LECTIO DIVINA DO RELATO DE PENTECOSTES (ACT.2,1-13) Cântico: Tu és fonte de Vida! Tu és fogo! Tu és Amor! Vem, Espírito Santo! Vem Espírito Santo!

Documentos relacionados
O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que habita em nós

Pentecostes. O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que habita em nós.

«A FORÇA DO ESPIRITO»

Poder para testemunhar e sonhar. Série: 2000 anos depois Atos 2


No site da Amazon, há 275 livros sobre Nos Estados Unidos, já existem lojas vendendo produtos para o apocalipse.

1. Se um grupo de homens e mulheres quisessem criar um enredo fictício para ser tido como verdadeiro, teriam evitado elementos aparentemente

Se Jesus voltará, como devo esperá-lo?

Enraízados e edificados em Cristo...

Nº 27 - B - Pentecostes

Capítulo 2 A descida do Espírito Santo At 2:1 E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar;

Igreja - Uma face em construção Parte I: Lançando os fundamentos

Missa do Dia. «Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar»

A BELA HISTORIA DE JESUS DE NAZARÉ

Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.

Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas... Qua, 20 de Junho de :28

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

Formação Paroquial Outubro Ser Igreja Mística, Misericordiosa e Missionária

Pentecostes: Sinais especiais da presença do Espírito Santo - Pr. Abram de Graaf. Domingo 20 CdH

O BAPTISMO NO ESPIRITO SANTO

A dependência do Espírito Santo. Lucas 11:9-13

Ficai connosco, Senhor Por vezes a tristeza e desânimo entram no nosso caminhar, e tiram-nos a coragem de vos seguir. Por vezes a vida não tem sabor,

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Ide pelo mundo e levai a mensagem de Jesus. Sois estrela que há-de brilhar na escuridão. Sois fermento que deve levedar uma sociedade mais feliz.

O último fato que agitou os apocalípticos

Com Maria renovamos NOSSA FÉ

LIÇÃO 14 ENTRE A PÁSCOA E O PENTECOSTES. Prof. Lucas Neto

O :2). 1. 2:1-3. A 2. 2:4-13. O 3. 2: O 4. 2: A

Maria e o mistério de Cristo. Prof. Thiago Onofre

Pneumatologia. Pneumatologia: é a doutrina do Espírito Santo. Pneumatologia - A doutrina do Espirito Santo

O Deus de Abraão e de Jesus Cristo - 1

Orações Semanais para a Quaresma

Celebração tirada do livro Eucaristia com Crianças Tempos Fortes Pedrosa Ferreira Edições Salesianas. ocantinhodasao.com.pt/public_html.

VIII. Pentecostes a explosão do avivamento de Jesus

1. Jó 2. Salmos 3. Proverbios 4. Eclesiastes 5. Cantares

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS

EVANGELHO DE SÃO MATEUS Frei Ildo Perondi Autor: Mateus significa "dom de Deus" (Matatias, no hebraico) é um dos Doze

Escrito por Pe. Fernando Sex, 25 de Abril de :37 - Última atualização Sáb, 03 de Maio de :32

A REVELAÇÃO E A MISSÃO DE DEUS (MISSIO DEI)

Ouvido e compreendido

IMPELIDOS PELO ESPÍRITO PARA A MISSÃO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

DIOCESE DE CAMPO LIMPO SP Setor de Pastoral

NOSSA SENHORA APARECIDA

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

Homilia na solenidade da Santíssima Trindade

ASCENSÃO DO SENHOR. «Elevou-Se à vista deles»

Chave da semana Catequese com adultos Chave de bronze

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Deus é sempre Aquele que vem te encontrar. Participa da. falará ao teu coração, te alimentará, te inspirará. Este

Quem sou eu? Catequese com Adultos

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Oração Inicial: Leitura: Lucas 22, 7-20.

