FORMAÇÃO DO PROCESSO E PETIÇÃO INICIAL (NCPC)

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Transcrição:

FORMAÇÃO DO PROCESSO E PETIÇÃO INICIAL (NCPC) PROCESSO CIVIL Curso de Direito Processual Civil de Fredie Didier (2016) FORMAÇÃO DO PROCESSO Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamente citado. - A partir do protocolo da petição inicial, surge a LITISPENDÊNCIA: o processo existe para o autor. Para o réu, a litispendência só produz efeitos a partir da sua citação. PETIÇÃO INICIAL - A petição inicial é a forma da demanda. A demanda é o conteúdo da petição inicial. Art. 319. A petição inicial indicará: I - O juízo a que é dirigida; II - Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - O fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - O pedido com as suas especificações; V - O valor da causa; VI - As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. 3º A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. 1. FORMA a petição inicial deve ser escrita, datada e assinada. 1

- Admite-se postulação oral nos Juizados Especiais Cíveis, pedido de concessão de medidas protetivas de urgência em favor da mulher que se afirma vítima de violência doméstica ou familiar e no procedimento especial da ação de alimentos. 2. ASSINATURA DE QUEM POSSUA CAPACIDADE POSTULATÓRIA têm capacidade postulatória os advogados, os defensores públicos e os membros do MP. - O leigo tem capacidade postulatória na ação de alimentos; no habeas corpus; nos Juizados Especiais Cíveis, na primeira instância, em causas cujo valor não exceda a 20 salários-mínimos; no pedido de concessão de medidas protetivas de urgência em favor da mulher. 3. INDICAÇÃO DO JUÍZO (art. 319, I) vale lembrar que comarca é a unidade territorial da Justiça Estadual e Seção Judiciária, da Justiça Federal. 4. QUALIFICAÇÃO DAS PARTES (art. 319, II) quando se tratar de pessoa jurídica, deve constar o estatuto social e a documentação que comprove a regularidade da representação. - É possível demanda contra pessoa incerta. O autor deve fazer um esboço da identificação. - A qualificação dos integrantes pode ficar comprometida em muitos casos. Ex.: demanda possessória relacionada a uma ocupação de terra. Não é à toa que o NCPC traz, nos parágrafos do art. 319, mitigações à exigência da qualificação das partes. 5. CAUSA DE PEDIR (art. 319, III) fato jurídico + relação jurídica. Exemplo: na ação de anulação de um contrato por dolo, o fato jurídico é a celebração do contrato com dolo, enquanto a relação jurídica é o direito de anular o contrato celebrado com dolo. CAUSA DE PEDIR FATO JURÍDICO = FUNDAMENTOS DE FATO OU CAUSA DE PEDIR REMOTA. Remota ativa (FATO-TÍTULO - o fato que gera o direito) e remota passiva (FATO-MOLA - o fato que impulsiona a ida ao Judiciário). RELAÇÃO JURÍDICA = FUNDAMENTOS DE DIREITO OU CAUSA DE PEDIR PRÓXIMA É o direito afirmado, conteúdo da demanda. - O NCPC, assim como o CPC-73, adotou a teoria da substancialização da causa de pedir: SUBSTANCIALIZAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR INDIVIDUALIZAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR O autor deve apresentar a RELAÇÃO JURÍDICA e o FATO Basta a apresentação da RELAÇÃO JURÍDICA JURÍDICO. Para que uma causa de pedir seja igual a (direito afirmado). outra, RJ e FJ devem ser idênticos. Aplicação prática: ação para anular um contrato por erro x ação para anular um contrato por dolo. Se adotada a teoria da substancialização, as ações não têm a mesma causa de pedir, pois os fatos jurídicos são distintos (erro e dolo). Se adotada a teoria da individualização, as causas de pedir são idênticas: o direito afirmado em ambas é o mesmo o direito de anular o contrato. 2

