100 anos do Comando da Força de Submarinos



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100 anos do Comando da Força de Submarinos Por Guilherme Wiltgen A Ideia do Submarino na Marinha do Brasil A ideia de dotar a Armada Brasileira com uma nova arma para a Guerra Naval germinou com o desenvolvimento, ainda embrionário, do submarino no final do século XIX e início do século XX. Eventos históricos, como as experiências com protótipos realizadas por Luiz Jacintho Gomes e Emílio Júlio Hess, foram alvos de reportagens sensacionais e de grande importância para a época, com repercussões no exterior. Em 1891, o então Primeiro-Tenente Felinto Perry encetava, com entusiasmo e competência, uma campanha para aquisição de submarinos para o Brasil. Seus trabalhos, publicados nos periódicos da época, foram motivos de reflexão e de ampla discussão, despertando o interesse público e motivando a Alta Administração Naval. Em uma sentença, já àquela época, o Tenente Perry destacava o valor do submarino para a defesa da soberania do Estado: que o Brasil veja, o quanto antes, iniciada a sua Marinha no

manejo dessa arma poderosa incontestavelmente, fator importantíssimo na defesa das fronteiras marítimas. Em 1904, o Ministro dos Negócios da Marinha, Almirante Júlio César de Noronha, incluía três submersíveis no Programa de Construção Naval. A aprovação deste programa pelo Congresso Nacional deveu-se, em particular, ao prestígio parlamentar de Laurindo Pitta, que habilmente motivou a Câmara dos Deputados para tramitação do projeto, em defesa da reconstituição do Poder Naval brasileiro. O epílogo da campanha de aquisição de submersíveis para a Marinha do Brasil e o início da vida dessa nova categoria de navios na MB vieram a se concretizar em 1911, quando o Ministro da Marinha, Vice-Almirante Joaquim Marques Baptista de Leão, criou a Sub-Comissão Naval na Europa, em La Spezia, Itália, para fiscalizar a construção de três submersíveis encomendados ao Governo italiano. Foi nomeado para o cargo de Chefe dessa Sub-Comissão o Capitão-de-Corveta Felinto Perry. A Flotilha e a Força de Submarinos Da Criação aos anos 60 A Flotilha de Submersíveis Submersível F-1 A 17 de julho de 1914 foi criada a Flotilha de Submersíveis,

administrativamente subordinada ao Comando da Defesa Móvel, com base na Ilha de Mocanguê Grande, na Baía de Guanabara (Rio de Janeiro). Operativamente, a Flotilha era subordinada ao Chefe do EstadoMaior da Armada. A Flotilha de Submersíveis teve como seu primeiro Comandante o Capitão-de-Fragata Felinto Perry, incorporando três submersíveis da classe F : Submersível F-1 Comandante: Capitão-Tenente Mário de Oliveira Sampaio Submersível F-2 Comandante: Capitão-Tenente Alberto de Lemos Brito Submersível F-3 Comandante: Capitão-Tenente Alvaro Nogueira da Gama Em 1917, sob o comando do Capitão-de-Fragata Heráclito da Graça Aranha, foi incorporado à Flotilha o Tender Ceará, a fim de servir de base de apoio móvel para os submersíveis e como sede da então criada Escola de Submersíveis que, em 1915, formou, no Brasil, a primeira turma de Oficiais Submarinistas. A Flotilha de Submarinos Em 1928, a Flotilha de Submersíveis e a Escola de Submersíveis tiveram suas denominações alteradas, por decreto, para Flotilha de Submarinos e Escola de Submarinos. Em 1929, mais uma unidade era incorporada à Flotilha de Submarinos o Submarino-de-Esquadra Humaytá. Também construído na Itália, o Humaytá, sob o comando do Capitão-de-Corveta Alberto de Lemos Basto, cumpriu uma histórica travessia de 5.100 milhas marítimas, em 23 dias, de La Spezia ao Rio de Janeiro, sem escalas, feito inédito à época. Em 1933, após a desativação dos classe F, a Flotilha foi

extinta, permanecendo em atividade o Tender Ceará e o Submarino-de-Esquadra Humaytá. Em 1937, com a incorporação dos submarinos da classe T, construídos em La Spezia, reativou-se no organograma da Marinha a Flotilha de Submarinos. Foram incorporados: Submarino Tupy Comandante: Capitão-de-Corveta Armando Pinto Lima Submarinos Tymbira Comandante: Capitão-de-Corveta Euclydes de Souza Braga Submarino Tamoyo Comandante: Capitão-de-Corveta Mário de Faro Orlando Durante a Segunda Guerra Mundial, a Flotilha de Submarinos, incorporada à Força Naval do Nordeste, baseada em Recife, participou ativamente do adestramento de escoltas a comboios, do adestramento de tática anti-submarino para unidades de superfície e aeronaves, que, juntamente com a 4ª Esquadra Norte-Americana, operaram contra as forças do eixo. Em 1955 e 1957, novas unidades foram incorporadas à Flotilha de Submarinos, respectivamente, a Corveta Imperial Marinheiro (V 15) e os Submarinos da classe Fleet-Type o Humaitá (S 14) e o Riachuelo (S 15).

