VERIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS EM TIJOLOS PRODUZIDOS COM RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL



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Transcrição:

VERIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS EM TIJOLOS PRODUZIDOS COM RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL Danielly de Oliveira Lecchi (danielly357@gmail.com) Aluna de graduação do curso de engenharia civil. Renan Bozi Spinassé (renanspinasse@gmail.com) Aluno de graduação do curso de engenharia civil. RESUMO A reutilização dos resíduos de construção e demolição na fabricação de tijolos de solo-cimento, além de ser uma opção ambientalmente correta, é uma alternativa capaz de reduzir custos e proporcionar vantagens técnicas. Este estudo se propôs a investigar se a adição de resíduos de concreto aos componentes dos tijolos de solo-cimento melhoram suas propriedades mecânicas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa experimental que permitiu selecionar as variáveis que influenciam na composição e resistência do solo-cimento. Dessa forma foram moldados corpos de prova cilíndricos, os quais foram submetidos a ensaios em conformidade com as Normas Técnicas Brasileiras. Os resultados obtidos mostraram que a adição de resíduos de concreto aos componentes do solo-cimento possibilita condições técnicas favoráveis para a produção dos tijolos, visto que, os valores médios encontrados no ensaio de compressão simples para os três traços estudados ficaram próximos de 2,4 Mpa, valor superior ao recomendado por norma. PALAVRAS-CHAVE: Tijolos de solo-cimento, resíduos de construção, reciclagem, sustentabilidade. 1 INTRODUÇÃO A construção civil sempre existiu para atender as necessidades básicas e imediatas do homem sem se preocupar, em um primeiro momento, com a técnica aprimorada (CORRÊA, 2009). A urbanização acelerada aliada ao rápido adensamento das cidades tem provocado problemas quanto à destinação do volume de resíduos na construção civil (PINTO, 1999). Tais problemas associados à tendência de carência dos recursos naturais e necessidade de preservação ambiental exigem do setor novos conceitos e soluções técnicas (SOUZA, SEGANTINI e PEREIRA, 2008). Nesse contexto a possibilidade de reciclagem dos resíduos da indústria da construção civil é de crescente importância. Além dos benefícios ambientais na redução da demanda em áreas para a eliminação dos resíduos, a reciclagem de RCD também pode ajudar a preservar os materiais naturais e reduzir o custo do tratamento dos resíduos antes do descarte (POON, C. S.; KOU, S. C. e LAM, L., 2002). A Resolução CONAMA nº 307 (2002) estabelece no art. 3º que os resíduos classe A, provenientes de construção, demolição, reformas e reparos, tais como: solos, componentes cerâmicos, argamassa e concreto, podem ser reciclados ou reutilizados como agregados. Surge a chance de transformar esses resíduos em agregados para o uso em matrizes de tijolos de solo-cimento. 2 JUSTIFICATIVA OU REFERENCIAL TEÓRICO OU OUTRO 2.1. SOLO-CIMENTO O solo-cimento pode ser definido como o material endurecido, que resulta da cura de uma mistura íntima compactada de solo, cimento portland e água, em proporções adequadas (NBR 12024 - ABNT, 1992). O 1