- Causa de pedir composta é aquela que só se completa quando existentes vários fatos jurídicos. Exemplo: na ação de responsabilidade civil, o autor deve indicar como fatos jurídicos a conduta, a culpa, o nexo de causalidade e o dano (fato jurídico composto). 6. PEDIDO (art. 319, IV) petição sem pedido é petição inepta. 7. VALOR DA CAUSA (art. 319, V) serve como base de cálculo das custas e das multas processuais, para definir a competência e para verificar o cabimento de recursos. - A decisão interlocutória sobre a correção ou não da atribuição do valor da causa poderá ser impugnada por apelação, e não por agravo de instrumento. Art. 291. A toda causa será atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível. Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: I - Na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de propositura da ação; II - Na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cumprimento, a modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato ou o de sua parte controvertida; III - Na ação de alimentos, a soma de 12 prestações mensais pedidas pelo autor; IV - Na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido; V - Na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido; VI - Na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; VII - Na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor; VIII - Na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal. 1º Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, considerar-se-á o valor de umas e outras. 2º O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a 1 ano, e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações. 3º O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes. Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas. 8. MEIOS DE PROVA (art. 319, VI) embora o autor deva indicar os meios de prova na petição inicial, o juiz pode determinar a produção de provas ex officio. 3

9. OPÇÃO PELA REALIZAÇÃO OU NÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO (art. 319, VII) se autor e réu não desejarem a audiência, ela não ocorrerá. Se o autor, na petição inicial, for silente sobre a questão, o silêncio deve ser interpretado como não oposição. A manifestação de desinteresse deve ser expressa. 10. DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA DEMANDA (art. 320) são indispensáveis os documentos exigidos por lei (documentos substanciais) e aqueles mencionados pelo autor na petição inicial como fundamento do seu pedido (documentos fundamentais). - É possível a produção ulterior de prova documental. - Pode o autor, na própria petição inicial, solicitar a exibição de documento que está em poder de terceiro. EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. - Novidade do NCPC: O JUIZ DEVE INDICAR O QUE DEVE SER CORRIGIDO (princípio da cooperação). - Há um direito à emenda: o juiz não pode indeferir a exordial sem que a parte possa emendá-la, no prazo de 15 DIAS. - É possível uma nova determinação de emenda se a primeira correção não for satisfatória e se o defeito for sanável. - É possível emenda após a contestação quando não houver modificação do pedido ou da causa de pedir sem o consentimento do réu. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL - O indeferimento só pode ocorrer ANTES DA CITAÇÃO DO RÉU. APÓS, HAVERÁ EXTINÇÃO DO PROCESSO POR OUTRO MOTIVO, MAS NÃO INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. É que no indeferimento da petição inicial, o autor não é condenado ao pagamento de honorários advocatícios em favor de réu ainda não citado. A regra especial do art. 313 só se aplica ao indeferimento: Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 dias, retratar-se. 1º Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso. 2º Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos, observado o disposto no art. 334. 3º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença. 4

- O indeferimento pode ser total ou parcial, situação em que o processo não será extinto. Exemplo de indeferimento parcial: o autor formula vários pedidos, mas um deles é inepto. - Embora o art. 331 fale em apelação, nem todo caso de indeferimento da petição inicial é uma sentença (apenas o indeferimento total por juízo singular): JUÍZO SINGULAR TRIBUNAL DECISÃO INTERLOCUTÓRIA SENTENÇA ACÓRDÃO DECISÃO DE RELATOR Indeferimento parcial. Cabe AGRAVO DE INSTRUMENTO. Indeferimento Indeferimento parcial ou Indeferimento parcial ou total. total pelo colegiado. total. Cabe APELAÇÃO. Cabe RO, RE ou REsp. Cabe AGRAVO INTERNO. - Assim, ensejam o juízo de retratação do art. 331 a apelação, o agravo de instrumento e o agravo interno. - O juiz só pode alterar sua decisão ex officio se constatar erro de cálculo ou erro material. Logo, só poderá exercer o juízo de retratação se houver um dos recursos acima. Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual; IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. INÉPCIA HIPÓTESES DE INDEFERIMENTO ILEGITIMIDADE DA PARTE FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL ARTS. 106 E 321 1. INÉPCIA defeito relativo ao PEDIDO ou à CAUSA DE PEDIR. Atenção: a inépcia é uma hipótese de indeferimento da petição inicial, mas não a única. Alguns exemplos estão no art. 330, 1º: 5

