Segurança privada vai formosa e não segura



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Transcrição:

quinta-feira 6 de julho de 05 www.oje.pt EDITADO POR ARMANDA ALEXANE E VÍTOR NORINHA ANÁLISE Segurança privada vai formosa e não segura O último ano foi de adequação do setor a novos requisitos, o que ditou um menor número de operadores. Com 8,6% dos intervenientes entre as micro e pequenas empresas, manteve-se a tendência de concentração nos dez maiores players, que empregam 7% do pessoal de vigilância ativo. A de dezembro último existiam 9 entidades prestadoras de serviços de privada no mercado português, titulares de alvarás, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Privada relativo a 0, aprovado no início deste mês (a de julho) pelo Conselho de Segurança Privada no Ministério da Administração Interna. O documento refere que foram criadas, durante o ano passado, três empresas de privada, tendo sido autorizados cinco novos alvarás. No entanto, cessaram atividade sete, na sequência do término da validade dos títulos habilitantes e da não instrução dos respetivos processos de renovação ou por outros motivos, com o cancelamento de nove alvarás. Tendo em conta o número de trabalhadores vinculados às empresas habilitadas a prestar serviços de privada titulares de alvará ou licença no país, verifica-se que 8,6% são micro e pequenas empresas. A maioria das entidades licenciadas tem a sede nos distritos do litoral e capitais de distrito, não obstante a existência cumulativa de outras instalações operacionais ou secundárias. Tal como nos exercícios transatos, denota-se a tendência de concentração nas dez maiores empresas, às quais se encontram vinculados 7,% dos trabalhadores de vigilância ativos (que ascendem a 6.87). A média de idade do pessoal no setor é 9,6 anos, sendo que 5,7% têm entre 6 e 55 anos (com preponderância do sexo masculino, que atinge os 9%). Quanto à empregabilidade do setor, 6% dos titulares de cartão válido (6.87) detêm vínculo laboral. Encontram-se ainda registados.969 (9%) s privados inativos (não A média de idade do pessoal no setor é 9,6 anos, em que 5,7% têm entre 6 e 55 anos (com preponderância do sexo masculino, que atinge os 9%) vinculados a entidade prestadora de serviços de privada), mas cujos cartões profissionais estão dentro do período de validade. Apesar da volatilidade do mercado de trabalho na privada, decorrente da contratação de pessoal de vigilância com especialidades para eventos específicos, o relatório adianta que há uma percentagem significativa de vigilantes vinculada em exclusivo a uma entidade patronal. Do total de pessoal ativo só,9% estão vinculados a duas empresas de privada, e 0,7% a mais do que duas entidades.

www.oje.pt quinta-feira 6 de julho de 05 5 0 ditou a adequação das entidades às novas obrigações e requisitos, o que iniciaou uma tendência decrescente de operadores Entre as nove especialidades atualmente previstas no quadro legal da privada, prepondera a de vigilante (com 7.75), seguindo-se a de porteiro (65), assistente de recinto desportivo (767), proteção e acompanhamento pessoal (8), aeroportuário () e transporte de valores (70). Ainda são inexistentes os profissionais com algumas das novas especialidades, como a de operador de central de alarmes. Em termos da formação profissional, a quase totalidade do pessoal de vigilância com cartão profissional válido é detentora de cartão para o exercício de apenas uma especialidade. A proporção de vigilantes detentores de mais do que uma especialidade é similar no pessoal com e sem vínculo laboral. O ano de 0 ditou a adequação das entidades às novas obrigações e requisitos, iniciando uma tendência decrescente de operadores do setor, mais vincada nas licenças de autoproteção. O documento prossegue referindo que, no que concerne às entidades formadoras, urge realçar a tardia adaptação do mercado às novas previsões legais, o que levou à insuficiência de oferta formativa no último trimestre do exercício passado. E adianta que a conjugação da criação de novas especialidades para o desempenho de funções na privada com a ausência de entidades formadoras criou dificuldades de resposta às necessidades do mercado, tendo sido necessário o recurso a medidas de caráter transitório, de forma a não bloquear o setor, de que constitui exemplo a previsão de um processo de equivalências com base na experiência profissional. E conclui que, apesar do esforço empreendido pelas entida- PUB

6 quinta-feira 6 de julho de 05 www.oje.pt LUSA/PAULO NOVAIS des com competência inspetiva para combater o incumprimento da lei, verifica-se a possível existência de alguns fenómenos anómalos que importa analisar, particularmente no que respeita aos fenómenos criminais e contraordenacionais associados à privada, designadamente ao trabalho não declarado. ARKO Segurança humana, sistemas eletrónicos de, alarmes CHARON Vigilância humana, eletrónica, consultoria de ESEGUR Vigilância humana, sistemas de, transporte e de tratamento de valores, gestão de documentos e de arquivos GRUPO 05 Vigilância humana, vigilância eletrónica, monitorização e consultoria de GRUPO 8 Vigilância, K8 - equipa de cinotecnia, transporte de valores, central de h, eletrónica, consultoria de PRESTIBEL Vigilância humana (estática e móvel), central recetora de alarmes, proteção pessoal, consultoria e, equipamento de PROSEGUR Vigilância, logística de valores e gestão de numerário, tecnologia e alarmes SECURITAS Vigilância especializada, vigilância mobile, tecnologia e inovação, videovigilância remota, soluções de integrada, consultoria de investigação, auditoria de, soluçoes de internacionais SOV Análise de riscos e projeto de, vigilância humana, vigilância eletrónica, consultoria