produto resultante deste processo apresenta boa resistência à compressão, bons índices de impermeabilidade e durabilidade e baixo índice de retração volumétrica (ABCP, 1986). A NBR 8491 (ABNT, 1984) estabelece condições específicas exigíveis para os tijolos de solo-cimento, fixando que a resistência média a compressão da amostra ensaiada deve ser igual ou superior a 2,0 MPa aos 7 dias e o valor individual dos tijolos não pode ser inferior a 1,7 Mpa. Os tijolos de solo-cimento são uma alternativa viável para a construção de alvenaria, pois necessitam de equipamentos simples de baixo custo para sua fabricação; possuem regularidade de suas formas, requerendo com suas faces lisas e planas espessura mínima de argamassas; quando protegidos da ação direta da água dispensam o uso de revestimento; não precisam de mão de obra especializada; apresentam resistência à compressão simples similar à do tijolo cerâmico depois de reduzido período de cura, sendo mais elevada quanto maior for a quantidade de cimento empregada (ABCP, 2000). Sendo o solo, o elemento que entra em proporção maior na mistura, Rolim, Freire e Beraldo (1999) destacam que a possibilidade de utilização de solo do próprio local da obra constitui-se numa das grandes vantagens do solo-cimento. Outra vantagem citada por Souza, Cortez e Teixeira (2013) é que o solocimento dispensa a queima, não consumindo combustível na fabricação, principal fato que o difere do tijolo tradicional. Outro aspecto atrelado ao solo-cimento é a possibilidade de racionalizar o processo construtivo com o uso de tijolos modulares, que permitem rapidez e praticidade ao processo construtivo, além de reduzir desperdícios e volume de entulho gerado. Visto isso, Souza, Segantini e Pereira (2008) declaram que os tijolos de solo-cimento retratam uma alternativa em plena sintonia com as diretrizes do desenvolvimento sustentável. No entanto, apesar das inúmeras vantagens o bloco de solo-cimento tem duas desvantagens principais que são o peso e alta condutividade térmica, cerca de 5,60 kg/peça e 1,4823 W/mK, respectivamente (KHEDARI, WATSANASATHAPORN e HIRUNLABH, 2005). 2.1.1. Solo O solo é um sistema complexo que resulta da ação conjugada dos agentes dos intemperismos físico, químico e biológico sobre as rochas, sendo composto por materiais sólidos, líquidos e gasosos, de natureza mineral e orgânica (SILVA, 2009). A ABCP (2000) afirma que o solo, componente de maior proporção na mistura do solo-cimento, deve ser selecionado de modo a possibilitar a menor quantidade possível de cimento. Para não comprometer o processo de fabricação dos tijolos ou gerar patologias na alvenaria, Pisani (2002) estabelece que o solo não deve conter gravetos, seixos e pedregulhos em excesso. Também devem ser evitados solos que contenham matéria orgânica, visto que esta pode perturbar a estabilização do solo (ABCP,1986). Para a seleção dos solos são necessários os seguintes ensaios: Amostras de solo Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios de Caracterização (NBR 6457); Determinação da Massa Específica dos Grãos de Solos (NBR 6508); Solo - Determinação do Limite de Liquidez (NBR 6459); Solo - Determinação do Limite de Plasticidade (NBR 7180); Solo - Análise Granulométrica (NBR 7181). Se a realização desses ensaios não for possível a ABCP (1986) recomenda o ensaio prático da caixa. 2.1.2. Cimento Portland Cimento portland é a denominação convencionada mundialmente para o material conhecido na construção civil como cimento. É um pó fino com propriedades aglomerantes, aglutinantes ou ligantes 2

que sob ação da água endurece e não se decompões mais. Atualmente existem no mercado vários tipos de cimento portland com diferentes características e propriedades, tornando-os apropriados para determinados usos (ABCP, 2002). Quanto aos tipos de cimentos que podem ser utilizados para a produção dos tijolos, a ABCP (2000) determina que devem atender a uma das seguintes especificações: NBR 5732 - Cimento Portland Comum; NBR 11578 - Cimento Portland Composto; NBR 5735 - Cimento Portland de Alto-Forno; NBR 5736 - Cimento Portland Pozolânico; NBR 5733 - Cimento Portland de Alta Resistência Inicial. 2.1.3. Água A NBR 8491 (1984) instrui que a água usada deve ser isenta de impurezas nocivas à hidratação do cimento. A ABCP (2000) em concordância com a NBR 8491 presume como adequadas as águas potáveis. 2.2. RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL A Resolução nº 307 do CONAMA (2002) adota como definição para resíduos da construção civil os materiais provenientes de construções, reformas, reparos e demolições, além dos resultantes da preparação e escavação de terrenos, tais como: solos, resinas, madeiras e compensados, tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, rochas, plásticos, metais, colas, tintas, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, tubulações, fiação elétrica etc., usualmente chamados de entulhos de obras, metralha ou caliça. A resolução classifica esses resíduos da seguinte forma: I - Classe A - resíduos que permitam ser reutilizados ou reciclados como agregados, são eles: concreto, solos, telhas, blocos, argamassa, tijolos, placas de revestimento, entre outros; II - Classe B - resíduos recicláveis para outras finalidades, como: madeiras, vidros, plásticos, papel, metais, entre outros; III - Classe C - resíduos para os quais não foram desenvolvidas aplicações ou tecnologias economicamente viáveis que permitam a sua recuperação/reciclagem, tais como os produtos provenientes do gesso; IV - Classe D - resíduos perigosos provenientes de construção (óleos, solventes, tintas e outros), ou aqueles contaminados provenientes de reparos, demolições e reformas de instalações industriais, clínicas radiológicas e outros. 2.3. RECICLAGEM A reciclagem de entulho como material de construção encontra-se atrasada no Brasil, principalmente quando comparada a países europeus. Apesar de sua heterogeneidade a maior parcela de materiais descartados pelas obras de construção civil possuem alto valor agregado e boa resistência mecânica, podendo ser considerados jazidas de matérias-primas passíveis de serem exploradas (SOUZA, 2006). Ângulo, Zordan e John (2001) apontam alguns benefícios gerados pela reciclagem na construção civil, são eles: redução no consumo de recursos naturais não-renováveis através da substituição por resíduos reciclados; redução de áreas necessárias para aterros, pela diminuição do volume de resíduos com a reciclagem, redução do consumo de energia durante o processo de produção; redução da poluição para a indústria de cimento, por exemplo, que reduz a emissão de gás carbônico utilizando escória de alto forno em substituição ao cimento Portland. Nesse contexto surge a possibilidade de incorporar os resíduos da construção civil aos componentes do solo-cimento durante a fabricação. Souza (2006) verificou que a adição dos resíduos de concreto na fabricação de tijolos de solo-cimento possibilitou a redução no consumo de cimento; melhorou as 3