Fleet-Type Humaitá (S 14) A corveta, de procedência holandesa, cujo primeiro Comandante foi o Capitão-de-Corveta Maurilio Augusto da Silva, serviu à Flotilha, até o ano de 1969, como navio de socorro e salvamento. Os submarinos, de origem americana e remanescentes da Segunda Guerra Mundial, eram navios de grande raio de ação e dotados de equipamentos e sistemas muito mais avançados do que aqueles até então conhecidos pelos nossos submarinistas; foram seus primeiros Comandantes: Submarino Humaitá Capitão-de-Fragata Lorival Monteiro da Cruz Submarino Riachuelo Capitão-deFragata Fernando Gonçalves Reis Vianna Força de Submarinos Em 1963, a Flotillha de Submarinos denominação, Força de Submarinos. recebeu a atual Aquele ano foi marcado por dois fatos significativos: a criação da Escola de Submarinos como Organização Militar autônoma dentro da estrutura orgânica do Ministério da Marinha, tendo como primeiro Comandante o Capitão-de- Fragata Alfredo Ewaldo Rutter Mattos, e a aquisição, junto ao governo

norte-americano, de mais dois submarinos da classe FleetType : Submarino Rio Grande do Sul Comandante : Capitão-de-Fragata: Nelson Riet Corrêa Submarino Bahia Comandante: Capitão-de-Fragata: Abílio Simões Machado Uma Década Marcante Os Anos 70 A década dos anos 70 foi particularmente marcante para a história da Força de Submarinos. Foram adquiridos, juntos ao governo norte-americano, sete submarinos da classe GUPPY (Greater Underwater Propulsion Power) e um Navio de Salvamento de Submarinos; posteriormente, na Inglaterra, foram construídos três submarinos da classe OBERON. Submarino Amazonas (S 16) As unidades incorporadas à Força de Submarinos e seus respectivos Comandantes foram:

Classe GUPPY S. Guanabara (S 10) Capitão-de-Fragata Nelson Antonio Fernandes S. Rio Grande do Sul (S 11) Capitão-de-Fragata João Geraldo Matta de Araújo S. Bahia (S 12) Capitão-de-Fragata Antonio Cordeiro Gerk S. Rio de Janeiro (S 13) Capitão-de-Fragata Aloysio Bastos Vianna da Silva S. Ceará (S 14) Capitão-de-Fragata Jelcias Baptista da Silva Castro S. Goiás (S 15) Capitão-de-Fragata Edoardo Russo S. Amazonas (S 16) Capitão-de-Fragata Fernando Luiz Pinto da Luz Furtado de Mendonça Classe OBERON S. Humaitá (S 20) Capitão-de-Fragata Guenter Henrique Ungerer S. Tonelero (S 21) Capitão-de-Fragata Murillo Carrazedo Marques da Costa S. Riachuelo (S 22) Capitão-de-Fragata José Luiz Feio Obino NSS Gastão Moutinho (K 10)- Capitão-de-Corveta Emanoel Medrado Vaz Santos A grande novidade da época foi o sistema do esnorquel, que equipava os submarinos da classe GUPPY. Este sistema permite recarregar as baterias e os grupos de ar comprimido, bem como renovar o ar ambiente, com o submarino em imersão, na cota periscópica. O submarino Rio Grande do Sul, primeiro da classe GUPPY a ser recebido, foi também, o primeiro submarino brasileiro a operar o esnorquel.