STRONG Segurança humana, eletrónica Rogério Alves, presidente da AES - Associação de Empresas de Segurança, aponta o trabalho não declarado como um dos grandes problemas INFRAÇÕES SOBEM 50%. DUMPING MINA O SETOR As infrações associadas à privada cresceram 50% face a 0. A Polícia de Segurança Pública (PSP), no âmbito das suas competências de fiscalização de privada, detetou 09 fenómenos criminais e contraordenacionais, mais 706 que no ano anterior. Das 09 infrações, 97 são contraordenações e 9 de natureza criminal, refere o relatório. A maioria dos ilícitos criminais está relacionada com o exercício da atividade sem ser titular de cartão profissional (9), falta de licença de autoproteção (6), de alvará (5) e de autorização (5), além da utilização de serviços ilícitos de privada (). As contraordenações mais frequentes no que toca ao pessoal de vigilância é a colocação do cartão profissional de forma visível (88). E em relação às empresas de privada é a não comunicação no prazo legal das admissões e demissões do pessoal de vigilância (6). No âmbito dos sistemas de videovigilância, o documento refere que se constatou que a ausência de autorização da Comissão Nacional de Proteção de Dados Para Rogério Alves, o diagnóstico dos problemas está feito, o combate às suas causas é que é altamente deficitário, (CNPD) constitui o ilícito mais frequente, sendo a ausência de aviso relativo à existência do sistema o ilícito mais frequente no âmbito dos sistemas de obrigatórios para os estabelecimentos de restauração e bebidas com espaço de dança ou onde habitualmente se dance. O relatório adianta que as fiscalizações a entidades de privada diminuíram % em 0, com a PSP a realizar 660 ações de fiscalização, menos 857 que em 0. No início da semana passada, a Associação de Empresas de Segurança (AES) que representa 55% O trabalho não declarado é uma das grandes barreiras a transpor, aponta o presidente da AES. do setor da privada em Portugal afirmou que o documento passa praticamente ao lado dos grandes problemas do setor, como o trabalho não declarado e o exercício ilegal da profissão. O presidente da AES, Rogério Alves, aponta o trabalho não declarado como um dos grandes problemas, já que, além de constituir uma flagrante violação da lei, destrói os fundamentos da sã concorrência. Outro está relacionado com o exercício ilegal da atividade, no qual medram e se manifestam fenómenos de criminalidade. O responsável salienta que a associação luta por uma atividade de fiscalização integrada, que envolva nas mesmas ações de inspeção a Autoridade para as Condições do Trabalho, a Autoridade Tributária e a Segurança Social. E acrescenta que o Relatório Anual de Segurança Privada não deve ser um mero repositório estatístico, mas um instrumento capaz de permitir entender o estado do setor da privada em Portugal, pelo que lamenta que o documento tenha ignorado os contributos enviados pela associação após a primeira versão do texto. Para Rogério Alves, o diagnóstico dos problemas está feito, o combate às suas causas é que é altamente deficitário, exceto no caso da PSP, que tem cumprido a missão na sua área de competências. Já em março deste ano, o presidente da AES declarava que a prática de dumping (venda de bens ou serviços abaixo do valor justo), com preços escandalosamente baixos, está a minar o setor. Mais: o mau exemplo vem do Estado, mais sensível ao custo imediato que ao prejuízo reportado pelas empresas cumpridoras. E questionava como é que o mesmo Estado que obriga a pagar 0 contrata por 9. É viável que alguém produza por 9 algo que custa 0?. Rogério Alves considera estranho que, de uma forma generalizada, haja empresas de privada a apresentar preços abaixo do valor que a Autoridade das Condições de Trabalho diz que é o custo do serviço (em que sejam cumpridas as vinculações legais de índole laboral, fiscal, etc.), ou seja, custos calculados pelo próprio Estado.

www.oje.pt quinta-feira 6 de julho de 05 7 PUB

8 quinta-feira 6 de julho de 05 www.oje.pt - Relativamente à nova Lei da Segurança Privada e às práticas do setor, a questão que se coloca é se a norma ficou aquém do expectável ou está ao nível das regras europeias? - Continuam a existir queixas de ausência de fiscalização por parte da tutela nas empresas de privada ao nível do ACT, da AT e da Segurança Social, o que tem favorecido empresas de vão de escada. O que explica esta situação? - Justifica-se o Conselho de Segurança Privada tal como funciona? - Considera que continua a ser fácil e relativamente pouco exigente a instalação de empresas de privada? Considera que o Conselho de Segurança Privada deveria analisar novos alvarás e eventualmente retirar alvarás por más práticas? 5 - Sendo precisos 50 mil euros para criar uma empresa de privada e sendo necessários 0 mil euros por alvará, o que poderá justificar a criação de novas empresas? 