características do solo e as propriedades mecânicas dos tijolos, além de proporcionar uma prática ecologicamente correta. De acordo com Souza, Segantini e Pereira (2008) o solo-cimento é uma ótima matriz para o emprego dos resíduos de concreto, permitindo a adição de 60% de resíduos em relação a massa de solo, sem conceber prejuízos para as características dos tijolos. 3 METODOLOGIA DO TRABALHO Na etapa inicial, foi elaborado um levantamento bibliográfico sobre o tema proposto a fim de compreender as atividades experimentais empregadas na produção dos corpos de prova com diferentes percentuais de resíduos de concreto. Para a seleção do solo empregado na fabricação dos corpos de prova foi realizado o ensaio prático para medida da retração (ensaio de caixa). Na execução do ensaio o solo foi desagregado e peneirado na peneira de 4,8 mm de abertura de malha. Foi adicionada água até que o solo adquirisse consistência de argamassa de reboco. O material foi colocado numa caixa de madeira, com dimensões internas de 60,0 cm x 8,5 cm x 3,5 cm, previamente lubrificada. Após o adensamento manual do solo a caixa foi condicionada ao abrigo do sol, da chuva e do vento, durante um período de sete dias. Após este tempo, fez-se a medida da retração na direção do comprimento da caixa. A partir da seleção do solo iniciaram-se as atividades de laboratório. Conforme revisão bibliográfica, foram empregadas composições variadas de resíduo, sendo que em relação à massa do solo foram utilizadas vinte, quarenta e sessenta por cento (20%, 40% e 60%) de resíduos de concreto e um teor de cimento de oito por cento (8%) em relação à massa total da mistura. Também foram feitos corpos de prova de acordo com os tijolos convencionais, ou seja, utilizando apenas solo e cimento (sem adição de resíduos), para posterior comparação. Para cada traço foram confeccionados três corpos de prova no cilindro de Próctor, com diâmetro 10 cm e altura 12,73 cm. A compactação foi feita em quatro camadas, aplicando-se 25 golpes em cada camada com um soquete de 2,5 kg a uma altura de 30,5 cm. Após a compactação os corpos de prova foram dispostos em local coberto protegidos de chuva, ventos excessivos e sol. A cura foi feita por meio da aspersão manual, através do regador os corpos de prova foram molhados com um leve chuvisco 4 vezes ao dia durante 7 dias. Esse processo foi realizado conforme orientação de professores e técnicos com conhecimento no assunto. Após a cura os corpos de prova foram submetidos ao ensaio mecânico de compressão simples através da prensa eletro-hidráulica digital (Soloteste, série 11654), com capacidade de 100 toneladas força, equivalente a aproximadamente 392 MPa. O ensaio foi realizado em concordância com as normas NBR 8492 (ABNT, 1984) e NBR 12024 (ABNT, 1992). Por fim foi feita uma análise e discussão dos resultados obtidos, comparando os resultados dos testes dos corpos de prova solo-cimento com os aqueles com solo-resíduo-cimento. 4 ANÁLISE DOS DADOS OU OUTRO O ensaio de retração realizado com solo natural, sem adição de resíduo, apresentou uma fenda de 2,0 cm atendendo as especificações da ABCP (2000) a qual determina que se a retração total não ultrapassar 2,0 cm e não aparecerem trincas na amostra, o solo pode ser utilizado. Realizados os testes de compressão os seguintes resultados foram obtidos: 4

