A ATUAÇÃO DO MP/PROCON ESTADUAL NA REVENDA CLANDESTINA DE GÁS DE COZINHA

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Transcrição:

A ATUAÇÃO DO MP/PROCON ESTADUAL NA REVENDA CLANDESTINA DE GÁS DE COZINHA 1. INTRODUÇÃO. Este artigo pretende comentar aspectos relacionados à revenda clandestina de gás de cozinha, e às estratégias utilizadas na prevenção e repressão da prática abusiva. Tem, por objetivo, auxiliar os colegas que desenvolvem este trabalho nas comarcas, pois o assunto integra, desde 2008, uma de nossas prioridades, pelos diversos problemas que suscita na proteção e defesa dos consumidores. 2. MERCADO DE GLP: REQUISITOS DE ENTRADA. O comerciante, se quiser atuar no mercado de revenda do gás de cozinha, depende de autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis/ANP (Portaria ANP nº 297/03, arts. 4º e 7º). A agência reguladora é a sucessora do antigo Departamento Nacional de Combustível (DNC). A Distribuidora de GLP, para fornecer o produto, diretamente ou através de sua rede de revendedores, necessita da mesma autorização (RE ANP nº 15/05, art. 23). Na vigência da Portaria MINFRA nº 843, de 31/10/90, cabia às Distribuidoras a escolha dos revendedores de sua rede e comunicação, ao órgão federal, até o dia 30 (trinta) de cada mês, dos credenciamentos e descredenciamentos ocorridos no mês anterior (art. 8º). Esse modelo perdurou até a edição da Portaria ANP nº 297, de 18/11/03, a partir da qual o revendedor deverá buscar a sua autorização junto à ANP. Os revendedores que atuavam no setor, credenciados às Distribuidoras, em 20/11/03 (data da publicação da norma), puderam continuar exercendo as suas atividades por mais 10 (dez) meses, a contar do início do processo de regularização em cada Estado, a ser feito de acordo com o cronograma estabelecido pela ANP, período no qual deveriam obter a necessária autorização. Em Minas, esse prazo terminou em 06/05/10 e daí em diante somente os revendedores autorizados podem operar no mercado (art. 17, 1º). Por outro lado, é importante notar que, a partir de 20/11/03,

2 data da publicação da Portaria ANP nº 297, de 18/11/03, nenhuma Distribuidora poderia mais credenciar revendedor de gás de cozinha, sob pena de usurpação das funções da agência reguladora. Para obter a autorização, o interessado deve apresentar a seguinte documentação: I - requerimento de autorização para o exercício da atividade de revenda de GLP, assinado por sócio ou por procurador acompanhado de cópia autenticada de instrumento de procuração e do respectivo documento de identidade; II - Ficha Cadastral, conforme Anexo I desta Portaria, assinada por sócio ou por procurador acompanhado de cópia autenticada de instrumento de procuração e do respectivo documento de identificação, quando for o caso; III - comprovante de inscrição e de situação cadastral no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ, referente ao estabelecimento matriz ou filial que especifique a atividade de revenda de GLP; IV - cópia do documento de inscrição estadual; V - cópia autenticada do estatuto ou do contrato social arquivado na Junta Comercial e, quando alterado, com todas as alterações posteriores ou a mais recente consolidação, que especifique a atividade de revenda de GLP; VI - cópia autenticada do alvará de funcionamento ou de outro documento, expedido pela prefeitura municipal, referente ao ano de exercício, que comprove a regularidade de funcionamento da empresa requerente; e, VII - certificado do corpo de bombeiros competente, que especifique a habilitação para a atividade de revenda de GLP, indicando a(s) área(s) de armazenamento existente(s) no estabelecimento, assim como a(s) área(s) de armazenamento de apoio, e as respectivas classes ou capacidades de armazenamento em quilogramas de GLP de cada área armazenamento,

