Introdução Você é capaz de pensar, de lembrar o nome de algum importante personagem da nossa história? Um descobridor, um escritor, um explorador, um cientista ou um personagem bíblico? Por que você pensou ou lembrou-se deste nome? Qual foi seu maior feito? Deixe-me dar algumas dicas e veja se você é capaz de descobrir o personagem que estou pensando. Um homem memorável, certamente o maior pregador, o maior missionário e o maior plantador de igrejas de toda a história do cristianismo. Alguém que influenciou muito nossa civilização e o cristianismo no geral. Nenhum escritor foi tão reconhecido e teve seus escritos tão divulgados e comentados. Viveu sob fortes pressões, passou por muitas dificuldades, mas nunca se tornou um homem amargurado ou viveu reclamando da vida, dos problemas. Foi um grande desbravador, um explorador de novas terras. Odiado e amado. A todos em todos os tempos, impressionava. Será que você já sabe quem é este homem? Quem era este homem que provocava verdadeiras revoluções por onde passava? Quais eram suas credenciais? Quem eram seus pais? Onde nasceu? Como foi educado? Convido você para juntos fazermos uma viagem rumo ao passado, entrando pelos corredores do tempo e dos templos, a fim de descobrirmos essas respostas. Nossa fonte primária e segura será a Bíblia. Nela encontramos as informações mais importantes sobre a vida, a obra, o ministério desse gigante da fé. É tempo de começarmos nossa viagem. Sejam todos bem vindos ao mundo de Paulo. Este é o nosso personagem. Um homem que sempre, com a mesma motivação, pregava na fortuna ou nos momentos de privações. Enriqueceu muitos, sem nada possuir. Sua conversão foi um extraordinário divisor de águas na história da humanidade. De perseguidor a pregador. Não vamos estudar as cartas e a vida de Paulo só para conhecer as coisas do tempo de Paulo. Queremos encontrar também uma luz para os nossos dias, para o nosso viver. Por isso, ao iniciarmos nossa viagem precisamos colocar na mala algumas perguntas: Como é possível viver a luta sem perder a paz e a ternura? Como posso ser amigos de todos e ao mesmo tempo ser amigo de Jesus? O que vale mais, defender o Evangelho ou a vida? As informações sobre a vida de Paulo são com tijolos que existem espalhados pela Bíblia. Nesta viagem somos exploradores, arqueólogos, cientistas e juntos recolheremos estes tijolos e reconstruiremos a vida deste grande homem. Convido você para juntos explorarmos a vida desse gigante da fé. Enquanto o veterano apóstolo nos toma pela mão e nos guia pelas veredas de suas variadas
experiências, é necessário termos os olhos e o coração abertos, dispostos para aprender com ele preciosas e ricas lições. Que Deus nos ajude e nos abençoe nesta caminhada. Iniciando a caminhada Conhecendo Paulo Obs: Para tornar o estudo mais agradável e lúdico sugiro a utilização de um mapa. Gálatas 2:20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim... Por que será que Paulo em determinado momento de sua vida diz... e vivo não mais eu, mas Cristo vive me mim? Para entendermos a mensagem de Paulo neste verso precisamos conhecer um pouco de sua vida, da sua dura jornada, da transformação que ele teve que passar. Por isso vamos começar nossa viagem conhecendo um pouco da vida deste que se tornou um grande cristão. 1 - Lugar e ambiente onde Paulo cresceu e se criou Paulo nasceu em Tarso, na região da Cilícia, Ásia Menor, atualmente Turquia. Tarso era uma cidade bonita, grande, dizem alguns estudiosos que ela devia ter aproximadamente 300.000 habitantes. Muita gente, pode não parecer para quem vive, por exemplo, no Rio de Janeiro de hoje, mas para os padrões da época era; casas pequenas, vida apertada, muito barulho. Um centro importante de cultura e comércio. A estrada romana que ligava o oriente ao ocidente passava por lá, logo, um lugar com uma diversidade muito grande. Ficava entre o mar e a serra, ao sul o Mar Mediterrâneo. Tinha um importante e movimentado porto. Em proporções diminuídas é claro, lembra muito o Rio. 2 - Juventude e formação Embora nascido em Tarso, território romano, Paulo é de família judaica, portanto, um judeu por nascimento (At. 22:3; Fp. 3:4 e 5). Os versos 4 e 5 de Filipenses nos dão mais algumas informações sobre a descendência judaica de Paulo, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamin. Só para lembrarmos, Benjamin era uma das tribos de Israel, e após a morte de Salomão quando o reino foi dividido em Reino do Norte e do Sul, Benjamin foi trazido para junto de Judá e Jerusalém, formando o Reino
