DOSE EFETIVA E RISCO DE CÂNCER EM EXAMES DE PET/CT

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Transcrição:

IX Latin American IRPA Regional Congress on Radiation Protection and Safety - IRPA 2013 Rio de Janeiro, RJ, Brazil, April 15-19, 2013 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA - SBPR DOSE EFETIVA E RISCO DE CÂNCER EM EXAMES DE PET/CT Gabriella M. Pinto 1 e Lidia Vasconcellos de Sá 2 1 Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Av. Salvador Allende, s/n Recreio dos Bandeirantes 22780-160 Rio de Janeiro - RJ - Brasil montezano@ird.gov.br 2 Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Av. Salvador Allende, s/n Recreio dos Bandeirantes 22780-160 Rio de Janeiro - RJ - Brasil lidia@ird.gov.br Código: 3246 RESUMO Devido à utilização de radiofármaco emissor de pósitron no exame PET e a realização de tomografia por transmissão de raios-x no exame CT, o aumento de dose com a técnica híbrida PET/CT é esperado. Porém, diferenças de doses têm sido relatadas em muitos países para o mesmo tipo de procedimento. Espera-se que a dose seja um parâmetro influente para padronizar os protocolos do PET/CT. Esse estudo teve como objetivo estimar as doses efetivas e absorvidas em 65 pacientes submetidos ao protocolo oncológico em uma clínica de medicina nuclear do Rio de Janeiro, considerando o risco de indução de câncer proveniente do exame. As doses relativas ao exame de CT foram estimadas com um simulador de PMMA e simuladas no programa ImPACT sendo que, para dose efetiva, foram considerados os fatores de peso da ICRP 103. As doses do exame PET foram estimadas multiplicando-se a atividade administrada ao paciente com os fatores de dose da ICRP 80. O risco radiológico para incidência de câncer foi estimado de acordo com a ICRP 103. Os resultados mostraram que a dose efetiva oriunda do exame CT é responsável por 70% da dose efetiva total em um exame PET/CT. Valores de dose efetiva para o exame de PET/CT alcançaram valores médios de até 25 msv levando a um risco de 2,57x10-4. Considerando que no estadiamento de doenças oncológicas, pelo menos quatro exames são realizados ao ano, o risco total chega a 1,03x10-3. 1. INTRODUÇÃO A introdução do exame de Tomografia por Emissão de Pósitrons associada à Tomografia Computadorizada (Positron Emission Tomography/Computed Tomography - PET/CT) proporcionou um grande avanço na qualidade das imagens, trazendo melhorias inquestionáveis à precisão do diagnóstico médico e se disseminou de forma rápida na rotina clínica de diversos países [1]. Pela combinação de duas técnicas de diagnóstico que empregam radiação ionizante é certo que ocorra aumento nas doses a que os pacientes são submetidos. Todo procedimento que faz uso de radiação ionizante deve levar em conta os princípios de proteção radiológica e a aplicação do princípio da justificação assegura que qualquer exposição do paciente se justifique pelo seu benefício em relação ao risco [2].

