UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS CEJURPS CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA PROTESTOS DE TÍTULOS DE CRÉDITO TAÍS ABREU AMÁBILE Itajaí(SC), abril de 2006
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO PROTESTOS DE TÍTULOS DE CRÉDITO TAÍS ABREU AMÁBILE Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor MSc. Jefferson Custódio Próspero Itajaí (SC), abril de 2006
2 Meus Agradecimentos: A Deus por tudo, mas principalmente, por ter iluminado meu caminho na conclusão deste trabalho. Ao meu namorado Hálisson, pelas palavras certas nas horas difíceis, pelo incentivo, compreensão e companheirismo; Aos meus colegas de trabalho, em especial ao Sandro, que me auxiliaram em todos os momentos que necessitei. Agradeço ao Professor Jefferson Custódio Próspero, pela paciência e ajuda na elaboração deste trabalho.
3 Este trabalho dedico: Aos meus pais, João Carlos e Elaine, pelo grande exemplo de dignidade, princípios e moral, pelo amor e carinho;.
4 PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, elaborada pela graduando Taís Abreu Amábile sob o título PROTESTO DE TÍTULOS E OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA, foi submetida em 11 de maio de 2006, à Banca Examinadora composta pelos seguintes Professores: MSc. Jefferson Custódio Próspero (Orientador e Presidente da Banca), MSc. Eduardo Erivelto Campos (Membro) e MSc. José Silvio Wolf (Membro) e aprovada com a nota 10,0 (dez). Itajaí (SC), 23 de maio de 2006 Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação de Monografia Prof. MSc. Jefferson Custódio Próspero Orientador
5 DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí (SC), 23 de maio de 2006. Taís Abreu Amábile Graduando
6 ROL DE CATEGORIAS Ato notarial: Atos elaborados pelo Notário em seu Tabelionato. 1 Apontamento: Descrição das caracteríticas do título ou documento de dívida em um livro de protocolo. 2 Apresentante: Pessoa responsável a apresentar o título ou documento de dívida ao Tabelião com a finalidade de exteriorizar a impontualidade da obrigação. 3 Credor: Pessoa que teve sua obrigação descumprida, detentor do crédito. 4 Declaração de Anuência: Documento fornecido pela pessoa que se figura como credor, dando total quitação da dívida. 5 Desistência: Procedimento que possui o apresentante de retirar o título ou documento de dívida do Tabelionato, antes que seja lavrado o protesto ou ainda que o devedor se manifeste, liquidando o título ou sustando- judicialmente. 6 1 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 2 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial - Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997.1. ed. São Paulo: Frater et Labor Edições Ltda, 2001. 3 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 31. 4 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito Ltda, 1999. 5 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito.2. ed. Ouro Fino: Edipa, 1999.
7 Devedor: Pessoa que descumpriu com sua obrigação. 7 Documentos de dívida: Documentos que alicerçam obrigações, líquidas, certas e exigíveis. 8 Intimação: Procedimento que dá ciência ao devedor de que sua obrigação descumprida está em cobrança no Tabelionato. 9 Inadimplência: Estado daquele que não cumpriu com as obrigações impostas. 10 Instrumento de protesto: Documento emitido para exteriorizar o descumprimento da obrigação. 11 Lavratura do Protesto: Ato público que concretiza a impontualidade do devedor. 12 Obrigação: Vínculo jurídico entre duas pessoas, onde uma fica obrigada com a outra a satisfazer algo tratado. 13 Pagamento: Cumprimento da obrigação. 14 6 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 50. 7 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, 2. ed. Ouro Fino: Edipa, 1999. 8 ABRÃO. Carlos Henrique. Do Protesto, p. 26. 9 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto,p.34. 10 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p.67. 11 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 52. 12 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 52. 13 GOMES, Orlando. Obrigações.13.ed.Rio de Janeiro: Forense,2000.
