CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA FACULDADE DE TECNOLOGIA DE PIRACICABA FATEC TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS



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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA FACULDADE DE TECNOLOGIA DE PIRACICABA FATEC TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS REUTILIZAÇÃO DE ÓLEO VEGETAL RESIDUAL NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL AIRTON CHITOLINA CAZZONATTO RENAN ORLEY ROCANCOURT PIRACICABA JUNHO 2011

AIRTON CHITOLINA CAZZONATTO RENAN ORLEY ROCANCOURT REUTILIZAÇÃO DE ÓLEO VEGETAL RESIDUAL NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL Trabalho de Graduação apresentado à Banca Examinadora como requisito parcial à obtenção do título de Tecnólogo em Biocombustíveis. Orientador: Prof. Dr. Paulo Cesar Doimo Mendes PIRACICABA JUNHO 2011

AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Cazzonatto, Airton Chitolina; Rocancourt, Renan Orley Reutilização de Óleo Vegetal Residual na Produção de Biodiesel / Airton Chitolina Cazzonatto; Renan Orley Rocancourt; orientador Paulo Cesar Doimo Mendes. - - Piracicaba, 2011, 47 p. Trabalho de Graduação (Graduação Tecnologia) Faculdade de Tecnologia de Piracicaba Centro de Educação Tecnológica Paula Souza. 1. Óleos e Gorduras Residuais (OGR) 2. Biocombustíveis 3. Reutilização 4. Impacto Ambiental 5. Mendes, Paulo Cesar Doimo Orientador I Professor Doutor

AGRADECIMENTOS As nossas famílias, que sempre estiveram presentes e nos apoiaram em nossos estudos ao decorrer deste curso; Ao Prof. Dr. Paulo Cesar Doimo Mendes, pela sua confiança, orientação e dedicação na elaboração deste trabalho; A Prof. Dra. Daniela Defavari do Nascimento, pelos ensinamentos e auxílios ao decorrer do curso e, especialmente, durante a realização deste trabalho; A FATEC Piracicaba, pela formação acadêmica e colaboração nas análises realizadas em laboratório; A todos os amigos que contribuíram de uma forma direta ou indireta na desenvoltura deste trabalho; E, independentemente da crença e religião, agradecemos a Deus, que colaborou nas horas mais difíceis, nos ajudando, nos dando paz de espírito e, claro, estando sempre ao nosso lado acolhendo nossos pedidos, sendo a peça fundamental para realmente acreditarmos que no final tudo daria certo.

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. Clarice Lispector

LISTA DE FIGURAS Figura 01 Fórmula Estrutural de Glicerol e um Triglicerídeo... 16 Figura 02 Bombonas Plásticas utilizadas para recolher OGR... 19 Figura 03 Gráfico de emissões Biodiesel x Diesel... 27 Figura 04 Reação de Transesterificação ou alcoólise... 28 Figura 05 Reação de Esterificação.... 29 Figura 06 Gráfico de Mercado da Glicerina... 31 Figura 07 Óleo vegetal residual coletado em dois bairros de Piracicaba/ SP 33 Figura 08 Solução de metanol recuperado com NaOH... 35 Figura 09 Solução de metanol recuperado com KOH... 36 Figura 10 Incubadora com as amostras em processo de agitação... 36 Figura 11 Balões de separação com amostras de biodiesel... 37 Figura 12 Processo de decantação... 38

LISTA DE TABELAS Tabela 01 Principais oleaginosas e seus respectivos conteúdos de óleo em percentuais... 17 Tabela 02 Produção Anual Brasileira de Biodiesel (m 3 ) no período 2005 a 2011... 24 Tabela 03 Rendimento da produção de Biodiesel em laboratório... 39 Tabela 04 Óleo vegetal residual (L) e potencial de produção de biodiesel (L) 40

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIOVE: Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas ANP: Agência Nacional do Petróleo CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente B100: Biodiesel cem por cento (sem mistura) B30: Mistura de trinta por cento de biodiesel no diesel B20: Mistura de vinte por cento de biodiesel no diesel B5: Mistura de cinco por cento de biodiesel no diesel B2: Mistura de dois por cento de biodiesel no diesel CFC: Clorofluorcarboneto CH 4 : Metano CH 3 O: Metanol CO 2 : Dióxido de carbono DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio EPA: Agência Ambiental Americana EUA: Estados Unidos da América GL: Grau Gay Lussac HDL: High Density Lipoprotein (bom colesterol) ICMS: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços LDL: Low Density Lipoprotein (mau colesterol) M³: Metros Cúbicos MM: Massa Molar N 2 O: Óxido Nitroso OGR: Óleos e Gorduras Vegetais Residuais PET: Garrafa de Politereftalato de Etila PM: Material Particulado PNPB: Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel PNBE: Pensamento Nacional das Bases Empresariais PROL: Programa de Reciclagem de Óleo de Fritura da Sabesp SABESP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO... 13 2. OBJETIVOS... 15 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 16 3.1 Óleos e Gorduras... 16 3.1.1 Características Gerais... 16 3.2 Logística... 18 3.2.1 Logística Reversa... 18 3.2.2 Ciclo de Retorno mais Produtivo... 19 3.2.3 Coleta Seletiva de OGR... 20 3.3 Problemas Causados Pelo Descarte Inadequado de OGR... 21 3.4 Cenário Político-Econômico da Produção de Biodiesel... 22 3.5 Biodiesel... 25 3.6 Processos de Produção de Biodiesel... 27 3.6.1 Transesterificação... 28 3.6.2 Esterificação... 29 3.7 A Produção em Massa de Glicerina... 30 4. MATERIAIS E MÉTODOS... 33 4.1 Coleta de Matéria-Prima... 33 4.2 Produção de Biodiesel em Laboratório... 33 4.2.1 Equipamentos e Materiais Utilizados no Laboratório... 34 4.2.2 Matéria-Prima e Reagentes Utilizados no Laboratório... 34 4.2.3 Ensaios para a Produção de Biodiesel... 34 4.3 Entrevista... 38 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES... 39 6. CONCLUSÃO... 41 7. BIBLIOGRAFIA... 42 ANEXOS... 47

FOLHA DE APROVAÇÃO Prof. Dr. Paulo Cesar Doimo Mendes FATEC Piracicaba Prof. Dr. Jonas Chacob Chiaradia FATEC Piracicaba Prof. Dr. Renato Rovebatti FATEC Piracicaba

RESUMO Este trabalho de conclusão de curso objetivou o estudo da reutilização de óleo vegetal residual e sua transformação em biodiesel. Através de revisão bibliográfica, foram obtidas informações adequadas em relação à transformação do óleo vegetal residual em biodiesel. Foi realizado, em laboratório, um experimento de produção de biodiesel, cuja matéria-prima foi óleo vegetal residual coletado em residências de dois bairros de Piracicaba/ SP. Neste experimento foram analisadas características de rendimento e viabilidade da transformação da matéria-prima em biodiesel. Por meio de dados coletados em dois restaurantes fast food, localizados em Piracicaba/ SP, estimou-se o potencial de geração de óleo vegetal residual, seu valor agregado e possível transformação em biodiesel. Palavras-Chave: Óleos e Gorduras Residuais (OGR), Biocombustíveis, Reutilização, Impacto Ambiental.