As doses dos exames de PET/CT, assim como de todos os exames diagnósticos, são consideradas relativamente baixas (<100 msv) [3] e seus efeitos são atribuídos como apenas estocásticos. Por isso, mesmo com baixas doses existe um risco associado ao procedimento sendo que este deve ser quantificado para melhor avaliação dos princípios de justificação e de otimização. Como radiofármaco mais utilizado em tecnologia PET/CT, a avaliação da dose efetiva resultante de exames com 18 FDG tem sido estimada por diversos pesquisadores [4,5]. O uso da dose efetiva como parâmetro de comparação entre centros de diagnóstico tem sido bem aceito, mas seu uso como ferramenta de dosimetria dos pacientes não é adequado. De forma a se estimar o risco de carcinogênese é necessário estimar as doses absorvidas, pois esta considera a radiosensibilidade dos órgãos e tecidos irradiados, além das características individuais do paciente. O objetivo desse estudo é avaliar as doses absorvidas e efetivas entregues aos pacientes em exames de PET/CT oncológico e estimar o risco radiológico correspondente a esse procedimento. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A clínica onde este estudo foi realizado localiza-se na cidade do Rio de Janeiro, onde um grupo de pacientes foi selecionado, segundo o protocolo oncológico utilizado no serviço. Foram verificadas as doses entregues a 65 pacientes, sendo 31 do sexo masculino e 34 do sexo feminino, com as características individuais apresentadas na Tabela 1. O protocolo do exame PET/CT oncológico utiliza os fatores de técnica apresentados na Tabela 2 para o CT e para o PET utiliza-se o radiofármaco de 18 F marcado na molécula de fluorodeoxiglicose-fdg. O procedimento do exame é realizado em duas etapas, o paciente permanece 40 minutos na sala de captação e cerca de 20 minutos para o exame de PET/CT oncológico que inclui: - varredura de CT de tórax diagnóstico (CT tórax); - varredura de CT de corpo inteiro (CT WB); - varredura de corpo inteiro para aquisição do PET. O equipamento usado foi o PET/CT da marca Siemens, modelo Biograph16 TM. Sexo Idade (anos) Tabela 1. Dados do grupo de pacientes analisados Peso (kg) Atividade Administrada (MBq) Índice de Massa Corpórea IMC Masculino 19-79 60-119 248-554 19-40 Feminino 18-87 40-113 287-472 19-38

Tabela 2. Protocolo do exame de PET/CT oncológico Parâmetros de Aquisição CT WB CT tórax Tipo de varredura Helicoidal Helicoidal Tempo de rotação (s) 0,75 0,75 Colimação (mm) 16 x 1,5 16 x 1,5 kv 120 120 mas efetivo 160 80 As atividades administradas aos pacientes são baseadas na massa corporal, utilizando-se como parâmetro uma concentração de 0,122 mci/kg, ou seja, 4,541 MBq/kg. 2.1. Dose Absorvida e Dose Efetiva em CT As doses absorvidas e efetivas no exame de CT foram simuladas através do programa ImPACT - versão 1.0.3 [6], utilizando-se os fatores de peso da ICRP 103 [7]. Os fatores de técnica simulados foram os do próprio protocolo de exame oncológico, conforme Tabela 2, porém utilizando-se o mas efetivo de cada paciente, obtido por um relatório de dose fornecido pelo equipamento ao término do exame. Como dito anteriormente, são feitas duas varreduras no equipamento CT, CT WB que é a varredura de corpo inteiro e CT tórax diagnóstico que é uma varredura da região torácica com técnica mais alta que promove um diagnóstico de melhor qualidade para essa região. A Figura 1 ilustra essas varreduras no programa ImPACT. Figura 1. Definição no programa ImPACT da varredura de corpo inteiro (esquerda) e de tórax (direita). A dosimetria do feixe, necessária para o cálculo dos índices de dose em tomografia (CTDI), foi realizada através de um simulador dosimétrico de CT de PMMA e uma câmara de ionização da marca Radcal, modelo 10X9-3CT, conforme mostra a montagem experimental

na Figura 2. Dessa forma, o valor de nctdiw foi obtido e utilizado como dado de entrada da simulação pelo programa ImPACT. Figura 2. Montagem experimental da dosimetria no equipamento de CT. 2.2. Dose Absorvida e Dose Efetiva em PET Para a medida da atividade injetada no paciente, a seringa que contém o radiofármaco ( 18 F marcado com FDG) é medida antes e após a administração, de forma a obter-se a atividade residual. Dessa forma, a atividade realmente administrada ao paciente é calculada conforme Equação 1. Equação (1) Onde: A adm = atividade administrada ao paciente A inj = atividade injetada A res = atividade residual Para o cálculo da dose absorvida nos órgãos de interesse e da dose efetiva para cada paciente, dependente da atividade e fatores de captação em cada órgão, foram utilizados os fatores de dose definidos na ICRP 80 [8]. Dessa forma, os fatores de dose absorvida por unidade de atividade administrada referente ao radiofármaco utilizado, são multiplicados pela atividade real administrada medida [9]. 3.1. Dose Absorvida 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para cada varredura, CT e PET, foram selecionados os cinco órgãos mais críticos e as respectivas doses absorvidas calculadas são apresentadas nas Figuras 3, 4 e 5, plotadas pelo Programa Origin [10].