3 compatível com a(s) classe(s) declarada(s) na Ficha Cadastral assim como a norma técnica ou regulamentação adotada para sua emissão (Portaria ANP nº 297/03, art. 6º). 3. RAZÕES DA REGULAÇÃO DO MERCADO. O comércio de GLP é atividade regulada, pois envolve o manuseio de produto perigoso e essencial à subsistência humana. Por isso, o governo federal deve: 1º) cercá-la de cuidados especiais e exigir dos responsáveis o seu cumprimento; 2º) garantir o abastecimento da população; 3º) promover a concorrência no mercado, para o consumidor ter acesso a produtos de qualidade e preços baixos. Se o particular exerce a atividade sem autorização da ANP, o faz clandestinamente, e isso gera as seguintes consequências: a) coloca em risco a saúde e a segurança das pessoas, pela não observância dos cuidados exigidos; b) coloca em risco a segurança das instalações onde os produtos estão armazenados e dos prédios vizinhos; c) viola a ordem econômica, pela prática de crime, punido com pena de 1 a 5 anos e multa (Lei nº 8.176/91, art. 1º, I); d) permite e incentiva, num círculo vicioso, a concorrência desleal, lesando as empresas regularmente estabelecidas; e) pode ensejar fraudes contra o consumidor, na venda de produtos com vício de quantidade ou de botijões de gás impróprios ao uso e consumo (avariados ou com a vida útil vencida). 4. DEFESA DO CONSUMIDOR E SISTEMA LEGAL INTEGRADO. O Código de Defesa do Consumidor, tratando da qualidade dos bens de consumo, prevê que o produto é impróprio ao uso e consumo, quando está em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição e apresentação (Lei nº 8.078/90, art. 18, II, parte final). Portanto, proíbe ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas, colocar no

4 mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes (Lei nº 8.078/90, art. 39, VIII, 1ª parte). Sabe-se, também, que o Código de Defesa do Consumidor é formado, especialmente, por normas principiológicas, razão pela qual necessita, muitas vezes, de ser complementado por outras normas legais ou regulamentares. Por isso, é que previu a incorporação, ao texto da lei consumerista, em benefício do consumidor, de outros direitos decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade (Lei nº 8.078/90, art. 7º). Na espécie, tem-se como referência legislativa para a atuação do MP/Procon Estadual no setor da revenda de gás de cozinha, dentre outras, as seguintes normas: 1) Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11/9/90); 2) Regulamento do CDC, editado por exigência da Lei nº 9.298, de 1º/08/96 (Decreto nº 2.181, de 20/3/97); 3) Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997: dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, e dá outras providências; 4) Lei nº 9.847, de 26 de outubro de 1999: dispõe sobre a fiscalização das atividades relativas ao abastecimento nacional de combustíveis, de que trata a Lei nº 9.478, de 06/08/97, e estabelece sanções administrativas e dá outras providências; 5) Lei Complementar nº 34, de 12 de setembro de 1994, alterada pelas Leis Complementares Estaduais nº 61, de 12 de julho DE 2001 e nº 117, de 11 de janeiro de 2011: dispõe sobre a organização do Ministério Público do Estado, e dá outras providências;

5 6) Lei Complementar Estadual nº 66, de 22 de janeiro de 2003: cria o Fundo de Proteção e Defesa do Consumidor (FEPDC) e o Conselho Gestor do Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor e dá outras providências; 7) Portaria ANP nº 297, de 18 de novembro de 2003: Regulamenta o exercício da atividade de revenda de GLP. 8) Resolução ANP nº 15, de 18 de maio de 2005: Estabelece os requisitos necessários à autorização para o exercício da atividade de distribuição de gás liquefeito de petróleo (glp) e a sua regulamentação; 9) Resolução ANP nº 5, de 26 de fevereiro de 2008: adota a Norma NBR 15514:2007, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para fins de estabelecimento dos critérios de segurança das áreas de armazenamento de recipientes transportáveis de gás liquefeito de petróleo (GLP), destinados ou não à comercialização; 10) Resolução Procon nº 11, DE 03 de fevereiro de 2011: Regulamenta o Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-MG) e o Sistema Estadual de Defesa do Consumidor (SEDC), nos termos previstos na Constituição do Estado de Minas Gerais, na Lei Complementar Estadual nº 34/94 e na Lei Complementar Estadual nº 61, de 12 de julho de 2001, alterada pela Lei Complementar Estadual nº 117, de 11 de janeiro de 2011, e estabelece as normas gerais do exercício do poder de polícia e de aplicação das sanções administrativas previstas na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e dá outras providências. São essas normas, nos aspectos material e processual, inseridas num sistema por mim denominado Sistema Legal Integrado, que devem orientar a atividade dos órgãos públicos de defesa do consumidor, na missão de garantir a defesa dos consumidores. De fato, esse sistema é expressamente reconhecido na lei consumerista, quando, ao enumerar as sanções administrativas passíveis de

