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Transcrição:

GESTÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM BAIRROS PERIFÉRICOS DE GOIÂNIA 1. Marta lemos Guimarães 2, Antônio Pasqualetto 3 Uma descoberta, seja feita por um menino na escola ou por um cientista trabalhando na fronteira do conhecimento, é em sua essência uma questão de reorganizar ou transformar evidências, de tal forma que se possa ir além delas assim reorganizadas, rumo a novas percepções. Jerone Bruner RESUMO A exigência de se instalar rede de esgoto residencial em toda a cidade de Goiânia torna-se cada vez mais premente. A pesquisa teve como objetivo, conhecer esta realidade nos bairros periféricos da capital, e, também, constatar a maneira precária como se faz o escoamento do esgoto doméstico, nos locais em referência. O estudo foi realizado através de visitas in loco, de revisão de literaturas pertinentes ao assunto, de consultas à internet e de subsídios fornecidos pela SEPLAM. Dos resultados percebeu-se que a maioria dos bairros periféricos não possui rede de esgoto e utilizam-se da fossa negra para dispensar seus resíduos domésticos, causando, assim,, danos à Saúde Pública e ao meio ambiente. Fez, também, sugestão de possíveis orientações e de soluções para o grave problema do saneamento básico, na periferia da cidade. Palavras-chave: saneamento básico esgoto fossa ABSTRACT Management of the sanitary sewage in the outkirts neighborhoods of Goiânia. The demand of settling residential sewerage system in the whole city of Goiânia becomes more and more nearly. The research had as objective, to know this reality in the outskirts neighborhoods of the capital, and, also, to verify the precarious way the drainage of the domestic sewage is made. The study was accomplished through visits in loco, of revision of pertinent literatures to the subject, of consultations to the internet and of subsidies supplied by SEPLAM. Of the results it was noticed that most of the outskirts neighborhoods doesn't possess sewerage system and they are used of the black cloaca to release your domestic residues, causing, this way, damages to the Public Health and the environment. It did, also, suggestion of possible orientations and of solutions for the serious problem of the basic sanitation, in the periphery of the city. Key-words: basic sanitation sewage cloaca 1 Artigo Científico apresentado ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Universidade Católica de Goiás (UCG), curso de Especialização em Gestão Ambiental. 2003 2.Especializanda em Gestão Ambiental 3.Orientador, Eng. Agro.,Prof. Dr. Antônio Pasqualetto, pasqualetto@ucg.br, SENAI/UCG

1 1 INTRODUÇÃO A cidade de Goiânia, apesar de sua grandiosidade geo-demográfica e de seu desenvolvimento sócio -econômico-cultural, não dispõe de um serviço de saneamento básico adequado e satisfatório na quase totalidade de suas regiões periféricas. Este fato, deve-se, em parte, ao crescimento, de forma desordenada, de ocupações eminentemente urbanas, por meio de invasões de forma clandestina e, às vezes, com o apoio do próprio Poder Público, visando amenizar os conflitos entre proprietários e posseiros. Nestes loteamentos, é visível, a ausência de saneamento básico. A falta de rede de esgoto na periferia de Goiânia, leva a população a dispor os efluentes de maneira inadequada, utilizando-se de fossas negras e também da superfície do próprio solo (esgoto a céu aberto). seguinte comentário: No jornal O Popular, edição de 16 de dezembro de 2002, fez-se o Cerca de 60% dos domicílios goianos ainda dispensam seus resíduos de forma incorreta, ameaçando de contaminação os lençóis freáticos e colocando em risco a saúde pública. (...) O esgoto produzido em mais de 57% dos domicílios urbanos vai para fossas negras e outras instalações inadequadas. (Oliveira, 2002) Nesta pesquisa, buscou-se constatar a realidade sobre a infraestrutura de saneamento básico em alguns bairros periféricos de Goiânia, tendo em vista os esgotos dos despejos domésticos, isto é, águas residuárias domésticas que, também, provocam poluição e, conseqüentemente, ocasionam sérios prejuízos à saúde pública e à ambiental.

2 2 OBJETIVOS Constatar a realidade da infra-estrutura de saneamento básico em alguns bairros periféricos de Goiânia. Sugerir possibilidades de melhoria das condições de higiene e de saúde dos habitantes das regiões visitadas. 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 ESGOTO 3.1.1 Conceito Esgotos são os despejos provenientes das diversas modalidades do uso e da origem das águas. 3.1.2 Classificação 3.1.2.1 Esgotos sanitários São essencialmente domésticos, contendo também águas de infiltração e ainda uma parcela não significativa de despejos industriais, com características bem definidas. Os esgotos domésticos provêm principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham banheiros, lavanderias ou cozinhas (Goiás, 2003b). 3.1.2.2 Esgotos industriais Extremamente diversificados, provêm de qualquer utilização para fins industriais e adquirem características próprias em função do processo industrial empregado (Goiás, 2003b).

