP. Em 1998, novas negociações sobre a ocupação israelense foram feitas, resultando na transferência de regiões palestinas sob controle israelense para autonomia palestina (UNITED NATIONS, 2008, p-33). No entanto, a reorganização das áreas palestinas pelo acordo isola as áreas autônomas palestinas e as cerca por áreas de controle e ocupação militar israelense (GATTAZ, 2002). Tal processo não resolveu a falta de autonomia política do povo palestino, as frustrações acerca da permanência e continuidade na construção de mais assentamentos israelenses em território palestino, as decisões e política da Autoridade Palestina e a demora no cumprimento dos acordos com Israel provocou a Nova Intifada de 2000 a 2005, onda de protestos populares palestinos, reprimidos duramente pelos militares israelenses (GATTAZ, 2002). A cisão nas lideranças palestinas Em 2006, o grupo islâmico Hamas derrotou o partido laico Al Fatah da OLP e venceu as eleições legislativas na Palestina (UNITED NATIONS, 2008, p-51). Antes da sua vitória nas eleições legislativas na Palestina em 2006, o Hamas havia feito participações
significativas em eleições de menores âmbitos, especialmente em Gaza (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). Em 2007, as divergências entre Hamas e Al Fatah se agravaram, resultando num conflito e na tomada do poder pelo Hamas na Faixa de Gaza. O que fragmentou politicamente as lideranças palestinas. A partir de então, a Faixa de Gaza é governada pelo Hamas enquanto a Cisjordânia é governada pelo Fatah da ANP, reconhecida internacionalmente (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). As tensões entre o Hamas e Israel prosseguiram com ataques constantes do grupo islâmico às cidades fronteiriças israelenses. Israel concluiu que armas eram transportadas para Gaza através de túneis na fronteira egípcia. As ações nessa região preocuparam agências de ajuda internacional aos palestinos, pois dificultaram o acesso e o envio de recursos básicos à população. Após um período de tensões, cessar fogo e reincidência de ataques ocorreu a invasão israelense da Faixa de Gaza em 2009 (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). Em contraste com a ajuda financeira recebida pela ANP dos Estados Unidos e da União Europeia, o Hamas, após sua vitória nas eleições, sustentou-se com o dinheiro de suas arrecadações públicas, além dos fundos que, historicamente recebiam de palestinos expatriados, doadores privados na Arábia Saudita e empresários de petróleo do Golfo Pérsico. O Irã também fornecia apoio financeiro ao grupo, que, segundo alguns diplomatas, oscilava entre $20 milhões a $30 milhões por ano. Além disso, algumas organizações de caridade muçulmanas nos Estados Unidos, Canadá, e Europa Ocidental enviavam dinheiro aos grupos de serviços sociais do Hamas. Em dezembro de 2001, a administração de Bush apreendeu os recursos da Fundação Terra Sagrada, a maior caridade muçulmana nos Estados Unidos, sob a suspeita de financiar o Hamas (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). Em julho de 2009, o líder do Hamas, Khaled Meshal declarou a vontade do grupo em cooperar com os Estados Unidos e promover a resolução do conflito árabe-israelense. O grupo, então, aceitaria um Estado Palestino baseado nas fronteiras de 1967, desde que os refugiados palestinos pudessem retornar para Israel e Jerusalém Oriental fosse reconhecida como a capital palestina. A proposta não atingiu a expectativa do reconhecimento, fato primordial para a inclusão do Hamas nas negociações (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). Os acontecimentos da Primavera Árabe em 2011 criaram expectativas nos palestinos quanto a uma reconciliação entre Al Fatah e Hamas, que incluiu a assinatura de um acordo em maio do mesmo ano. Segundo Meshal, ao assinar o acordo no Cairo, havia a necessidade da
união em prol de um fim comum, a criação de um Estado palestino soberano sobre as fronteiras de 1967 com Jerusalém como capital e sem assentamentos. No entanto, quando Mahmoud Abbas, presidente da ANP que governa a Cisjordânia, resolveu buscar o reconhecimento da Palestina na ONU, o Hamas se opôs (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). No entanto, desde sua vitória nas eleições em 2006, o grupo islâmico Hamas encontrou dificuldades em convergir para um programa uno. Suas divergências, desde então, com a ANP foram evidentes, sendo seu ápice o golpe de estado na Faixa de Gaza. No entanto, em 2011, o grupo enfrentou uma cisão de posicionamentos entre seus próprios líderes. Kalid Meshal, que governava no exílio, em conversas diplomáticas, reconheceu as fronteiras palestinas previstas pela ONU e prometeu construir um governo palestino em conjunto com Abbas, líder do Fatah. Enquanto isso, o primeiro-ministro em Gaza, Ismael Haniyeh, manteve sua postura de rejeição a Israel e desautorizou as promessas de Meshal, além de reafirmar os laços do Hamas com o Irã (TEIXEIRA, 2012). Cultura e apatia Roque Laraia afirma, em seu texto Cultura: um conceito antropológico, que autores como Sahlins, Harris, Carneiro, Rappaport, Vayda entre outros, concordavam que culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitido) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante. (LARAIA, 2001, P. 59) Segundo Laraia, a apatia ocorre quando, em lugar da superestima dos valores de sua própria sociedade, numa dada situação de crise os membros de uma cultura abandonam a crença nesses valores e, consequentemente, perdem a motivação que os mantém unidos e vivos (LARAIA, 2001. P. 75). Desta forma, pode-se verificar que, culturalmente, os palestinos não modificaram suas crenças religiosas, mas seu posicionamento político, tanto suas lideranças, quanto a própria população que os apoia e dá legitimidade. Tal modificação consiste em um abandono de