Submarino Humaitá (S 20) Os submarinos da classe OBERON, de geração mais moderna que os GUPPY, trouxeram importantes melhoramentos no campo da detecção acústica e eletromagnética, introduzindo uma gama de equipamentos eletrônicos altamente sofisticados, além de um Sistema de Direção de Tiro computadorizado, marcando o advento da informática nos nossos submarinos. Esta década marcou, também, a introdução de novos procedimentos doutrinários do emprego operativo dos submarinos, contribuindo, sobremaneira, para a atualização profissional do pessoal submarinista da Marinha do Brasil. A Modernização Os Anos 80 A década de 80 foi novamente importante para a Força de Submarinos. Ela marcou o início da fase em que o Brasil deu partida na busca de sua auto-suficiência para projetar e construir a sofisticada arma de guerra naval que é o submarino, na capacitação de nossa Marinha para o salvamento de submarinos sinistrados e no preparo de nossos mergulhadores

para atenderem às necessidades do País em serviços marítimos a grandes profundidades. Na área de mergulho e salvamento, foi construído o Centro Hiperbárico, para formar e adestrar pessoal nas técnicas de mergulho de saturação, desenvolver a pesquisa em medicina hiperbárica e realizar experimentos e testes hiperbáricos em materiais e engenhos submarinos. Também, foi incorporado à Força de Submarinos o Navio de Socorro de Submarinos Felinto Perry que, tendo como primeiro Comandante o Capitão-de-Fragata Chrysógeno Rocha de Oliveira, veio capacitar nossos mergulhadores para exercícios mais complexos e com maior segurança. Nessa década, o contrato assinado com o estaleiro alemão HDW iniciou a capacitação técnica brasileira para a construção do primeiro submarino no Brasil. Fruto desse contrato, que estabelecia a construção de um submarino IKL na Alemanha e um segundo no Brasil, engenheiros e técnicos de diversos setores realizaram estágios no HDW, acompanhando a construção do Submarino Tupi (S 30), que veio a ser incorporado, sob comando do Capitão-de-Fragata Paulo Sérgio Silveira Costa, em 6 de

maio de 1989. O Submarino Tupi, um moderno submarino diesel-elétrico, de reduzida assinatura acústica (baixo nível de ruído), com capacidade de atingir altas velocidades em imersão e de operar a grande profundidade, além de dotado de sofisticados sensores, é marca indelével da modernização da Força de Submarinos. Uma Realização Nacional Os Anos 90 Submarino Tamoio (S 31) A década de 90 marcou uma realização nacional: a construção e incorporação do primeiro submarino totalmente construído no Brasil, pelo AMRJ, o Submarino Tamoio (S 31). O Submarino Tamoio, tendo como primeiro Comandante o Capitãode-Fragata Flávio de Morais Leme, foi incorporado em 12 de dezembro de 1994. Foi nessa década que se consolidou a capacitação brasileira na construção de submarinos. Seguindo-se ao Tamoio (S 31), em 22 de outubro de 1997, o segundo submarino construído no País, o Timbira (S 32), foi

incorporado sob o comando do Capitão-de-Fragata José Carlos Juaçaba Teixeira. O terceiro submarino da mesma classe, o Tapajó (S 33), também totalmente construído pelo AMRJ, foi entregue à Esquadra brasileira em 21 de dezembro de 1999, tendo como primeiro Comandante o Capitão-de-Fragata Júlio César da Costa Fonseca. O Futuro e a Realização de um Sonho O Século XXI Submarino Tikuna (S 34) Consolidados os conhecimentos e a capacidade para a construção de submarinos, a Marinha decidiu incrementar o seu Programa de Reaparelhamento com a construção de um quinto submarino. A Força de Submarinos, neste início do século XXI, vê nascer o Submarino Tikuna (S 34). O Tikuna não é um submarino da classe Tupi, apesar da grande semelhança na aparência externa, são consideráveis as diferenças entre eles, constituindo uma nova classe. Incorporando novidades tecnológicas em diversos sistemas,

notadamente na geração de energia, no sistema de direção de tiro e nos sensores, o Tikuna deverá selar a independência tecnológica na área de projeto e de construção de submarinos. Saltos mais altos estão planejados para este século XXI Submarino Riachuelo (S 40) O início da construção dos submarinos convencionais (S-BR) da classe Scorpène, de tecnologia francesa, no Brasil, faz parte do Acordo Estratégico Brasil-França que originou o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) da Marinha do Brasil. Os quatro submarinos convencionais (S-BR) incluídos no PROSUB, representam o primeiro passo para a construção do submarino com propulsão nuclear brasileiro (SN-BR), marco maior deste programa. Considerado um dos mais complexos meios navais já idealizados pelo homem, o submarino com propulsão nuclear tem vantagens