3 3.1.3 Rede coletora Trata-se das tubulações que recebem os esgotos gerados nas residências, estabelecimentos comerciais e industriais etc (Figura 1). É implantada sob via pública ou passeios, sendo dotada de poços de visita, para inspeção e introdução de equipamentos de limpeza. Há predominância na utilização de tubulações de 150mm (Goiás, 2003a). Roda coletora Rede coletora Ramal coletor do Esgoto Interceptor Estação de Bombeamento Estação de Tratamento de Esgoto Lançamento do Esgoto tratado no rio Figura 1. Sistema de Esgoto Sanitário Fonte: Goiás, 2003a.

4 3.1.4 Tipos usuais de tratamento de esgotos sanitários, para locais onde não há rede coletora de esgoto 3.1.4.1 Fossas sépticas De acordo com Jordão (2003) são unidades estanques de tratamento primário de esgotos, onde a velocidade e a permanência do líquido na fossa permitem a separação da fração sólida do líquido, proporcionando digestão limitada da matéria orgânica e acúmulo dos sólidos (Figura 2). 3.1.4.2. Sumidouros Para Jordão (2003), são unidades capazes de receber a parte líquida proveniente das fossas sépticas e têm a função de permitir sua infiltração no solo e, para tanto, devem ser construídos em tijolo em crivo ou concreto perfurado (Figura 2). Sumidouro Fossa séptica Tanque de tijolo, revestido por cimento, impermeável. Faz o tratamento dos resíduos, que se decompõem. Recebe resíduos de pias, tanques, chuveiro e vaso sanitário. O sumidouro (poço calçado com tijolo em crivo, que permite a infiltração da água no solo) recebe a água da fossa. Fonte: IBGE/Censo 2000 e Agência Ambiental de Goiás Figura 2. Fossa Séptica e Sumidouros (Goiás, 2002)

5 3.1.5 Sistemas de esgotamento sanitário usados na maioria dos bairros periféricos visitados São usadas fossas negras e fossas secas para o escoamento do esgoto doméstico. A Figura 3 ilustra o conceito destes tipos de fossa. 2002) Figura 3. Fossa negra, fossa seca. Fonte: IBGE/Censo 2000 e Agência Ambiental de Goiás (Goiás, 3.1.6. Finalidade da fossa séptica A fossa séptica, como sistema de tratamento do esgoto doméstico tem como finalidade soluções provisórias de saneamento básicos em locais onde não haja rede de esgoto. A finalidade da fossa é proporcionar condições favoráveis à ação rápida das bactérias aeróbias, e principalmente anaeróbias, e uma fossa será tanto mais perfeita e eficaz quanto mais depressa e integralmente realizar a transformação da matéria cloacal do afluente em

6 4 METODOLOGIA sedimentos ou lamas imputrecíveis, permitindo, assim, que o efluente possa, sem riscos de contaminação e o inconveniente do mau odor, ser lançado num sumidouro, numa vala de infiltração, ou filtração, ou, ainda, num curso d água. (Macintyre, 1996) Utilizou-se de revisão bibliográfica, de pesquisa de campo, de consulta a órgãos do Poder Público Municipal e Estadual. 4.1 PESQUISA Foram pesquisados jornais, livros, e, também informações e orientações na rede mundial de computadores (web). Na pesquisa de campo, visitou-se bairros periféricos da cidade. Os bairros foram escolhidos em função de evidências percebidas na execução de atividades de vistorias prévias. Selecionaram-se três critérios para a escolha dos mesmos: a) a maior distância entre o bairro e o centro da cidade; b) tomou-se, como amostra, populações de baixa renda, baseando-se nas habitações, casas tipo popular; c) não se fez distinção entre bairros pavimentados ou não pavimentados, pois estas duas situações ocorrem nos bairros visitados, e, em alguns deles ocorre a dupla situação. Foram feitas observações visuais in loco, em 18 bairros periféricos, por amostragem. Estes, estão distribuídos em seis regiões: Região Leste, Central, Sudeste, Sudoeste, Noroeste e Norte. a) Região Leste: Loteamento Tupinambá dos Reis e Residencial Mar Del Plata (Micro Regiões 47 e 48). b) Região Central: Setor Criméia Leste (Micro Região 49); c) Região Sudeste: Residencial Aruanã, Jardim Marilisa (Micro Regiões 58 e 61);