ABSTRACT This completion of course work objectifies the study of waste vegetable oil reuse and its transformation into biodiesel. Through literature reviewing, appropriated information about this transformation process were obtained. An experiment about the production of biodiesel was conducted in the laboratory and its raw material was waste vegetable oil collected from two different districts abodes of Piracicaba/ SP. The experiment analyzed the yield and viability characteristics of the raw material transformation into biodiesel. Through data collected at two fast food restaurants located in Piracicaba/ SP, it was possible to estimate the waste vegetable oil producing potential, its economical performance and its possible transformation into biodiesel. Key-Words: Waste Fats and Oils (WFO), Biofuels, Re-use, Environmental Impact.

13 1. INTRODUÇÃO O modelo energético utilizado nos últimos séculos se baseou na utilização de recursos fósseis e não renováveis, como o carvão mineral, o gás natural e, em especial, o petróleo. Por decorrência dos avanços tecnológicos e industriais, houve uma necessidade cada vez maior de utilizar tais combustíveis como força motriz para alimentar o crescimento do setor industrial, resultando assim no aumento da produção e, conseqüentemente, no aumento das receitas dos países. Com o passar dos anos, a utilização deste modelo energético causou inúmeras mudanças no planeta, em especial no que diz respeito ao desaparecimento dos recursos minerais e a poluição ambiental causada pela utilização inconseqüente destes. Os reflexos destas modificações recaem sobre violentas mudanças climáticas, como tempestades, furacões e enchentes, além do desaparecimento de espécies da fauna e da flora. Esses fenômenos fizeram com que a população mundial tomasse consciência em relação ao conceito da exploração predatória dos recursos minerais. Nesse cenário surge o Protocolo de Kyoto, uma expressão mundial da preocupação com os impactos ambientais e a escassez dos recursos fósseis. O Protocolo propôs aos países assinar um acordo de redução de emissão de gases do efeito estufa dióxido de carbono (CO 2 ), metano (CH 4 ), óxido nitroso (N 2 O) e CFCs (CF x Cl x ), além de investir no desenvolvimento de fontes de energia alternativas, renováveis e menos poluentes. O desenvolvimento destas novas fontes de energia deu origem aos biocombustíveis, combustíveis provenientes de matéria orgânica renovável e limpa (biomassa), considerados, ecologicamente corretos (MOREIRA & MARCON 2009). Dentre os biocombustíveis destaca-se o etanol e também o biodiesel, sendo este de maior importância para o desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso. O biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser obtido através dos processos de esterificação ou transesterificação de gorduras animais ou de óleos vegetais. No Brasil, há dezenas de espécies vegetais que podem ser utilizadas para a produção do biodiesel, como a mamona, o dendê (palma), o girassol, o babaçu, o amendoim, o pinhão manso, a soja, entre outros (PNPB, 2010). O óleo e a gordura residual (OGR) de frituras, também pode ser

14 utilizado como matéria-prima para a produção de biodiesel, apresentando, inclusive, consideráveis vantagens econômicas (possibilidade de produção de biocombustível a partir de uma matéria-prima de baixo custo, que possui representatividade no panorama atual) e sociais (fonte de geração de emprego e renda para catadores de materiais recicláveis, através de cooperativas) (CORREIA DE FREITAS, 2008). Contudo, uma das grandes vantagens apresentadas é a ambiental: o OGR, quando descartado inapropriadamente pela pia ou vaso sanitário, causa entupimento das tubulações de esgoto e, quando em contato com o meio ambiente, traz diversos prejuízos. Se despejado diretamente nos corpos d água provoca sua poluição e causa danos à fauna aquática. No solo contribui para sua impermeabilização, propiciando enchentes e deslizamentos e, em aterros sanitários, apodrece, emitindo gás metano na atmosfera (SABESP, 2010). Recolher o OGR é um trabalho importante, que exige deixar recipientes em casas e estabelecimentos comerciais e depois passar recolhendo o material nas datas combinadas. Além disso, a ausência de efetivas políticas públicas de conscientização e suporte a coleta seletiva de OGR tornam o problema ainda mais complexo já que, segundo o Pensamento Nacional das Bases Empresariais PNBE, a maior parte do OGR gerado (60%), provém de domicílios (DUARTE, 2010a).

15 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Analisar a viabilidade técnica e ambiental da produção de biodiesel a partir da utilização de óleo vegetal residual. 2.2 Objetivos Específicos 1. Coletar amostras de óleo vegetal residual em bairros de Piracicaba/ SP; 2. Transformar as amostras de óleo vegetal residual coletado, em biodiesel e quantificar em laboratório o rendimento desta transformação; 3. Estimar o potencial de geração de óleo vegetal residual, em dois restaurantes de Piracicaba/ SP, seu valor agregado e sua possível transformação em biodiesel.

16 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Óleos e Gorduras 3.1.1 Características Gerais As gorduras provenientes de fontes tanto vegetais quanto animais fazem parte de um mesmo grupo de triglicerídeos (Figura 01) insolúveis em água, formados pela união de uma molécula de glicerol (1, 2, 3-propanotriol, Figura 01) a três ácidos graxos (ácido carboxílico de cadeia longa). Estas gorduras podem ser diferenciadas em saturadas e insaturadas, tendo esta última, diferentes graus de insaturação. Os insaturados apresentam ligações dupla entre carbonos, sendo que, os monoinsaturados apresentam apenas um par de cabonos com esta ligação e os poliinsaturados apresentam dois ou mais pares com ligação dupla. Os óleos de soja, milho e de girassol, por exemplo, apresentam maior presença de ácidos graxos poliinsaturados, já os óleos de canola, de amendoim e o de azeite, apresentam grande quantidade de gorduras monoinsaturadas. Dependendo da temperatura, os triglicerídeos podem se encontrar em seu estado sólido ou líquido, sendo que, à temperatura de 20 o C, as gorduras saturadas se solidificam, enquanto que as insaturadas se mantém em seu estado liquido. Usualmente, o termo gordura se refere aos triglicerídeos em seu estado sólido, enquanto o termo óleo se refere aos triglicerídeos em seu estado líquido (COSTA NETO, et al., 2000). Glicerol Triglicerídeo Figura 01 Fórmula Estrutural de Glicerol e de um Triglicerídeo Fonte: Modificada pelo autor, 2011