táticas e estratégicas significativas. Com enorme autonomia, pode desenvolver velocidades elevadas por longos períodos de navegação, aumentando sua mobilidade e permitindo a patrulha de áreas mais amplas no oceano, sendo ainda considerado também extremamente seguro e de difícil detecção. Os quatro submarinos convecionais (SBR), Classe Riachuelo, serão batizados com os seguintes nomes e receberão os indicativos visuais abaixo: Submarino Submarino Submarino Submarino Riachuelo (S 40) Humaitá (S 41) Tonelero (S 42) Angostura (S 43) Submarino Nuclear Álvaro Alberto (SN 10) Já o primeiro submarino nuclear (SNBR) da Marinha do Brasil,

será batizado como o seguinte nome e receberá o indicativo visual abaixo: Submarino Nuclear Álvaro Alberto (SN 10) O SN 10 será o segundo navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, que se destacou desde o início de sua carreira militar no campo da Ciência & Tecnologia. Com relação aos submarinos convencionais, teremos a repetição dos nomes dos três submarinos da classe Oberon, que era formada pelo Humaitá (S 20), Tonelero (S 21) e Riachuelo (S 22), e o quarto será o segundo navio a ostentar este nome na MB, sendo o primeiro a Cv Angostura (V 20), pertencente a classe Imperial Marinheiro. O atual Comandante da Força de Submarinos é o ContraAlmirante Marcos Sampaio Olsen. Marinha participa da segurança da VI Cúpula do BRICS, na capital do País

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO Cerca de 1.200 homens,14 embarcações e 30 viaturas operativas estão sendo empregadas no evento internacional Passada a Copa do Mundo, a Marinha do Brasil se volta para mais um evento internacional, na capital do País. De 16 a 18 de julho de 2014, Brasília recebe a VI Cúpula dos BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O Comando do 7º Distrito Naval contribuirá com os esforços de segurança em Brasília, com o patrulhamento lacustre e com a escolta de comboios de Chefes de Estado, de Governo e delegações, que incluem Ministros de Relações Exteriores, do Comércio, da Fazenda, Presidentes de Bancos Centrais e outras autoridades, além de Presidentes de países da América do Sul. A Força Naval Componente conta com 1.200 homens e mulheres do Comando do 7º Distrito Naval, do Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, da Capitania Fluvial de Brasília, do Centro de Instrução e Adestramento de Brasília, do Hospital Naval de Brasília e da Estação Rádio da Marinha em Brasília. Ao todo, estão sendo empregadas 14 embarcações e 30 viaturas operativas e administrativas.

A tarefa de estabelecimento da segurança em pontos sensíveis no Lago Paranoá está sob a responsabilidade da Capitania Fluvial de Brasília, que comporá o Grupo-Tarefa de Segurança Lacustre. Um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, sediado no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, comporá o GrupoTarefa de Segurança Terrestre, realizará escoltas terrestres de comboios para Chefes de Estado, participará do cerimonial militar durante o evento e reforçará a segurança das instalações terrestres. FONTE: Assessoria de Comunicação Social do Comando do 7º Distrito Naval

Boeing aposta em defesa após dois anos sem vender ao Brasil Companhia enxerga oportunidades nos mercados de defesa e de carga aérea para voltar a vender no país A Boeing enxerga oportunidades nos mercados de defesa e de carga aérea do Brasil que podem ajudar a maior fabricante de aviões do mundo a conseguir sua primeira grande venda ao país desde 2012. O Exército do Brasil está estudando a compra de helicópteros Chinook e a Marinha assistiu a uma demonstração do drone ScanEagle em fevereiro, disse a presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinak. A Boeing também vê compras potenciais de aviões de carga e satélites, disse ela.

A intensidade e a velocidade do nosso envolvimento dependerá necessariamente do tipo de oportunidades de mercado que encontrarmos aqui, disse Hrinak, em entrevista no escritório da Bloomberg, em São Paulo. Um acordo civil ou militar acabaria com uma seca local de quase dois anos, desde a negociação com a Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA para a compra de US$ 6 bilhões em aviões 737 Max. Em abril, a Azul Linhas Aéreas Brasileiras SA escolheu aviões da Airbus Group NV para novas rotas para os EUA e em 2013 o governo comprou US$ 4,5 bilhões em caças da Saab AB, em vez dos F/A-18 Super Hornet da Boeing, empresa com sede em Chicago. A Boeing elevou hoje sua projeção para a demanda das companhias aéreas latino-americanas nos próximos 20 anos, prevendo um aumento de 1,7 por cento, para 2.950 aviões. No Brasil, um dos desafios às vendas da Boeing pode incluir uma oposição política.