6 aplicação, no caso de infrações às normas de defesa do consumidor, ressalva a existência, também, das definidas em normas específicas (CDC, art. 56). 5. ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA DO MP/PROCON ESTADUAL NO COMBATE À ILEGALIDADE. Pensando nisso, o MP/Procon Estadual iniciou, em novembro de 2008, um plano de atuação no combate à distribuição e revenda clandestina de gás de cozinha. No dia 15 de março do corrente ano, os Promotores de Justiça que integram a Rede de Atuação Cível, Criminal e Administrativa na proteção e defesa dos consumidores mineiros, decidiram, com a Coordenação do órgão de defesa do consumidor, manter o trabalho que vem sendo desenvolvido, para erradicar essa prática abusiva de Minas. No âmbito do exercício do poder de polícia, o procedimento é o seguinte: I) FASE FISCALIZATÓRIA: (1º) autuação do revendedor, pela oferta e revenda do gás de cozinha sem autorização da ANP (CF, art. 170, PU; Lei nº 9.847/99, art. 3º, I; CDC, arts. 1º, 7º, 39, VIII, e 55, 1º; Decreto nº 2.181/97, art. 4º, III e IV; Portaria ANP nº 297, de 18/11/03, arts. 4º e 18). Nesse momento, o fiscal do Procon tentará identificar o responsável pelo abastecimento do comércio ilegal e relatará o ocorrido, com as informações prestadas pelo preposto. Se encontrar outros elementos de provas, como (a) notas fiscais de venda existentes no estabelecimento comercial, (b) contrato de comodato dos produtos ali armazenados, e (c) contratos comerciais, deverá anexá-los ao auto de fiscalização; (2º) apreensão cautelar dos produtos expostos à venda, os quais deverão ser quantificados e identificados pelas marcas das Distribuidoras (Lei nº 9.847/99, art. 5º, IV; CDC, arts. 1º, 7º, 39, VIII, 55, 1º e 56, II e PU); (3º) remoção imediata dos produtos apreendidos para local seguro. O planejamento deve ser feito com antecedência, de acordo com as peculiaridades do município, tanto em relação ao transporte como ao

7 local de armazenamento do gás de cozinha. Se a remoção não for possível, o proprietário da empresa, o responsável, preposto ou empregado deve ser nomeado como guardião e depositário fiel dos produtos, e advertido, expressamente, no auto de fiscalização, de que não poderá vender, utilizar, substituir, subtrair ou remover, total ou parcialmente, os bens apreendidos, até deliberação futura do Procon Estadual, sob as penas da lei (Decreto nº 2.181/97, art. 21, 1º). Segundo consta do termo de ajustamento de conduta firmado com o MP/Procon Estadual, em 30/07/08, o transporte para a remoção dos produtos poderá ser feito pela Liquigás Distribuidora S/A, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte e nas cidades históricas indicadas no art. 83 do ADCT, da Constituição Mineira, e em 48 (quarenta e oito) horas, nos demais municípios do Estado, a contar de sua comunicação, através do fac-símile de nº 31-3273-6170; (4º) interdição cautelar, total ou parcial, das instalações e equipamentos utilizados no exercício da atividade, se for o caso (Lei nº 9.847/99, art. 5º, I; CDC, arts. 1º, 7º, 39, VIII, 55, 1º e 56, X e PU). II) FASE PROCESSUAL: (5º) apresentação da defesa do fornecedor, ou ausência do ato, o que deve ser certificado nos autos do processo administrativo; (6º) designação de audiência de conciliação, instrução e julgamento, nos termos do art. 45 do Decreto nº 2.181/97, na qual o autuado prestará depoimento pessoal, para esclarecer os dados alusivos à sua atividade comercial, e, dependendo do caso, identificar ou confirmar o responsável pelo abastecimento do estabelecimento e apresentar prova documental da participação do terceiro. Se necessário, ouvir, também, os fiscais e as demais pessoas que figurem no auto de infração. Propor a realização de termo de ajustamento de conduta, figurando, no mesmo, a aplicação de multa ao fornecedor e decretação da perda e doação dos produtos apreendidos a entidades beneficentes, entre outras cláusulas. Uma boa estratégia é solicitar, da Prefeitura, ou do Juizado Especial da comarca, no ato da designação da audiência, a relação de entidades beneficentes do local. A partir dessa informação, o ideal é que os produtos doados sejam distribuídos igualmente entre as mesmas, comercializados