1ª Leitura - Ml 3,1-4

DOMINGO VI DA PÁSCOA

"Este é o meu Filho amado, ouvi-lo!" (Mt 17,1-9)

BOM DIA DIÁRIO. Guia: Em nome do Pai

Nº 22 C Domingo II da Páscoa Cristo ressuscitado, os primeiros apóstolos viram-te, tocaram-te, escutaram-te e acreditaram em ti. Nós, os teus amigos

ASCENSÃO DO SENHOR. LEITURA I Actos 1, Leitura dos Actos dos Apóstolos. No meu primeiro livro, ó Teófilo,

DÁ-NOS O SEU ESPÍRITO, QUE NOS UNE A ELE E NOS CONSAGRA

Passo a passo da Oração Pessoal

Também foram apresentadas sugestões de temáticas para alguns encontros que já fazem parte da vida do movimento nos estados e dioceses:

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

HOMILIA DE DOM DAMASKINOS PARA A FESTA DA EPIFANIA DO SENHOR EM CURITIBA, EM 06 / 01 / 2019.

A EXPERIÊNCIA DA UNIDADE NA IGREJA PRIMITIVA

LIÇÃO 3 - O CRESCIMENTO DO REINO DE DEUS PROF. LUCAS NETO

SOBRE O CENÁCULO Mencionado na Mensagem de

O significado do Evangelho

Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. Coração Imaculado de Maria, sede a nossa salvação.

REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA (LECTIO DIVINA) Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm Reflexões de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORA: uma nova mentalidade

Escola da Fé 15 dez Fé, resposta ao Deus que se revela. Feliz és tu que acreditaste

A Festa de Pentecostes 50 dias após a Páscoa

O Caminho da Vontade de Deus

ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 7: Jesus, o Filho de Deus - 2ª parte.

Como falar sobre acontecimento tão significativo quanto este?

O Espírito Santo, que o Pai nos presenteia, identifica-nos com Jesus- Caminho, abrindo-nos ao seu mistério de salvação para que sejamos filhos seus e

Nº 5 C Natal e Sagrada Família

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS,, O. CARM REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Ano Litúrgico Ano C

CREIO NA SANTA IGREJA CATÓLICA

Homilia na Peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora da Assunção Santo Tirso

as comunidades em oração acompanham o 7CG

2ª FEIRA 21 de janeiro INTRODUÇÃO. Vídeo REFLEXÃO ORAÇÃO SEGUE-ME! ESTOU CONTIGO NA AMIZADE COM JESUS!

2ª FEIRA 4 de fevereiro

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

DOMINGO V 215 DOMINGO V DA PÁSCOA. LEITURA I Actos 6,1-7. «Escolheram sete homens cheios do Espírito Santo...»

17º Dia- Quarta-Feira (21/03) Juntos anunciando as boas novas de Cristo Texto: Rm 1:14-16 Sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios

Lição 14. Até ao dia. seguinte ao. sétimo sábado, contareis. cinquenta dias

Maria e seu FIAT COTIDIANO

Gr.Bíblico. Evangelho de. Nossa Senhora Conceição

Transcrição:

LECTIO DIVINA DO RELATO DE PENTECOSTES (ACT.2,1-13) Cântico: Tu és fonte de Vida! Tu és fogo! Tu és Amor! Vem, Espírito Santo! Vem Espírito Santo! 1 Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. 2 De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. 3 Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. 5 Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. 6 Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7 Atónitos e maravilhados, diziam: «Mas esses que estão a falar não são todos galileus? 8 Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? 9 Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10 da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, 11 judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!» 12 Estavam todos assombrados e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros: «Que significa isto?» 13 Outros, por sua vez, diziam, troçando: «Estão cheios de vinho doce.» 1

I. LEITURA: QUE DIZ O TEXTO? O mesmo Espírito que inspirou os autores Sagrados, a escrever, também nos inspira a ler e a interpretar as Escrituras! (cf. D.V. 12) 1. Quando? O episódio da vinda do Espírito Santo descrito em Act 2,1-13 tem lugar na festa de Pentecostes. Era uma festa de acção de graças pelo dom da colheita (Ex 23,16). Celebrava-se cinquenta dias (ou sete semanas e um dia) depois da festa da Páscoa. Nela se comemorava, a partir do séc.i, também o pacto que Deus havia feito com o seu povo no Sinai (Ex 20,22-23,33; 34,10-28). Estamos, pois, no dia do Pentecostes, festa em que se renovava a aliança. São Lucas quer representar o Pentecostes como um novo Sinai, como a festa do novo Pacto, na qual a Aliança com Israel se alarga a todos os povos da Terra. A expressão de Lucas é complexa: «Quando chegou o dia do Pentecostes»; a ideia é bem semítica: o tempo enche-se como uma medida. Só a encontramos mais uma vez no N.T., e também da autoria de Lucas: «Como estavam ia chegar os dias de ser levado deste mundo» (Lc 9, 51). Num caso como noutro, «o tempo está completo»: O acontecimento anunciado recapitula, pois, todos os acontecimentos anteriores. Cumpre-se a promessa! 2. Quem? «Todos reunidos»! Todos, quem? Os 120 referidos em Act.1,15? Como poderiam caber na casa, referida em Act.1,13? Se tiver em conta o «todos» de Act.1,14, então estes «todos», são os Doze! Mas o versículo 6 fala de uma multidão! 3. Onde? Enquadramento especial muito confuso e pouco relevante: «em toda a casa»? (v.2 cf. «sala superior» onde se reuniam os apóstolos» Act.1,13). Mas como caberia lá a multidão? (v.6)? Dá-se uma abrupta mudança de cena, a partir do v.5. 4. Como? Um fenómeno auditivo e depois visual! 2