Figura 3. Dose Absorvida na varredura CT tórax Figura 4. Dose Absorvida na varredura CT WB. A Figura 3 mostra que a varredura de tórax contribui para o aumento da dose absorvida total de cada órgão no exame PET/CT, onde as doses médias nos órgãos estudados estão próximas de 8 mgy.

Pela Figura 4, pode-se notar como o exame CT WB é o mais relevante para os valores de dose absorvida encontrados, sendo a região da tireóide e da superfície óssea, com 25 e 23 mgy respectivamente, as mais críticas para o protocolo estudado. A fim de verificar a dose absorvida no PET, os cinco órgãos mais críticos foram analisados e os resultados estão apresentados na Figura 5. Figura 5. Dose Absorvida devido ao exame PET Devido à excreção do radiofármaco ser pelo trato urinário, a maior dose absorvida é observada na bexiga, em torno de 60 mgy. O cérebro e coração, órgãos que utilizam maior quantidade de glicose, apresentam doses absorvidas significativas, da ordem de 10 a 22 mgy. Apesar dos valores encontrados, as doses absorvidas estimadas encontram-se bastantes baixas quando a análise é realizada em relação às doses que possam causar efeitos determinísticos para os órgãos em estudo. Os valores de dose absorvida das varreduras do CT (CT tórax e CT WB) e do exame PET foram analisados e os seis órgãos mais expostos no exame PET/CT são mostrados na Tabela 3, apresentando a contribuição de cada exame separadamente.

Tabela 3. Doses absorvidas no exame Órgão CT tórax CT WB PET PET/CT D méd a Intervalo c D méd Intervalo D méd Intervalo D méd Intervalo Coração 9 4,6 15 19 11 32 24 15 34 52 33-71 Pulmão 9 4,9 6 20 12-33 4 2,4-5,5 33 20 53 Tireóide 4 2,1-6,8 26 15 43 4 2,4-5,5 34 20 54 Bexiga - b - b 19 11-31 63 39 89 82 54-107 Útero 1 0,006 0,02 18 11 30 8 5,2-12 26 17 38 Superfície Óssea 5 2,6 8,7 23 14 39 4 2,7-6 33 20-52 a Dose absorvida média de todos os pacientes em mgy b Valor de dose absorvida menor que 10-3 mgy c Valor de dose absorvida mínima e máxima, respectivamente, em mgy Podemos observar pela Tabela 3 que apesar do exame de PET/CT ser um exame diagnóstico e, portanto, considerado de baixa dose, este apresenta doses absorvidas significativas, como para o caso da bexiga e coração, de até 107 mgy e 71 mgy, respectivamente. 3.2. Dose Efetiva A contribuição para a dose efetiva proveniente de cada varredura é apresentada na Figura 6, assim como a dose efetiva total para o exame PET/CT com FDG. Figura 6. Contribuição das doses efetivas de cada exame e dose efetiva do exame PET/CT.

