Lição 7 Esforços vãos e esforços válidos na pregação Texto bíblico: 1Tessalonicenses 2.1-9 Em que sentido a mensagem divina difere dos discursos religiosos em geral? Dia desses, assistindo ao replay de uma pregação religiosa na TV, assustei-me. Na preleção, o palestrante dizia ser inaceitável que Jesus tenha feito, em seu primeiro milagre, a transformação da água em vinho. Ao questionar o prodígio do Salvador, o pregador afirmava que Jesus deveria ter transformado as pessoas que ali estavam. Àquela altura, eu já sabia o que estava por vir... Ele ostentou que faria o que Jesus não foi capaz de fazer. Convidando as pessoas para virem até ele, disse que o milagre que faria não seria a prosperidade material dos ouvintes, mas a operação da transformação de suas vidas miseráveis. Soa megalomaníaco o discurso religioso atual. Em tempos do templo de Salomão, é inegável perceber duas coisas, em relação à transmissão do Evangelho: primeiro, os discursos religiosos sobre Deus e sua igreja apelam para o materialismo, para a superstição e para a ostentação; segundo, a deturpação da mensagem evangélica torna vã a pregação. Exemplos não faltam! Portanto, aguçar a percepção dos cristãos para essas formas errôneas de transmissão da mensagem é primordial. A mensagem apostólica em xeque No jogo de xadrez, quando a peça principal do adversário, o Rei, é atacada, o jogador que faz o ataque deve dizer: xeque (do árabe sheikh, com origem no persa shāh, significando rei ou soberano). O termo indica uma ameaça imediata de captura ao Rei adversário. Quando não há casa de escape ao Rei, temos a situação final de xeque-mate para um dos oponentes. Em 1Tessalonicenses 2, Paulo desenvolve os argumentos em prol da seriedade da transmissão do Evangelho, o qual está sendo atacado por reconstruções
equivocadas da mensagem apostólica. O Evangelho do Rei Jesus estava em xeque, corria o risco de ser deturpado. Pessoas com autoridade estavam projetando os próprios desejos nos seus ensinos e, assim, atrapalhando o crescimento espiritual e o conhecimento de Deus em Tessalônica. Ainda corremos esse risco, pois, como afirma Edgar Morin (1) não há conhecimento que não esteja em algum modo marcado pelo erro e pela ilusão, por causa da multiplicidade de meios para perceber e conhecer um fenômeno. Você consegue identificar pregações atuais que colocam em xeque a natureza e a veracidade do Evangelho? Quais? Compartilhe com a classe. Em busca de pregar o verdadeiro Evangelho O capítulo 2 de 1Tessalonicenses apresenta uma denúncia ao discurso religioso. Paulo era recém-chegado da cidade macedônica de Filipos. Ali havia encontrado uma jovem escrava, que tinha espírito de adivinhação, e que dava grande lucro aos seus senhores (At 16.17,18). Quando ela foi liberta pela mensagem cristã, deixando os negociantes da fé sem expectativas de lucro, os problemas do apóstolo se multiplicaram. Com certeza, numa cidade idólatra como Tessalônica, aquela situação se repetia. Pregadores aproveitavam-se da superstição dos tessalonicenses em troca de interesses econômicos. Vejamos como o contexto da missão apostólica de Paulo na Europa pode nos ajudar nessa apreensão de sentido sobre a pregação do verdadeiro Evangelho: Que nossos esforços não sejam vãos! Paulo diz que sua abordagem e aproximação da igreja em Tessalônica não foi vã (1Ts 2.1), ou seja, infrutífera, vazia de propósito e sentido. Por outro lado, podemos aferir que esta palavra caracteriza todas as reconstruções equivocadas do Evangelho que eram propostas pelos opositores do apóstolo Paulo.
