VITRINE DA GRAÇA Efésios 5.31-32 31 Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne. 32 Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja. O lar do povo da graça Nossa caminhada pela carta de Paulo aos Efésios nos trouxe para dentro de casa. Primeiramente, fomos levados às regiões celestiais (Ef 1) e, agora, nos assentamos ao redor da mesa para uma conversa franca sobre a família (Ef 5.21-6.9). O desejo do apóstolo é que examinemos os nossos lares à luz do evangelho, para saber se estamos, pela força do Espírito Santo, encarnando e espelhando a graça de Deus em Cristo. Semana passada, nós olhamos para a imagem completa do lar do povo da graça (Ef 5.22-6.9). Fizemos três observações importantes: 1. A vida cristã é para ser vivida no lar 2. Nem todos têm o mesmo papel no lar 3. Os fundamentos de Deus para o lar Dissemos que olharíamos para cada papel, separadamente, buscando compreender o que Deus espera das esposas, dos maridos, dos pais, dos filhos, dos patrões e dos empregados. Deus permitindo, é o que faremos nas semanas a seguir. Antes, porém, faremos uma reflexão mais profunda: precisamos visitar o subsolo, os alicerces sobre os quais nós construímos nossos lares e sobre os quais nós desempenhamos os nossos papeis. Plano e propósito do casamento O casamento não é invenção humana. Ele não é fruto da conveniência dos homens nem da cultura de determinadas épocas. O matrimônio é parte do plano de Deus para a humanidade. Jesus, interpretando Moisés, disse assim: -! - 1
Mc 10.6-9 6 Mas no princípio da criação Deus os fez homem e mulher. 7 Por esta razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, 8 e os dois se tornarão uma só carne. Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe. Quando Jesus leu Gênesis 2.24 ele destacou o plano de Deus. Paulo, interpretando a mesma passagem, viu nela o propósito de Deus. Deus mesmo planejou o casamento, pois ele tinha um propósito singular, que é revelar a sua gloriosa graça (Ef 1.6) através do relacionamento entre marido e mulher. Observe: Ef 5.31-32 31 Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne. 32 Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja. * Magia profunda que Aslam cita (C. S. Lewis em o Leão a feiticeira e o guarda-roupa) simboliza a autoridade e o poder do Pai e a sujeição de Cristo, como Filho amado, ao Pai. O casamento, em última instância, existe para revelar a aliança de amor sustentada entre Cristo e sua Igreja. Homem e mulher, quando deixam pai e mãe e se unem em aliança, tornando-se ambos uma só carne, estão retratando o pacto entre Cristo e a Igreja. Um modelo de Cristo e da Igreja O casamento, portanto, é um modelo de Cristo e da Igreja. Há, segundo John Piper, três implicações fundamentais deste plano e deste propósito de Deus para o relacionamento entre marido e mulher: 1. Eleva o nível do casamento. Arranca-o do baixo calão em que inseriram o matrimônio (ao tratá-lo como comédia) e coloca-o no nível do céu, das coisas celestiais às quais ele pertence. 2. Concede uma base sólida para o casamento. Fornece aos cônjuges, aos pais e aos filhos o fundamento da graça, uma vez que Cristo comprou e agora sustenta a sua noiva pela graça. Relacionamo-nos com graça e refletimos graça. 3. Ensina com que espírito os papéis devem ser vividos no casamento. Revela que tais papéis são definidos pelo mesmo -! - 2
espírito abnegado de Cristo na cruz. Autoridade, submissão e obediência são exercidos pela ótica da cruz. Marido e mulher, pais e filhos, patrões e empregados, enfim, todos no lar, jamais poderão tentar viver a vida familiar sem levar em conta que o casamento é um modelo de Cristo e da Igreja. A base sólida da graça Uma vez que a aliança de Cristo com a Igreja é estabelecida e sustentada pela graça comprada pelo sangue, os casamentos foram por Deus planejados para projetar essa mesma graça entre marido e mulher, e também entre os demais. Em outras palavras, nós nos apropriamos, pela fé, do evangelho da graça e, também pela fé, destilamos nos outros da mesma graça que nós recebemos. Salvos da ira de Deus O evangelho nos salva. Nos salva de quê? Da ira de Deus! Rm 5.9 Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio dele, seremos salvos da ira de Deus. Pensar sobre a salvação, mas, principalmente, refletir sobre ela à luz da ira de Deus no contexto do casamento, coloca os nossos relacionamentos na perspectiva correta. Quando nós ignoramos a ira de Deus, pelo menos duas coisas acontecem em nossos casamentos: 1. O evangelho se distancia da nossa realidade. Ele se transforma em simples palavras de autoajuda para casais, e nós transformamos a gloriosa mensagem da salvação em conselhos triviais para o bem-estar e a felicidade. Não é à toa que cada vez mais o evangelho se torna distante! 2. Perdemos a capacidade de perdoar. Seremos tentados a pensar que a ira que sentimos contra o cônjuge é simplesmente grande demais para ser vencida, porque jamais teremos provado do que significa ver uma ira infinitamente maior sendo superada pela graça, isto é, a ira de Deus sobre cada um de nós. Não é à toa que não perdoamos! -! - 3