crenças políticas sobre os meios e fins aos quais pretendem focar-se para obterem suas demandas satisfeitas. Tal fato ocorre em uma situação de crise, pois o conflito com Israel continua, além da ocupação militar israelense, da má distribuição de água, das sanções internacionais na Faixa de Gaza que dificultam a entrada de alimento e remédio, não havendo perspectiva de acordo que modifique o conflito ou o finde através da satisfação das demandas políticas e sociais palestinas e israelenses. Tais mudanças de posicionamento possibilitam observar a existência de apatia em dois momentos principais. Primeiramente, quando a ANP encontrou dificuldades em administrar as demandas palestinas e fixar um acordo com Israel, houve um grande apoio da população ao grupo islâmico Hamas. Apesar de estar historicamente engajado com trabalho social (construção de escolas, orfanatos, mesquitas, clínicas médicas, e ligas de esporte), correspondente a cerca de 90% de seus esforços e gastos, e ter uma política de repúdio à corrupção, contrastantes com a dificuldade da ANP em oferecer tais serviços à população, bem como as denúncias e acusações de corrupção em sua administração, o Hamas tem como um de seus objetivos a destruição do Estado de Israel (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). Tais fatos ajudam a explicar os motivos pelos quais a popularidade do Hamas crescia inversamente proporcional à credibilidade da ANP, levando-o consequentemente à vitória nas eleições de 2006. Num segundo momento, quando a população percebeu que uma solução para o conflito e, consequentemente, o fim da ocupação militar e o inicio de uma autonomia política, necessitavam do reconhecimento da existência de Israel e da tentativa de resolução pacifica do conflito, o apoio ao grupo islâmico entrou em contraste com o seu objetivo de destruição de Israel. De acordo com o pesquisador palestino, Khalil Shikaki, ao final de 2006, apesar de muitos palestinos almejarem acordos com Israel, o apoio ao Hamas era grande. Sua popularidade cresceu entre o final de 2008 e inicio de 2009, durante um surto violento que resultou em ataques israelenses a terras de Gaza. Mas no fim de junho de 2009, sua popularidade caiu para 18,8% tanto na Faixa de Gaza quando na Cisjordânia, de acordo com os dados do Jerusalem Media and Communication Center (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). Com as responsabilidades burocráticas que vieram com sua vitória nas eleições legislativas e, posteriormente as responsabilidades do golpe de estado em Gaza, criou-se a expectativa de que o grupo se afastasse da violência, o que na prática não aconteceu. Pelo contrário, alguns de seus líderes ainda são adeptos do uso da violência e continuam
irredutíveis em relação ao reconhecimento do Estado de Israel (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). Devido ao seu comportamento extremista em relação a Israel, o grupo enfrentou diversas sanções econômicas, em grande parte, acirradas por ataques de homens-bomba entre outras ações violentas tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza e nas antigas fronteiras palestinas antes da ocupação israelense de 1967. Entre 2001 e 2003, o Hamas e a Jihad Palestina Islâmica comandaram dúzias de ataques, levando Israel a construir uma barreira entre si e as regiões Palestinas (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). O líder do grupo no exílio, Kalid Meshal, reconheceu também a necessidade da aceitação do Estado de Israel como um passo fundamental para qualquer negociação, assim como fez Yasser Arafat algumas décadas antes na OLP. Ação esta que encontrou rejeição dentre os líderes do Hamas em Gaza que ainda se apegam aos métodos extremistas para a construção de um Estado islâmico palestino e a destruição de Israel. Segundo a June Survey de opinião pública, após a Primavera Árabe, 67% dos cidadãos de Gaza apoiariam demonstrações de buscar uma mudança de regime, e que 50% deles participaria de tais demonstrações. De acordo com as estatísticas do Centro Palestino para Pesquisa em Política e Sobrevivência (Palestinian Center for Policy and Survey Research) jovens Cidadãos de Gaza em particular estão insatisfeitos com o Hamas (COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS). A crise é basicamente a mesma nas duas situações: trata-se do impasse da população palestina que vive há décadas sob ocupação militar israelense, com frequentes momentos de violência, problemas na distribuição de água e frustrações políticas que incluem escândalos de corrupção na administração da ANP, a continuidade da expropriação de terras em prol da construção de assentamentos israelenses em seu território, a continuidade do conflito com Israel e a ausência de um Estado Palestino de facto. Diante disso, a população cria expectativas na OLP que, apesar de obter uma carta ofensiva contra Israel em suas origens, hoje possui posicionamento mais moderado a fim de um acordo concreto que traga benefícios para ambos os lados e trouxe a iniciativa de estabelecer acordos com Israel diversas vezes, como os Tratados de Oslo, por exemplo. Sua proposta é a criação de um Estado Palestino laico em conjunto com o Hamas, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza com capital em Jerusalém, através da diplomacia e dos acordos com Israel.