Art. 330. 1º. Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito. 3º Na hipótese do 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados. - Em regra, o pedido deve ser certo, determinado, claro e coerente com a causa de pedir. - Petição suicida é aquela em que o autor formula pedidos incompatíveis entre si. O juiz deve determinar a correção. 2. ILEGITIMIDADE DA PARTE para Didier, apenas a ilegitimidade extraordinária leva ao indeferimento da petição inicial; a ilegitimidade ordinária é caso de improcedência do pedido. 3. FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL o tema está no capítulo que trata dos Pressupostos Processuais. 4. ARTS. 106 E 321 DO CPC são eles: Art. 106. Quando postular em causa própria, incumbe ao advogado: I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações; II - comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço. 1º Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz ordenará que se supra a omissão, no prazo de 5 dias, antes de determinar a citação do réu, sob pena de indeferimento da petição. 2º Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão consideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou meio eletrônico ao endereço constante dos autos. Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. 6

PEDIDO - O pedido é o núcleo da demanda (elemento objetivo), é a providência que se pede ao Judiciário, a pretensão material deduzida em juízo. O pedido Como um dos elementos objetivos da demanda (junto com a causa de pedir), o pedido bitola a prestação jurisdicional, que não poderá ser extra, ultra ou infra/citra petita (princípio da congruência). Serve também como elemento de identificação da demanda, para fins de verificação da ocorrência de conexão, litispendência ou coisa julgada. É também o parâmetro para a fixação do valor da causa. O pedido pode ser visualizado em duas dimensões: PEDIDO IMEDIATO Pedido de decisão: pedido para que o juiz condene, declare, expeça ordem, tome providências executivas etc. Será SEMPRE DETERMINADO. PEDIDO MEDIATO É o que a doutrina chama de bem da vida que se espera alcançar com o processo. É a coisa, a situação jurídica nova almejada. O juiz não pode alterar o bem da vida pretendido pelo demandante (princípio da congruência). - O pedido há de ser CERTO, ou seja, deve constar expressamente na petição inicial. Em alguns casos, o NCPC aceita o pedido implícito. Alguns exemplos estão no art. 322, 1º: Art. 322. O pedido deve ser certo. 1º Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las. - O pedido há de ser DETERMINADO, ou seja, delimitado em relação ao gênero e à quantidade. O pedido indeterminado, como visto, leva ao indeferimento da petição inicial (dada a oportunidade de correção). Todavia, em alguns casos (art. 324, 1º), a lei permite a formulação de pedido genérico. Art. 324. O pedido deve ser determinado. 1º É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu. 2º O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção. - Atenção: nas ações de reparação de dano moral, o autor deve quantificar o valor da indenização na petição inicial (só ele saberia quantificar o prejuízo moral que sofreu). Cabe ao juiz julgar se o 7

montante requerido é ou não devido. Só é possível a iliquidez do pedido se o ato causador do dano puder repercutir no futuro, gerando outros danos. Exemplo: na inscrição indevida em arquivos de consumo, a lesão moral é continuada). - O pedido há de ser CLARO, ou seja, inteligível. - O pedido há de ser COERENTE COM A CAUSA DE PEDIR, ou seja, deve estar logicamente ligado à causa de pedir. Se o pedido não for coerente, é caso de inépcia da inicial. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS CUMULAÇÃO HOMOGÊNEA Os pedidos são formulados pela mesma pessoa. CUMULAÇÃO INICIAL O processo já nasce com pedidos cumulados na petição inicial. CUMULAÇÃO HETEROGÊNEA Os pedidos são formulados por pessoas diferentes. Ex.: cumulação pela reconvenção ou denunciação da lide promovida pelo réu. CUMULAÇÃO ULTERIOR Novo pedido é agregado à demanda após a petição inicial. Ex.: aditamento da petição inicial e ação declaratória incidental para reconhecer falsidade de documento. - O art. 327 permite a cumulação de vários pedidos. O ponto mais importante é saber diferenciar a cumulação própria (simples ou sucessiva) da cumulação imprópria (subsidiária ou alternativa). Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles. Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. CUMULAÇÃO PRÓPRIA TODOS OS PEDIDOS FORMULADOS PODEM SER ACOLHIDOS. Regida pela partícula E. Como é possível o acolhimento simultâneo, os pedidos devem ser compatíveis entre si. SIMPLES SUCESSIVA Os pedidos formulados são autônomos, de forma que um pedido pode ser analisado independentemente do outro. Não há relação de precedência lógica. Exemplo: indenização por dano moral e por dano material (a análise de um não interfere na análise do outro). Um pedido só pode ser acolhido se o outro for. Há um vínculo de precedência lógica: o primeiro pedido é preliminar ou prejudicial à análise do segundo pedido (o qual pode ou não ser acolhido). Exemplo: a apreciação do pedido de alimentos depende da investigação de paternidade. 8

CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA APENAS UM PEDIDO FORMULADO PODE SER ACOLHIDO. Regida pela partícula OU. Como não é possível o acolhimento simultâneo, os pedidos não precisam ser compatíveis entre si. SUBSIDIÁRIA OU EVENTUAL ALTERNATIVA O autor estabelece uma hierarquia entre os pedidos. Exemplo: o autor quer A (pedido principal), mas, se não for possível, quer B (pedido subsidiário). Regulada no art. 326. Primeiro, o juiz deve examinar A. Se A for acolhido, é dispensado o exame de B. Se A não for acolhido, B será examinado. Se o juiz examinar B sem examinar A, haverá error in procedendo, pois o autor estabeleceu preferência*. O valor da causa será o do pedido principal (art. 292, VIII). Há sucumbência total se todos os pedidos forem rejeitados. Há sucumbência parcial se for acolhido o pedido subsidiário. Nesse caso, os honorários devem ser fixados proporcionalmente. O autor formula pedidos sem estabelecer hierarquia entre eles. Exemplo: o autor quer A ou B, tanto faz. Apenas um deles será acolhido. Regulada no art. 326, parágrafo único. O juiz analisa A e B, sem ordem de hierarquia. Assim, poderá conceder B sem examinar A. Nesse caso, o autor não pode recorrer, pois não expressou preferência por A. O valor da causa será o do pedido que tiver o maior valor (art. 292, VII). Há sucumbência total se todos os pedidos forem rejeitados. Contudo, o acolhimento de um e a rejeição de outro não implicam sucumbência parcial do autor. * Se, na cumulação imprópria subsidiária (hierarquia), o juiz rejeitar A (pedido principal) e conceder B (pedido subsidiário), o autor também poderá recorrer, pois estabeleceu uma ordem de preferência (significa que A lhe é mais interessante). Nesse caso, a análise de B, que não foi impugnada por lhe ter sido favorável, não será devolvida ao órgão ad quem, salvo se houver recurso do réu, situação em que se repetirá, na segunda instância, o julgamento da causa, nos moldes em que apresentada na primeira. Acaso seja provido o recurso, restará prejudicada a sentença na parte em que acolheu o pedido subsidiário; não o sendo, prevalece o que fora decidido na sentença (proibição do reformatio in pejus). REQUISITOS PARA A CUMULAÇÃO DE PEDIDOS COMPATIBILIDADE DOS PEDIDOS COMPETÊNCIA IDENTIDADE DE PROCEDIMENTO 9

Art. 327. 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum. 3º O inciso I do 1º não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326. 1. COMPATIBILIDADE DOS PEDIDOS Exemplo de pedido incompatível: revisão e nulidade do contrato (ou o contrato é revisado, ou é declarado nulo, não é possível os dois ao mesmo tempo). - Como visto, esse requisito não é exigido para a cumulação imprópria, pois apenas um pedido será acolhido. 2. COMPETÊNCIA se o juiz for incompetente para um dos pedidos, ele só vai examinar os pedidos para os quais ele for competente, devendo o pedido restante ser formulado na devida jurisdição. - Súmula 170 do STJ: compete ao juízo onde primeiro for intentada a ação envolvendo acumulação de pedidos, trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites de sua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de nova causa, com o pedido remanescente, no juízo próprio. - Se a cumulação envolver pedido para cujo processamento o juízo não tenha competência relativa, o desmembramento da petição inicial dependerá da alegação de incompetência pelo réu. Todavia, se houver conexão entre os pedidos houver conexão, é possível a cumulação, mesmo que o juízo seja relativamente incompetente para processar e julgar um deles (efeito modificativo da competência que decorre da conexão arts. 55, 1º). Não poderá o réu opor-se a tal cumulação. 3. IDENTIDADE DE PROCEDIMENTO é possível cumular pedidos desde que eles possam tramitar sob um mesmo procedimento. Se para cada pedido corresponder um procedimento diferente, será possível cumulá-los optando-se pelo PROCEDIMENTO COMUM. Nesse caso, segundo o art. 327, 2º (página anterior), devem ser adotadas técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais. O dispositivo é importante porque torna o procedimento comum maleável, adaptável. - Situações-problema: rito especial + rito comum e ritos especiais diferentes. Nesse último caso, permite-se a cumulação desde que seguindo o procedimento comum. Entretanto, o procedimento especial nem sempre é redutível ao procedimento comum. Há procedimentos especiais não obrigatórios, conversíveis ao procedimento comum. Exemplos: mandado de segurança, possessórias e ação monitória. Há também procedimentos especiais obrigatórios, inderrogáveis pela vontade do autor. Normalmente estão relacionados ao interesse público ou a direitos indisponíveis. Exemplos: inventário e partilha, interdição, procedimentos especiais de jurisdição voluntária, desapropriação, ADI e ADC etc. 10