8 Protesto: Ato pelo qual se exterioriza a inadimplência do devedor. 15 Protesto Cambiário: Ato praticado pelo Notário ou Tabelião. 16 Sustação: Medida Judicial com intuito de evitar a efetivação do protesto. 17 Tabelião: Oficial público que exerce seu ofício em um Tabelionato de Notas e Protestos de Títulos. 18 Títulos de crédito: Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. 19 Tríduo Legal: São os três dias úteis contados para a procedência da efetivação do protesto. 20 14 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 44. 15 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.19. 16 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 13. 17 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.58. 18 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.67. 19 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.24. 20 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.73.
9 SUMÁRIO RESUMO...11 INTRODUÇÃO...12 CAPÍTULO I...16 NOÇÕES SOBRE PROTESTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO...16 1.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO PROTESTO...16 1.2 CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E COMPETÊNCIA...18 1.3 LOCAL E DESTINATÁRIO DO PROTESTO...22 1.4 PROTESTO COMO MEIO ASSECURATÓRIO AO DIREITO DO CREDOR.26 1.4.1 Protesto necessário...27 1.4.2 Protesto facultativo...28 1.4.3 Protesto especial para fins de falência...29 1.4.4 Protesto por falta de pagamento...31 1.4.6 Protesto por falta de devolução...35 CAPÍTULO II...37 PROCEDIMENTOS QUE ANTECEDEM O ATO DO PROTESTO E SUA FORMALIZAÇÃO...37 2.1. DISTRIBUIÇÃO...37 2.2 DA APRESENTAÇÃO E DO APONTAMENTO...40 2.3 DA INTIMAÇÃO...42
10 2.3.1 Intimação por edital...45 2.4 DA MANIFESTAÇÃO DO DEVEDOR...47 2.4.1 Sustação do protesto...47 2.4.2 Do pagamento...51 2.4.3 Da desistência do protesto...56 CAPÍTULO III...59 DA LAVRATURA DO PROTESTO, PRAZOS E CANCELAMENTO...59 3.1 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA APONTAMENTO DO PROTESTO...59 3.2 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA LAVRATURA DO PROTESTO PELA LEI Nº 9.492/97....61 3.3 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA LAVRATURA DO PROTESTO PELO CÓDIGO DE NORMAS DE SANTA CATARINA...64 3.4 DA LAVRATURA DO INSTRUMENTO DE PROTESTO...66 3.5 DO CANCELAMENTO DO PROTESTO...68 CONSIDERAÇÕES FINAIS...74 REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS...80
11 RESUMO A presente monografia versa sobre o instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida. O protesto teve inicio com o surgimento do Código Comercial 21, mas somente a partir de 1908 foi que a matéria passou a ser regida por outras legislações. Sua inovação foi trazida com o advento da Lei 9.492/97 22, pois foi ela quem trouxe uma legislação específica sobre o instituto, ditando regras atinentes à competência e regulamentando os serviços a ele referentes. Com o surgimento da Lei em tela houve uma inovação para o instituto do protesto, oferecendo oportunidade de maior compreensão da matéria por vir a ser relatada de maneira mais abrangente. Cabe observar que em Santa Catarina a matéria é tratada também pelo Código de Normas do Foro Extrajudicial 23, onde em um de seus artigos dispõe que o tríduo legal começa a contar da intimação do devedor, entrando em contradição com a Lei de Protesto 24, em cujo texto está disposto que o tríduo legal será contado a partir da protocolização. Sob este prisma é que está focado o trabalho, qual seja, apresentar as divergências existentes entre as duas legislações. 21 BRASIL, Código Comercial.Lei nº 556 de 25 de junho de 1850. 22 BRASIL, Código Comercial. Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997. Lei de Protestos de Títulos. 16.ed.São Paulo: Saraiva. 2003. 23 SANTA CATARINA. Código de normas do foro extrajudicial de Santa Catarina. Florianópolis: Tribunal de Justiça, 2005. 24 Doravante Lei de Protestos.