do Sul, o Reino de Judá. Assim sendo, Paulo possuía duas cidadanias, judeu por descendência e romano por nascimento. Nascido numa família judaica, Paulo foi criado dentro das tradições e exigências da Lei de Deus, ensinado segundo as tradições paternas. (Gl. 1:14) Como todos os meninos judeus da época, Paulo recebeu sua formação básica na casa dos pais, na sinagoga do bairro e na escola ligada à sinagoga. A formação básica compreendia: aprender a ler e escrever, estudar a Lei de Deus e a história do povo, assimilar as tradições religiosas e aprender as orações, os salmos. O método de aprendizado era do tipo pergunta e resposta, repetir e decorar, disciplina e convivência. Nada de computadores, tablets ou similares. A leitura da Bíblia (a Torah) era importante na formação das crianças e dos jovens. Desde criança (2 Tm. 3:15), os judeus aprendiam as escrituras. Era sobretudo a mãe, em casa, quem cuidava de transmitir estes conhecimentos aos filhos (2 Tim. 1:5; 3:14) Quanto a profissão Paulo era um fabricante de tendas (At. 18:3). Conforme os costumes da época deve ter aprendido a profissão de seu pai. Tal aprendizado começava aos treze anos de idade e durava dois ou três anos. O aprendiz trabalhava de sol a sol e obedecia a uma disciplina rigorosa. Aprendia a profissão ou para ter um meio para sobreviver ou para continuar o negócio do pai. À medida que Paulo crescia em estatura e conhecimento se tornava um jovem, um homem de muitos conhecimentos. Era um conhecimento que ia além do conhecimento religioso, possuía uma vasta cultura, era um poliglota, ou seja, sabia falar vários idiomas, conhecia também de Filosofia. Era um homem de muitas letras (At. 26:24). Estudou com Gamaliel, o maior e o mais ilustre rabino da época. Logo, quando mais velho, adulto, Paulo se torna um homem respeitado pelo seu conhecimento, por ser um bom religioso e por defender seu povo. E quando se tratava de defender sua religião, o que cria, Paulo era um homem muito exigente. Frequentava todas as reuniões na sinagoga, devolvia seu dízimo e jejuava regularmente, o exigido para ser um bom judeu. Por isso ele mesmo se descreveu como um Fariseu (Fp. 3:4 e 5). Os fariseus eram um grupo dentro do judaísmo muito exigente, que cumpria e observava todas as regras com muito rigor, principalmente no que se refere a observância e o respeito aos Dez Mandamentos. Eles cumpriam e exigiam que se cumprisse ao pé da letra cada mandamento. Importante lembrarmos que ate aqui Paulo é mais conhecido pelo nome de Saulo. Um cidadão romano, cidadão de Tarso, aluno de Gamaliel, formação superior, líder nato, membro ativo da comunidade, formado muito provavelmente para suceder seu pai nos negócios Todos esses títulos e qualidades situam Paulo entre a elite da
sociedade. Paulo tinha diante de si um futuro promissor e a possibilidade de uma carreira brilhante. Contudo, Paulo, ou melhor, Saulo, antes de se tornar um grande apóstolo, foi conhecido como um homem exigente, um perseguidor daqueles que pensavam diferente dele, no que diz respeito a Lei e ao Templo. Ele, como os demais judeus esperavam que Deus enviasse um libertador, um Messias, um líder que fosse capaz de libertar Israel e fazer deles uma grande nação. Esse era o plano de Deus e foi isso que Ele fez, mas os pensamentos de Deus em relação a Israel eram diferentes dos pensamentos do povo. Deus enviou o Messias, Jesus, porém, eles não conseguiam aceitar o fato de que Jesus fosse o Messias. Jesus quando esteve aqui entrou em confronto com o que aqueles homens pregavam, principalmente os fariseus. Jesus ensinou que embora a Lei fosse importante, mais