7 d) Região Sudoeste: Jardim Atlântico (Micro Região 17/20); Residencial Eli Forte (Micro Região 22/23); Residencial Santa Rita e Setor Rio Formoso (Micro Região 68); Residencial Vereda dos Buritis (Micro Região 22); Vila Rosa (Micro Região 20); Jardim Presidente (Micro Região 19); e) Região Noroeste: Vila Mutirão (Micro Região 35); Jardim Curitiba I e Parque Tremendão (Micro Região 35/36); Sítios de Recreio Estrela Dalva (Micro Região 36); Setor Recanto do Bosque (Micro Região 72). f) Região Norte: Residencial Vale dos Sonhos (Micro região 42). Bairros visitados Figura 5. Regionalização de Goiânia Fonte: Goiânia, 2002

8 A consulta a órgãos do Poder Público Municipal e Estadual foi feita junto à Secretaria Municipal de Planejamento (SEPLAM) e à Saneamento de Goiás S/A (SANEAGO). Na Secretaria de Planejamento Municipal (SEPLAM) da Prefeitura de Goiânia, pesquisou-se informações sobre infra-estrutura, no tocante à rede de esgoto da cidade, e sobre a localização de bairros em suas respectivas regiões e micro-regiões. Estas informações estão contid as na Radiografia Sócio- Econômica do Município de Goiânia-GO (2002), do Departamento de Ordenação Sócio-Econômico DPSE. Também, pesquisou-se, via internet, informações, orientações, conceitos, legislação e atribuições da Saneamento de Goiás S/A SANEAGO. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos bairros visitados, em sua grande maioria, não foi encontrada rede de esgoto sanitário, mas, sim, o uso de fossas negras e, até mesmo, de fossas secas para escoar os resíduos das casas, dispensando seus resíduos de forma incorreta, o que leva à ameaça de contaminação dos lençóis freáticos e à ameaça de se por em risco a saúde pública. Os principais resultados por região são apresentados a seguir: a) Região Leste Loteamento Tupinambá dos Reis e no Residencial Mar Del Plata, ocorrem fossas negras. b) Região Central Setor Criméia Leste: Embora este setor pertença à Região Central foi escolhido pela situação específica de possuir população de baixa renda, margeando o Córrego Botafogo. Apesar deste possuir rede de esgoto, na Avenida Emílio Povoa, margeando o Córrego Botafogo, a água servida é jogada pela população local, diretamente no Córrego ou em seus barrancos, usando canalização PVC, o que ocasiona desmoronamentos e a contaminação da água do manancial.

9 c) Região Sudeste No Residencial Aruanã foram encontradas fossas negras. Já no Jardim Marilisa encontramos rede de esgoto e, também, fossas negras. d) Região Sudoeste Observa-se que no Setor Jardim Atlântico, no Residencial Eli Forte, no Residencial Santa Rita e no Residencial Veredas dos Buritis existem, tão somente, fossas negras. Na Vila Rosa, Jardim Presidente e no Setor Rio Formoso, coexistem fossas negras e rede de esgoto. e) Região Noroeste É a maior em extensão, em densidade populacional e com uma enorme quantidade de problemas de infra-estrutura. Como os bairros que dela fazem parte são muito numerosos, foram pesquisados apenas alguns deles: Vila Mutirão, Jardim Curitiba I, Parque Tremendão, Sítios de Recreio Estrela Dalva e Setor Recanto do Bosque. Nestes, são encontradas apenas fossas negras. f) Região Norte No residencial Vale dos Sonhos ocorrem tão somente fossas negras. No Quadro 1, encontram-se os principais tipos de esgotamento sanitário utilizados nos bairros avaliados.

10 Quadro 1. Sistema de Esgotamento Sanitário em bairros periféricos na cidade de Goiânia, visitados no período de novembro/2002 a fevereiro/2003. SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO REGIÕES B. VISITADOS LESTE Lot. Tupinambá dos Reis Residencial Mar Del Plata FOSSA NEGRA FOSSA SÉPTICA COM SUMIDO URO REDE DE ESGOTO CANALI ZA-ÇÃO PVC DIRETO NO CÓRREG O X - - - X - - - CENTRAL S. Criméia Leste - - X X SUDESTE SUDOESTE NOROEST E Res. Aruanã X - - - Jardim Marilisa X - X - Jardim Atlântico X - - - Res. Eli Forte X - - - Res. Santa Rita X - - - Res. Vereda dos Buritis X - - - Vila Rosa X - X - Jardim Presidente X - X - Setor Rio Formoso X - X - Vila Mutirão X - - - Jardim Curitiba I X - - - Parque Tremendão X - - - Sítio Rec. Estrela Dalva X - - - Setor Rec. do Bosque x - - - NORTE Residencial Vale dos Sonhos X - - -