No relato solene e arcaizante do acontecimento do Pentecostes aparecem algumas imagens («som» 2,2 / cf. I Re.19,11; «fogo» 2,3 / cf. Ex.19,18), vento...) que também se encontram nas narrações da revelação do Sinai. Mas o próprio Lucas se distancia da descrição que faz: trata-se de um som comparável ao de um vento forte: apareceram umas línguas à maneira de fogo. O verbo «aparecer» é utilizado pela Bíblia para nos apresentar estas aparições interiores de Deus, de anjos, de Jesus ressuscitado. E portanto não se trata apenas de uma impressão subjectiva mas de uma revelação. Todas estas imagens nos sugerem fortemente tratar-se de um novo Sinai (Ex.19) de uma nova aliança com este novo povo de Deus «reunido num só coração», «todo junto», como Israel ao pé da montanha. Através desses símbolos e imagens, o autor quer fazer-nos descobrir como foi importante a experiência do Pentecostes, e, como nela, se deu uma presença muito especial de Deus. O Senhor envia o Espírito Santo que havia prometido (Lc. 24,29) e fá-lo quando estão reunidos em comunidade. Num sentido oposto, o autor da carta aos Hebreus lembra aos cristãos: «Na verdade, não vos aproximastes duma montanha que se podia tocar e do fogo violento, nem da nuvem, das trevas ou da tempestade: nem do soar da trombeta, e daquela voz tão retumbante» (Heb 12, 18-19). E poisou uma sobre cada um deles» (v.3): sucedeu algo aos discípulos, que se apoderou deles, como o Espírito Santo poisou sobre Jesus no seu baptismo (Lc.3,22). Quer Jesus, quer os apóstolos ficam possuídos pelo Espírito Santo. Mas uma vinda do Espírito Santo, em forma corpórea e sobre ele, fica só reservada a Jesus. 5. O que aconteceu aos Doze? Todos ficaram cheios do Espírito Santo! Aquele que actua é o Espírito Santo! Eles ficam cheios (repletos) do Espírito Santo (v.4) como Jesus depois do Baptismo. Os apóstolos são mergulhados no Espírito Santo. É este o centro da narração: o Espírito apodera-se deste 3