importante eram as pessoas. Mas aqueles homens não entendiam e não aceitavam isso, era uma ofensa para eles. Além disso, como um Messias, um libertador podia morrer daquele jeito, numa cruz, a pior morte (Dt. 21:23)? E a libertação? E a grande nação? Tudo isso alimentou a raiva dos líderes religiosos por Jesus e por aqueles que seguiam seus ensinos. Eles esperavam que com a morte de Jesus tudo passasse, porém, não foi o q aconteceu, o grupo não se desfez e parecia crescer. O grupo conhecido como o povo do Caminho, incomodava. Deste grupo, os do Caminho, um personagem importante foi Estevão (At. 6). Estevão foi um dos que deram continuidade aos ensinos de Jesus, sua pregação não dava tanta importância à Lei e ao Templo, ele pregava que Jesus era o verdadeiro centro da fé e dos ensinos judaicos. Por estas afirmações, em dado momento, Estevão é levado perante o Sinédrio, aos líderes religiosos (ver At. 6), sendo que tudo foi armado. Lá ele é acusado de pregar contra Moisés e contra Deus. Então, é dada a oportunidade para que ele se defenda, e quem sabe negue tudo e seja solto. Mas não é o que ele faz, ele confirma tudo o que prega e crê. Isso enfurece a todos. A sentença de morte era inevitável, Estevão sabia muito bem, a pena por blasfêmia era morte por apedrejamento. Logo é arrastado para fora da cidade onde é apedrejado. Contudo, Estevão morre de forma serena, sem proferir nenhuma palavra de arrependimento ou ódio por aqueles que o apedrejavam. (At. 7). É aqui que em Atos, aparece pela primeira vez Saulo. Saulo estava no momento do apedrejamento de Estevão, embora ele não tenha apedrejado. Mas não fez nada para defender, afinal ele acreditava que Estevão estava errado e devia pagar por aquilo. Mas a morte de Estevão não foi em vão, o seu testemunho, o seu semblante, seu comportamento e suas palavras impressionaram a muitos que estavam ali (At. 7:59 e 60). Contudo, algo é certo, após a morte de Estevão se intensificou a perseguição contra os seguidores de Jesus. Neste período Saulo é eleito membro do Sinédrio, um dos líderes, e se torna um perseguidor implacável, severo nas perseguições. Muitos
fogem de Jerusalém e se espalham por outras terras, mas nem isto foi o suficiente para aplacar a fúria dos perseguidores. Saulo ficou conhecido como uma fera selvagem que caçava a todos os do Caminho. Ele caçava, amarrava, encarcerava e açoitava os crentes. O problema de Saulo é que ele tinha muito conhecimento, mas todo aquele conhecimento sem amor, sem Deus foi em vão, o levaram a agir de forma errada. Só que Saulo não sabia de uma coisa, que Deus o havia escolhido antes mesmo dele nascer, só mais tarde ele vai entender isto, que Deus tinha um plano para a vida dele (Gl. 1:15 e 16). 3 - A queda na estrada de Damasco Saulo tinha poder e prestígio. Em nome do Sinédrio liderava a perseguição contra os cristãos. Então, pediu licença para persegui-los ate Damasco. Sete dias de viagem. Mas o caminho ate lá não foi como ele esperava. Em um momento da viagem eis q Saulo é surpreendido por uma Luz, ele cai e ouve uma voz: Saulo, Saulo, por que me persegues? (At. 9) Saulo tem um encontro com o próprio Jesus. Aquela queda foi o divisor das águas, a vida daquele homem se divide em antes e depois. Ali Saulo é convertido. Destacamos alguns fatos importantes na conversão de Saulo. Primeiro Paulo viu uma luz (At. 22:6-11). Aquilo não foi uma miragem, um momento de emoção somente, mas a luz gloriosa da presença de Jesus que abriu os olhos de Saulo, fez enxergar o erro que cometia e tirou-lhe a visão física, ficou por um momento cego. Os que estavam com ele viram uma luz, ate escutaram algo, mas não puderam reconhecer o que acontecia como Paulo. Agora sem ter como ver as coisas do mundo e ter o contato com Jesus atrapalhado por qualquer interferência, ele podia olhar para si mesmo, quem sabe para a escuridão que ele mesmo plantou em sua vida. Outro fato marcante é que Saulo caiu por terra (At.22:7). O senhor quebrou todas as suas resistências, prostrado no chão, impotente, agora dependia totalmente do Senhor. Aquele que