SINDICÂNCIA PATRIMONIAL A sindicância patrimonial, assim como os demais procedimentos investigativos, conforma um procedimento inquisitorial, sigiloso, não contraditório e não punitivo, que visa colher dados e informações suficientes a subsidiar a autoridade competente na decisão sobre a deflagração de processo administrativo disciplinar. Destaca-se a sindicância patrimonial dos demais procedimentos investigativos, na medida em que possui escopo delimitado, constituindo importante instrumento de apuração prévia de práticas corruptivas envolvendo servidores públicos, na hipótese em que o patrimônio destes aparente ser superior à renda licitamente auferida. Nesse sentido, constitui a sindicância patrimonial um instrumento preliminar de apuração de infração administrativa consubstanciada em enriquecimento ilícito, tipificada no inciso VII do art. 9º da Lei nº 8.429/92 (lei de improbidade administrativa), possuindo previsão normativa no Decreto nº 5.483, de 30 de junho de 2005, e na Portaria CGU nº 335/06. Apesar de a sindicância patrimonial não se inserir no conceito strictu sensu de processo administrativo disciplinar - já que conforma um procedimento sigiloso, meramente investigativo, não punitivo e não contraditório -, é um relevante instrumento à disposição da Administração Pública. Na verdade, a sindicância patrimonial desempenha papel de destaque na apuração das infrações administrativas potencialmente causadoras de enriquecimento ilícito do agente público, na medida em que, mediante a análise da evolução patrimonial do agente, poderão ser extraídos suficientes indícios de incompatibilidade patrimonial capazes de instruir a deflagração do processo administrativo disciplinar strictu sensu que poderá culminar na aplicação da pena prevista no art. 132, inciso IV, da Lei nº 8.112/90, e na propositura da ação de improbidade administrativa, nos termos da Lei nº 8.429/92. Com efeito, o inciso VII do art. 9º da lei de improbidade administrativa estabelece que constitui enriquecimento ilícito do servidor adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público. Por outro lado, da leitura do art. 132, inciso IV, da Lei nº 8112/90, depreende-se que o ato de improbidade administrativa praticado por servidor público federal constitui falta disciplinar e enseja a aplicação da penalidade de demissão. Assim, na medida em que o enriquecimento ilícito do servidor constitui ilícito administrativo, a denúncia, notícia ou suspeita da prática dessa irregularidade deve ser apurada, ex vi do art. 143 da Lei nº 8.112/90. Entretanto, previamente à deflagração do processo administrativo disciplinar, poderá a autoridade competente valer-se da sindicância patrimonial, na qual se procederá à análise da evolução patrimonial do servidor, com vistas
a confirmar ou não o teor denunciativo e fundamentar a decisão pelo arquivamento ou pela instauração do processo contraditório. Assim, consoante o parágrafo único do art. 7º do citado Decreto, constatada a possível evolução patrimonial incompatível do agente público, caberá à CGU instaurar diretamente a sindicância patrimonial ou requisitar a sua instauração ao órgão ou entidade competente. No mesmo sentido, segundo o art. 8º do Decreto nº 5.483/05: Ao tomar conhecimento de fundada notícia ou de indícios de enriquecimento ilícito, inclusive evolução patrimonial incompatível com os recursos e disponibilidades do agente público, a autoridade competente, com fundamento no art. 9º da Lei nº 8.429, de 1992, determinará a instauração de sindicância patrimonial, destinada à apuração dos fatos. A instauração da sindicância patrimonial opera-se com a emissão de portaria pela autoridade competente, na qual deverá constar os servidores designados para compor a comissão sindicante, o número do processo no qual constam os fatos que serão objeto de apuração e o prazo para a realização dos trabalhos. Nos termos do 2º do art. 16 da Portaria CGU nº 335/06, A autoridade instauradora da sindicância patrimonial, deverá ser de cargo ou função de nível hierárquico equivalente ou superior ao do servidor ou empregado sob julgamento. Ademais, o art. 9º, 1º, do Decreto nº 5.483/05, bem como o art. 17 da Portaria CGU nº 335/06, dispõem que o procedimento de sindicância patrimonial será conduzido por comissão composta