6 - O explica a existência de dumping no setor e qual a responsabilidade das Autoridades reguladoras e inspetivas? PRESIDENTE DA PRESTIBEL EMPRESA DE SEGURANÇA SA Coronel António Almeida Coimbra A nova lei da privada não capta a realidade do setor e, por isso, em nada veio contribuir para solucionar os problemas e as desconformidades vigentes. Na realidade, a nova lei da privada apenas veio criar rigidez e aumentar os níveis de burocracia enfrentados pelas empresas. As entidades com competências de fiscalização não exercem as suas atividades com o objetivo de disciplinar o setor, mas sim com a preocupação de gerarem receitas para o Estado. Assim, o alvo preferencial das ações fiscalizadoras são as empresas de privada de maior dimensão, com capacidade para pagar coimas. O Conselho de Segurança Privada, sendo um órgão de natureza meramente consultiva, encontra-se há muito instrumentalizado pelo poder político. De acordo com o Banco de Portugal, nos exercícios de 00 a 0, operaram, no mercado português de privada, um número médio de 7 empresas, das quais 0 eram pequenas e médias empresas (PME). Este conjunto de PME apurou uma margem líquida negativa (menos,7%) e ofereceu uma rentabilidade média aos capitais investidos pelos seus sócios igualmente negativa (menos 9,%). Apesar disso, os proprietários destas empresas reforçaram os seus capitais próprios, no triénio 0-0, num montante médio superior a 00 mil euros. Como um agente económico racional não realiza investimentos que não permitem remunerar adequadamente os capitais investidos, a única conclusão razoável é que os objetivos dos sócios da generalidade das PME que operam no setor português da privada são inconfessáveis! A recondução do setor português da privada a uma situação normalizada implicará uma atuação articulada e conjugada das Autoridades, o que só poderá ser alcançado mediante a constituição de equipas de inspeção multidisciplinares, integrando membros da PSP, da ACT, da Segurança Social e da Autoridade Tributária, sempre acompanhadas por um representante da associação das empresas de privada. A ação prioritária dessas equipas não deverá incidir, como vem sendo habitual no comportamento das Autoridades, sobre as cinco ou seis maiores empresas do setor, mas sim sobre as empresas que venham acumulando prejuízos ou que submetam documentos de prestação de contas (IES) com informação inconsistente: é que o objetivo destas ações não deverá consistir em coimar as empresas, mas sim na defesa do primado da legalidade. 5 O Relatório Anual da Segurança Privada de 0 endereça esta questão de forma paradigmática: a prática de atividades ilegais relacionadas com a privada continuou, em 0, a ser relevante no contexto da interna. Com efeito, dado tratar-se de uma atividade que não só permite acesso a setores sensíveis, como também a espaços de diversão noturna, tem vindo progressivamente a ser infiltrada por elementos associados a grupos criminosos de natureza muito diverso que a desvirtuam. Há indícios de ligação à extorsão, ao tráfico de estupefacientes, ao comércio ilegal de armas, ao auxílio à imigração ilegal e ao tráfico de seres humanos e lenocínio. De acordo com o mesmo RASI de 0, a incorporação de capitais de origem ilícita por parte destes grupos nas suas atividades lícitas tem o potencial de criar distorções de concorrência neste setor, prejudicando as empresas de privada que atuam exclusivamente dentro da legalidade. Note-se ainda que, em 0, a atuação ilegal de alguns grupos/empresas se caraterizou por um incremento do uso da violência, quer no desempenho normal das suas funções, quer na resolução de conflitos com concorrentes. O desrespeito pela legislação e regulamentação vigentes é apoiado e até promovido pelas entidades públicas adjudicantes Quando uma empresa viola 6 a legislação e regulamentação vigentes, não respeitando os direitos dos seus trabalhadores, da Segurança Social e da Autoridade Fiscal, adquire a latitude necessária para praticar preços inferiores aos custos em que incorreria com a prestação dos serviços, se não infringisse o bloco da legalidade. Como é natural, a violação da legislação e regulamentação vigentes só é possível com a cumplicidade das Autoridades reguladoras e fiscalizadoras. Infelizmente, é o que ocorre em Portugal. Mais, o desrespeito pela legislação e regulamentação vigentes é apoiado e até promovido pelas entidades públicas adjudicantes, que celebram contratos com empresas que apresentam propostas de preços cuja análise revelam desconformidades! E é o próprio Estado que desvirtua as regras da concorrência. Com efeito, o Estado atribuiu, em 0, a uma só empresa, subsídios à exploração de.5.7,66 euros permitindo- -lhe apresentar propostas de preços que as restantes empresas não podem acompanhar. Na realidade, se a empresa em causa, com um volume de negócios de.980.9,96 euros, não tivesse beneficiado daqueles apoios públicos (indisponíveis para a generalidade das empresas concorrentes), os seus resultados antes de impostos não teriam ascendido a.988,85 euros: ter-se-iam cifrado num prejuízo de.6.8,8 euros! Não é desta forma que se promove o nível de eficiência das empresas e muito menos a concorrência. Existem países, como o Reino Unido, em que nem se- 7 quer todas as forças de pública andam armadas, pelo que não se julga existirem razões substantivas para que o pessoal da privada possa usar armas. Acresce que a formação contínua de s privados armados tornaria o custo de tal forma elevado que muito provavelmente não existiria procura para o serviço. 8 A única forma de as empresas de privada se diferenciarem consiste na formação ministrada ao seu pessoal e no nível de enquadramento dos vigilantes por graduados. A transmissão de estabelecimento iria diluir essa capacidade de diferenciação. Acresce que, se as empresas de privada perdessem a autonomia de selecionarem os seus colaboradores, não estariam livres de serem infiltradas por pessoal com as características identificadas no Relatório Anual da Segurança Privada de 0 (resposta 5). Por outro lado, não é verdade que a impossibilidade de transmissão de estabelecimento provoque uma redução de emprego ao nível do setor, uma vez que existindo procura de serviços de privada essa procura tem de ser sempre satisfeita. As operações de concentração ou de MBO justificam-se sempre que existam fundamentos económicos para que ocorram e não pela idade dos acionistas das empresas. Entende-se que seria vantajoso que as duas associações existentes se concentrassem, embora existam vários setores em que subsistem mais do que uma associação.