O acordo pelo caça da Saab, por exemplo, veio em meio à indignação do governo e da população brasileira a respeito dos relatos de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA interceptou comunicações entre a presidente Dilma Rousseff e sua equipe. Dilma cancelou uma visita de Estado a Washington no ano passado. Laços com a Embraer Donna Hrinak, Presidente da Boeing Brasil É improvável que haja uma venda no setor de defesa antes da eleição presidencial em outubro, disse Hrinak, que disse esperar pelo menos dois pedidos de propostas para satélites no ano que vem e um terceiro em 2016. A Boeing também está trabalhando de perto com a Embraer SA para desenvolver biocombustíveis e para ajudar a fabricante

brasileira em sua aposta no mercado de defesa, disse Hrinak em 3 de julho. Nós passamos muito tempo desenvolvendo nosso relacionamento com a Embraer, em particular, disse ela. A Boeing está fornecendo uma integração de sistemas de armas para o avião de ataque A-29 Super Tucano, da Embraer. O Exército dos EUA, que fechou no ano passado um acordo de US$ 950 milhões para compra dos Super Tucanos, pode adquirir mais aviões, disse Hrinak. Embora o mercado mundial de cargas áreas esteja estagnado desde 2008, no Brasil ele vem se expandindo, disse Hrinak. Mesmo durante o ano ruim o mercado de cargas do Brasil se expandiu acima do crescimento global, disse Hrinak. O mercado mundial de cargas aéreas se expandirá 4 por cento a 5 por cento ao ano nos próximos dois anos, disse ela. A Boeing vendeu apenas cinco aviões de carga neste ano, quatro da variação 777F e um baseado no jumbo de quatro motores 747-8. A antiga TAM SA, que agora é parte da Latam Airlines Group SA, encomendou dois aviões 777F em 2011, segundo o site da Boeing. FONTE: Exame FOTOS: Ilustrativas Compra do Pantsyr confirmada

O sistema de artilharia antiaérea Pantsyr nas cores do Exército Brasileiro, foto de Vitaly V. Kuzmin com arte digital de Gino Marcomini para Tecnologia & Defesa Segundo informações divulgadas pela imprensa brasileira na manhã desta quinta-feira, 10 de julho, o embaixador brasileiro em Moscou, Antônio José Valim Guerreiro, teria dado declarações confirmando a compra do sistema de defesa antiaérea Pantsyr numa negociação governo a governo entre o Brasil e a Rússia. Segundo afirmou o diplomata, o contrato poderá ser assinado entre outubro ou novembro do ano corrente. As negociações sobre a provisão das baterias Pantsir-S1 de curto e médio alcance, dotadas de canhões automáticos e mísseis antiaéreos terra-ar, e também de outras duas baterias de MANPADS Igla, foram iniciadas em fevereiro de 2012.

Acredita-se que o Pantsyr, na versão brasileira, poderá ser montado sobre caminhões 8x8 nacionalizados como os modelos MAN e IVECO atualmente disponíveis. O sistema deverá receber a integração de outros equipamentos de produção nacional, mas ainda não se sabe a configuração definitiva que será empregada (Foto: Vitaly V. Kuzmin) No próximo domingo chega ao Brasil delegação oficial do governo russo, como parte de um tour pela América Latina, e o presidente Vladimir Putin aproveitará a oportunidade para assistir a final da Copa do Mundo FIFA 2014 no Rio de Janeiro (a próxima Copa do Mundo FIFA, em 2018, será realizada na Rússia). Na esteira das negociações de compra do sistema Pantsyr, também deverão ocorrer os últimos acertos necessários para a entrega dos últimos três helicópteros MIL MI-35 (AH-2 Sabre na terminologia da Força Aérea Brasileira) de uma encomenda inicial de 12 exemplares, dos quais nove já se encontram operacionais em Porto Velho, Rondônia. O Pantsyr está sendo adquirido atendendo a fatores políticos e\ou econômicos, definidos entre os dois governos, e será incorporado ao Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA). Cada Força receberá uma bateria completa do

sistema antiaéreo, que terá como missão a defesa de infraestruturas críticas, bases aéreas e estabelecimentos militares vitais a Defesa Nacional, dentre outros. FONTE: Portal Terra via T&D Guerrilheiros propõem trégua no Congo Por Somini Sengupta Pouco depois do meio-dia, em Kigogo, os progenitores da longa e suja guerra que varre a África Central saíram da selva e depuseram as armas. Nem todos os combatentes de suas fileiras estavam lá: 83 guerrilheiros estavam presentes, acompanhados por suas mulheres e filhos. Tampouco suas armas estavam todas lá. O material entregue incluía diversos fuzis antigos, alguns morteiros enferrujados