12 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objeto o protesto de títulos de crédito, instituto disposto na Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997 25. Como objetivo, institucional, produzir uma Monografia para obtenção do grau de Bacharel, pela Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI. Como objetivo geral, analisar os procedimentos necessários à concretização ao ato do protesto, sua devida efetivação, bem como a anulação de seus efeitos. Como objetivo específico, verificar quais foram os benefícios trazidos pela Lei de Protestos 26 e seu conflito com o Código de Normas do Foro Extrajudicial do Estado de Santa Catarina, bem como o posicionamento da doutrina sobre o assunto. 27 O enfoque principal deste trabalho é enfatizar a divergência de normas existentes entre a Lei de Protestos 28 e o Código de Normas de Santa Catarina. 29 Com este trabalho, buscar-se-á demonstrar este conflito, explanando suas diferenças, como a existente a respeito do tríduo legal, onde a Lei Federal dispõe que o prazo para futura efetivação do protesto é de três dias contados da protocolização, contrapondo o Código de Normas de Santa Catarina 30 menciona que o prazo começaria a fluir a partir da intimação feita ao devedor. Demonstrar-se-á a desarmonia existente entre vários doutrinadores sobre algumas matérias aludidas, em especial: qual a finalidade do protesto, se é exteriorizar a inadimplência, tendo o direito de exigir o cumprimento da obrigação, ou se é somente constranger o indivíduo perante a sociedade; 25 Lei de Protestos. 26 Idem. 27 Código de Normas de Santa Catarina. 28 Lei de Protestos. 29 Código de Normas de Santa Catarina. 30 Idem.
13 sobre a prescrição do cheque; sobre os procedimentos que segue o Tabelião até a feitura do protesto. Além da matéria dos prazos e da lavratura, estudar-se-á o cancelamento do protesto, instituto através do qual, com a apresentação da documentação correta ao Tabelionato, é possível ao devedor anular os efeitos do protesto, resgatando assim seu crédito perante a sociedade. Matéria que causa grandes transtornos ao Oficial por não ser clara no que diz respeito a documentação necessária para sua efetivação. Para iniciar a investigação adotou-se o método indutivo 31, operacionalizado com técnicas do referente 32, da categoria 33, dos conceitos operacionais 34 e da pesquisa de fontes documentais. Para relatar os resultados da pesquisa, utilizou-se a metodologia proposta por Colzani 35 e a apresentada pela NBR/ABNT 36. Para a feitura do trabalho monográfico, foram apreciados Leis, Decretos, Norma Estadual e doutrinas referentes a matéria, dando especial destaque a doutrina de Wolffenbutel 37 e Parizatto 38. hipóteses: A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as seguintes 31 Pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e coleciona-las de modo a ter um percepção ou conclusão geral (cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito.7.ed.rev.atual. ampl. Florianópolis: OAB/SC, 2002.P.104. 32 Explicitação prévia dos motivos, dos objetivos e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa(cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito,p.62). 33 Palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia(cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p.31). 34 (...) é uma definição para uma palavra e expressão, com desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos(cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p.45). 35 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico. Curitiba: Juruá, 2001. 36 Norma Brasileira de Referência. 37 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, 1 ed. São Paulo: Frater et Labor Edições Ltda, 2001. 38 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, 2.ed. Ouro Fino: Edipa, 1999.