Deus cancelou a escrita de dívida Fomos salvos da ira de Deus porque Deus cancelou a nossa dívida. Cl 2.13-15 13 Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, 14 e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, 15 e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz. Deus pegou os débitos do pecado que nos tornavam merecedores de sua ira santa e justa e os cravou nas mãos e nos pés de Jesus na cruz. Pela graça, Deus cancelou a nossa escrita de dívida e, por meio da fé, nós fomos absolvidos e nos tornamos justos. Pela graça e por meio da fé nós fomos perdoados e justificados. A essa altura, você deve estar se perguntando: E o meu casamento com isso? Isso nos leva um passo adiante Perdoados para perdoar De forma bem simples, poderíamos dizer que nós fomos perdoados para perdoar. Ou seja: tudo o que vivemos do evangelho na direção vertical (eu e Deus), deve ser vivido também na direção horizontal (eu e meu cônjuge; eu e meu filho; eu e meus pais; eu e meu próximo). Veja Cl 3.12-13 12 Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. 13 Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Nossos casamentos e nossos lares foram planejados e projetados por Deus para servirem de vitrine da sua gloriosa graça. Isso significa, entre outros, que assim como nós fomos perdoados, nós também perdoamos. Da mesma maneira que as nossas transgressões foram lançadas na conta de Cristo, lá também nós lançamos as dívidas daqueles que nos devem (inclusive as dívidas de nossos cônjuges, de nossos pais, de nossos filhos, de nosso próximo, etc.). -! - 4
Fomos salvos pela graça para vivermos também pela graça, recebemos graça para refletirmos graça. Agora, por que destacar este aspecto (da graça cobrindo uma multidão de pecados) e não o romance e as alegrias do casamento e da vida do lar? Há pelo menos três razões: 1. Haverá conflitos como fruto de pecados e também de embaraços. Pecados deverão ser perdoados, enquanto os embaraços deverão ser suportados. Sabe o que é ainda pior? Muitas vezes nós nem conseguiremos concordar sobre o que é pecado e o que é embaraço (esquisito), o que é falha de caráter e o que é traço de personalidade. Então, ou nós aprendemos a viver pela graça ou nós não conseguiremos ir muito longe. 2. Os que perseverarem na graça descobrirão que o trabalho duro de perdoar os pecados e árduo de suportar os embaraços (as esquisitices) é o que possibilita os afetos florescerem quando eles estiverem murchos e secos, parecendo estar mortos. 3. Por confiarem de coração em Cristo, por viverem pela fé, Deus receberá a glória quando duas pessoas tão diferentes e tão imperfeitas construírem uma vida de amor e de fidelidade na fornalha da aflição. Os manequins da graça de Deus Quem são as esposas e os maridos cristãos que se uniram em casamento com o sublime propósito de desfilarem a gloriosa graça de Deus para o mundo que os observa? Veja Cl 3.12-13 12 Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. 13 Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Eles são escolhidos, santos e amados de Deus, ou seja: a identidade deles é construída a partir 1- da soberania de Deus sobre a vida deles (escolhidos), 2- do propósito de Deus para a vida deles (santos) e 3- do amor de Deus por eles (amados). Para que esposas se submetam aos seus maridos como a igreja se submete a Cristo, e para que maridos amem suas esposas da maneira -! 5 -
como Cristo amou a igreja, maridos e esposas precisarão absorver e saborear de todo coração a sua nova identidade em Jesus Cristo - somos escolhidos, santos e amados de Deus. A luta que deve ser travada na raiz de todos os casamentos cristãos é a batalha pela compreensão e pela celebração dessa maravilhosa verdade - nós somos os manequins da graça de Deus, somo escolhidos, somos santos e somos amados de Deus. As roupas da graça de Deus Com base nessa nova e tão profunda identidade, o cristão se veste de graça. Tendo recebido graça (escolhido, santo e amado), marido e mulher se vestem de graça para o encanto um do outro e também do mundo sem graça. Cl 3.12-13 12 Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. 13 Suportem-se (aguentar, tolerar - Lc 9.41; 1Co 4.12) uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Paulo apresenta três pares de virtudes (qualidades e atitudes). Agora, notem que cada atitude é fruto de uma qualidade do coração. 1. Profunda compaixão produz bondade 2. Humildade produz mansidão 3. Paciência produz tolerância (suportem-se) e perdão Cônjuges que, pela fé na graça futura de Deus, não cultivam profunda compaixão, não cultivam humildade e não cultivam paciência jamais produzirão o fruto da bondade, da mansidão, da tolerância e do perdão. O fundamento do casamento e do lar é o evangelho. -! - 6
Vitrine da graça Para que nossos lares sejam o que Deus planejou que eles fossem, ou seja: vitrines da graça, homens e mulheres, pais e filhos, enfim, todos, precisarão conhecer e celebrar o evangelho. Só assim eles crerão nele e compartilharão ele uns com os outros do lar e também com o mundo. - O lar é lugar onde se prova e se partilha da graça. - O lar é vitrine da graça. -! - 7