www.oje.pt quinta-feira 6 de julho de 05 9 7 - Contrariamente à lei espanhola, o que justifica que a legislação portuguesa impeça o uso de armas pela privada? 8 - O contrato coletivo na generalidade dos países europeus prevê uma cláusula de transmissão de estabelecimento (para o caso do cliente mudar de prestador de serviço). Qual a sua opinião? A ausência desta cláusula não provoca despedimentos e extinção de postos de trabalho? 9 - Um exemplo para eventual aplicação daquela cláusula seria os aeroportos, onde o pessoal é altamente especializado e onde uma eventual alteração do prestador de serviço poderá significar despedimento de trabalhadores imprescindíveis na operação. Qual o seu comentário? 0 - Faz sentido falar-se de fenómenos de absorção nesta indústria, com exemplos como a Esegur? - Faz sentido falar-se em concentração de empresas, ou de MBO, perante uma nova realidade que é o facto de companhias cujos acionistas estão próximos da idade da reforma? - O facto de existirem duas associações do setor não divide a indústria? ADMINISTRADOR DELEGADO DA SECURITAS - SERVIÇOS E TECNOLOGIA DE SEGURANÇA, S.A. Jorge Couto Na nossa opinião, a lei anterior já estava ao nível das mais exigentes da Europa. O grande problema do setor não é ao nível da legislação, regulação ou enquadramento, mas sim da supervisão. Apesar disso, a nova lei é mais exigente em alguns setores da atividade, nomeadamente na banca e nos centros comerciais, onde se concentra muita população, nas farmácias, ourivesarias ou áreas de serviço. Ao aumentar o grau de exigência, pode abrir oportunidades à privada de vender tecnologia e outras soluções de proteção integrada. Isso é sempre positivo. O Estado falha, não na legislação, mas na fiscalização e na supervisão. Compete ao Estado garantir, através das autoridades e outras entidades, que as empresas deste setor são sérias, recrutam corretamente, dão a formação adequada e fazem os testes necessários para assegurar um perfil psicológico adequado por parte do candidato, de modo a que possamos ter operadores responsáveis e com visão de longo prazo. O Estado tem a obrigação de defender e garantir uma sã concorrência, em correta observação do quadro legal em Portugal e na transposição das diretivas comunitárias relacionadas com a concorrência e a defesa das condições de trabalho e dos trabalhadores. Uma das medidas mais prementes consiste na promoção de práticas concertadas entre as várias entidades com competência inspetiva (PSP, ACT, Autoridade Tributária e Segurança Social), visando tornar mais eficaz a fiscalização da atividade de privada. Outro aspeto que distorce a sã concorrência tem sido a aplicação perversa das medidas de estímulo à economia. Acreditamos na boa intenção do Governo, face ao nível elevado de desemprego, mas, o que se verifica neste setor, é que o Estado está a subsidiar empresas que, efetivamente, não são viáveis economicamente. Existem empresas a apresentar resultados positivos e que, se fosse expurgado o valor dos subsídios à exploração, teriam resultados operacionais seriamente negativos. O Conselho de Segurança Privada é um órgão consultivo do Ministério da Administração Interna, ou seja, não tem funções executivas. Uma das suas principais competências é emitir recomendações no âmbito da privada. Neste âmbito, todas as recomendações que vão no sentido da defesa do setor e dos interesses nacionais, são louváveis. Para isso acontecer, é fundamental que se leve em efetiva linha de conta os pareceres da associação que representa o setor da privada (AES - Associação de Empresas de Segurança) que tem manifestado, em diversas ocasiões, a necessidade de se efetuar um trabalho mais crítico, profundo e que perspetive a tomada de medidas concretas que melhorem o setor. É fundamental que exista maior rigor e exigência na fiscalização deste setor, seja na concessão de novos alvarás, seja, principalmente, no controlo de quem já está no mercado. O Conselho de Segurança Privada pode ter aqui um papel a desempenhar, na medida em que pode emitir um conjunto de recomendações à tutela e, de alguma forma, despertar a atenção dos decisores para este problema. No entanto, mais uma vez, é ao poder executivo que compete garantir que a Lei é cumprida. 5 Essa questão deve ser colocada a quem de direito, seja aos reguladores, seja a uma dessas novas empresas. Neste mercado, quem atua com visão de longo prazo e cumpre com as normas tem dificuldade em competir de igual para igual com quem não se pauta pelo mesmo rigor e ética. 7 Portugal não é uma região de Espanha e, por isso, não entendemos a constante comparação com o ordenamento jurídico do país vizinho. A questão deve ser colocada de outra forma, ou seja, porque será que a Espanha, nesta matéria, diverge dos restantes Outro aspeto que distorce a sã concorrência tem sido a aplicação perversa das medidas de estímulo à economia países da Europa? Provavelmente, a explicação estará na sua realidade política e social. 8 Este é um tema muito sensível. Infelizmente, os padrões de seleção e recrutamento das empresas de não são todos iguais. Na Securitas, por exemplo, não abrimos mão do rigor e exigência no recrutamento dos nossos colaboradores, implementando os testes (físicos e psicológicos) necessários para garantir que os profissionais que colocamos nas instalações dos clientes são os mais indicados e preparados para dar resposta às necessidades e desafios concretos que vão enfrentar. Há outras empresas, por outro lado, que não se pautam pelo mesmo nível de exigência. É justo e saudável existir uma dualidade de critérios e uma empresa que investe na formação dos seus quadros vir a ser obrigada a integrar pessoas que não se enquadram nos parâmetros de seleção com os quais se rege? Se tivermos em conta as últimas notícias sobre o setor e a informação que consta do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), relativamente à infiltração de organizações criminosas e a prática de atividades ilícitas no setor da privada, qual é a racionalidade deste conceito de transmissão de estabelecimento? Estamos a falar de uma atividade fortemente regulamentada, com bastantes requisitos técnicos (meios diretos e indiretos), em que um contrato de prestação de serviços nunca poderá ser considerado uma Unidade Económica. O serviço de vigilância aeroportuária é de uma exigên- 9 cia enorme e as empresas que atuam nesse setor de atividade sabem (ou devem saber) que não pode haver lugar a facilitismos no que diz respeito aos profissionais que colocam nesse teatro de operações. Em 0, estavam licenciadas 9 empresas de seguran- 0 ça privada, que empregavam aproximadamente 6.800 pessoas. As dez maiores, nas quais se inclui a Securitas, empregam cerca de 7% dos trabalhadores do setor. Relativamente ao volume de negócios destas 9 empresas, a informação disponibilizada aponta para um valor de faturação, em 0, na ordem dos 700 milhões de euros. O que se depreende destes números é que, apesar de ser um mercado muito maduro e com vários operadores, a maior fatia do mercado está na mão de 0% dos players. No entanto, é previsível virmos a assistir, no médio longo prazo, a um fenómeno de consolidação e concentração do setor, movido por algumas operações de fusões e aquisições. É previsível que isso possa a- contecer. Prevemos que, nos próximos dois a três anos, se venham a verificar operações de fusões e aquisições, não necessariamente via Management Buy Out (MBO). O que mais contribui para a divisão do setor é a existência de empresas incumprido- ras, que contam com a inércia na atividade de supervisão, em confrontação com as empresas cumpridoras que são fortemente penalizadas e que, cada vez mais, têm dificuldade em se afirmar no mercado.