novo povo para lhe dar a vida, estabelecê-lo definitivamente na nova aliança. Lucas preparou habilmente os seus efeitos. O Espírito é o personagem esperado: Jerusalém... esperai... recebereis uma força... O Espírito descerá sobre vós...» (Lc 24, 49; Act 1, 4.8); os sinais precursores do divino (ruído e fogo) anunciam a sua chegada e ei-lo agora como uma efusão interior que os inunda. O Espírito Santo é o verdadeiro protagonista aqui e no livro dos Actos: ele faz-se presente por 56 vezes, assim distribuídas ao nível do vocabulário: 41 vezes «Espírito Santo»; 10 vezes «o Espírito»; 2 vezes «o meu Espírito»; 2 vezes «o Espírito do Senhor»; 1 vez «o Espírito de Jesus». E começaram a falar outras línguas (v.4) Milagre da fala O fenómeno que se conta em continuação costuma conhecer-se com o nome de glosolalia, palavra que significa literalmente "falar em línguas". Os apóstolos expressam-se como o faziam os antigos profetas (Nm 11) ou como o farão os cristãos, impulsionados pelo Espírito, nos primeiros tempos da Igreja (Act 10,46). Este Espírito manifesta a sua presença por um efeito sensível: o «falar outras línguas». Este fenómeno tem feito correr muita tinta; tratou-se de um milagre de dicção (os apóstolos a falarem línguas estrangeiras) ou de audição (eles falavam em aramaico, mas cada um, compreendia no seu próprio dialecto)? Não se traria, antes, desse fenómeno vulgar na comunidade primitiva (e que reaparece nos grupos carismáticos): Deus é louvado, em línguas estranhas. É muito possível. Que há de importante nesta manifestação? Falar noutras línguas é fazer-se entender por todos os povos. No episódio de Babel (Gen 11, 1-9) as diferentes línguas dividem os homens e mulheres. Pentecostes parece dar-nos a entender que todas as pessoas podem ouvir a Boa Nova de Jesus. A missão dos apóstolos, desde este momento, será fazer chegar a todos sem excepção, a boa notícia da ressurreição de Jesus. É como se a confusão de Babel, que provocou a dispersão dos povos, desaparecesse, e todos os homens e mulheres pudessem reunir-se de novo numa mesma família. De todas as formas, o que Lucas pretende fazer-nos compreender é claro: a confusão de línguas, em Babel (Gn. 11), tornara os homens incapazes de se compreenderem; o Espírito concede agora à sua Igreja o poder de se fazer 4

compreender por todos os povos. Fílon já entendia o Sinai, como uma anti-babel: «O mais admirável é o concerto unânime em que todo o povo, em uníssono, proclamou: «Faremos tudo quanto Deus disse» (Ex 19, 8). Em Babel não se compreendiam uns aos outros (Gn 11, 7); no Pentecostes, «cada um os ouvia falar na sua própria língua» (Act 2, 6). Mais importante que falar diversas línguas ou melhor, «outras» línguas é a caridade! (I Cor.13,1) 6. Significados de uma lista de povos: muitas interpretações! A registar apenas que se tratam de regiões com nutrida população judia (o judaísmo em toda a sua extensão), e que há uma concentração no Próximo Oriente e mais concretamente na Ásia Menor! Judeus e prosélitos, denominação conclusiva. A salvação já não tem fronteiras; não é só para os judeus, mas dirige-se a todos. A chegada do Espírito é uma chamada à universalidade. Todas as pessoas entendem a Boa Nova, cada um na sua própria língua e cultura. 7. Como reagiram os circunstantes? Quais os efeitos do Pentecostes? Assombro e desconcerto! Ouvem-nos falar na sua própria língua (v.11) Milagre de audição! Interrogam-se! Três perguntas: duas no v.7 e a última no v.12 «como» (como Maria: como será isto?) Outros suspeitam de embriaguez (v.13), ao ouvir uma espécie de proclamação extática, linguagem incompreensível, não articulada! II. MEDITAÇÃO: QUE ME DIZ NO TEXTO O ESPÍRITO SANTO? Cântico: Senhor Jesus, Tu és Luz do mundo. Dissipa as trevas, que me querem falar. Senhor Jesus, és luz da minha alma, saiba eu acolher o Teu amor! 1. «Permanecer juntos» foi a condição exigida por Jesus para receber o dom do Espírito Santo; pressuposto da sua concórdia foi uma oração prolongada. Desta forma, encontramos delineada uma formidável lição para cada comunidade cristã. Por vezes pensa-se que a eficiência missionária dependa principalmente de uma programação atenta e da sucessiva inteligente realização mediante um empenho concreto. Sem dúvida, o Senhor pede a 5