Para definir um ensino vão ou infrutífero, Paulo situa as informações e os dados recebidos do relatório de Timóteo acerca daquela congregação, em seis partes, no seguinte contexto (v.3-6): Primeiro, é vã a pregação que tem origem em erro (do grego planes), isto é, na mentira e no embuste. Segundo, é vã a pregação que tem motivos impuros (do grego akatharsia), isto é, se for motivada por uma intenção maldosa, maliciosa, geradora de uma vida de imoralidade e luxúria. Terceiro, é vã a pregação que se baseia no dolo ou fraude (do grego dolos). É a mesma palavra usada para descrever a acusação falsa a Jesus, com a finalidade de prendê-lo (Mt 26.4; Mc 14.1). Quarto, é vã a pregação que usa palavras que estão a serviço dos homens e não de Deus. Em Gálatas 2.5, Paulo explica que essas palavras são lisonjeiras (do grego kolakeias), isto é, têm a intenção de bajular os ouvintes. Paulo ressalta, em outra epístola, o perigo dessa situação de agradar aos homens: Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo (Gl 1.10). Quinto, é vã a pregação que serve de pretexto (do grego prophasis) para saciar o apetite ganancioso e avaro (do grego, pleonexia). Por fim, é vã a pregação que busca a glória (do grego doxa) dos homens, isto é, honra, glamour, fama. Ao agir assim, fomenta-se a idolatria. Pesquise exemplos dos esforços vãos identificados neste tópico e traga para compartilhar com a classe. Que nossos esforços sejam válidos! No versículo 3, Paulo define a pregação válida: ela serve como exortação (do grego paraklesis): palavra de encorajamento, consolo, mas, também, apelo à salvação, tal qual fazem os pregadores, hoje, no fim de suas mensagens. A pregação evangélica é uma exortação verdadeira em Cristo. Em Filipenses 2.1a, a expressão é traduzida conforto (ARC). Em 1Tessalonicenses 2.7, Paulo fala da transmissão do Evangelho com brandura (3), ou seja, sem aterrorizar nem forçar o
pecador. Tudo indica que Paulo usava da conversação coloquial e da intimidade familiar. Indica, também, sabedoria para apresentar o Evangelho num ambiente de oposição. No versículo 8, Paulo faz um comentário interessante: junto com o Evangelho que pregava, desejava comunicar sua alma. Isso mostra, claramente, a conexão profunda entre a mensagem pregada e a mensagem vivida. Penso que está aí expressa a essência do trabalho pastoral de aconselhamento: comunicação de vida. Paulo não tem nenhum interesse obscuro ou oculto em sua pregação. Pelo contrário, ele apela para o testemunho de Deus, no tocante ao desinteresse econômico de sua pregação. Ele fez questão de ganhar seu próprio sustento, durante o mês em que ficou entre os tessalonicenses: Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus (2Ts 2.9). Você consegue identificar exemplos de exortação e conforto espiritual na Bíblia? Compartilhe com a classe. Conclusão Uma das perdas mais comuns em relação aos esforços evangelísticos vãos é a imediata ausência de comunhão e consenso na igreja. Gundry (4) informa que Paulo escreveu esta carta da cidade de Corinto, cuja igreja seria evidente exemplo de discórdia e divisões internas. Na carta que escreveu àqueles cristãos, Paulo foi taxativo em apelar para a concórdia e unidade na igreja. Viver fora dessa situação de unidade é viver na ilusão e no erro. Ao dizer que seu trabalho não foi em vão, Paulo insiste no poder agregador do Evangelho, que produz uma pequena comunidade de homens e mulheres regidos pela lei do amor, cujos corações são preenchidos pelo fervor religioso, pela presença da esperança, a pela liberdade espiritual e fraternidade.
Foi gratificante para o apóstolo que os cristãos de Tessalônica tenham reagido tão bem à sua pregação e vida pessoal. Durante o tempo que passou ali, umas poucas semanas, o servo de Deus comissionado para pregar aos gentios não mediu esforços para levar avante a obra missionária. Para pensar e agir Ainda hoje temos esses dois perigos para a transmissão do Evangelho: a lisonja e a ganância (1Ts 2.5). Lisonja, do grego kolakeias, é bajular, adular com baixeza. Ganância, do grego pleonexia, é a avareza e, também, o impor determinados tipos de comportamento espiritual, como o ato forçado de ofertar. Evitemos, portanto, que o discurso evangélico por nós produzido sirva ao infame processo de manipulação religiosa. Assim, nossa mensagem será útil ao Reino de Deus. O exemplo de Paulo deve nos servir de estímulo, principalmente se nossa labuta ministerial for caracterizada pelo amor e pela renúncia, pelo desejo de agradar àquele que nos convocou para a obra. Paulo esperava isso dos tessalonicenses, mas deixava seu exemplo de vida à disposição (1Ts 4.1). Façamos o mesmo! (1) MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 8. ed. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO. 2003. (2) EADIE, John. A commentary of the greek text of the epistles of Paul to the Tessalonians. London: Macmillan. Texto clássico, em versão digital. (3) Algumas versões trazem a palavra grega nepioi, traduzindo: tornei-me criança no meio de vós, mas brandura, do grego epioi, harmoniza melhor com o contexto. (4) GUNDRY, Robert. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, p. 300.