0 quinta-feira 6 de julho de 05 www.oje.pt - Relativamente à nova Lei da Segurança Privada e às práticas do setor, a questão que se coloca é se a norma ficou aquém do expectável ou está ao nível das regras europeias? - Continuam a existir queixas de ausência de fiscalização por parte da tutela nas empresas de privada ao nível do ACT, da AT e da Segurança Social, o que tem favorecido empresas de vão de escada. O que explica esta situação? - Justifica-se o Conselho de Segurança Privada tal como funciona? - Considera que continua a ser fácil e relativamente pouco exigente a instalação de empresas de privada? Considera que o Conselho de Segurança Privada deveria analisar novos alvarás e eventualmente retirar alvarás por más práticas? 5 - Sendo precisos 50 mil euros para criar uma empresa de privada e sendo necessários 0 mil euros por alvará, o que poderá justificar a criação de novas empresas? 6 - O explica a existência de dumping no setor e qual a responsabilidade das Autoridades reguladoras e inspetivas? CEO DO GRUPO 05 EMPRESA DE SEGURANÇA Jorge Silva Carvalho A nova Lei de Segurança Privada constituiu sem dúvida um esforço de qualificação do setor, mas é uma lei demasiado complexa e exigente não só para os operadores, mas também para a entidade que fiscaliza, que não disporá dos meios para esclarecer e atuar sobre esses operadores. Na elaboração da lei ter-se-á procedido a uma quase cópia da lei espanhola, não tendo em conta os problemas específicos da atividade em Portugal, nomeadamente o próprio grau desenvolvimento do setor. Assim, a Lei de Segurança Privada coloca às empresas um conjunto de ónus e encargos técnicos e administrativos, a que acresce um quadro contraordenacional demasiado exigente para infrações menores que, em muitos casos, resultam de lapsos ou dificuldades administrativas das empresas e um volume também muito elevado de custos resultante da aplicação de taxas para praticamente tudo, inclusive a atos que resultam na prática da criação de emprego e da formação de quadros. A situação que descreve assume contornos de elevada gravidade, pois continuam a proliferar empresas, sobretudo as que entram no mercado, mas também algumas que nele se mantém, e que, não sendo de vão de escada, como referiu, não comportam-se como empresas de vão de escada, com uma lógica de aumento a todo custo da quota de mercado utilizando expedientes que variam entre o ilegal e as práticas que conduzem à simples destruição de valor, desqualificando o mercado da privada e reduzindo-o ao fornecimento de uma commoditie. As empresas que tentam atuar dentro do quadro legal existente e que constituem a coluna vertebral da privada em Portugal, não só pelo seu tempo de permanência no mercado mas também pela quota de mercado e pela qualidade do seu serviço, em particular as empresas de capital nacional, face a estas constantes práticas abusivas, têm visto os seus resultados prejudicados com o inerente reflexo no seu contributo para o Estado e na criação de emprego qualificado. A prática da apresentação de propostas com valores abaixo do respetivo preço de custo, no setor da privada, não é uma temática nova. No entanto, a consequente degradação na prestação de serviços por algumas empresas, advinda dessa má prática, tem tido reação por parte dos operadores económicos, das associações representativas do setor, da autoridade para as condições do trabalho de algumas entidades adjudicantes e dos tribunais administrativos. Como consequência dessa crescente preocupação, o Estado português tem dado também, paulatinamente, sinais de mudança na sua política de contratação, começando a rejeitar propostas abaixo do preço de custo. A preocupação destes agentes não se limita aos efeitos negativos na economia dos trabalhadores ou à usurpação das receitas fiscais do Estado. Considerando a atual conjuntura mundial e em particular a de Portugal, existe uma crescente apreensão com a vulnerabilidade a que alguns setores estratégicos e infraestruturas críticas estão expostos. Tenho dúvidas na sua utilidade como órgão meramente consultivo, sobretudo atendendo à limitada forma de representação no mesmo. Julgo que poderia ter competências reforçadas, nomeadamente em matéria de atribuição e cassação de alvarás, bem como um papel mais relevante na reflexão sobre o futuro do setor. Muito embora a nova lei tenha apostado em promover fatores qualificadores do exercício da privada, nomeadamente ao nível da formação dos quadros que exercem estas funções, continua a ser pouco exigente em relação à entrada de novas empresas no mercado. Uma atividade que se assume como complementar do serviço público deveria ter um conjunto mais significativo de barreiras à entrada. Pessoalmente, sou a favor da exigência de um conjunto de atributos, exigências e de competências na prestação de serviços integrados de consultoria, vigilância estática, eletrónica, pessoal, com canídeos, formação, etc. consagrados num alvará único. Quanto à cassação de alvarás em consequência de práticas ilegais, provadas, não podia ser mais a favor, mas, para isso, é necessário reforçar a fiscalização. Esse reforço deveria passar por ações conjuntas das diversas entidades fiscalizadoras sobre as empresas que mais prevaricam em questões fundamentais, evitando as ações de fiscalização que recaem invariavelmente sobre as empresas que ainda conseguem pagar as contraordenações aplicadas por motivos menores. 