encerrava na prisão estava dominado. Mas, Saulo também ouviu uma voz (At. 22:7), justo aquele que só ouvia sua própria consciência agora ouve a voz do próprio Jesus, Saulo reconhece esta voz, afinal é uma voz que faz tremer o deserto, que despede chamas de fogo, é irresistível. Ele, Saulo, se curva, se prostra, é um novo homem, transformado. Paulo reconhece que Jesus é o Senhor, que ele é pecador e que precisa ser guiado pelo Senhor (At. 22:8-10) Contudo, vale ressaltar que a conversão de Paulo, ou Saulo, não foi de maneira nenhuma repentina. Na verdade Deus já estava trabalhando na vida de Paulo antes mesmo da queda no caminho de Damasco. A conversão era o clímax repentino de um longo processo em que o Criador tinha dado início, Deus continuava a obra que Ele tinha começado. Também é importante sabermos que esta não foi uma conversão
compulsiva, ou seja, feita sem respeitar a personalidade de Saulo, não foi um transe hipnótico, Jesus apelou para a razão, ou seja, para aquilo que Saulo já conhecia. Paulo é erguido e conduzido pelos que o acompanhavam até Damasco, para a casa de um certo Judas, numa rua que é conhecida como Direita, esse é o nome da rua. Durante três dias Paulo permanece sem ver nada, também não come nem bebe nada. Deus então envia ao encontro de Paulo um homem chamado Ananias, o próprio Deus manda que Ananias vá ao encontro de Saulo. É verdade que ele fica temeroso, afinal ele sabia da fama de Saulo, mas ele vai. Tente imaginar a situação de Ananias, se coloque no lugar dele: você está na sua casa quando Deus aparece para você e diz que você, não outro, tem que ir a uma casa, numa determinada rua que lá vai estar Saulo, o homem mais temido da cidade, todos fogem dele; chegando lá você deve orar com ele e ajudá-lo em sua nova caminhada, ele se converteu. Você iria? Confesso que eu pensaria. Mas Ananias foi afinal foi o próprio Deus que orientou ele. Encontra Saulo orando, impõe as mãos sobre Saulo, ora e a visão de Saulo é restaurada. Eis um novo homem. 4 - Conclusão Diante de tantos fatos, que lição podemos tirar? Será que há algo de bom em meio a tudo isso? Tem sim. Certamente você, como eu, pensa que o que realmente Paulo merecia era a punição depois de fazer tantas pessoas sofrerem. Mas os pensamentos de Deus em relação ao homem, em relação a nós, em relação a Saulo eram e são diferentes dos nossos, ainda bem. Onde o homem vê impossibilidades Deus vê possibilidades. A história da conversão de Saulo é uma história de amor e de graça. É verdade que não entendemos a questão do amor e da graça de Deus pelo ser humano, mas cabe a nós somente aceitar. O amor e a graça de Deus podem nos alcançar onde estivermos, não importa quão longe tenhamos ido, ou qual tenha sido o tamanho de nosso erro. Há um inimigo que quer que você pense justamente ao contrario, mas o nosso Deus é amor e quer te reconciliar com Ele. Quer remover de nossa vida tudo aquilo que impede que nos aproximemos dele. Mas será que nós estamos dispostos a fazer como Paulo, nos rendermos completamente a Deus, entregarmos tudo a Ele e deixar que uma obra possa ser feita em nossa vida? Pense agora em tudo aquilo que precisa ser removido da sua vida. O que tem atrapalhado sua comunhão com Deus? Será que o as coisas deste mundo têm chamado mais sua atenção que as coisas de Deus? Esse é o momento que Deus te convida a colocar sobre Ele todas as suas inquietações. Experimente. Assim com Saulo foi transformado, Deus também pode transformar sua vida. Ou quem sabe, como Ananias Deus está te chamando para uma grande obra, talvez você seja um escolhido para levar paz, conforto, esperança para um amigo na escola, na sua rua, ou quem qualquer outro lugar. Que você vai dizer? Vai aceitar ou recusar?
Seja o que for Deus quer estar com você, quer ser seu Amigo, seu Companheiro, basta você aceitar. Entende agora porque Paulo, antes Saulo, agora diz que não é mais ele quem vive, mas Cristo vive mim? Mas a nossa caminhada não termina aqui, vamos continuar explorando a vida deste grande homem, espero que você possa e queira continuar. Até mais.