17 No Brasil, os óleos comercializados, são feitos à base das sementes de soja, amendoim, girassol, milho, canola, algodão, oliva e arroz. Cada uma das sementes emprega características diferentes ao final do produto. A diferença mais marcante diz respeito ao tipo e grau de insaturação encontrada nas cadeias de ácidos graxos (CORPO SAUN, 2010). À medida que variamos as espécies de plantas e sementes, também variamos o percentual de óleo contido. A análise da composição constitui o primeiro procedimento de qualidade do mesmo e de seus derivados (VIAINTEGRAL, 2007). Na tabela 01 são apresentadas algumas delas. Tabela 01 Principais oleaginosas e seus respectivos conteúdos de óleo em percentuais Oleaginosas Rendimento em óleo Algodão 30 a 40% Amendoim 40 a 50% Arroz 15 a 23% Babaçu 58 a 67% Coco 50 a 65% Colza 39 a 45% Gergilim 48 a 55% Girassol 45 a 55% Linhaça 35 a 45% Mamona 45 a 55% Milho (germe) 30 a 36% Palma (dendê) 35 a 45% Palmiste 55 a 65% Soja 18 a 21% Fonte: ABIOVE, 2010 De acordo com Costa Neto et al (2000), apesar de a soja possuir menores percentuais de óleo, esta apresenta técnicas de cultivo bem estabelecidas e baixo custo de produção, em relação às outras culturas. O desenvolvimento e a difusão destes fatores fazem desta oleaginosa líder de produção de óleo vegetal comestível.

18 3.2. Logística 3.2.1 Logística Reversa A sociedade tem manifestado uma crescente sensibilidade ecológica, motivada pelos evidentes crimes ambientais que vêm ocorrendo e que exige das empresas uma maior responsabilidade no que se refere ao descarte de resíduos no meio ambiente. Para atender a essa nova exigência da sociedade, surge um novo ramo da logística empresarial, a logística reversa, que é a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo dos negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros (LACERDA, 2009). O motivo do pouco interesse pelo estudo da distribuição reversa é, em sua pouca importância, econômica, quando comparado aos canais de distribuição diretos. Ainda é considerado o retorno de produtos pós-venda, em alguns casos, um verdadeiro problema a ser equacionado (LEITE, 2003). Além disso, recolher o OGR é um trabalho de formiga, uma vez que requer cooperativismo da população diante da conscientização dos problemas agravantes que este possa provocar. É necessário introduzir um incentivo financeiro, através da distribuição de impostos, poderia ser criado algo parecido com o ICMS Ecológico, programa criado no Paraná, em 1991, expandido, posteriormente, para outros estados. Este programa prevê a distribuição do dinheiro arrecadado com o imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços, de acordo com os resultados ambientais obtidos pelos municípios. A prefeitura que se dispuser a cuidar melhor do meio ambiente leva uma porcentagem do imposto. No estado do Paraná, a empresa Ambiental Vitare propôs uma solução mista para este problema de logística. Por um lado, distribuiu 1.900 bombonas de 50 litros no comércio e também em condomínios residenciais, para a estocagem de OGR, disponibilizando, em seguida, caminhões nas ruas para seu recolhimento periódico. Em Ponta Grossa, no interior do estado, a empresa realizou um convênio com o Rotary e com a prefeitura municipal, criando um projeto de conscientização ambiental que permitiu a formação de agentes coletores. Tais agentes são carrinheiros que passam pela

19 cidade recolhendo materiais recicláveis e que incluíram em seu trabalho diário o recolhimento de OGR. Em 2008, para cada litro de OGR recolhido, os agentes coletores lucravam R$ 0,50, dinheiro, este, pago por meio de uma cooperativa (CORREIA DE FREITAS, 2008). 3.2.2 Ciclo de Retorno mais Produtivo Em todas as etapas do ciclo de retorno há escolhas envolvidas que dependem da estratégia usada na cadeia. Levando em conta o acondicionamento (coleta, armazenagem e movimentação), isso deve ter a soma de seus custos menor do que o valor da matéria retornada e, ainda que a economia de escala é um caminho adequado para atingir vantagens competitivas, vislumbra-se a seguinte descrição de ciclo de retorno otimizado do óleo de cozinha. No acondicionamento do produto, restaurantes, estabelecimentos alimentícios e condomínios possuem bombonas de capacidade entre 20 litros e 50 litros (Figura 02), adaptadas para ter seus conteúdos removidos por mangueira de sucção, enquanto as residências possuem recipientes de 500 ml até 2 litros, para que tenham seus conteúdos despejados em bombonas nos postos de entrega voluntária espalhados em lugares de fácil acesso. Figura 02 Bombonas Plásticas utilizadas para recolher OGR Fonte: SABESP, 2010

20 Na coleta, um veículo adaptado com tanque e mangueira para sucção segue uma rota predefinida por computador, a qual garante a otimização dos custos de combustíveis e de uso de veiculo e também de menor tempo de operação. Na armazenagem do produto coletado, ele vai para uma estação onde é filtrado de impurezas e estocado até que se tenha a quantidade ótima para a sua movimentação até o local de produção. Adicione-se às operações da empresa coletora o uso constante de vários tipos de sistemas de informação como, por exemplo, um que possua cadastro de todos os fornecedores, as quantidades recebidas de cada um e as datas de coleta, para que, dessa forma, possa a empresa ter dados para a tomada de decisões e previsões de quantidades coletadas e assim poder participar da cadeia de suprimentos compartilhando a informação de quando poderá fazer a entrega do produto ao cliente (PITTA JÚNIOR, et al.,2009). 3.2.3 Coleta Seletiva de OGR De acordo com a Resolução nº 275 de 25 de abril de 2001 do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, a reciclagem de resíduos deve ser incentivada, facilitada e expandida no país, tendo como finalidade reduzir o consumo de matérias-primas, recursos naturais não-renováveis, energia e água. A Resolução ainda considera que as campanhas de educação ambiental devam ser providas de um sistema de identificação de fácil visualização, inspirado em formas de codificação, essenciais para a coleta seletiva (AGIRAZUL, 2011). A coleta seletiva tem como objetivo a separação, na própria fonte geradora, dos materiais que podem ser recuperados, com o acondicionamento diferenciado para cada material ou grupo de materiais. Seu propósito visa à reintegração dos materiais constituintes dos bens de pós-consumo, contribuindo para uma melhor destinação dos resíduos urbanos ao invés de enviá-los a aterros sanitários, estes são incorporados novamente à cadeia produtiva. Para haver esse tipo de coleta, fazse necessário a existência de um mercado para os recicláveis e, além disso, o cidadão deve estar consciente da sua participação no processo. Por conta disso é importante que haja a implantação de políticas de conscientização e apoio a reciclagem de OGR. Segundo a Associação Brasileira para Sensibilização, Coleta e Reciclagem de Resíduos de Óleo Comestível Ecóleo, em janeiro de 2011 foi comemorada a coleta de dois milhões de litros de OGR mensais no estado de São