5 Não tenho a certeza de que seja preciso tanto, infelizmente. Não é só uma questão do valor exigido. Esse valor tem de ser o reflexo de um pressuposto de maior exigência na prestação de serviços de privada. Não compreendo qual a motivação que possa presidir à constituição de empresas de privada que não seja ser um operador de qualidade nesta indústria. Neste âmbito, continua a ser preocupante a forma como se admitem, e admitiram, no passado, certas empresas, fruto, por exemplo, de uma política precipitada de legalização de determinadas atividades ligadas a estabelecimentos de diversão noturna. Pessoalmente, sou contra a 7 autorização para o uso generalizado de armas de fogo pela privada, exceto nos casos qualificados em que tal se justifique: transporte de valores, pessoal, etc. No entanto, não me chocaria se a Lei viesse a permitir outro tipo de equipamentos que poderiam ser utilizados pela privada, na maior parte dos casos em defesa pessoal, tal como não me chocaria uma maior abertura na utilização de canídeos no espaço público. É uma questão que tem sido 8 empolada por quem tem uma visão do setor como um setor não qualificado, onde é indiferente ser-se de uma empresa ou de outra ou por aqueles que, numa lógica de oportunismo, querem conquistar clientes, normalmente utilizando estratégias de dumping, e não ter o problema de contratar vigilantes já formados e qualificados por outras empresas que exercem a sua atividade de forma mais profissional. Essa questão também tem sido levantada por algumas novas empresas que pretendem entrar em setores especializados para os quais é exigida qualificação específica aos vigilantes, julgando mais fácil cumprir as exigências dos cadernos de encargos ficando com os colaboradores de outras empresas. A questão da perda de empregos é uma falsa questão pois, como se comprova, o mercado tem sabido digerir essa situação. A maior perda de empregos é provocada por empresas que competem deslealmente, utilizando estratégias de dumping e outras estratégias de grupo como o bundling e a viciação de preços de transferência. Outras empresas acabam por provocar um efeito semelhante em resultado das estratégias de marketing de curto prazo que desenvolvem, em particular a oferta sistemática de serviços em eventos com alguma notoriedade ou exposição mediática. Estas práticas, infelizmente, levaram a que muitas empresas de referência, numa fase inicial e numa lógica de quase legítima defesa, reagissem da mesma forma, simplesmente para não perderem clientes. A 05 preconiza um posicionamento diferente e tem desenvolvido um conjunto de iniciativas junto de entidades oficiais, nomeadamente do Provedor de Justiça e do ACT, bem como em todos os concursos públicos no âmbito do acordo quadro da ESPAP, alertando para essas práticas sistémicas ilegais e para a necessidade de aclarar a legislação em relação às mesmas. A Esegur é uma estimável 0 empresa, bem dirigida, e uma das empresas de referência do

www.oje.pt quinta-feira 6 de julho de 05 7 - Contrariamente à lei espanhola, o que justifica que a legislação portuguesa impeça o uso de armas pela privada? 8 - O contrato coletivo na generalidade dos países europeus prevê uma cláusula de transmissão de estabelecimento (para o caso do cliente mudar de prestador de serviço). Qual a sua opinião? A ausência desta cláusula não provoca despedimentos e extinção de postos de trabalho? 9 - Um exemplo para eventual aplicação daquela cláusula seria os aeroportos, onde o pessoal é altamente especializado e onde uma eventual alteração do prestador de serviço poderá significar despedimento de trabalhadores imprescindíveis na operação. Qual o seu comentário? 0 - Faz sentido falar-se de fenómenos de absorção nesta indústria, com exemplos como a Esegur? - Faz sentido falar-se em concentração de empresas, ou de MBO, perante uma nova realidade que é o facto de companhias cujos acionistas estão próximos da idade da reforma? - O facto de existirem duas associações do setor não divide a indústria? mercado. As questões acionistas da Esegur são assunto da Esegur. Pessoalmente, espero que, qualquer que seja a solução, seja uma boa solução para a Esegur e para o mercado. Essa questão só será um problema se uma empresa desta dimensão vier a ser adquirida por entidades que preconizem ainda mais disrupções na indústria, nomeadamente por não serem portadoras de projetos financeiramente consistentes, repetindo erros já cometidos em outras empresas. O mercado da privada em Portugal, no seu estado atual, é claramente um mercado maduro que beneficiaria com alguma concentração. No entanto, provavelmente, em vez de falar de concentração, falaria de regulação e compliance no mercado pois, se muitas empresas cumprissem o quadro normativo e este fosse qualitativamente mais exigente à entrada de empresas no mercado, produzir-se-ia uma efetiva redução do número de empresas. Nestas alturas de alguma crise e até de desregulação, existem sempre possibilidades de mudança no mercado pela via da aquisição, fusão e até pela falência de empresas, mas parece-me, também, que é um momento em que proliferam os boatos e em que algumas empresas, outsiders ou interessadas em crescer a todo o custo, fazem crescer esses boatos. Essas empresas são relativamente fáceis de identificar, pois constituem verdadeiras operações de marketing tentando compensar dessa forma a fragilidade do seu projeto. E esse é ainda outro ângulo do problema... Estrategicamente, ficaria satisfeito se este momento pudesse propiciar a criação de uma grande empresa