Como definido no BEIRV VII [3], as doses efetivas menores do que 100 msv são consideradas baixas doses, ou seja, os efeitos determinísticos não são observados, apenas os efeitos estocásticos. Podemos notar na Figura 6 que as doses efetivas para cada exame apresentam-se abaixo de 100 msv e, mesmo para o exame completo, onde a dose efetiva máxima é de aproximadamente 40 msv, a dose permanece dentro da região definida como de baixas doses. 2.3.3. Estimativa de Risco Os fatores de risco foram calculados para a dose efetiva média (msv) de cada exame e do exame completo de PET/CT e estão apresentados na Tabela 4. Órgão Table 4. Dose Efetiva (E) média do exame Fator de a PET CT PET/CT Risco E méd (msv) Risco (msv) Risco (msv) Risco Gônadas 0,004 7,5 0,03 18,2 0,0728 25,7 0,1028 Mama 0,0025 7,5 0,01875 18,2 0,0455 25,7 0,06425 Pulmão 0,002 7,5 0,015 18,2 0,0364 25,7 0,0514 Medula Óssea 0,002 7,5 0,015 18,2 0,0364 25,7 0,0514 Tireóide 0,0005 7,5 0,00375 18,2 0,0091 25,7 0,01285 Osso 0,0005 7,5 0,00375 18,2 0,0091 25,7 0,01285 Restante 0,005 7,5 0,0375 18,2 0,091 25,7 0,1285 Corpo Inteiro 0,00001 7,5 0,000075 18,2 0,000182 25,7 0,000257 a Huda et al (1985) E méd E méd Para doses entre 3 msv e 50 msv, segundo Stabin [12], o risco radiológico é mínimo, mas devemos verificar as doses absorvidas nos órgãos críticos. Notamos pela Tabela 4 e Figura 6 que as doses estão nessa faixa. 3. CONCLUSÃO Os valores de doses encontrados demonstram que o CT é responsável por 70% da dose efetiva do exame como um todo. Os valores de dose encontram-se abaixo do estabelecido como alta dose pelas recomendações internacionais. Porém, pacientes que utilizam protocolo oncológico, geralmente, fazem uso do PET/CT para estadiamento, como no caso do tratamento de câncer onde o número de exames PET/CT anual pode chegar a quatro. Assim, esses pacientes estão sujeitos a doses elevadas, onde a dose efetiva pode atingir 103 msv e a dose absorvida chega a 428 mgy na bexiga, aumentando o risco de desenvolvimento de efeitos estocásticos. Pode-se verificar que mesmo quando as doses efetivas para um determinado procedimento estão dentro dos níveis de referência encontrados na literatura, devemos analisar a dose

absorvida nos órgãos críticos para que se possa assegurar que estes não estejam recebendo valores elevados. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer ao CNPq pelo suporte financeiro para o presente trabalho e à clínica participante do estudo pelo uso de suas instalações. REFERÊNCIAS 1. Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR): Um Breve Histórico do Exame PET, www.unimagem-net.com.br/cbrportal/publico/?pet-ct (2012). 2. IAEA International Atomic Energy Agency, International Basic Safety Standards for Protection against Ionizing Radiation and for the Safety of Radiation Sources, Safety Series No. 115 (1996). 3. National Academy of Sciences Committee on the Biological Effects of Ionizing Radiation (BEIR) Report VII, Health Effects of Exposure to Low Levels of Ionizing Radiations: Time for Reassessment (2005). 4. Gunnar Brix et. Al., Radiation Exposure of Patients Undergoing Whole-Body Dual- Modality 18F-FDG PET/CT Examinations, The Journal of Nuclear Medicine, Volume 46, pp. 46:608 613 (2005) 5. Bingsheng Huang et. Al., Whole-Body PET/CT Scanning: Estimation of Radiation Dose and Cancer Risk 1, Radiology, Volume 251, Number 1 (2009). 6. ImPACT Group Website. www.impactscan.org. (2010). 7. ICRP - International Commission on Radiological Protection. Recommendations of the International Commission on Radiological Protection, Ann ICRP 103, 2007. 8. ICRP - International Commission on Radiological Protection, Radiation Dose to Patients from Radiopharmaceuticals (Addendum to ICRP Publication 53), Publication 80 (1998). 9. Michael Stabin, Nuclear Medicine Dosimetry, Physics in Medicine and Biology, Volume 51, R187-R202 (2006). 10. OriginLab Data Analysis and Graphing Software, http://www.originlab.com/ (2012). 11. W. Huda and G. A. Sandison, CT Dosimetry and Risk Estimates, Radiation Protection Dosimetry, Volume 12, No. 3, pp. 241 249 (1985). 12. RADAR Medical Procedure Radiation Dose Calculator and Consent Language Generator, http://www.doseinfo-radar.com/radardoseriskcalc.html (2013).