21 Paulo. Contudo, o incentivo de políticas de apoio a ações como estas por parte do governo ainda é tímido, sendo que este poderia ter grande impacto na conscientização da população sobre o problema. Ainda segundo a Ecóleo a renda obtida com a venda do óleo reciclado, contribui para com as entidades sociais envolvidas no processo, ajudando a financiar seus projetos. Até setembro de 2010, 15 mil pessoas foram beneficiadas direta e indiretamente com o programa, que se fez possível graças ao apoio financeiro da iniciativa privada (CORREIA DE FREITAS, 2008). Para a realização da coleta seletiva faz-se necessário a separação do resíduo potencialmente aproveitável e acondicionado em um recipiente adequado para encaminhamento para reciclagem. No caso do OGR, o acondicionamento para a coleta é feito após o resfriamento e em seguida a armazenagem em garrafas plásticas de politereftalato de etila PET, ou em bombonas e também são utilizados os tambores para um volume maior de coleta (CLEANDIESEL, 2008). 3.3 Problemas Causados pelo Descarte Inadequado de OGR Segundo o Programa de Reciclagem de Óleo de Fritura da SABESP PROL, o OGR, ao ser descartado de forma inadequada por domicílios e estabelecimentos comerciais, se torna uma substância altamente poluente, gerando grandes impactos ambientais. É ainda, um dos principais causadores de entupimentos das tubulações de esgoto, já que promove a aglutinação dos sólidos voláteis presentes, implicando assim em maiores gastos com serviços de desentupimentos e casos mais freqüentes de refluxos de esgoto à superfície. De acordo com a Resolução 357/05 do CONAMA, artigo 34, o limite permitido para o lançamento direto ou indireto de óleos ou graxas de origem animal e vegetal nos corpos d água é de 50 mg/l. A partir desse valor, pode-se concluir que apenas um litro de OGR polui mais de 25 mil litros de água. Considerando-se também o limite de demanda bioquímica de oxigênio DBO permitido (60 mg/l), outros numerais podem ser obtidos. Contudo, neste caso, o tipo de óleo ou gordura em questão deve ser considerado para que assim possa ser determinado o DBO do resíduo. Segundo o PROL, a poluição dos corpos d água através do descarte do OGR causa sérias complicações, uma vez que este é degradado por microorganismos

22 presentes na própria água (em sua maioria, bactérias). Ao realizarem o processo de degradação, tais microorganismos consomem, além do OGR, o oxigênio presente. A escassez de oxigênio, conseqüentemente, acarreta na morte de peixes, crustáceos e moluscos, que não conseguem realizar as trocas de gases necessárias. Ainda em relação ao descarte do OGR nos corpos d água, há impactos associados à viscosidade e a tensão superficial do óleo, uma vez que este conduz a formação de um filme que flutua na superfície e atua como uma barreira, prejudicando, assim, a passagem de luz solar e a aeração da água pelas correntes eólicas. Este programa, ainda descreve que, no solo, o descarte de OGR também apresenta grande nocividade, já que pode causar a proliferação indesejável de microorganismos (que levam a fermentação) e danos ao sistema radicular de vegetais. Além disso, o OGR impermeabiliza a superfície terrestre na qual foi descartado, impossibilitando, assim, o escoamento da água das chuvas. Este fator favorece os casos de enchentes e deslizamentos. Quando descartado em aterros sanitários, o OGR contribui para a diminuição de sua área útil e, ao entrar em estado de decomposição, emite mau cheiro e gás metano na atmosfera, agravando assim o efeito estufa e o aquecimento global. Além disso, seu tempo de biodegradação pode variar, uma vez que depende de condições ambientais que envolvem concentração de bactérias e outros microorganismos, temperatura, oxigênio dissolvido, entre outros fatores. Em meio aquático e aerado, este processo geralmente se apresenta de forma mais rápida. Contudo, a insolubilidade do OGR em água reduz o contato deste com os microorganismos capazes de digeri-lo e degradá-lo (SABESP, 2010). 3.4 Cenário Político-Econômico da Produção de Biodiesel Nas últimas décadas, o conceito de energia limpa, também conhecida por Green Energy, tem sido destaque das principais discussões mundiais sobre meio ambiente. Um dos mais importantes temas envolvidos neste conceito trata da necessidade de minimizar a dependência energética de combustíveis fósseis, necessidade, esta, que deu origem aos estudos sobre biocombustíveis combustíveis vistos como alternativos, derivados de materiais biológicos e, portanto, renováveis e ecológicos. Com destaques ao bioetanol e ao biodiesel, a produção de biocombustíveis vem causando grandes impactos na economia e na sociedade, uma vez que estes passaram a fazer parte de uma parcela considerável das políticas