nossa colaboração, mas antes de qualquer resposta nossa é necessária a sua iniciativa: é o seu Espírito o verdadeiro protagonista da Igreja. As raízes do nosso ser e do nosso agir estão no silêncio sábio e providente de Deus. (Bento XVI, Homilia, 4.06,2006). 2. O que o ar é para a vida biológica, o Espírito Santo é para a vida espiritual; e dado que existe uma poluição atmosférica que envenena o ambiente e os seres vivos, assim há também uma poluição do coração e do espírito, que mortifica e envenena a existência espiritual. Do mesmo modo como não podemos habituar-nos aos venenos do ar, da mesma forma deveríamos agir com relação àquilo que corrompe o espírito. A metáfora do vento impetuoso do Pentecostes faz pensar no modo como, ao contrário, é precioso respirar o ar puro, quer com os pulmões, o ar físico, quer com o coração, o ar espiritual, o ar salubre do espírito que é a caridade! 3. A Sagrada Escritura revela-nos que a energia capaz de mover o mundo não é uma força anónima e cega, mas a acção do "espírito de Deus que se movia sobre a superfície das águas" (Gn 1, 2) no início da criação. E Jesus Cristo "trouxe à terra" não a força vital, que já habitava nela, mas o Espírito Santo, ou seja, o amor de Deus que "renova a face da terra", purificando-a do mal e libertando-a do domínio da morte (cf. Sl 103 [104], 29-30). Este "fogo" puro, essencial e pessoal, o fogo do amor, desceu sobre os Apóstolos 4. No Pentecostes o Espírito, com o dom das línguas, mostra que a sua presença une e transforma a confusão em comunhão. 5. O orgulho e o egoísmo do homem geram sempre divisões, erguem muros de indiferença, de ódio e de violência. O Espírito Santo, ao contrário, torna os corações capazes de compreender as línguas de todos, porque restabelece a ponte da comunicação autêntica entre a Terra e o Céu. O Espírito Santo é Amor. 6. Onde entra, o Espírito de Deus afasta o medo; faz-nos conhecer e sentir que estamos nas mãos de uma Omnipotência de amor, independentemente do que acontece, o seu amor infinito não nos abandona. 7. A Igreja é católica e missionária desde a sua origem. A universalidade da salvação é significativamente evidenciada pelo elenco das numerosas etnias 6

a que pertencem todos os que ouvem o primeiro anúncio dos Apóstolos (cf. Act 2, 9-11). III. ORAÇÃO: INVOCAR O ESPÍRITO SANTO (ORAÇÃO DE PAULO VI) Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, aberto à vossa Palavra silenciosa, mas forte e inspiradora, fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer desprezível competição humana, compenetrado do sentido da Santa Igreja! Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, desejoso de se tornar semelhante ao coração do Senhor Jesus. Dai-me um coração grande e forte para amar a todos, para servir a todos, para sofrer por todos! Um coração grande e forte para superar todas as provações, todo o tédio, todo o cansaço, toda a desilusão, toda a ofensa! Um coração grande e forte, constante até ao sacrifício, quando este for necessário! Ó Espírito Santo, dai-me um coração cuja felicidade seja palpitar com o coração de Cristo e cumprir humilde, fiel e firmemente a vontade do Pai. Àmen. IV. CONTEMPLAÇÃO: MARAVILHAR-SE! DESLUMBRAR-SE! ( ) A «desproporção» de forças em campo, que hoje nos espanta, já há dois mil anos admirava os que viam e ouviam a Cristo. Era Ele apenas, das margens do 7

Lago da Galileia às praças de Jerusalém, só ou quase só, nos momentos decisivos: Ele em união com o Pai, Ele na força do Espírito. E todavia aconteceu que, por fim, pelo mesmo amor que criou o mundo, a novidade do Reino surgiu como pequena semente que germina na terra, como centelha de luz que irrompe nas trevas, como aurora de um dia sem ocaso: É Cristo ressuscitado! (Bento XVI, Homilia na Avenida dos Aliados, 14.05.2010) V. ACÇÃO: PARTIR, A PARTIR DE CRISTO, EM MISSÃO A vinda do Espírito faz com que os discípulos se convertam em testemunhas do Ressuscitado perante todos os povos. ( ) Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão: a missão recebemo-la sempre de Cristo, que nos deu a conhecer o que ouviu a seu Pai, e somos nela investidos por meio do Espírito, na Igreja. Como a própria Igreja, obra de Cristo e do seu Espírito, trata-se de renovar a face da terra a partir de Deus, sempre e só de Deus! «O cristão é, na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo, enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida. «Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos ou julgamos ter, de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo, que aliás só pode ser missionária». A missão não se destina apenas aos povos não cristãos e às terras distantes, mas também aos ambientes da nossa sociedade e da nossa cultura. São «sobretudo os corações» - que nos seus legítimos anseios, esperam por Jesus - «os verdadeiros destinatários da missão. (cf. Bento XVI, Homilia na Avenida dos Aliados, 14.05.2010) Cântico: Cantarei ao Senhor, enquanto viver. Louvarei ao meu Deus, enquanto existir. NEle encontro a minha alegria! NEle encontro a minha alegria! Pe. Amaro Gonçalo 8