por dois ou mais servidores efetivos ou empregados públicos de órgãos ou entidades da Administração Pública Federal. Cumpre ressaltar que referidos dispositivos não fazem menção ao requisito da estabilidade do servidor no cargo para integrar a comissão sindicante, de modo que se prescinde dessa. Por outro lado, de acordo com o 2º do art. 9º do Decreto 5.483/05 e à luz do art. 19 da Portaria CGU nº 335/06, o prazo para a conclusão do procedimento de sindicância patrimonial será de trinta dias, contado da data da publicação do ato que constituir a comissão, podendo ser prorrogado, por igual período ou por período inferior, pela autoridade competente pela instauração, desde que justificada a sua necessidade. A respeito da instrução da sindicância patrimonial, veja-se o que estabelece o art. 18 da Portaria CGU nº 335/06, in verbis: Art. 18. Para a instrução do procedimento, a comissão efetuará as diligências necessárias à elucidação do fato, ouvirá o sindicado e as
eventuais testemu-nhas, carreará para os autos a prova documental existente e solicitará, se ne-cessário, o afastamento de sigilos e a realização de perícias. Da leitura do dispositivo acima transcrito observa-se que, não obstante a sindicância patrimonial possua caráter inquisitorial e sigiloso, pode a comissão tomar o depoimento do sindicado, abrindo-lhe a oportunidade de apresentar justificativas para o eventual acréscimo patrimonial verificado. Extrai-se, também, da redação do mencionado artigo, que a comissão sindicante deve realizar todas as diligências postas ao seu alcance no sentido de elucidar o fato sob investigação, o qual, consoante já afirmado, consiste na possível aquisição, pelo servidor, de bens de valor desproporcional ao seu patrimônio ou à sua renda. Exsurge dessa assertiva que o escopo de apuração da comissão sindicante será eminentemente patrimonial, uma vez que deverá apurar, em termos qualitativo e quantitativo, a composição e o valor dos bens e direitos, assim como as dívidas que integram o patrimônio do servidor. Com vistas à colheita dessas informações, a comissão sindicante poderá se valer de diversas fontes de consulta, como Cartórios de Registros Imobiliários, Cartórios de Registros de Títulos e Documentos, Departamentos de Trânsito, Juntas Comerciais, Capitania de Portos, entre outros, inclusive de outros entes da Federação. Poderá, também, solicitar o afastamento dos sigilos fiscal e bancário do servidor investigado. No que se refere ao sigilo fiscal, cumpre mencionar que a Lei Complementar nº 104, de 10 de janeiro de 2001, ao conferir nova redação ao art. 198 do Código Tributário Nacional, permitiu o afastamento administrativo do sigilo fiscal do servidor. Vale dizer: não precisará a comissão sindicante socorrer-se do Poder Judiciário para obter as informações fiscais do sindicado, podendo solicitar diretamente aos órgãos fazendários o fornecimento dessas informações. Eis o que dispõe o citado artigo, in verbis: Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulga-ção, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação ob-tida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou ati-vidades. 1o Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os seguintes: I requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;
II solicitações de autoridade administrativa no interesse da Adminis-tração Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o obje-tivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prá-tica de infração administrativa. 2o O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Públi-ca, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega se-rá feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo. (...)