23 energéticas não só no Brasil, como em todo o mundo. No Brasil (pioneiro na produção de biocombustíveis, sendo, inclusive, um dos maiores produtores mundiais), as discussões se dão em relação à produção, utilização e comercialização destes combustíveis, além do impacto que eles podem causar ao meio ambiente, a economia e a sociedade. Tomando-se como objeto de estudo especificamente o biodiesel, tem se, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, um desenvolvimento sustentável, ecológico e socialmente correto, já que este se mostra um combustível eficiente, extraído de materiais orgânicos (biomassa), que apresenta significativa redução da taxa de emissão de poluentes em sua queima. Do ponto de vista social, afirma-se ainda que a biomassa utilizada em sua produção possa ser bastante diversificada, sendo esta adaptável a diversos ambientes e regiões, favorecendo, assim, a criação de empregos e a atração de investimentos (LUDWIG, 2009). A partir deste cenário, a atual política governamental brasileira se mostra favorável a produção de biodiesel o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel PNPB, originado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem como objetivo implementar de forma sustentável, tanto técnica, quanto economicamente, a produção e o uso do biodiesel. O Programa possui enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, gerando, assim, empregos e renda (PNPB, 2010). Juntamente com o Programa, surgiu, em janeiro de 2005, a Lei de nº 11.097, que tornou obrigatória, em todo o país, a adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel comercializado. Esta porcentagem, atualmente, é de 5% e, segundo o diretor da Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natual e Biocombustíveis - ANP, até o ano de 2012 há a possibilidade de um aumento de 2% (OLIVEIRA e ENNES, 2011). Vendido em leilões, a demanda pelo biodiesel cresce a largos passos. No ano de 2009, a produção brasileira atingiu 1,6 bilhões de m 3. Em 2010, um aumento de 149% na produção em relação ao ano anterior possibilitou que a produção chegasse a quase 2,4 bilhões de m 3. Todavia, vale ressaltar que, cerca de 90% de todo o biodiesel produzido no país é proveniente do óleo de soja (ANP, 2011). Podemos observar, através da tabela 02, que a produção de biodiesel no ano de 2010 cresceu mais de 3.000% em relação à produção no ano de 2005.

24 Tabela 02 Produção Anual Brasileira de Biodiesel, (m 3 ) no período 2005 a 2011 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Janeiro - 1.075 17.109 76.784 90.352 147.435 182.842 Fevereiro - 1.043 16.933 77.085 80.224 178.049 170.475 Março 8 1.725 22.637 63.680 131.991 214.150 Abril 13 1.786 18.773 64.350 105.458 184.897 Maio 26 2.578 26.005 75.999 103.663 202.729 Junho 23 6.490 27.158 102.767 141.139 204.940 Julho 7 3.331 26.718 107.786 154.557 207.434 Agosto 57 5.102 43.959 109.534 167.086 230.613 Setembro 2 6.735 46.013 132.258 160.538 219.865 Outubro 34 8.581 53.609 126.817 156.811 210.537 Novembro 281 16.025 56.401 118.014 166.192 208.972 Dezembro 285 14.531 49.016 112.053 150.437 187.653 Total do Ano 736 69.002 404.329 1.167.128 1.608.448 2.397.272 353.316 (Fonte: ANP, 2011) Por outro lado, questiona-se o redirecionamento de biomassas destinadas à produção alimentícia para a produção de energia, já que mesmo a produção agrícola mundial atual é incapaz de suprir simultaneamente as duas crescentes demandas. É neste cenário que a reutilização de OGR para produção de biodiesel se destaca, pois esta matéria-prima não influi na produção alimentícia mundial e tem potencial para suprir uma boa parcela da produção de biodiesel. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleo ABIOVE, o Brasil consome por ano 4,5 bilhões de litros de óleo de soja e de acordo com o PNBE cerca de 3,4 bilhões são transformados em óleo de cozinha, metade disso sobra como resíduo, OGR, que é descartado em rios, lagos, esgotos e aterros sanitários. Esses 1,7 bilhões de litros seriam o suficiente para incrementar a adição de biodiesel no diesel em até 4%, isso sem falar que nessa conta não estão inclusos outros óleos como o de girassol, milho, canola e dendê. Contudo, o grande impecilho para esta realização é a ausência de políticas governamentais que auxiliem na introdução de uma cultura de reciclagem de OGR nas residências do país, já que segundo o PNBE 60% desse

25 OGR provêem destas residências. No caso do PNPB há um incentivo na produção de biodiesel, porém ele negligencia a importância de uma cultura de reciclagem de OGR que é essencial para o país (DUARTE, 2010a). 3.5 Biodiesel O biodiesel é um combustível alternativo, criado para minimizar a utilização de óleo diesel derivado do petróleo e, conseqüentemente, os impactos ambientais causados por este. Segundo a Legislação Brasileira, o biodiesel é biodegradável, atóxico e essencialmente livre de compostos sulfurados e aromáticos, considerado, então, um combustível ecológico. Ele ainda é perfeitamente miscível e quimicamente semelhante ao óleo diesel mineral, podendo ser utilizado em motores de ciclo diesel automotivo sem a necessidade de adaptações significativas ou onerosas. Sua produção ocorre através de um processo químico, onde os triglicerídeos reagem com um monoálcool, chamado transesterificação, gerando dois produtos: ésteres e glicerina. Ainda de acordo com a Legislação Brasileira, a produção de biodiesel de qualidade deve seguir especificações industriais restritas a nível internacional, há a ASTM D6751, regente desde dezembro de 2001. Nos Estados Unidos, o biodiesel é o único combustível alternativo a obter completa aprovação da Clean Air Act (1990) e autorização da Agência Ambiental Americana EPA para sua comercialização e distribuição (BIODIESELBR, 2010). Por se tratar de uma energia limpa e não poluente, sua utilização em um motor diesel convencional resulta, quando comparado a queima do óleo diesel mineral, numa redução substancial de monóxido e dióxido de carbono, material particulado e hidrocarbonetos totais, há também a eliminação de emissão de compostos sulfonados, já que e o biodiesel é livre de enxofre. Além disso, a captura de dióxido de carbono CO 2 pelo ciclo de vida das oleaginosas, vegetais cujas sementes são empregadas como matéria-prima na produção de biodiesel, apresenta mais uma vantagem na utilização deste bicombustível, uma vez que contribui para amenizar as causas do efeito estufa. Mais além, ao utilizarmos OGR para sua produção, agregamos, ainda, o benefício de transformar um resíduo altamente poluente em matéria-prima, contribuindo assim com a preservação ambiental (BIODIESELBR, 2010).

26 Mundialmente, adotou-se a nomenclatura Biodiesel BXX para identificar a presença de biodiesel ao óleo diesel convencional, na qual os caracteres XX representam a porcentagem de biodiesel adicionado, em volume, a essa mistura. No atual mercado de combustíveis, os seguintes níveis de concentração vêm sendo mais comumente utilizados (ANP, 2011): - Puro: B100 - Misturas: B20 B30 - Aditivo: B5 - Aditivo de Lubrificantes: B2 A figura 03 nos permite observar que as misturas que envolvem um maior percentual de biodiesel resultam em reduções mais significativas nas emissões de poluentes. Um dos destaques destas reduções se dá aos hidrocarbonetos totais HC, substâncias que apresentam uma diversidade de compostos tóxicos não controlados e que podem causar inúmeras complicações à saúde, como pneumonia e até mesmo câncer. A fuligem, ou material particulado PM, assim como o monóxido de carbono CO, também apresentam índices de redução proporcionais ao percentual de biodiesel adicionado a mistura Todavia, estudos realizados na União Européia mostram que, num processo inverso a redução de poluentes, misturas que envolvam um maior percentual de biodiesel tendem a apresentar um aumento na emissão de óxidos nitrogenados NO x. Apesar de este fato representar uma desvantagem em relação ao óleo diesel derivado do petróleo, a emissão de óxidos nitrogenados não compromete a utilização do biodiesel, em vista do maior percentual de redução de emissões dos outros poluentes citados (REVISTA BIODIESEL, 2007).