14 1. Ainda que um direito do credor, com o intuito de cobrar a dívida não paga, o protesto é meio de coação e constrangimento ao devedor perante a sociedade; 2. A cobrança de juros na forma determinada pelo Código de Normas Estadual fere o dispositivo constante da Lei Federal; 3.O tríduo legal previsto na Lei de Protestos deve ser contado na forma prevista no Código de Normas do Estado de Santa Catarina pois este é mais benéfico ao devedor. capítulos: Para melhor aparelhar o trabalho, este foi dividido em três O primeiro cuidará de apresentar ao leitor as bases introdutórias à compreensão ao instituto do protesto, através de seu desenvolvimento histórico, seu conceito, sua natureza jurídica, discorrendo duas teses distintas, a de ter ele o intuito de exteriorizar a inadimplência e a do constrangimento legal do devedor. Ainda versar-se-á o primeiro capítulo sobre a competência, sendo esta privativa do Tabelião de Protestos, seu local e destinatário, fazendo menção a regra sobre o local devido para lavratura do protesto de cheque, suas espécies, classificando-as quanto sua função: protesto necessário, facultativo e protestos especial para fins de falência; e quanto a natureza de sua solicitação: protesto por falta de pagamento, por falta de aceite ou ainda por falta de devolução. O segundo tratar-se-á sobre as diversas etapas que o título ou documento de dívida percorre até chegar a efetivação do protesto: sua distribuição, sua apresentação e seu apontamento. Ainda sobre sua intimação, tanto por remessa do oficial, como também da por edital. As manifestações do devedor a respeito de sua obrigação exigida, sustando-o ou liquidando-o, por fim sobre a desistência do protesto pelo apresentante. Finalmente, aludir-se-á o terceiro capítulo sobre o registro do
15 protesto, sua materialização através do instrumento de protesto e seus requisitos dispostos na Lei Federal 39. Sobre tríduo legal estabelecido pela Lei de Protestos 40, bem como o disposto no Código de Normas de Santa Catarina 41, enfocando o conflito existente entre eles. Discorrer-se-á enfim sobre a maneira de anular seus efeitos, através do cancelamento, relevante firmar que será tratado apenas sobre sua via administrativa. Nas considerações finais demonstrar-se-á uma sucinta síntese do trabalho monográfico, objetivando apresentar possíveis soluções, referentes aos conflitos expostos. 39 Lei de Protestos. 40 Idem. 41 Código de Normas de Santa Catarina.
16 CAPÍTULO I NOÇÕES SOBRE PROTESTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO 1.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO PROTESTO Para o desenvolvimento deste trabalho é necessário que se faça uma retrospectiva da história do surgimento do protesto até os dias atuais. É pressuposto essencial para que possamos compreender melhor este instituto e o surgimento da Lei nº 9.492 42, de 10 de setembro de 1997. O protesto cambial, segundo Saraiva citado por Pinheiro 43 [...] já era praticado no século XIV, pois conhecidos protestos realizados em 1335, estando equivocada a afirmação de que o protesto mais antigo fora lavrado em Gênova, a 14 de novembro de 1384. Confirma também Saraiva citado por Pinheiro 44, que A Breve Coll. notar. de Piza (1305) já incluía, entre as funções dos notários, a praesentatio e a protestatio litterarum, e que na França, há referências sobre o protesto no Edicto de Luiz XI, de 8 de março de 1462, e que a Alemanha tinha conhecimento sobre o protesto no século XVI. Segundo se pode observar, não existia nenhuma formalidade para sua realização, o que difere da atualidade. Battaglini citado por Abrão 45 afirma que, [...] o surgimento do instituto estaria descrito pela facultatividade do aceite na cambial, assumidos na sua concretização, o protesto compunha-se de três atos específicos: praesentatio litterarum, requisitio e protestatio, somente feito por notário, com os requisitos essenciais, conferindo ao portador todos os direitos em 42 Lei de Protestos. 43 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. 44 Idem. 45 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto,p.15.