11 Infere-se, do Quadro 1, que, em todos os bairros periféricos visitados, é usado como sistema de esgotamento sanitário, a fossa negra, ou ainda fossa seca. Uma minoria possui, além de fossa negra, rede de esgoto. Foi encontrado também, no período da visitação (fevereiro/2003), um caso específico, uso de canalização em PVC, usado nas casas que margeiam o Córrego Botafogo, no Setor Criméia Leste, que dispõe o esgoto doméstico neste córrego e nos seus barrancos marginais, provocando erosões, e contaminação da água. Os resultados encontrados equiparam-se aos resultados explicitados pelo Departamento de Ordenação Sócio-Econômico da Secretaria Municipal de Planejamento SEPLAM, da Prefeitura Municipal de Goiânia, na Radiografia Sócio-Econômica do Município de Goiânia-Goiás, de agosto de 2002, os quais evidenciam, claramente, a ausência de rede de esgoto na grande periferia de Goiânia (Figura 6).

Figura 6. Rede de Esgoto em Goiânia. 2001 (Goiânia, 2002)

13 A constatação da ausência da rede de esgoto, nos bairros periféricos de Goiânia, está em desacordo com o conceito de poluição estabelecido pela Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981) e pelo Decreto nº 8468, de 08 de setembro de 1976. Esta define como poluição, (São Paulo, 2003): a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bemestar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem, desfavoravelmente, a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. (Art. 3º, III). Pode-se observar que nenhum dos itens, acima relacionados, são praticados e respeitados, pois a maioria da população, destes bairros, dispensa seus resíduos de forma incorreta, o que provoca a contaminação de seus lençóis freáticos, do solo, dos rios, do ar, afinal, das condições sanitárias do meio ambiente. A maioria dos esgotos residenciais, nos bairros periféricos visitados, não possuem tratamento adequado, pois seus efluentes são colocados ora em fossas negras, ora escoam sobre a superfície do próprio solo. Isto se deve à ausência de implantação, pelo Poder Público, de rede de esgoto, e à falta de orientação para se construir, adequadamente um instrumento provisório de esgotamento sanitário: fossa séptica com sumidouro. Este fato gera na população periférica a percepção da marginalidade e do abandono em que estão vivendo. A precariedade de condições sanitárias com as quais os moradores locais convivem, torna-os, às vezes, ora revoltados, ora acomodados e indiferentes ao problema. Outras vezes, estas fossas negras estão na relação de dependência do

14 poder econômico do morador. Moradora de um barracão há 17 anos, na Vila Roriz, onde uma fossa recebe os dejetos produzidos pela família, assim se expressa: A rede de esgoto passa em frente ao lote, mas a falta de dinheiro impediu que faça ligação. Essa fossa, nós mesmo cavamos. É só um buraco para receber esgoto. (Oliveira, 2002). Em outros momentos, percebe-se que estas fossas prejudicam até mesmo a questão da segurança individual destes cidadãos. (..) É só um buraco para receber esgoto. Ontem mesmo, uma fossa desabou aqui perto e um morador caiu dentro dela. (Oliveira, 2002) A ausência de um tratamento adequado dos resíduos domiciliares ameaça a contaminação dos lençóis freáticos, dos recursos hídricos,do solo, do ar, o que se transforma num risco para a Saúde Pública, mormente para as populações carentes de nossas regiões periféricas. Assim, doenças como febre tifóide e paratifóide, cólera, diarréia aguda, hepatite A, poliomielite, toxoplasmose, ascaridíase, ancilostomíase, esquistossomose, teníase, são as doenças mais comuns em nosso meio, o que os sanitaristas atribuem à falta de esgoto sanitário. (Quadro 2) Quadro 2. Doenças relacionadas à falta de saneamento Febre tifóide e Hepatite A paratifóide Cólera Diarréia aguda Poliomielite Toxoplasmose Ascaridíase Fonte: Oliveira, 2002 Ancolostomose Esquistossomose Teníase Esta situação de Goiânia, referente a questão da Saúde Pública, é, também, um dado chocante da realidade brasileira:

15 No Brasil, 60% das internações anuais são resultado da falta de saneamento, 30% das mortes de crianças com menos de um ano, ocorre por diarréia. (Macedo, 2001) Cerca de 60% dos domicílios goianos ainda dispensam seus resíduos d forma incorreta, ameaçando de contaminação os lençóis freáticos e colocando em risco a saúde pública? (O Popular, 2002) Em Goiânia, só 7% do esgoto coletado é tratado, situação que deverá melhorar, em 2003, com a conclusão da Estação de Tratamento de Esgoto: ETE de Goiânia. (Almeida, 2002) Não existe um sistema de esgoto, os dejetos domiciliares são canalizados para fossas, que, na maioria das vezes, não obedecem a critérios determinados por testes de permeabilidade de solos, exigidos pela SANEAGO para áreas onde não há viabilidade de implantação de esgoto sanitário. É comum a canalização de esgotos para os corpos de água. (Mattos, 2001) O problema do esgoto consiste, essencialmente, em evitar a contaminação do solo, do lençol subterrâneo de água e das águas de superfície com dejetos orgânicos. A primeira exigência geralmente, não oferece dificuldades; a segunda, imprescindível para evitar que os poços sejam contaminados em escala maior, também poderá ser cumprida, desde que as habitações possuam fossas bem construídas e que a localização dos poços mereça a devida atenção. Para não poluir as águas de superfície, porém, será necessário dotar as comunidades maiores de serviços de tratamento de esgoto que lancem aos rios ou lagos um efluente totalmente inofensivo. (Kloetzel, 1980) A pesquisa revela a ocorrência dos três problemas acima citados, nos bairros periféricos visitados.

16 6 CONCLUSÕES Os resultados desta pesquisa evidenciam que: a) dos bairros visitados, não foi constatado o uso da fossa negra, apenas no Setor Criméia Leste; b) a rede de esgoto não sanou as irregularidades da fossa negra; c) há nítido desconhecimento da população em relação aos riscos ocasionados pela falta de esgoto sanitário, à saúde e ao meio ambiente; d) é necessário que as autoridades, voluntários, ONGs e escolas orientem estas comunidades a executarem o instrumento adequado de tratamento de esgoto; e) atualmente o Poder Público, gerenciador do saneamento básico, preocupa-se preferencialmente em tratar as redes de esgoto existentes, através das Estações de Tratamento de Esgoto ETE, ficando a posteriore, a implantação de novas redes nos setores periféricos da cidade. 7 BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Geraldo. Saneago diz que situação já mudou. In: OLIVEIRA, Carla de. Esgoto sanitário: quase 60% dos domicílios utilizam fossa negra em Goiás. O Popular. Goiânia, 16 dez, 2002 Cidades, p. 3. GOIÁS. Saneamento de Goiás S/A. Esgotos Sanitários: Sistemas de Esgotos Sanitários. Disponível em: http://www.saneago.com.br / www.san/quali/esgotosan.htm. Acesso em 27 março 2003a. GOIÁS. Saneamento de Goiás S/A. O que é o esgoto. Disponível em: http://www.saneago.com.br / www.san/quali/oqueesgoto.htm. Acesso em 27 março 2003b. GOIÁS. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Agência Ambiental de Goiás. Censo 2000. O Popular. Goiânia, 16/12/2002, Cidade, p. 3.

17 GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Planejamento. Departamento de Ordenação Sócio-Econômica. Radiografia sócio-econômica do município de Goiânia-GO. 1 ed., Goiânia, agosto/2002, 144 p. JORDÃO, Eduardo Pacheco. Tratamento de esgotos domésticos: tipos usuais de tratamento de esgotos sanitários. Disponível em: http://www.saneago.com.br / www.san/quali/esgotosan.htm. Acesso em 27 março 2003. KLOETZEL, Kurt. Temas de saúde: higiene física e do ambiente. São Paulo:EPU, 1980, 312 p. MACEDO, Jorge Antônio Barros de. Águas & águas. São Paulo: Livraria Varela, 2001, 505 p. MACINTYRE, Archivald Joseph. Instalações hidráulicas, prediais e industriais. 3 ed., Rio de Janeiro:LTC, 1996, 739 p. MATTOS, Regina Coeli Clímaco. Caracterização Sócio Ambiental da região Noroeste de Goiânia. 2001, 35 p. Artigo Científico. Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2001. OLIVEIRA, Carla de. Esgoto sanitário: quase 60% dos domicílios utilizam fossa negra em Goiás. O Popular. Goiânia, 16/12/2002, Cidades, p. 3. SÃO PAULO. Universidade da Água. Poluição na Bacia Hidrográfica. Disponível em: http://www.uniagua.org.br. Acesso em fev. 2003.