27 Óxidos Nitrogenados Monóxido de Carbono Material Particulado Hidrocarbonetos Totais Figura 03 Gráfico de emissões Biodiesel x Diesel Fonte: Revista Biodiesel, 2007 3.6 Processos de Produção de Biodiesel A produção de biodiesel através da utilização de óleos e gorduras pode ocorrer por diferentes processos, cujos quais se destacam a esterificação e, em especial, a transesterificação, também conhecida por alcoólise. Entretanto, uma série de procedimentos prévios para o preparo e o refino das matérias-primas se faz necessária. Primeiramente, a gordura animal ou óleo vegetal já extraído deve passar pelo processo de degomagem, no qual ocorre uma hidratação, que separa a gordura ou óleo de sua goma. Por sua vez, a goma é misturada a água utilizada e se torna insolúvel em óleo, precipitando-se ao fundo e sendo separada por meio de centrifugação. Em seguida, no caso da transesterificação, a gordura ou óleo deve ser neutralizado, filtrado e seco, para que assim ocorra a redução de seus teores de umidade, acidez, fósforo, ceras e ácidos graxos livres. Este procedimento pode ser realizado através da utilização de soda cáustica, para a neutralização, e sílica ou terra ativada, para a filtração. Após esta etapa, a gordura ou óleo passa por um

28 secador para, posteriormente, ter sua temperatura ajustada para armazenamento ou utilização direta (DUARTE, 2010b). Ao produzir biodiesel através da utilização de OGR, entretanto, são necessários processos que apresentam algumas distinções, uma vez que, neste caso, é preciso lidar com uma matéria-prima menos nobre. Sua particularidade está presente no preparo da gordura ou óleo, já que este possui um considerável grau de heterogeneidade e impurezas. Assim sendo, é necessário adicionar ao processo dois pontos básicos filtragem e decantação. Na etapa de filtragem, os sólidos presentes no OGR são retirados através da utilização de filtros. Nesta etapa também é extraída toda a água que possa estar presente na gordura ou óleo para, posteriormente, este passar pelo processo de decantação. Ao final desses dois procedimentos, o OGR está pronto para passar pelo processo de degomagem, apresentando, assim, o mesmo ciclo das matérias-primas descritas anteriormente. Após preparada e refinada, a matéria-prima pode, então, ser utilizada na produção do biodiesel (CORREIA DE FREITAS, 2008). 3.6.1 Transesterificação Na transesterificação ou alcoólise, processo mais utilizado atualmente devido a seu alto rendimento, a matéria-prima (composta por triglicerídeos) reage com um monoálcool (etanol ou metanol) e, através da adição de um catalisador, usualmente básico, produz éster e glicerol (SERIO et al., 2006). A figura 04 exemplifica a reação de transesterificação, utilizando-se metanol como monoálcool. Triglicerídeo Metanol Glicerina Éster Metílico Figura 04 Reação de Tranesterificação ou alcoólise Fonte: Modificada pelo autor Neste processo são obtidos um éster metílico e, como subproduto, glicerol, que pode ser removido por decantação. Vale ressaltar que o éster metílico formado

29 possui viscosidade menor que os triglicerídeos utilizados como matéria-prima (SERIO et al., 2006). A reação de transesterificação pode ser catalisada por sítios ácidos ou básicos, em meio homogêneo ou heterogêneo. Contudo, a adição de um catalisador básico a reação de transesterificação de óleos vegetais que possuam elevado índice de acidez ou umidade pode gerar uma grande quantia de glicerol e, conseqüentemente, de emulsão, ativando assim uma reação paralela e indesejada, a saponificação (DOSSIN et al., 2006). 3.6.2 Esterificação Na esterificação, o ácido graxo (ácido carboxílico), proveniente da quebra de triglicerídeos, reage com um monoálcool, produzindo, então, um éster e água (FABIANO, et al., 2007). A figura 05 exemplifica esta reação. Figura 05 Reação de Esterificação Fonte: Modificada pelo autor Os ácidos carboxílicos podem, eventualmente, estar presentes na reação de transesterificação. Este aparecimento ocorre durante o preparo da matéria-prima ou até mesmo durante a própria reação. Todavia, tais ácidos podem ser classificados, neste caso, como resíduos indesejáveis do processo, uma vez que promovem a saponificação da matéria-prima (ARANDA, 2010a). A reação de esterificação é, usualmente, catalisada por ácidos inorgânicos, como o ácido sulfúrico. Por se tratar de uma reação reversível, o ácido inorgânico pode catalisar a reação de forma direta (processo de esterificação) ou inversa (hidrólise do éster). Assim sendo, para deslocar o equilíbrio a favor dos produtos obtidos, dois métodos podem ser adotados: a remoção de um dos produtos, preferencialmente a água e a utilização em excesso de um dos reagentes, como o

30 álcool. Além disso, a esterificação ocorre, preferencialmente, com alcoóis de baixo peso molecular, sendo o metanol o álcool mais utilizado, devido a seu custobenefício. Neste tipo de reação, não é necessário utilizá-lo em seu estado anidro, já que a água pode ser removida do sistema reacional (FABIANO, et al., 2007). 3.7 A Produção em Massa de Glicerina O desenvolvimento de tecnologias para valorização e reutilização do glicerol é uma das realizações indispensáveis para a continuação e ampliação da produção de biodiesel (MOTA, SILVA E GONÇALVES, 2009). Isto se da pelo fato de que o principal processo de obtenção de biodiesel atualmente é a transesterificação de óleos e gorduras com etanol ou metanol, resultando em uma produção de aproximadamente 10% em massa de glicerol em uma fase aquosa (UMPIERRE & MACHADO, 2011). A transesterificação de óleos e gorduras produziu no Brasil 2,4 bilhões de litros no ano de 2010, equivalente a aproximadamente 240 milhões de litros de glicerina aquosa. Este número deve aumentar significativamente, pois vivemos um cenário bastante otimista, que indica a entrada do B20 a partir de 2020, o que resultaria em um mercado cerca de quatro vezes maior (ANP, 2011). Os principais mercados do glicerol são as indústrias cosmética, farmacêutica, do tabaco e alimentícia, que consomem derivados do glicerol na forma de ésteres, poliglicerina e resinas, além de consumir glicerol como umectante, solvente, agente suavizante e de troca térmica, lubrificante e agente de preservação para bactérias entre outras aplicações, conforme é apresentado na figura 06 (UMPIERRE & MACHADO, 2011).