8 no mercado regular de gás de cozinha, com o auxílio de um revendedor autorizado e da Receita Estadual, e depois repassadas as quantias diretamente do comprador para os beneficiários. Recomenda-se não deixar os botijões de gás nas dependências das entidades beneficentes, por questão de segurança, a mesma que justificou a apreensão dos produtos e a sua remoção para local seguro. Não havendo a possibilidade de termo de ajustamento de conduta, o processo administrativo deverá ser julgado, e, em caso de procedência, aplicadas as sanções de multa e perda e doação dos produtos apreendidos, além do encaminhamento de cópias dos autos à autoridade policial, para as providências criminais cabíveis. De se lembrar, ainda, que a execução da perda e doação do produto, se houver recurso administrativo, deve aguardar a confirmação da decisão administrativa, pois o recurso, nesse caso, como ocorre na condenação pecuniária, tem efeito suspensivo (Lei nº 9.847/91, art. 10, 1º). Modelo de TAC com revendedores clandestinos de gás de cozinha pode ser visto no Anexo 01. 6. COMITÊ NACIONAL PARA ERRADICAÇÃO DO COMÉRCIO IRREGULAR DE GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO (GLP). O TAC NACIONAL DO MP E AS DISTRIBUIDORAS DE GLP. Para enfrentar o mesmo problema, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) instituiu, sob a sua Coordenação, em setembro do ano passado, o Comitê Nacional para Erradicação do Comércio Irregular do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Integram o comitê as entidades de classe das Distribuidoras e dos Revendedores de GLP, a Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor (MPCON), Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor das Capitais dos Estados e outras instituições públicas e privadas.

9 Um dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do comitê, foi o Termo de Ajustamento de Conduta firmado em Brasília, no dia 16 de dezembro de 2010, entre as Disribuidoras Copagaz Distribuidora de Gás Ltda., Liquigás Distribuidora S/A e SHV Gás Brasil Ltda. e os Ministérios Públicos Estaduais (Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe). As Distribuidoras, assumiram o compromisso de adotar as providências comerciais cabíveis, no sentido de inibir a distribuição e revenda clandestina de gás de cozinha, e implementar as medidas necessárias para alcançar esse objetivo, dentre as quais incluem: (a) a não comercialização de produto com PRGLP que participar, direta ou indiretamente, da prática da revenda irregular de GLP, mediante comunicação do Ministério Público ou da ANP determinando a suspensão do fornecimento do GLP, e a subsequente adoção das providências para a rescisão de seu contrato; (b) a não comercialização de GLP, à sua rede de PRGLPs, em quantidade superior à permitida nas classes autorizadas pela agência reguladora, quando da entrega do produto no estabelecimento comercial (operação CIF: custo, seguro e frete); (c) a identificação, nos seus sites, dos PRGLPs com os quais mantenham relação comercial, em cada Estado, em relação atualizada, contendo: (i) nome comercial, (ii) nome de fantasia, se houver, (iii) CNPJ, (d), endereço, (iv) bairro, (v) município, (vi) CEP, (vii) data da autorização, (viii) número do despacho, (ix) data de publicação do despacho no Diário Oficial, (x) classe do revendedor, e (xi) norma legal aplicável; (d) a divulgação, em seus sites, dos canais de acesso à reclamação dos consumidores, inclusive telefônico, gratuito, com mensagem destacando

10 a necessidade do GLP ser adquirido somente em agentes econômicos autorizados pela agência reguladora. O início de vigência do TAC ocorreu no dia 13 de fevereiro do corrente ano. Excepcionalmente, a Distribuidora Copagaz cumprirá o compromisso previsto na letra c a partir do dia 13 de junho de 2011. No dia 30 de março deste ano, em Brasília, após mais uma rodada de negociações, as Distribuidoras Amazongás Distribuidora de GLP Ltda., Bahiana Distribuidora de Gás Ltda., Companhia Ultragaz S.A, Nacional Gás Butano Distribuidora Ltda., Paragás Distribuidora Ltda. e Sociedade Fogás Ltda. e os Ministérios Públicos de Alagoas, Amapá, Amazonas, Ceará, Pará, Piauí e Rondônia aderiram ao TAC Nacional. Ressalvou-se, contudo, a não aplicação da letra b, da cláusula primeira, no que toca ao transporte fluvial, em função dos problemas de logística alegados pelas Distribuidoras. A discussão envolvendo esse assunto, no entanto, será retomada, em cada um dos Estados envolvidos, com a participação da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O cumprimento do TAC ocorrerá a partir de 29 de maio do corrente ano, segundo foi acordado. Faltam aderir ao TAC Nacional, ainda, outras Distribuidoras menores e os Ministérios Públicos do Acre, do Maranhão, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, da Paraíba, de Pernambuco, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de Roraima e Tocantis, o que se pretende alcançar com uma nova rodada de negociações a ser realizada no mês de junho, em dia e local ainda não escolhidos. Com isso, será possível estabelecer uma estratégia de atuação das Promotorias de Justiça em todo o país, tendo por referência o TAC Nacional, já que as Distribuidoras compromissadas detêm mais de 90 % desse mercado. O trabalho desenvolvido contribui para a inclusão de milhares de comerciantes no mercado regular de revenda do gás de cozinha e impede que sejam utilizados como objeto nas mãos de agentes econômicos mal intencionados (Anexos 02 e 03).