(grifo nosso) Impende esclarecer que o acesso aos dados fiscais não está restrito às declarações de imposto de renda, podendo ser avaliadas a declaração de operações imobiliárias, de imposto sobre operações financeiras, dentre outras, conforme o caso. Já a necessidade, verificada pela comissão, de obtenção dos dados protegidos por sigilo bancário, deverá ter enfrentamento diverso. Com efeito, quanto ao sigilo bancário, o 2º do art. 3º da Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001, exige prévia autorização do Poder Judiciário para o fornecimento de informações protegidas por tal sigilo para fins de instrução processual administrativa, consoante se depreende do dispositivo a seguir transcrito: Art. 3o Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão de Valores Mobiliários e pelas instituições financeiras as informações ordenadas pelo Po-der Judiciário, preservado o seu caráter sigiloso mediante acesso restrito às partes, que delas não poderão servir-se para fins estranhos à lide. 1o Dependem de prévia autorização do Poder Judiciário a prestação de informações e o fornecimento de documentos sigilosos solicitados por comis-são de inquérito administrativo destinada a apurar responsabilidade de servidor público por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido. (grifo nosso)
Nessa esteira, caberá à comissão solicitar ao órgão integrante da Advocacia-Geral da União competente o ajuizamento de processo de afastamento de sigilo bancário perante o órgão judiciário, devendo, para esse fim, demonstrar a necessidade e a relevância da obtenção dessas informações para a completa elucidação dos fatos sob apuração no bojo da sindicância patrimonial. Em que pese a possibilidade de obtenção dos dados protegidos por sigilo fiscal e bancário na forma anteriormente exposta, é importante ressaltar a recomendação constante do 3º do art. 18 da Portaria CGU nº 335/06, nos seguintes termos: 3º A comissão deverá solicitar do sindicado, sempre que possível, a renúncia expressa aos sigilos fiscal e bancário, com a apresentação das informações e documentos necessários para a instrução do procedimento Por sua vez, cumpre lembrar que os procedimentos administrativos investigativos possuem o sigilo como característica inerente. Entretanto, diante da possível obtenção de dados protegidos pelo sigilo fiscal e bancário, e considerando a natureza sensível dessas informações, forçoso é concluir que na sindicância patrimonial e no processo administrativo disciplinar que lhe seja decorrente, a proteção ao sigilo ganha maior relevo. Apurado pela comissão quais os bens e direitos que integram o patrimônio do servidor e o valor de cada um deles, os sindicantes deverão cotejar o resultado obtido com a renda auferida pelo servidor investigado e a evolução do seu patrimônio declarado, com vistas a verificar se eventual acréscimo decorreu da evolução normal desse patrimônio, é dizer: se possui o devido lastro correspondente. Com o resultado obtido pela realização do fluxo de caixa e da análise patrimonial do servidor, a comissão estará apta a emitir o seu juízo de valor sobre o apurado, mediante a elaboração da peça denominada relatório. Referido relatório, à luz do disposto no 3º do art. 9º do Decreto nº 5.483/05 e consoante o previsto no 1º do art. 19 da Portaria CGU nº 335/06, deverá ser conclusivo e apontar se o conteúdo denunciativo encontra, ou não, guarida na evolução patrimonial apurada do servidor, sugerindo, em consequência, a instauração de processo administrativo disciplinar ou o seu arquivamento. *Texto retirado do manual CGU-PAD
PERGUNTAS FREQUENTES Qual o rito adotado para a Sindicância Patrimonial? A sindicância Patrimonial foi instituída pelo Decreto nº 5483, de 30/06/2005, sendo posteriormente regulamentada pela Portaria - CGU nº 335, de 30/05/06, artigos 16 a 18. O seu rito foi disciplinado na Ordem de Serviço n.º 265, de 08/12/2006, do Secretário- Executivo da CGU. Qual a quantidade de integrantes nas Comissões de Sindicância Patrimonial? O Decreto nº 5483, de 30/06/2005, em seu artigo 9º, parágrafo 1º dispõe que o procedimento de sindicância patrimonial será conduzido por comissão composta por dois ou mais servidores ou empregados efetivos de órgãos ou entidades da administração federal. A Portaria - CGU nº 335, de 30/05/06 trás o mesmo entendimento no seu artigo 17. Qual a duração da Sindicância Patrimonial? De acordo com o parágrafo 2º do artigo 9º do Decreto 5483/2005, o prazo para conclusão do procedimento de sindicância patrimonial será de trinta dias, contados da data da publicação do ato que constituir a comissão, podendo ser prorrogado, por igual período ou por período inferior, pela autoridade competente pela instauração, desde que justificada a necessidade. O mesmo entendimento é encontrado no artigo 19 da Portaria CGU nº 335/2006. * texto retirado do site: www.cgu.gov.br