31 Figura 06 Gráfico de Mercado da Glicerina Fonte: Revista BiodieselBR, 2011 Glicerol ou glicerina são os nomes comuns do 1, 2, 3-propanotriol. Normalmente, usa-se o termo glicerina para designar o produto vendido no comércio varejista ao consumidor final, que é uma solução aquosa contendo entre 50% a 90% de 1, 2, 3-propanotriol (UMPIERRE & MACHADO, 2011). Segundo Aranda (2010b), a glicerina encontra nos EUA um mercado consumidor voraz, chegando a pagar US$ 3,10 por galão pela glicerina destilada ou bidestilada. Com este mercado consumidor em vista os produtores de biodiesel brasileiros poderiam aproveitar a oportunidade para investirem em unidades de destilação de glicerina. Atualmente existem tecnologias bem mais baratas do que há poucos anos atrás. O custo de instalação de uma unidade de destilação de glicerina é cerca de US$ 1milhão para cada 1.000 litros/hora de capacidade. Considerando uma operação típica de 8.000 horas/ano, essa dimensão equivaleria a uma planta de biodiesel de cerca de 80.000t/ano. Observa-se que o custo de uma unidade de destilação de glicerina seria cerca de 5% do custo de uma unidade de biodiesel menos da metade do que a há três anos atrás. Ainda segundo Aranda (2010b), a glicerina bruta ou mesmo a glicerina loira, produzida no processo de transesterificação de óleos e gorduras, possuem um máximo de 80% de glicerol, contendo quantidades insuportáveis de sais, bases, sabões, gorduras, entre outros produtos que desativam a maior parte dos

32 catalisadores usualmente conhecidos. Essa etapa de destilação de glicerina é o grande gargalo de inúmeros processos, e seria uma excelente contribuição para a indústria nacional se órgãos de fomento financiassem plantas piloto de destilação de glicerina e processos de transformação a ela associados. Seria uma excelente oportunidade de verticalizar o uso da glicerina, produzindo aditivos para combustíveis, hidrogênio para as indústrias químicas e biorrefinarias, além de plásticos, compósitos, cosméticos, aditivos alimentícios, aditivos para exploração de petróleo, entre muitos outros produtos de que o Brasil é importador. Este empurrãozinho para a gliceroquímica precisa vir o mais rápido possível, e pode gerar riquezas para o país comparáveis às do próprio biodiesel e seu enorme volume (ARANDA, 2010b).

33 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Coleta de Matéria-Prima Consistiu da coleta de óleo vegetal residual, formando uma mistura de diversos tipos de óleo, feita durante o período de uma semana, compreendendo algumas ruas de dois bairros (Nova Piracicaba e Dois Córregos) da cidade de Piracicaba/ SP. Neste período foram coletados aproximadamente 6,5 litros de óleo vegetal residual (Figura 07). Figura 07 Óleo vegetal residual coletado em dois bairros de Piracicaba/ SP Fonte: Autor, 2011 4.2 Produção de Biodiesel em Laboratório A produção de biodiesel foi feita em pequena escala, no laboratório de química da FATEC Piracicaba, levando-se em consideração os métodos aplicados por Christoff (2007), sendo determinadas algumas características, como o aspecto de coloração e a quantificação em relação à produção do bicombustível com a conseqüente produção de glicerina.

34 4.2.1 Equipamentos e Materiais Utilizados no Laboratório Balança semi-analítica MARTE modelo AL500C; Incubadora Shaker de bancada CIENTEC CT712, para agitação e controle de padronização da temperatura; Erlenmeyer para agitar o volume da mistura; Béquer para diversas etapas, entre elas a de comparação do óleo vegetal residual, óleo virgem e biodiesel; Proveta para quantificar o uso do metanol; Balões de fundo chato de 250 ml; Balões de decantação para a separação da glicerina do biodiesel; Agitador magnético com chapa aquecedora para misturar a solução junto ao óleo vegetal residual, mantendo a temperatura. 4.2.2 Matéria-Prima e Reagentes Utilizados no Laboratório Mistura de óleos vegetais residual de um único processo de fritura; Mistura de óleos vegetais residual de três processos de fritura; Óleo de Soja virgem (sem uso); Metanol 99GL e recuperado; Hidróxido de Sódio em micropérolas de MM= 40,0g; Hidróxido de Potássio em lentilhas de MM= 56,11g; 4.2.3 Ensaios para a Produção de Biodiesel Para quantificar a produção de biodiesel e comparar com a conseqüente produção de glicerina, foram preparadas, duas soluções (A e B), com catalisadores básicos (hidróxido de sódio - NaOH e hidróxido de potássio - KOH), que apresentam um processo catálise mais rápido do que a catálise ácida (SHEEHAM et. al. 1998 appud CHRISTOFF, 2007): A: 0,016 g/ml de hidróxido de sódio NaOH, em metanol (figura 08); B: 0,02 g/ml de hidróxido de potássio KOH, em metanol (figura 09).

35 Para cada uma das comparações (óleo de soja virgem, mistura de óleos de um único processo de fritura e mistura de óleos de três processos de fritura), foram utilizadas as soluções A e B descritas, com respectivamente 250 ml de cada tipo de óleo, formando-se então seis misturas, sendo: 1-250 ml de óleo virgem + 50 ml de solução A; 2-250 ml de óleo virgem + 50 ml de solução B; 3-250 ml de mistura do óleo usado uma vez + 50 ml de solução A; 4-250 ml de mistura do óleo usado uma vez + 50 ml de solução B; 5-250 ml de mistura do óleo usado três vezes + 50 ml de solução A; 6-250 ml de mistura do óleo usado três vezes + 50 ml de solução B. Figura 08 Solução de metanol recuperado com NaOH Piracicaba/ SP Fonte: Autor, 2011

36 Figura 09 Solução de metanol recuperado com KOH Piracicaba/ SP Fonte: Autor, 2011 Em seguida, essas misturas seguiram para a incubadora (figura 10), na qual foram agitadas com temperatura constante de 60 C, durante o período de 40 minutos. Figura 10 Incubadora com as amostras em processo de agitação Piracicaba/ SP Fonte: Autor, 2011

37 Decorrido o tempo descrito, foram transferidos 250 ml de cada mistura para os respectivos balões de separação (figura 11), sendo o restante descartado. Figura 11 Balões de separação com amostras de biodiesel Piracicaba/ SP Fonte: Autor, 2011 Após o período de 24 horas, a glicerina decantou-se (figura 12), pelo fato dela ser mais densa que o biodiesel. Em seguida, retirou-se a glicerina, permanecendo somente o biodiesel.