e duas metralhadoras norte-americanas produzidas na época da guerra do Vietnã. Mas o gesto, realizado em junho na presença de diplomatas estrangeiros e representantes das Nações Unidas, representou uma nova reviravolta em uma guerra que opõe tribos e nações há 20 anos e que deixou uma trilha de estupros e massacres que atravessa uma vasta região do continente, rica em minérios. Os membros da organização armada, as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda, composta por guerrilheiros ruandeses da etnia hutu e conhecida por FDLR, disseram estar dispostos a entregar as armas em definitivo se fossem autorizados a voltar para casa e a negociar a paz com seu arqui-inimigo, o governo de Ruanda. A cena representava um teste político complicado para as potências estrangeiras que tentam pôr fim à longa guerra na República Democrática do Congo. General Carlos Alberto dos Santos Cruz As FDLR usam aldeias como Kigogo como refúgio há duas décadas, aterrorizando-as. Um dos líderes da organização, Sylvester

Mudacumura, é procurado pelo Tribunal Criminal Internacional devido ao seu papel no genocídio contra a etnia tutsi e contra os hutus moderados em Ruanda. Cinco outros líderes da organização estão presos na Alemanha. Outros dez constam na lista de sanções da ONU e estão proibidos de viajar internacionalmente. Queremos demonstrar à comunidade internacional que estamos falando sério, que estamos decididos e que estamos prontos a ser parte do processo de paz, disse Wilson Irategeka, um dos líderes. Ele pediu que diplomatas do bloco regional do sul da África transmitissem as demandas políticas do grupo às autoridades ruandesas. Pouca gente considera que isso seja realista. Os representantes da ONU estão cautelosamente apoiando o esforço, mas os EUA, por exemplo, se opõem a negociar com um grupo que tem um histórico de cometer atrocidades. Rebeldes M23 Foto EPA Ruanda depois disso acusou a ONU de tentar sanitizar os genocidas das FDLR. Os poucos integrantes do grupo que concordaram em conversar com jornalistas disseram ter deixado

seu país cerca de 20 anos atrás, alguns ainda crianças, quando um grupo de guerrilha sob liderança tutsi varreu o território de Ruanda para deter o genocídio e depois penetrou no leste do Congo em perseguição aos seus perpetradores hutus. A cerimônia acontece em um momento decisivo para a missão da ONU na República Democrática do Congo. Tendo recentemente derrotado um grupo guerrilheiro chamado M23, que operava com apoio de Ruanda, e depois enfrentado um grupo radical islâmico chamado Forças Democráticas Aliadas, perto da fronteira de Uganda, as forças de paz estão sob intensa pressão internacional para tirar de ação os combatentes originais da guerra, as FDLR. A oferta de desarmamento voluntário do grupo convenceu as forças da ONU a postergar ações militares, enquanto os diplomatas buscam um acordo negociado. Para a cerimônia em Kigogo, compareceram dignitários estrangeiros. Mas a meia dúzia de embaixadores presentes não quis assumir qualquer compromisso firme. Os combatentes que ainda estão na selva precisam se entregar, disse Wilbard Hellao, embaixador da Namíbia.

A ONU estima que haja menos de 2.000 combatentes ativos das FDLR no Congo. Nos últimos anos, milhares deles se entregaram às forças de paz, que os repatriaram para Ruanda. Aqueles que decidiram sair da selva agora estão sendo abrigados, alimentados e guardados pela ONU em campos temporários. O Congo sugeriu enviá-los para o oeste do país, longe da fronteira ruandesa. Também há discussões para encontrar um terceiro país no qual alguns dos ex-combatentes possam ser reassentados. Os membros das FDLR se veem como protetores das minorias hutus no Congo, especialmente contra grupos guerrilheiros apoiados pelo governo de Ruanda, liderado pelos tutsis. Essa visão não é inteiramente infundada. O M23 saqueou as riquezas minerais do leste do Congo e deixou uma trilha de terror na região rural do país. Um antigo líder do M23, Bosco Ntaganda, enfrenta 18 acusações por crimes de guerra no Tribunal Criminal Internacional. Irategeka não foi capaz de evitar o assunto dos crimes de guerra cometidos pelos membros de seu grupo. Ao responder se

essas pessoas deveriam ser colocadas em julgamento, disse: Pode haver algumas pessoas assim em nossas fileiras. Aceitamos o Tribunal Criminal Internacional. FONTE: Folha de São Paulo Brics querem só ficar mais ricos e não sujar as mãos Por Raul Juste Lores Especialista em Relações Internacionais,