17 relação aos co-obrigados, permitindo o conseqüente exercício do regresso. 46 De acordo com Abrão 47, no século XVI, a caracterização do descumprimento da obrigação traduzida pela relação do comércio, era realizada perante testemunhas, sob forma de contestatio, só mais tarde é que foi ganhar forma própria através da letra de câmbio, que simbolizava unicamente a falta do aceite 48. Este instituto no Direito Brasileiro teve inicio com o surgimento do Código Comercial 49 que dispunha sobre os protestos das letras de câmbio e a quem os competia. Somente a partir de 1908 é que tal assunto passou a ser regido por outras legislações, como o Decreto nº 2.044 50, ainda vigente, que além de passar a tratar sobre a matéria relativa a nota promissória, referia-se também as letras de câmbio, o que teve como conseqüência a revogação do Código Comercial de 1850 51. Pinheiro 52 mencionou que, surgiram também diversas leis como: a Lei Uniforme de Genebra 53, a Lei do Cheque 54, a Lei das Duplicatas 55, a 46 Direito de regresso: Extraído da obra de Abrão. Citação através de citação (cf. BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário jurídico de bolso: terminologia jurídica, p.338. Campinas: Bookseller, 2000 (Verbete Terminologia). 47 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito Ltda, 1999. 48 Tratar-se-á deste instituto no item 1.4.5. 49 Doravante Código Comercial. 50 BRASIL.Código Comercial. Decreto-lei n. 2044, de 31 de dezembro de 1908. Define a letra de câmbio e a nota promissória e regula as Operações Cambiais. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 51 Doravante Código Comercial. 52 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial,p.6. 53 BRASIL. Código Comercial. Decreto-lei n. 57.663, de 24 de janeiro de 1966. Promulga as Conversões para adoção de uma lei uniforme em matéria de letra de câmbio e nota promissória. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 54 BRASIL. Código Comercial. Lei n. 7.357, de 02 de setembro de 1985. Dispõe sobre o cheque e dá outras providencias. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 55 BRASIL. Código Comercial. Lei n. 5.474, de 18 de julho de 1968. Dispõe sobre as duplicatas e dá outras providências. 16.ed.São Paulo: Saraiva, 2003.
18 Lei de Falências 56 e também e a Lei que disciplinava especificamente o Cancelamento de Protesto. 57 Conforme Wolffenbuttel 58, apesar do aparecimento de todas essas leis, que ainda continuam em vigor, o nosso ordenamento jurídico só foi inovado com o advento da Lei nº 9.492 em 10 de setembro de 1997 59, pois somente ela foi quem trouxe uma legislação que tratasse especificamente sobre protesto de títulos e outros documentos de dívida, ditando regras atinentes à competência e regulamentando os serviços a eles referentes. No Estado de Santa Catarina para complementar tal instituto foi criado a Consolidação Normativa Notarial e Registral 60, que tratando do Foro Extrajudicial em sua terceira parte (artigos 518 a 1.052), veio traçar em seu Capítulo VII 61, normas referentes ao Tabelionato de Protestos de Títulos, dos artigos 953 a 1.050. 1.2 CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E COMPETÊNCIA A própria Lei nº 9.492 62, de 10 de setembro de 1997 define logo de início em seu artigo 1º, que Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida. Abrão 63 preceitua protesto como, Típico ato formal e de natureza solene, destinado a servir de meio probatório na configuração do inadimplemento, reveste-se o 56 BRASIL. Código Comercial. Decreto Lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências.16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 57 BRASIL. Código Comercial. Lei n. 9.492, de 10 de setembro de 1997. Lei de Cancelamento de Protestos. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 58 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.17. 59 Lei de Protestos. 60 Código de Normas de Foro Extrajudicial de Santa Catarina. 61 Código de Normas de Foro Extrajudicial. Capítulo VII Ofícios de Registro de Protesto arts. 953 a 1.050. 62 Lei de Protestos. 63 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.15.