11 7. MODELO DE TAC COM AS REVENDAS AUTORIZADAS QUE ABASTECEM REVENDEDORES CLANDESTINOS Em harmonia com o termo de ajustamento de conduta firmado com as Distribuidoras, o Procon Estadual vem exigindo, das revendas autorizadas envolvidas no abastecimento de revendedores clandestinos, as seguintes obrigações: CLÁUSULA PRIMEIRA: O fornecedor assume o compromisso de cumprir as normas reguladoras de sua atividade comercial, nelas estando incluídas as de defesa do consumidor, e, em especial, de combater o comércio clandestino de gás de cozinha, causa de diversos problemas e lesão à ordem econômica, e se compromete a: (i) não fornecer o produto a revendedor não autorizado pela agência reguladora, sob pena de, assim agindo, dar causa à suspensão e rescisão dos contratos com quem opera; (ii) não armazenar gás de cozinha em quantidade superior à classe para a qual está autorizado; (iii) evitar que a comercialização de seus produtos, a outro revendedor, seja causa de violação da capacidade de armazenamento deste, ressalvando-se a ocorrência de fatos que estejam fora de seu controle; (iv) divulgar, de forma ostensiva, ao público consumidor, o número de telefone da (s) Distribuidora (s) com quem mantém relação comercial, destinado a reclamações, de preferência com acesso gratuito, se houver;

12 CLÁUSULA SEGUNDA: Ocorrendo a violação dos deveres na cláusula primeira (itens i a iv ), fica estabelecida a multa civil de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por infração cometida, devida ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor, sem prejuízo das sanções administrativas e criminais cabíveis na espécie (Anexo 04). 8. CONCLUSÃO. Para o êxito do trabalho de erradicação da revenda clandestina de gás de cozinha, no Estado, é necessária a participação de todos. Nesse sentido, medida simples e efetiva no combate à revenda clandestina de gás de cozinha foi adotada em reunião ocorrida no dia 09 de maio, com o Ministério Público e diversas instituições envolvidas no assunto. Por ela, as entidades do SIRTGÁS (Sindicato do Comércio Varejista Transportador e Revendedor de Gás Liquefeito de Petróleo do Estado de Minas Gerais) e do SINDIGÁS (Sindicato Nacional das Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo) enviarão, ao Ministério Público, Relatórios de Revendedores Clandestinos no Estado, elaborados a partir da aquisição de produtos, contendo os dados do comprador e cópias dos comprovantes da venda (notas fiscais ou recibos simples). Com isso, pode-se adotar as providências cabíveis de imediato, sem a necessidade de acionar a fiscalização para comprovar a ilegalidade. A ata da reunião havida consta do Anexo 05 a este artigo. Como estratégias de atuação, o membro do MP/Procon-MG pode adotar as seguintes: (a) atuação direta, com a fiscalização da revenda clandestina e adoção das providências acima comentadas; (b) atuação direta, na forma acima, integrada com

13 a ANP, com divisão de revendas a serem fiscalizadas, para evitar a duplicidade de processos administrativos; (c) atuação direta, na forma acima, integrada com as Polícias Civil, Militar e/ou Corpo de Bombeiros, que adotarão as medidas criminais cabíveis; (d) atuação indireta, requisitada das Polícias Civil, Militar e/ou Corpo de Bombeiros, que adotarão as medidas criminais cabíveis, e, em especial, a apreensão cautelar dos produtos. Nesse caso, é importante o apoio logístico do MP/Procon- MG no transporte dos recipientes de GLP a lugar seguro, para, depois, ao ser instaurado o processo administrativo, com base no trabalho das polícias e do Corpo de Bombeiros, ser aplicada multa e obtida a perda e doação dos produtos, via TAC ou por decisão administrativa; (e) atuação direta, na forma acima, integrada com os fiscais da Prefeitura, pois é importante inserir a municipalidade na questão, eis que também é responsável pelo combate à ilegalidade, pois existem diversos revendedores operando sem o alvará de funcionamento municipal, ou com alvará concedido para o exercício de outra atividade, distinta da revenda de gás de cozinha; (f) outras estratégias de atuação, de acordo com os membros do Ministério Público. Enfim, é importante que todos participem deste trabalho, pois ele envolve, além do cumprimento do ordenamento jurídico, a mudança de cultura do povo brasileiro. Belo Horizonte, 06 de junho de 2011. Amauri Artimos da Matta Promotor de Justiça