diz que grupo não tem coesão política. O Brasil sedia encontro semana que vem. Os Brics não são uma aliança política crível. O clube formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul é um grupo interessante, mas sem coesão política, diz o americano Vali Nasr, 53, diretor da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade Johns Hopkins, um dos maiores celeiros da diplomacia dos EUA. O Brasil sediará a próxima reunião do grupo, em 15 e 16 de julho, em Fortaleza. Se China e Rússia tivessem apoiado o acordo patrocinado pelo Brasil com o Irã, talvez teria sido um sucesso, provoca. Mas não estão de acordo nem como deve ser a reforma do Conselho de Segurança. Nasr, que trabalhou no início do governo Obama no Departamento de Estado, acha que as tropas americanas saíram cedo demais do Iraque e que o mundo fica mais inseguro quando os EUA se retiram da arena global. Também disse que Obama, ao usar drones e serviços de inteligência para atacar terroristas, em vez de tropas e o Pentágono, ficou mais dependente da espionagem, como a feita pela NSA. Ele recebeu a Folha em seu escritório na Universidade Johns Hopkins. Folha O que o sr. espera da Cúpula dos Brics, no Brasil na semana que vem? Vali Nasr Os Brics são uma associação útil, mas por enquanto é um clube de países que querem ficar mais ricos, sem sujar as mãos com crises políticas, não há uma coesão política. Qual é a união dos Brics em reformar o Conselho de Segurança ou o FMI (Fundo Monetário Internacional)? Como os Brics podem criar uma aliança politica crível?

O acordo patrocinado por Brasil e Turquia sobre o programa nuclear do Irã foi uma vitória, mas teria sido um sucesso se Rússia e China o tivessem apoiado. Eles, porém, preferiram se juntar a americanos e europeus na mesa de negociação. Os Brics não atuaram em conjunto. Folha O sr. considera o acordo uma vitória? O acordo Brasil-Turquia foi muito interessante e bem-sucedido. Conseguiu fazer o Irã assinar pela primeira vez um acordo nuclear. O fracasso aconteceu por Europa e Estados Unidos não aceitarem o papel de dois emergentes. Faltaram peças. Vocês têm o poder de persuasão, mas qual é o poder de fazer cumprir? Se o Irã não respeitasse, o que Brasil e Turquia fariam? Folha -Foi um bom começo, mas o que os Brics podem fazer sobre a crise no mar do Sul da China? Ou no embate sunita-xiita? Os Brics conseguiriam fazer uma ponte entre Irã e Arabia Saudita de uma maneira que os EUA não conseguem? Mas EUA e Europa não parecem muito interessados em compartilhar o poder no FMI, Banco Mundial e ONU com os emergentes. Os Brics ficaram mais ricos tomando vantagem de uma ordem global patrocinada pelos EUA com o dólar, OMC (Organização Mundial do Comércio), segurança internacional, FMI e Banco Mundial. Os países emergentes têm razão de querer reformas e mais espaço nesses organismos. O que não se pode é deixar tudo isso para trás e criar um vácuo. Há 20 anos só se debatia comércio, OMC. O que não esperávamos era a volta do nacionalismo. Ainda não apareceu na América Latina, mas vemos a Rússia querendo reconstruir domínios czaristas, intervindo nos vizinhos, e a China querendo dominar os mares e tomar ilhas de seus vizinhos. Vamos pensar que os EUA se retiram da Ásia e estoura uma crise entre Japão e

China. Impacta o Brasil também. E na Rússia contra a Ucrânia? Essas duas regiões são 60% do PIB mundial, não é falar do deserto iraquiano. Qual é a alternativa ao poder dos EUA? Folha Mas em seu livro Dispensable Nation [nação dispensável], o sr. diz que o governo americano está batendo em retirada da política internacional. O problema é que o debate para reformar as instituições multilaterais que começou nos anos 90 perdeu a força e os Estados Unidos não querem mais saber deles. A reforma do FMI empacou no Congresso americano, o governo não trabalha com a OMC e quer criar seus próprios blocos comerciais, e os EUA não querem mais ser a polícia do mundo, querem que os outros cuidem de sua própria segurança. Se a velha ordem não se adaptava às mudanças no mundo emergente, a nova parece um vácuo. Folha Todas as pesquisas dizem que o público americano não quer saber mais de guerra, então Obama evita intervir, seja na Síria ou no Iraque. Os americanos gostam da retirada, mas não das consequências dela. Quando parecemos fracos, é uma ameaça maior. Russos e chineses não levam os EUA a sério e estão arranjando problemas com seus vizinhos e os países ao redor dois, nossos aliados, já não confiam que os defenderemos. Se você é do governo do Iraque ou dos grupos terroristas, você não se intimida com o governo americano. O [primeiro-ministro iraquiano] Nuri al-maliki deve pensar, por que vou ouvir os EUA se eles não me ajudam? Vou procurar o Irã ou a Rússia, que ganho mais. Os terroristas devem pensar, os EUA não querem saber daqui, vamos avançar até Bagdá, invadindo mesmo, ocupando. Folha Obama tem índices de popularidade baixos e vê a saída