19 protesto de qualidades próprias, as quais denotam o relacionamento com uma determinada obrigação sem a conseqüente responsabilidade a ela satisfeita. Menciona o mesmo autor 64 que, Priorizado na situação de ato extrajudicial, de espírito público, sempre na esfera formal que delineia sua concretização, o ato notarial tem uma eficácia que gera efeitos nas circunstâncias do padrão obrigacional, ou seja, o limite temporal estabelecido, quando determinado, restou desatendido. Assim entende-se como a exteriorização do descumprimento de uma obrigação, baseada na inadimplência de um negócio realizado, fundado em um documento escrito. Submetendo sua eficácia a forma legal, sob a responsabilidade de um delegado, neste caso o Tabelião de Protestos, que tem por obrigação cumprir com os procedimentos previstos em lei. Ceneviva 65 afirma que, [...] a lei os distinguiu, vinculando o primeiro (descumprimento) à obrigação de fazer ou de não fazer e o segundo (inadimplemento) à obrigação de pagar. Abrão 66 foi feliz e sensato ao definir a expressão [...] outros documentos de dívidas, estabelecendo que, [...] quaisquer títulos ou documentos que alicerçam obrigações, líquidas, certas, exigíveis, fazem parte dos indicativos instrumentalizados ao protesto, cujo exame primeiro de suas condições caberá ao Tabelião, formalizando o ato, ou recusando sua feitura. Portanto, o título ou documento de dívida sendo líquido, certo e exigível seriam cabíveis para o ato do protesto. Exemplos: Faturas de 64 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.15. 65 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 66 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.26.
20 cartões de crédito, Carta de garantia, contrato de financiamento e rotativo de crédito, carta de fiança, desconto bancário, etc. Menciona Almeida 67 que, protesto [...] objetiva tão-só caracterizar a impontualidade do devedor, não gerando qualquer outro direito senão o de constituir-se em prova da existência da mora, não sendo, por isso mesmo, imprescindíveis à propositura da ação quando se trata de obrigados principais. Abrão 68 preleciona que, Estruturada a forma específica na figura do enraizamento do protesto e seu típico elemento probatório, não é inexato afirmar que ele não gera direitos, não produz obrigações, somente instrumentaliza o inadimplemento e pelos informes representados na descrição da própria obrigação. Parizatto 69 afirma que, O protesto de títulos se faz como medida probatória de falta de cumprimento de determinada obrigação firmada em titulo de crédito ou outros documentos de dívida, pressupondo-se que esse tenha vencido e não tenha sido pago pelo devedor, tratando-se de ato extrajudicial realizado pelo Tabelionato de Protestos, sem qualquer dependência do órgão judiciário. Pires 70 chega à conclusão após estudar várias doutrinas, [...] que o protesto cambial é um simples meio de prova não gerando direitos nem obrigações na esfera do Direito. Da essência de todos os conceituados doutrinadores citados, não é gerada nenhuma obrigação no âmbito do Direito, pela mesma já ter 67 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, 18.ed. São Paulo: Saraiva, 1998. 68 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.19. 69 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.12. 70 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97). São Paulo: Malheiros, 1998.
21 sido gerada no momento em que as partes acordaram em realizar um negócio a elas pertinente, pois naquele momento o devedor admitiu o compromisso com o credor de satisfazer a obrigação, no prazo, praça e maneira entre eles pactuados. Havendo a inadimplência e o descumprimento, é por lógica que surge um direito pertencente ao credor de exigir que seja cumprida a promessa contida no título. Com outra linha de pensamento, entende Wolffenbuttel 71 que, o instituto do protesto é visto como um constrangimento legal do devedor, pois o ato tem em uma de suas características a publicidade. Desta forma, entende o doutrinador que o devedor fica exposto a sociedade, já que por conseqüência passa a ter restrições em Bancos, Comércios e a diversos atos praticados que possuam ligação com o seu C.P.F. (Cadastro de Pessoas Físicas), pois na efetivação do protesto, a informação é enviada a Órgãos de Proteção ao Crédito, como Serasa e S.P.C. (Serviço de Proteção ao Crédito). tem, Em um mesmo entendimento Darold 72 afirma que o protesto [...] a relevante função de constranger legalmente o devedor ao pagamento, sob pena de ter lavrado e registrado contra si ato restritivo de crédito, evitando, assim, que todo e qualquer inadimplemento vislumbre na ação judicial, a única providência formal possível. Sustenta Oliveira citado por Pires 73 que [...] o ato notarial do protesto tem como efeito imediato o abalo de crédito. Continua Oliveira citado por Pires 74 que, o dano ao crédito gera efeito jurídico profundo de natureza comercial, cabendo pedidos de indenizações ao beneficiário do titulo, apenas quando tirado indevidamente. Pelo que foi aludido, esta linha de pensamento entende que 71 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 22. 72 DAROLD, Ermínio Amarildo. Protesto Cambial: duplicatas x boletos. Curitiba: Juruá, 1998. 73 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.15. 74 Idem.