AMPLIAÇÃO, REDUÇÃO E ALTERAÇÃO DA DEMANDA 1. AMPLIAÇÃO DA DEMANDA a ampliação do objeto litigioso do processo é tratada no art. 329: Art. 329. O autor poderá: I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu; II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 dias, facultado o requerimento de prova suplementar. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de pedir. - Didier faz algumas críticas à limitação imposta pelo art. 329 (saneamento do processo): a) Se o novo pedido for conexo ao pedido originário, deve ser permitido o aditamento mesmo após o saneamento. Explicação: se o pedido conexo for ajuizado autonomamente, os processos seriam reunidos. b) Autor e réu podem acrescentar, em eventual autocomposição, lide que não componha o objeto litigioso originário (art. 515, 2º). Isso é uma ampliação do objeto litigioso do processo, ainda que apenas para fazer o acordo. c) A limitação (até o saneamento) é incompatível com o NCPC, que permite a negociação processual atípica. Não há qualquer prejuízo a uma alteração objetiva do processo com a concordância das partes, até mesmo após o saneamento. d) O pedido de desconsideração da personalidade jurídica na instância recursal também amplia objetivamente o processo. e) Fato constitutivo superveniente pode ser conhecido, até mesmo de ofício, em qualquer estágio do processo (outro caso de ampliação objetiva após o saneamento). f) O CPC-73 não permitia a alteração após o saneamento em nenhuma hipótese. O NCPC não repetiu o trecho. Didier entende que há silêncio eloquente. 2. ALTERAÇÃO OBJETIVA DA DEMANDA mesmas regras da ampliação: após a citação e até o saneamento, apenas com consentimento do réu. Cabem as mesmas críticas feitas ao aditamento. 3. REDUÇÃO DA DEMANDA sintetizadas por Barbosa Moreira: a) Desistência parcial; b) Renúncia parcial ao direito postulado; c) Transação parcial na pendência do processo; d) Convenção de arbitragem relativa a parte do objeto do litígio, na pendência do processo; e) Interposição, pelo autor, de recurso parcial contra a sentença de mérito desfavorável. 11

PEDIDO ALTERNATIVO Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo. - Pedido alternativo é aquele que se refere a uma obrigação alternativa, que é uma obrigação que pode ser adimplida mais de uma maneira (mais de uma prestação é apta a satisfazer a obrigação). O PEDIDO É UM SÓ (RELATIVO A UMA OBRIGAÇÃO), MAS PODE SER CUMPRIDO DE MAIS DE UMA MANEIRA. - Não confundir com a cumulação imprópria alternativa, em que há mais de um pedido formulado. PEDIDO RELATIVO A OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL Art. 328. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito. - Nesse caso, há uma pluralidade de credores em torno de um objeto indivisível e só um ou alguns deles vai a juízo. Entende-se obrigação indivisível aquela cuja prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico (art. 258 do CC). São obrigações cuja prestação só se pode cumprir por inteiro. - Quando há pluralidade de credores de obrigação indivisível, poderá cada um destes exigir a dívida inteira (art. 260 do CC). Se apenas um dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele a parte que lhe caiba no total (art. 261 do CC). E aquele credor que não participou do processo, para levantar o seu quinhão, deverá arcar, proporcionalmente, com as despesas processuais de cobrança do crédito (inclusive honorários advocatícios). 12

IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO (NCPC) PROCESSO CIVIL Curso de Direito Processual Civil de Fredie Didier (2016) INTRODUÇÃO - É decisão de mérito que, antes da citação do demandado, julga improcedente o pedido formulado pelo autor e faz coisa julgada. - Não há violação ao contraditório: o julgamento pode ocorrer antes da citação do demandado porque lhe é favorável (improcedência). Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. 2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241. 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 dias. 4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 dias. 1) PEDIDO CONTRÁRIO A PRECEDENTE OBRIGATÓRIO; ou 2) RECONHECIMENTO DE PRESCRIÇÃO OU DECADÊNCIA. PRESSUPOSTOS DA IMPROCEDÊNCIA LIMINAR 3) A CAUSA DISPENSA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA (a matéria fática pode ser comprovada por prova documental). - Se o juiz entender que é o caso de improcedência liminar do pedido, esta decisão será uma sentença, impugnável por apelação. Se o autor não apelar, o réu deve ser intimado do trânsito em julgado da sentença. Se o autor apelar, o juiz poderá retratar-se em 5 dias. a) Se o juiz não se retratar, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões em 15 dias. Nas contrarrazões, o réu defenderá a sentença. Pode ocorrer de o Tribunal, no julgamento da apelação, reformar a sentença e adentrar o mérito, julgando procedente a demanda. É que, no caso, o réu já teria apresentado defesa (em forma de contrarrazões) e a causa dispensa instrução em audiência. Essa é uma possível interpretação do dispositivo. 13

b) Se o juiz se retratar, o réu deve ser intimado do trânsito em julgado (que lhe é favorável). Nas razões de apelação, o autor deve convencer o juiz do equívoco de sua decisão ou demonstrar que o seu caso é distinto (distinguishing). Exemplo: o juiz reconhece a prescrição e extingue o processo (improcedência liminar). O autor, na apelação, pode demonstrar que algum fato suspendeu ou interrompeu o prazo prescricional. - É possível a improcedência liminar parcial (de apenas parte dos pedidos) decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento caso em que o processo seguirá em relação aos outros pedidos. - Se a improcedência liminar ocorrer em Tribunal, estaremos diante de uma decisão do relator (impugnável por agravo interno) ou de um acórdão (impugnável por REsp, RE, RO ou embargos de divergência). PEDIDO CONTRÁRIO A PRECEDENTE OBRIGATÓRIO - A primeira hipótese que autoriza a improcedência liminar é a contrariedade a um precedente obrigatório (art. 332, incisos I a IV), assim entendido como: SÚMULA DO STF OU STJ ACÓRDÃO PROFERIDO PELO STF E STJ EM JULGAMENTO DE RECURSOS REPETITIVOS ENTENDIMENTO FIRMADO EM INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS OU DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA SÚMULA DO TJ SOBRE DIREITO LOCAL - O juiz pode deixar de aplicar algum desses precedentes se entender que é o caso de superá-lo (overruling) ou de distinguir a situação a ser julgada (distinguishing). RECONHECIMENTO DE RESCRIÇÃO OU DECADÊNCIA - Como o réu ainda não foi citado, o julgamento de improcedência liminar do pedido diante do reconhecimento da prescrição ou da decadência só poderá ocorrer quando tais questões puderem ser examinadas ex officio. - A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, enquanto a decadência convencional depende da provocação da parte interessada. - O art. 487, II, autoriza a extinção do processo, com resolução do mérito, nos casos de reconhecimento ex officio da prescrição. Assim, aparentemente, o regramento atual permite que o juiz reconheça de 14

ofício qualquer prescrição. Didier faz ponderações e entende que a regra do art. 332, 1º e do art. 487, II, deve ser aplicada apenas para o reconhecimento de prescrição envolvendo direitos indisponíveis, em nenhuma hipótese em sentido desfavorável àqueles sujeitos protegidos constitucionalmente (consumidor, índio, idoso e trabalhador). HIPÓTESE ATÍPICA DE IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO - O juiz pode decidir a improcedência liminar em casos atípicos de manifesta improcedência? Exemplo: pedido de reconhecimento de usucapião de bem público. O NCPC não prevê a possibilidade, mas Didier entende que é recomendável em homenagem aos princípios da eficiência, da boa-fé e da duração razoável do processo. 15