do Iraque como uma conquista. Como ele pode vender à opinião pública uma volta ao campo de batalha? Saímos cedo demais do Iraque. Ainda temos tropas na Bósnia, mas não no Iraque, não faz sentido. Se a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental] tivesse saído tão cedo, a Bósnia voltaria a uma guerra civil. O Iraque é como uma árvore frágil em terreno de tornados, e fomos embora. Claro que ia cair. Na Síria, não apoiamos o centro moderado, só ficamos na retórica, deixamos o país cair nas mãos de jihadistas e agora a ascensão do Estado Islâmico [EI, grupo fundamentalista que controla partes da Síria e do Iraque] é culpa do descaso americano e europeu. Quando Obama diz que só vai enviar 300 especialistas para o Iraque e que eles não combaterão, estamos querendo agradar o Congresso e a opinião pública. Esquecemos que falamos para o mundo. Folha Analistas dizem que todas as alternativas na Síria ou no Iraque eram ruins. Não podemos resolver o tema sunita versus xiita no Iraque, mas não podemos deixar que o país desmorone e seja controlado por terroristas. Não se trata de caridade. Precisa explicar à opinião pública o que está em jogo. Identificar e apoiar moderados, falar com Irã e Rússia, achar uma solução. O trabalho de um líder é convencer a população do oposto do que elas pensam, de seus interesses. Em vez de seguir pesquisas de opinião, saber formatá-la. Folha Obama demorou muito em reagir ao escândalo da espionagem da NSA (Agência Nacional de Segurança). Por quê? Obama adotou muito da política externa do governo Bush, priorizando a luta contra o terrorismo no Oriente Médio. Bush queria mudar governos, mudar religião, impor democracia,

Obama acha que isso é desperdício. Mas, para ele, não precisamos usar os militares e ocupar países. Basta usar a CIA (Agência Central de Inteligência) e fazer ataques cirúrgicos com drones. Isso representa a ascensão da CIA e do papel da inteligência na política externa. O orçamento do Pentágono está encolhendo porque dependemos menos das tropas. Essas agências de inteligência estão com mais poder. Quando o escândalo da NSA surgiu, acertou o coração de como o seu governo foca o contraterrorismo. Há duas maneiras de lutar contra o terrorismo. Promover crescimento econômico, político e educativo ou prender e atirar nos caras malvados. Escolhemos a segunda alternativa. Folha O sr. escreveu artigo no New York Times dizendo que o mapa do mundo vai mudar graças à revolução na extração de gás, como a nova aliança de China e Rússia. E os EUA, mais autossuficientes com o gás de xisto, vão perder interesse no Oriente Médio? Nunca estivemos lá apenas por petróleo. Havia a necessidade de se proteger o mercado mundial de petróleo, os preços globais de energia e o maior consumidor do Oriente Médio é a própria Ásia. A segurança de Israel importa muito nos EUA domesticamente e também a luta contra o terrorismo. Quanto mais o Oriente Médio perder seu peso por conta do petróleo, vai ficar mais complicado. Lavar as mãos no Oriente Médio é um enorme perigo. Os EUA são uma espécie de andaime que sustenta esse sistema. Folha O senhor escreveu também que houve um esvaziamento do poder do Departamento de Estado durante o governo Obama. Quanto se deve a rivalidade entre Obama e à então secretária de Estado, Hillary Clinton?

Tradicionalmente há disputas entre Casa Branca, Departamento de Estado e Pentágono. Mas a atual Casa Branca gosta de concentrar as decisões políticas e os ministérios e agências só implementam decisões já tomadas. Os especialistas foram escanteados. Muita gente da Casa Branca não é experiente em politica externa, vieram da campanha. Olham o mundo pelo prisma da política doméstica e das pesquisas de opinião. Não há um Kissinger ou um Brzezinski [conselheiros de Segurança Nacional de Nixon e Carter, respectivamente] Havia rivalidade entre as equipes de Obama e Hillary, mas ela acabou ajudando. Ela tinha gravitas, podia ligar para ele diretamente. FONTE: Folha de São Paulo