22 protesto gera conseqüências negativas ao devedor, pois com sua devida efetivação seria o mesmo levado ao constrangimento legal perante a sociedade, por tratar-se de ato público. Por conseqüência causaria abalo crítico a seu crédito, originando ao inadimplido, restrições a atos relativos ao comércio. A competência para efetuar o protesto de título é exclusiva do Tabelião de Protesto, este é dotado de fé pública para praticar os atos dispostos no artigo 3º da Lei 9.492/97 75, tutelando interesses públicos e privados. Ceneviva 76 discorre sobre o art. 3º da Lei, O art. 3º determina a competência privativa do tabelião de protesto de títulos, na tutela dos interesses públicos e privados, para a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos da dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou aceitar a desistência do credor em relação a ele, proceder às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados, na forma da mesma lei. Nenhum outro serviço notarial e de registro pratica tais atos, ante a força do advérbio de modo privativamente, a enunciar a restrição. O artigo em comento dispõe que somente o Tabelião de Protestos de Títulos poderá formalizar tal instituto, efetuando os procedimentos impostos pelo artigo transcrito. 1.3 LOCAL E DESTINATÁRIO DO PROTESTO O Decreto nº 2.044/1908 77 dispõe em seu art. 28, parágrafo único que, O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra, para o aceite ou para o pagamento. Sacada ou aceita a letra para ser paga em outro domicílio que não o do sacado, naquele domicílio deve ser tirado o protesto. Entende-se que a efetuação do protesto deva ocorrer na 75 Lei de Protestos. 76 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e registradores comentada (Lei nº 8,935/94), p.67. 77 Doravante Decreto Lei n. 2044/1908.
23 praça de pagamento do título, abranja-se esta, como sendo o lugar onde foi originada a obrigação. Almeida 78 esclarece que O protesto deve ser tirado no local onde deva ser exigida a obrigação. Esta é a regra geral. Todavia, não há obstáculo legal a que os interessados elejam outro local, que poderá ser o lugar indicado para aceite, o domicílio do sacado e, inclusive, indicação alternativa de lugares, hipótese em que ficará a critério do portador o direito de escolha. A Lei nº 9.492/97 em seu art. 6º 79 dita a regra sobre o local devido para a lavratura do protesto de cheque, que seria a da praça de pagamento ou do domicílio do devedor, mencionando que no mesmo deve-se constar apresentação ao banco sacado devidamente comprovado. A exceção à regra se daria quando a finalidade do protesto fosse uma medida preparatória contra estabelecimento bancário sacado. Pires 80 faz menção ao art. 1º do Provimento n. 30/97 81, do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, Art. 1º. Fica proibido o apontamento de cheques quando estes tiverem sido devolvidos pelo estabelecimento bancário sacado por motivo de furto, roubo ou extravio das folhas de cheques ou dos talonários, nos casos dos motivos 25, 28 e 30 das Circulares n. 2.655, de 18 de janeiro de 1996 e COMPE n. 96/45 do Banco Central do Brasil, desde que os títulos não tenham circulado por meio de endosso, nem estejam garantidos por aval. Continua o mesmo autor 82, esclarecendo que os motivos 78 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p.335. 79 Art.6. da Lei de Protestos: Tratando-se de cheque, poderá o protesto ser lavrado no lugar do pagamento ou do domicílio do emitente, devendo do referido cheque constar a prova de apresentação ao banco sacado, salvo se o protesto tenha por fim instruir medidas pleiteadas contra o estabelecimento de crédito. 80 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.19. 81 Provimento CG n. 30/97 de 24.12.97, Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 82 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.19.