de capitais nacionais que resultasse do esforço de empresas de referência no setor e que ombreasse com as empresas multinacionais. No que respeita às empresas, existem mais do que duas, mas não me parece que forçosamente dividam a indústria. Claro que seria preferível uma estrutura mais simplificada, mas o importante é existirem associações efetivamente representativas das empresas de referência, que nem sempre são as maiores, com representação paritária, que continuem a pugnar pela qualificação e pelas boas práticas do setor. CEO DA ARKO SECURITY Jorge Leitão Poderia ter havido mais trabalho com os intervenientes, designadamente com as associações do setor. O grande objetivo, que era uma lei que realmente fosse um instrumento de dignificar o setor permitindo irradiar as más práticas, ficou aquém do esperado. O objetivo de dotar a privada de instrumentos de intervenção ficou, igualmente, curto, embora a atual lei tenha dado alguns passos positivos. O importante é a tutela fazer cumprir a lei por todas as empresas e os sinais não são negativos. Foram dados passos, é injusto não o reconhecer. Mas a fiscalização sabe perfeitamente que cumpre e quem não cumpre e há sinais de atuação firme e corajosa. Justifica-se um regulamento mais assertivo. Mais consultivo e participativo. Por exemplo, as novas concessões de alvarás deveriam ter o parecer positivo do CSP, aos estão as instituições que bem conhecem o setor. Sim, sem dúvida. Quanto a retirar alvarás, no mínimo emitir pareceres nesse sentido e aconselhar e solicitar ações de fiscalização mais concretas e cirúrgicas. Sem dúvida nenhuma que o papel do CSP pode e deve ser mais relevante e determinante, pois quem o integra conhece muito bem o setor e que a dignificação do mesmo. 5 Em teoria, o espírito empreendedor dos empresários, mas deve haver a fiscalização que permita ver se tudo, desde o primeiro momento, está a ser cumprido. Se a assim for, nada a comentar. A Arko Security foi muito fiscalizada; assim sejam todas as empresas que nascem ao abrigo desta lei. 7 Existe um conjunto de entidades e empresas que pensam que a utilização de arma deve estar apenas permitida as entidades públicas. Curioso que os guardas noturnos possam fazê-lo e as mesmas pessoas nada digam. Eu defendo claramente um papel diferente para a segunda privada em Portugal, não defendo uma visão redutora ou conservadora. A boa privada, com uma lei exigente e boa fiscalização, com regras deveria poder usar determinado tipo de armamento. Sou e somos claramente a 8 favor da transmissão de estabelecimento com os recursos humanos respetivos, de acordo com regras claras, e subscrevo, no essencial, a lei espanhola. Há que dar passos na defesa do setor e dos próprios vigilantes. Aqui as grandes empresas do setor demostram uma clara falta de sensibilidade e medo de dar passos para dignificar o setor. Um dia que uma grande empresa perca um cliente com centenas de vigilantes, não defenda a transmissão de estabelecimento e até venha a dificultar a passagem desses vigilante s para a nova empresa estamos perante uma falta de visão e consideração pelo setor e os que nele trabalham. Mais se vier fazer o choradinho dos despedimentos - aqui é o grande momento de contradição. 9 É um caso concreto. Se numa próxima consulta nos aeroportos, as empresas que meste momento prestem esses serviços praticarem dumping ou fizerem alguma tipo de despedimentos de colaboradores, a responsabilidade é das referidas empresas que teimam em não querer entender o impacto da cláusula de transmissão de estabelecimento. É importante que isto fique claro para todos. 0 O que não fará sentido é a CGD ter 50% de uma empresa de Transporte e Tratamento de Valores e não ir o mercado há mais de anos, isso não faz sentido e deveria ser algo a alterar, porque, no fundo, a CGD é uma entidade que tem o Estado como principal acionista. Já o disse no passado e continuo a dizê-lo. Disse-o no Ministério das Finanças e na Administração da CGD, sem êxito. Tenho de respeitar esta opção. Vamos ver o que nos reserva o futuro. O setor tem resistido a fenómenos de concertação o que mais acontece é que existem máximo /5 empresas com expressão, mas admito que, nos próximos dois a três anos, venham a e- xistir, no setor, algumas operações de concentração e eventuais entradas de novos players. Seria desejável. Quanto às empresas cujos a- cionistas podem estar numa idade avançada, prefiro não opinar, mas cada caso será um caso. O setor é muito conservador, infelizmente, até alguns dos mais novos se acomodam, mas há exceções. No mínimo, fragiliza. Somos a favor de uma forte e bem estruturada Associação. Funcionamento profissional, uma única, mas infelizmente não tem sido possível, tem que ver com a visão conservadora de que falei. Mas lá iremos um dia. A Arko Security não pertence a nenhuma Associação, não se revê em nenhuma das duas, mas estaria disponível para trabalhar numa única Associação. De qualquer modo, reconhece o empenho positivo do Eng. Ângelo Correia e do Dr. Rogério Alves à frente da AES nos últimos anos, em condições pouco fáceis e num ambiente nem sempre adequado e cheio de condicionalismos, empenho nem sempre com os resultados merecidos por limitações internas. Ainda recentemente, o presidente da AES teve de esclarecer um comentário menos ajustado e infeliz dum seu colega numa conferência de empresa. O que importa é entender porque a maioria dos objetivos traçados e bem conhecidos não são geralmente alcançados.