Quando tal proposta se mostra falha e ineficiente na garantia das demandas políticas do povo palestino, trazendo mais frustrações e mais crise, seu apoio se volta para o grupo islâmico Hamas. Este, apesar de trabalhar fortemente no bem-estar da população por meio de programas sociais, utiliza métodos extremistas contra Israel e pretende substituir a ANP e instalar um governo islâmico na Palestina. Durante seu governo, as relações não foram diplomáticas, muito menos pacificas com Israel. Por outro lado, quando tal alternativa se mostra ainda mais ineficiente em conquistar as demandas almejadas pelo povo palestino, este, principalmente após a Primavera Árabe, passa a construir esperanças sobre o direito de autodeterminação dos povos tão valorizado pela ONU como uma ferramenta para a construção de um acordo diplomático com Israel, fazendo com que a popularidade do Hamas caia e os próprios membros do grupo comecem a tomar posicionamento moderado, como Meshal fez. Conclusão A cisão nas lideranças palestinas pode ser relacionada com o fenômeno da apatia, em que uma sociedade abandona suas crenças diante de uma crise, o que resultou na divisão política entre a Faixa de Gaza governada pelo Hamas que almeja um Estado islâmico na Palestina e a Cisjordânia pela ANP reconhecida internacionalmente como representante do povo palestino. A falta de um programa uno de governo da Palestina consiste em um entrave para as negociações de paz entre palestinos e israelenses, pois a ANP, mais propensa ao entendimento, não controla o território palestino como um todo e tem dificuldades para lidar com as lideranças do Hamas e seus apoiadores. Dessa forma, entre os fatores que dificultam a resolução do conflito estão: a fragmentação da liderança palestina entre moderados e extremistas, o não reconhecimento do Estado de Israel pelo Hamas, que governa parte de seu território, seu desejo de implantar um governo islâmico na Palestina e, principalmente, o fato de que a União Europeia e os Estados Unidos consideram o Hamas um grupo terrorista. Tais fatos inviabilizam o reconhecimento de uma soberania, já que não há unidade em seu governo e sua fragilidade estrutural poderia gerar em caos político e golpe de estado.
No entanto, percebe-se que grande parte da população, após a Primavera Árabe, processo que resultou numa onda de protestos contra a opressão das liberdades no norte da África e no Oriente Médio, revigorou as esperanças de um acordo diplomático com Israel baseado no direito de autodeterminação dos povos, como consta na Carta da ONU, fazendo com que até membros do próprio Hamas e muitos de seus apoiadores adotassem uma posição menos extremista e almejassem uma solução pacifica ao conflito árabe-israelense. Referências GATTAZ, André Castanheira. A Guerra da Palestina: da criação do Estado de Israel à Nova Intifada. São Paulo: Usina do Livro, 2002. HAMAS. Council on Foreign Relations. Disponível em: <http://www.cfr.org/israel/hamas/ p8968> Acesso em: 20 jun. 2012 LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001 TEIXEIRA, Duda. Se um Hamas é ruim, dois é pior. Veja. n. 2257. São Paulo, 22 fev. 2012, p. 58-65. UNITED NATIONS. Department of Public Information. The Question of Palestine and the United Nations. New York: United Nations, 2008. WHO ARE HAMAS? BBC News. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/ 1654510.stm> Acesso em: 17 mai. 2012