38 Figura 12 Processo de decantação Piracicaba/ SP Fonte: Autor, 2011 4.3 Entrevista Esta atividade teve como objetivo quantificar a geração mensal de óleo vegetal residual em dois restaurantes de uma grande rede de fast food árabe (Habib`s), na cidade de Piracicaba/ SP. Para tanto, aplicou-se um questionário de caráter quantitativo e exploratório. Através deste questionário foram levantados dados referentes ao tipo de óleo mais comumente utilizado, o número de vezes que este é utilizado antes de seu descarte, sua quantidade e seu destino final. Posteriormente, esses dados foram utilizados para gerar uma estimativa do total de litros de biodiesel produzidos por estes restaurantes, no período de 12 meses.

39 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Como observado na tabela 03, o óleo vegetal virgem apresentou uma produção, em ml, de biodiesel semelhante utilizando-se os dois catalisadores (NaOH e KOH), porém ligeiramente maior que a dos outros óleos utilizados. Quanto à diferença de matérias-primas coletadas, houve também uma produção ligeiramente maior no caso do óleo vegetal residual de um único processo de fritura. Por outro lado, a produção de glicerina, se deu de forma inversa, com maior volume no óleo vegetal residual de três processos de fritura. Tabela 03 Rendimento da produção de biodiesel em laboratório. Piracicaba/ SP Matéria-prima Catalisador Biodiesel produzido % de Rendimento* Glicerina produzida Óleo virgem NaOH 228 ml 91,2 18 ml Óleo virgem KOH 229 ml 91,6 18 ml Óleo usado uma NaOH 224 ml 89,6 20 ml vez Óleo usado uma KOH 225 ml 90 21 ml vez Óleo usado três NaOH 220 ml 88 24 ml vezes Óleo usado três vezes KOH 221 ml 88,4 23 ml Fonte: Autor, 2011 * Percentual de Rendimento da produção de biodiesel em relação aos 250 ml de óleo utilizado, considerando-se as perdas do processo. A tabela 04, demonstra os dados da produção de óleo vegetal residual dos restaurantes de fast food e o potencial de produção de biodiesel a partir dessa matéria-prima, considerando o percentual de rendimento do óleo vegetal usado três vezes, com catalisador NaOH.

40 Tabela 04 Óleo vegetal residual (L) e potencial de produção de biodiesel (L). Piracicaba/ SP Restaurantes Óleo/ mês Óleo / ano Biodiesel / mês Biodiesel/ ano Habib`s 1 100 litros 1.200 litros 88 litros 1.056 litros Habib`s 2 850 litros 10.200 litros 748 litros 8.976 litros Total (1+2) 950 litros 11.400 litros 836 litros 10.032 litros Fonte: Autor, 2011 Através dos dados obtidos a quantidade, em litros, de óleo vegetal residual, gerado chegaria a 11.400 litros/ ano, nos dois restaurantes. Considerando o preço médio de mercado do óleo vegetal residual (R$ 0,50/L), a receita obtida seria de R$ 5.700,00. Quanto ao biodiesel, poderiam ser produzidos 10.032 litros, a partir do óleo vegetal residual gerado anualmente nos dois restaurantes. Isto equivaleria a uma renda de até R$ 22.070,00 brutos, levando-se em conta o valor médio de R$ 2,20 por litro de biodiesel, segundo o leilão de maio de 2011 da ANP. Segundo Kunde (2010), o custo de produção de biodiesel e de aproximadamente R$ 0,60/L, somando se o valor da matéria-prima de R$ 0,50/L o custo total de produção seria de R$ 1,10/L que no caso dos restaurantes geraria um lucro de R$ 11.035,00 anual.

41 6. CONCLUSÃO - A produção de biodiesel em laboratório, utilizando óleo vegetal residual, é possível, obtendo a maior produção utilizando óleo vegetal residual de um único processo de fritura. - A quantidade de óleo vegetal residual, proveniente dos restaurantes pesquisados, pode chegar a 11.400 litros anuais, que se comercializados, gerariam uma renda de R$ 5.700,00. - A produção de biodiesel a partir do óleo vegetal residual, provenientes destes restaurantes, poderia gerar 10.032 litros anuais, equivalentes a um valor bruto de R$ 22.070,00, e um lucro de R$ 11.035,00, se comercializados. - Além dos aspectos econômicos, a transformação do óleo vegetal residual em biodiesel, colabora para a destinação ambientalmente correta deste resíduo.

42 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGIRAZUL Resolução do CONAMA define cores para recipientes de resíduos. Net, 2011. Disponível em: http://www.agirazul.com.br/123/noticias/00000035.htm Acesso em 03 de maio de 2011. ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Net, 2011. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/> Acesso em 24 de abril de 2011. ARANDA, Donato. Ácidos Graxos: co-produtos que podem valer mais que o biodiesel. Revista BiodieselBR, Edição 17, ano 3, p. 18, Jun/Jul 2010. ARANDA, Donato. Empurrãozinho para a gliceroquímica industrial. Revista BiodieselBR, Edição 16, ano 3, p. 18, Abr/Mai 2010. BIODIESELBR. O Que é Biodiesel?. Net, 2010. Disponível em:<http://www.biodieselbr.com/biodiesel/definicao/o-que-ebiodiesel.htm> Acesso em 14 de abril de 2011. CHRISTOFF, Paulo. Produção de biodiesel a partir do óleo residual de fritura comercial, estudo de caso: Guaratuba, litoral paranaense. LACTEC Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento. Dissertação Mestrado, p. 82, Curitiba, 2007. CLEANDIESEL. A consciência ecológica na prática. Net, 2008. Disponível em: <http://www.cleandiesel.com.br/>. Acesso em 02 de maio de 2011. CORPO SAUN Blog. Conheça os diferentes tipos de óleo de cozinha. Net, 2010. Disponível em: <www.corposaun.com/conheca-os-diferentes-tipos-de-oleos-decozinha/9221/>. Acesso em 07 de maio de 2011.