Tabela 1: Resistência média a compressão dos corpos de prova de solo-cimento com resíduos de concreto aos 7 dias. Resistência média Traço com 7 dias (Mpa) Solo + 8% de cimento 2,6 Solo + 8% de cimento + 20% de resíduos 2,3 Solo + 8% de cimento + 40% de resíduos 2,4 Solo + 8% de cimento + 60% de resíduos 2,4 A resistência média a compressão dos corpos de prova com 8% de cimento aos 7 dias atendeu as prescrições da NBR 8492, que estabelece um valor médio maior ou igual a 2 Mpa. 5 CONCLUSÃO Com base nos resultados encontrados, concluiu-se que a adição de resíduos de concreto aos componentes do solo-cimento possibilitou condições técnicas favoráveis para a produção dos tijolos, sendo possível a adição de até 60% de resíduos em relação à massa de solo, sem prejuízos para as características mecânicas do solo-cimento. O estudo visou contribuir para a literatura global desenvolvendo técnicas que ampliassem a utilização dos resíduos de concreto para a geração de agregados empregados na fabricação do solo-cimento. Portanto, permitiu-se verificar no caso em questão que todos os traços adotados demonstraram condições adequadas para este fim. O reaproveitamento de materiais descartados em obra é um item de grande valia tanto economicamente (proporciona redução de gastos com a matéria prima) quanto ambientalmente. Seguindo esses preceitos pode-se sugerir como forma de ampliação dos estudos a inserção de outros materiais reciclados (provenientes ou não do setor de construção civil) na composição de solo-cimento, a fim de viabilizar a redução de cimento na mistura. 6 REFERENCIAS 1. ÂNGULO, S. C; ZORDAN, S. E; JOHN, V. M. Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de resíduos na construção civil. Seminário Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem na Construção Civil Materiais Reciclado e suas Aplicações. CT206. IBRACON. Anais. São Paulo, p. 45-56, 2001. 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - ABCP. Dosagem das misturas de solo-cimento; normas de dosagem e métodos de ensaios. 3.ed. atual. revisada pelo Eng. Márcio Rocha Pitta. São Paulo, 1986. 57p. (ET-35) 3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - ABCP. Fabricação de tijolos de solo-cimento com a utilização de prensas manuais. 3.ed.rev.atual. São Paulo, ABCP, 2000. 16p. (BT-111) 4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - ABCP. Guia básico de utilização do cimento portland. 7.ed. São Paulo, 2002. 28p. (BT-106) 5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Solo-cimento: Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos. NBR 12024, Rio de Janeiro, 1992. 6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Tijolo maciço de solocimento. NBR 8491, Rio de Janeiro, 1984. 5

7. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Tijolo maciço de solocimento determinação da resistência à compressão e da absorção d água. NBR 8492, Rio de Janeiro, 1984. 8. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução Nº 307, de 5 de julho de 2002. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html>. Acessado em: 15 Set. 2013. 9. CORRÊA, L. R. Sustentabilidade na construção civil. Belo Horizonte, 2009. 10. KHEDARI, Joseph; WATSANASATHAPORN, Pornnapa; HIRUNLABH, Jongjit. Development of fibre-based soil cement block with low thermal conductivity. Cement and Concrete Composites, v. 27, n. 1, p. 111-116, 2005. 11. PINTO, T. P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São Paulo, 1999. Tese (doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 189p. 12. PISANI, M. A. J. Um material de construção de baixo impacto ambiental: o tijolo de solocimento. São Paulo, 2002. 13. POON, C. S.; KOU, S. C.; LAM, L. Use of recycled aggregates in molded concrete bricks and blocks. Construction and Building Materials, v. 16, n. 5, p. 281-289, 2002. 14. ROLIM, M. M; FREIRE, W. J; BERALDO, A. L. Análise comparativa da resistência à compressão simples de corpos-de-prova, tijolos e painéis de solo-cimento. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 3, n. 1, p. 89-92, 1999. 15. SILVA, M. R. Incorporação de lodo de Estações de Tratamento de Água (ETAs) em tijolos de solo-cimento como forma de minimização de impactos ambientais. 84 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Aracruz FAACZ. Aracruz - ES. 2009. 16. SOUZA, Nathália Assunção; CORTEZ, Ana Carolina; TEIXEIRA, Nayara Almeida. CONTROLE TECNOLÓGICO DOS TIJOLOS ECOLÓGICOS DO PROGRAMA. e-rac, v. 3, n. 1, 2013. 17. SOUZA, M. I. B. de. Análise da adição de resíduos de concreto em tijolos prensados de solocimento. Ilha Solteira, SP: FEIS UNESP, 2006. 18. SOUZA, M. I. B de; SEGANTINI, A. A. S; PEREIRA, J. A. Tijolos prensados de solo-cimento confeccionados com resíduos de concreto. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 12, n. 2, p. 205-212, 2008. 6