quinta-feira 6 de julho de 05 www.oje.pt - Relativamente à nova Lei da Segurança Privada e às práticas do setor, a questão que se coloca é se ficou aquém do expectável ou está ao nível das regras europeias? - Continuam a existir queixas de ausência de fiscalização por parte da tutela nas empresas de privada ao nível do ACT, da AT e da Segurança Social, o que tem favorecido empresas de vão de escada. O que explica esta situação? - Considera que continua a ser fácil e relativamente pouco exigente a instalação de empresas de privada? Considera que o Conselho de Segurança Privada deveria analisar novos alvarás e eventualmente retirar alvarás por más práticas? - O explica a existência de dumping no setor e qual a responsabilidade das Autoridades reguladoras e inspetivas? PRESIDENTE EXECUTIVA DA ESEGUR Maria da Glória Morão Lopes Em linhas gerais, a nova lei da Segurança Privada pretende criar um maior nível de exigência no exercício da atividade e, nesse sentido, apresenta-se francamente positiva. No nosso entendimento, a nova Lei enquadra-se ao nível da exigência europeia, tanto mais que os requisitos legais no que respeita às instalações e equipamentos das empresas de privada baseiam-se nas normas técnicas europeias. Na verdade, esta nova legislação teve como objetivo harmonizar as normas técnicas aplicáveis e os requisitos exigidos no sentido de garantir a qualidade dos serviços prestados. Por outro lado, com o objetivo de aumentar os níveis de e de eficácia da prevenção criminal, foram introduzidas medidas de específicas, a serem aplicadas por instituições de crédito, sociedade financeiras e outras entidades sujeitas a riscos específicos. Esta nova legislação veio implementar alterações profundas na formação de profissionais de privada e nas empresas de formação, nomeadamente no que respeita à definição de requisitos tendo em vista a adaptação às normas comunitárias de reconhecimento e verificação de qualificações profissionais. De igual modo, foram definidos os requisitos para o exercício desta atividade pelo pessoal de privada, com criação e clarificação das especializações, das suas funções, formações profissionais e incompatibilidades. A Nova Lei da Segurança Privada constituiu um desafio, não só, para as empresas de privada pela exigência na implementação dos novos requisitos legais, nomeadamente no que respeita a requisitos legais das instalações, de equipamentos e da formação profissional, como também para a própria PSP Departamento de Segurança Privada, que teve acompanhar este processo e responder a inúmeras duvidas apresentadas pelas mesmas. Todavia, se não existir um controlo sobre o seu integral cumprimento, criar-se-ão oportunidades para a concorrência desleal. Não basta legislar, é necessário garantir um urgente e eficaz controlo no cumprimento da legislação. O mercado da privada está, atualmente, em contração, fruto de uma crise económica sem precedentes em que o único critério que parece ser tido em conta por parte de quem adquire os serviços de privada é o do mais baixo preço. Ora, quando não existe controlo e fiscalização no cumprimento da legislação, as empresas com menor capacidade financeira e, acima de tudo, sem qualquer rigor no exercício da sua atividade terão oportunidade de praticar dumping, incumprindo, não só a legislação que regula este sector, como a legislação laboral aplicável. Na verdade, com a nova legislação, foram estabelecidos requisitos legais para as instalações e meios materiais e humanos das entidades de privada. Todavia, os requisitos exigíveis vieram criar dificuldades de implementação, nomeadamente, no que respeita aos requisitos aplicáveis às instalações e equipamentos exigíveis, às situações existentes de empresas que vêm legalmente desenvolvendo as suas atividades há vários anos, como é o caso da ESEGUR, que exerce a sua atividade há anos, e que se viram constrangidas a alterar as estruturas das suas instalações como se estivessem agora a se organizar para iniciar atividade para efeito de obtenção de alvarás. Com o apoio e a colaboração de todos os envolvidos neste processo, em especial as Associações das Empresas de Segurança e o Departamento de Segurança Privada da PSP, foi possível ultrapassar muitas dificuldades de interpretação na legislação no que respeita à sua implementação, bem como, da adaptação das empresas à nova legislação. Com a nova legislação, não é de forma alguma fácil criar uma empresa de privada, obviamente a exigência ao nível de requisitos legais difere e aumenta de acordo com o tipo de Alvará para a atividade que se pretende desenvolver. O objetivo desta Tem-se verificado que o Estado e o setor privado contratam cada vez mais empresas de que, porque não cumprem as suas obrigações laborais (liquidam valores não declarados, recorrem excessivamente aos incentivos à contratação), conseguem praticar preços muito baixos, uma vez que prestam o serviço por um preço inferior ao seu custo direto e indireto nova legislação consistiu, precisamente, em garantir a qualidade neste tipo de serviço e dignificar o exercício da profissão de profissional de privada. Quanto ao Conselho de Segurança Privada, salvo melhor opinião, não está nas suas atribuições a fiscalização do sector, entregue atualmente à PSP, mas sim a análise do setor em geral, nas mais diversas vertentes, nomeadamente no que respeita à implementação da legislação, à atuação das empresas de privada, da PSP e à evolução das fiscalização e contraordenações. Têm sido, ao longo deste últimos anos, denunciadas, pelas Associações de Empresas de Segurança, práticas de dumping neste setor. Na verdade, existem neste momento, em Portugal, empresas de privada a praticar dumping, prestar serviços de por preços abaixo do custo desses mesmos serviços. São inúmeras as queixas dos associados das referidas Associações, sobre concursos dos quais foram excluídos por respeitarem uma recomendação da Autoridade para as Condições no Trabalho (ACT) relativamente aos preços a praticar. Na verdade, tem-se verificado que o Estado e o setor privado contratam cada vez mais empresas de que, porque não cumprem as suas obrigações laborais (liquidam valores não declarados, recorrem excessivamente aos incentivos à contratação), conseguem praticar preços muito baixos, uma vez que prestam o serviço por um preço inferior ao seu custo direto e indireto. Segundo uma recomendação da ACT, de abril de 0, o custo mensal da vigilância a um posto durante horas, todos os dias do ano, é de cerca de seis mil euros. Este valor inclui os custos diretos com o trabalho, como salários, férias, subsídios e taxa social única, bem como os custos indiretos como formação, seguros, fardamento, coordenação e controlo operacional. Muitas são as empresas que apresentam valores, em proposta comerciais muito abaixo daquela recomendação, na ordem dos quatro mil euros. Na verdade as fiscalizações da ACT e da PSP não têm sido eficazes sobre esta matéria, uma vez que a verificação e controlo vão para além de um simples mapa de férias, horário de trabalho, cartão ou farda, formalismo e requisitos fáceis de aferir. Todavia, a verificação desta prática de dumping exige uma análise em sede de fiscalização mais profunda, ou seja à própria sede e departamentos de apoio das empresas de visadas, nomeadamente pela verificação e análise dos contratos de prestação de serviços. A Autoridade Tributária e a Segurança Social não têm tido qualquer envolvência neste setor, ao nível da respetiva fiscalização.